Читать книгу: «Crimes Esotéricos», страница 4

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‒ Como ele se chamava? ‒ perguntou Aurora, intrigada e temerosa. ‒ Ele teve acesso ao conhecimento, mesmo que você tenha duvidado dele?

‒ Minha cara Aurora, você tem uma aura de um azul intenso, como o céu claro, porque tem um coração puro, mas é muito sensível a influências externas, porque confia em todos. E é por isso que você está acompanhada de Larìs, que tem uma aura vermelha como o fogo e que revela seu caráter impulsivo e determinado, pronto a sacrificar até mesmo sua própria vida para ajudar quem lhe é próximo. Não posso revelar o nome dessa pessoa. Qualquer pessoa que chegue aqui tem acesso aos textos e manuscritos armazenados. Cabe então a ela decidir como utilizar o conhecimento adquirido, seja para o bem ou para o mal. Veja, toda religião tende a identificar o bem com Deus e o mal com uma divindade oposta. Se Deus é então chamado de Javé, Vishnu, Odin ou Alá e o demônio de Satanás, Lúcifer, Seth ou Sehuet é irrelevante. O bem e o mal estão dentro de cada um de nós e a eterna luta entre eles se consuma em nossas almas. Em alguns prevalece o bem, em outros o mal.

‒ Grande Patriarca, revele-nos o caminho para acessar o Conhecimento Universal ‒ continuou Aurora ‒ e nós lhe seremos gratas e o honraremos pelo resto de nossas vidas mortais.

‒ Veja, há duas maneiras de alcançar o objetivo, uma mais rápida e outra mais lenta. Larìs, que é jovem, seguirá esse segundo caminho, terá tempo de sobra para consultar os textos, assimilar o que está contido neles e aprender a usar, com a ajuda dos Mestres, seu Terceiro Olho, o da sabedoria, aquele com o qual ela poderá perceber a aura das pessoas ao seu redor e penetrar em seus pensamentos, entrando em contato com suas mentes. É uma longa jornada que eu mesmo empreendi em meu tempo e que exige perseverança, concentração e aplicação. Para você, Aurora, que, por outro lado, está ansiosa para assimilar tudo rapidamente e retornar à sua terra natal para combater as forças do mal, tenho reservado um caminho mais curto.

Batendo palmas, ele chamou Hiamalè, que conduziu Larìs para fora da sala, enquanto por outra porta entraram duas jovens criadas com um fumegante chá de ervas para o idoso patriarca. Roboão bebeu cuidadosamente e, então, de uma bandeja trazida a ele por uma das duas servas, pegou um estojo e tirou uma seringa.

‒ Papaverina. Injetada no pênis, permite uma ereção duradoura para relações sexuais satisfatórias, mesmo em uma pessoa idosa como eu. Transmitirei a você todo o meu conhecimento e a minha ciência através de uma conjunção carnal, após a qual você terá acesso ao Sancta Sanctorum.

As criadas ajudaram Aurora a se despir e a se deitar sobre as almofadas colocadas no chão para esse fim, depois cuidaram do velho, o libertaram das vestes, aplicaram-lhe a injeção, fizeram-lhe uma boa massagem e, quando perceberam que ele estava pronto para consumar a relação com a recém-chegada, retiraram-se para um canto da sala. O relacionamento com o ancião deu a Aurora um imenso prazer. Ela fechou os olhos e abandonou-se aos movimentos de Roboão. No auge da excitação, tendo alcançado um prazer intenso, ela percebeu que, com o fluxo do líquido, estava penetrando nela um calor que a percorria da ponta dos pés até o último fio de cabelo. Ela estava assimilando de uma só vez todo o conhecimento que o idoso havia acumulado ao longo de décadas de permanência naquele lugar inacessível. A certa altura, Aurora percebeu que Roboão estava deitado imóvel sobre ela. Seu membro ainda estava túrgido, devido ao efeito da papaverina, mas ele não respirava mais, havia expirado. Com um movimento suave, ela moveu o corpo de Roboão para o lado e, com dificuldade, se desvencilhou dele. Enquanto as servas cuidavam do falecido, Aurora se vestiu e foi assaltada pelo temor: como ela poderia chegar ao Sancta Sanctorum sem a orientação de Roboão? Mas então, ao se concentrar, percebeu que, além do conhecimento, havia assimilado tudo o que estava conservado em sua memória e, portanto, já sabia o caminho a seguir para alcançar seu objetivo. Mas havia mais: a relação que acabara de consumar a havia transformado, sua pele estava mais lisa, seus seios mais firmes, suas pernas mais esguias, seus cabelos mais sedosos; enfim, se sentia rejuvenescida. Ela se olhou em um espelho, que lhe devolveu a imagem de uma jovem de vinte anos, a imagem de si mesma, mas com quarenta anos a menos. Com as mãos, ela tocou o rosto, como se quisesse ter certeza de que o que estava vendo era real e não uma visão. Suas rugas haviam desaparecido, seus olhos verdes brilhavam, não havia sombra de opacidade no cristalino e seu cabelo havia voltado à cor natural de castanho claro. Mas não era hora de ficar pensando em coisas fúteis. Ela tinha que encontrar “A Chave de Salomão”.

Tentando seguir as lembranças impressas na mente de Roboão, ela desceu as escadas até o andar térreo. Em um salão com paredes ornamentadas, procurou uma estátua dourada de um gato. No pescoço deste, notou um medalhão em forma de pentáculo. Ela o girou e viu se abrir uma passagem na parede dos fundos, a única em que não havia janelas. Entrou em um corredor longo e semiescuro, iluminado eventualmente pela luz fraca de antigas lamparinas a óleo. No final do corredor, uma escada em espiral descia para o porão, até outro salão ricamente decorado. Caminhou em direção a uma enorme porta dourada, adornada com baixos-relevos em ouro puro, retratando episódios da vida do Rei Salomão. Não havia fechadura para abrir essa porta, nem qualquer outro dispositivo. O acesso ao Sancta Sanctorum exigia um comando de voz, que variava de acordo com os dias da semana e as horas do dia. Aurora, calculando que naquele momento ela deveria invocar a lua, pronunciou em voz alta:

Levanah!

A enorme porta dourada começou a deslizar para dentro da parede dupla, dando livre acesso ao mais secreto dos cômodos do templo. No centro dela, sobre uma coluna de cerca de um metro e vinte de altura, uma caixa de marfim deveria abrigar o livro e o anel com o selo de Salomão, o talismã mais poderoso de todos os tempos. Não sem emoção, ela abriu o baú. O livro estava em seu lugar, mas o anel não. Quem chegou lá antes dela conseguiu roubá-lo, garantindo para si um poder considerável que seria difícil de combater se usado para fins malignos. Mas agora a feiticeira não tinha tempo para pensar, ela tinha a noite inteira para assimilar o que Salomão havia escrito tantos séculos antes, algo que ela não recebeu da memória de Roboão, já que ele, embora tivesse acesso ao Sancta Sanctorum, nunca teve coragem de encarar o texto sagrado. Quando teve certeza de que havia memorizado todas as fórmulas e invocações, ela colocou o livro de volta na caixa e saiu, refazendo o caminho que havia seguido para chegar até ali. Saindo para o salão, notou que as primeiras luzes do amanhecer já começavam a entrar pelas janelas. Ela girou o medalhão na estátua do gato, retornando-o à sua posição original, e a passagem pela qual ela acabara de sair se fechou novamente.

Era hora de voltar para casa, para a Ligúria, e dessa vez a viagem seria curta. Ela usaria o teletransporte, que era uma das novas magias que acabara de aprender. Mas primeiro devia se despedir de Larìs. Ela voltou para o claustro, onde ficavam os quartos de hóspedes, e notou que Ero e Dusai já estavam de pé, conversando à beira da piscina. De ambos escapou uma apreciação sobre a nova aparência de Aurora.

‒ Uau! Se estivesse assim no outro dia! ‒ comentou Dusai.

A feiticeira evitou responder e bateu à porta de Larìs, que ainda estava imersa no mundo dos sonhos. Ela a viu abrir a porta, sonolenta, olhando para ela com ar de interrogação. Quando Larìs percebeu que a pessoa à sua frente era a sua companheira de viagem, esfregou os olhos, pensando que talvez ainda estivesse sonhando.

‒ Sim, sou eu! ‒ afirmou Aurora. ‒ Estou indo embora, mas permaneceremos em comunicação telepática. Quando eu precisar de você, você saberá, e terá uma forma de me contatar o mais rapidamente possível.

Então ela aproximou os seus lábios dos de Larìs e a beijou.

‒ Até logo!

Aurora saiu do templo e chegou a uma clareira isolada, onde se sentou no chão, tomando cuidado para não cruzar as pernas, concentrou-se no local para onde tinha de ir e pronunciou a fórmula mágica. Como se fosse capturada por um vórtice, uma espécie de redemoinho, seu corpo desapareceu para reaparecer em Triora, dentro de sua morada.

‒ Aqui estou, em casa!

CAPÍTULO 4

Seguimos a pé em direção à cena do crime, que já havia sido isolada com faixas de plástico branco e vermelho com a inscrição “Polícia Estadual”. O local estava enegrecido pelo fogo e encharcado pela água usada para apagá-lo, mas o mais impressionante era o fedor nauseante que éramos obrigados a respirar. O cheiro de carne humana queimada, que ainda pairava no ar, era verdadeiramente insuportável. Quando vi o corpo, mal consegui conter uma ânsia de vômito. À primeira vista, parecia um manequim, curvado sobre si mesmo, encostado em um portão de metal que fechava uma espécie de caverna, com sua forma humana enegrecida pelas chamas. Não havia mais nenhum vestígio de cabelo e, em algumas áreas, era possível vislumbrar os ossos em meio a alguns pedaços de pele enrugada. Dava para deduzir que era o corpo de uma mulher pelo contorno dos seios. Nos pulsos e tornozelos podiam ser vistos filamentos de plástico derretido, indicando algo que deve ter sido usado para amarrar a vítima ao portão. O médico legista estava realizando os primeiros exames no corpo, enquanto os homens da perícia esperavam pacientemente que ele terminasse para começar seu trabalho. Pedindo a Mauro para me esperar, me aproximei, passando pela barreira de tiras de plástico. Quando percebeu minha presença, o médico levantou a cabeça e tirou as luvas de látex, fazendo um aceno. A pessoa que estava estendendo a mão para mim era uma mulher pequena, na casa dos trinta, com cabelos curtos e castanhos, olhos escuros e um pequeno piercing dourado no nariz.

‒ Doutora Ruggeri, imagino! Prazer em conhecê-la, sou a Doutora Ilaria Banzi, médica legista.

‒ O que você pode me dizer sobre essa pobre mulher?

‒ Realmente assombroso! Em minha carreira, embora curta, nunca vi nada parecido com isso. Não posso afirmar agora se estava viva ou morta quando foi incendiada, mas como parece óbvio que ela estava com as mãos e os pés amarrados ao portão com fita adesiva, acho mesmo que ela foi queimada viva. A autópsia nos informará esse detalhe. No momento, posso dizer que estamos diante de um indivíduo do sexo feminino, com cerca de trinta e cinco, quarenta anos no máximo, a julgar pelos dentes, mas também não posso ser precisa quanto a isso, pois o fogo alterou tudo. Assim que a equipe forense tiver feito suas descobertas, providenciarei a transferência do corpo para o necrotério e enviarei o relatório da necropsia o mais rápido possível. Em breve, o Magistrado também estará aqui. Desejo-lhe sorte, não será uma investigação fácil!

Despedi-me dela e caminhei em direção aos homens de uniforme.

‒ Há alguma informação sobre a identidade da vítima? ‒ perguntei.

‒ Certamente não havia documentos com ela! ‒ foi a resposta sarcástica de um superintendente, a quem fulminei com o olhar. ‒ Sinto muito, foi uma piada infeliz. O que sabemos é que a vítima foi presa à grade de metal com fita adesiva larga, do tipo usado em embalagens, e então foi ateado fogo. Esse tipo de caverna é, na verdade, um antigo depósito de lenha, dentro da qual havia madeira seca e outros materiais inflamáveis. Como se fala tanto em bruxas nessa área, achamos que alguém queria simular a execução de uma bruxa na fogueira. Talvez um jogo sádico entre dois amantes, por que não? Ela consente em ser amarrada, ele acende uma pequena fogueira para dar mais vida ao jogo, mas aí a situação sai de controle, o vento aumenta, o incêndio se alastra e a mulher, amarrada, não tem como escapar. Foi o que imaginamos.

‒ Muito fantasioso, eu diria, e pouco apoiado por evidências. Você gosta de fazer jogos como esse com sua parceira?

Talvez atingido em sua intimidade, ele corou, pigarreou e procurou uma maneira de se retirar.

‒ O Magistrado está chegando. Agora será ele quem formulará as hipóteses corretas. Perdoe-me, as minhas eram apenas conjecturas.

O Magistrado era um homem de uns cinquenta anos, cabelos grisalhos, quase tão alto quanto Mauro, magro. Olhando para ele, parecia uma ave de rapina, com nariz adunco, lábios estreitos e óculos de leitura erguidos na testa. Ele se aproximou de Mauro, que apertou sua mão e me apresentou.

‒ Doutor Leone, Doutora Ruggeri. A minha colega acaba de chegar de Ancona e já se encontra em plena atividade.

‒ Sim, estou vendo! Bem, acho que não há muito para eu fazer aqui no momento. Mantenha-me atualizado sobre a investigação e tente encerrar esse caso o mais breve possível. Não estamos acostumados a crimes tão hediondos nesta área e não quero problemas com jornalistas.

Tentei intervir, perguntando se ele gostaria de ir conosco entrevistar a proprietária da casa vizinha, a famosa Aurora, mas ele se despediu com um leve aperto de mão, dizendo:

‒ Bom trabalho!

Não sei por quê, sempre detestei pessoas que, quando lhe dão a mão, não a apertam, mas mesmo assim sorri entredentes e respondi:

‒ Obrigada.

Quando ele se afastou, virei-me para Mauro.

‒ Se o Delegado Geral de Imperia também chegasse agora e fosse igualmente simpático, eu correria o risco de perder o cargo que acabei de ocupar. Você me entende, não é? Bem, enquanto a equipe forense faz seu trabalho aqui, vamos conhecer essa bruxa.

Mauro sorriu para mim com um ar de cumplicidade e me seguiu de bom grado. No geral, eu estava começando a gostar dele e logo descobriria que, por trás do ar de Rambo musculoso, ele escondia uma inteligência aguçada e era um bom observador, elementos que faziam dele um ótimo policial e um bom colaborador.

Um caminho atravessava a vegetação, chegava à estrada de terra por onde tínhamos vindo e levava a uma construção isolada, uma espécie de casa de fazenda, de aparência antiga, mas em muito boas condições.

No pátio em frente, estava exposto o carro da proprietária, um Porsche Carrera cinza metálico. Fomos recebidos por uma bela mulher de uns quarenta anos, loira, com olhos de um raro azul esverdeado, mais alta do que eu, com a pele clara, suave, sem uma ruga visível. Ela vestia um quimono escuro com desenhos estranhos, no qual reconheci alguns símbolos esotéricos, fechado na frente apenas por um cinto. A cada passo, se entrevia na fenda frontal uma longa coxa rosada. O decote dava boa visibilidade aos seios volumosos e não deixava muito para a imaginação. Vi o olhar de Mauro pousar com interesse sobre eles, talvez na esperança de que, mais cedo ou mais tarde, o roupão insípido caísse no chão, revelando aos seus olhos todas as graças de sua dona.

‒ Entrem, fiquem à vontade, eu sou Aurora Della Rosa e esta é minha humilde residência. Desculpem-me, ainda estou me recuperando do susto! Eu estava com medo de que tudo aqui pegasse fogo ontem à noite. Dentro desta casa, tenho um patrimônio de livros e manuscritos, alguns deles muito antigos, alguns únicos no mundo, e, além de minha própria segurança, eu tive muito medo de perder tudo nas chamas.

Sentamo-nos em um salão quadrado, onde notei prateleiras cheias de livros e pergaminhos. Uma parede inteira era ocupada por um espelho e o piso era de mármore altamente polido de várias cores que, como um mosaico, representava a figura de um pentáculo. Eu não conseguia acreditar em meus olhos. Encontrei ali resumido tudo o que eu já havia estudado sobre esoterismo e seitas.

‒ Della Rosa ‒ eu disse, repetindo seu sobrenome. ‒ De La Rose era o nome de uma linhagem francesa de famosos Templários, os cavaleiros guardiões do templo e do Santo Graal.

‒ Dizem que eles existem desde antes do advento do cristianismo. Os Templários eram os guardiões do Templo de Salomão em Jerusalém, de cujas ruínas resta apenas o Muro das Lamentações, sagrado para os judeus. Depois, eles passaram a ser identificados como guardiões do Santo Sepulcro. Na Idade Média, na França, foram declarados hereges, talvez porque se pensava que eles mantinham o Santo Graal escondido e não permitiam que nem mesmo o Papa tivesse acesso ao seu esconderijo, ou talvez porque conheciam segredos importantes que a Igreja não queria que se tornassem públicos. Eles foram torturados, muitos queimados vivos, mas nunca foram completamente aniquilados. Sim, você tem razão, minha família é originária da França, da região de Avignon. Os De La Rose, que tinham posses nesses lugares, lutaram contra os britânicos na Guerra dos Cem Anos, sofrendo muitas perdas. No final do século XIII, alguns membros da família se estabeleceram nesta zona fronteiriça entre a Itália e a França, um lugar tranquilo no meio das montanhas. Mas parece que a Inquisição, mesmo aqui, não deu trégua a uma de minhas antepassadas, que no final do século XVI foi julgada sob a acusação de bruxaria.

Enquanto falava, tirou do bolso do quimono uma cigarreira prateada, dentro da qual havia alguns cigarros que pareciam enrolados à mão. Ela escolheu um, levou-o à boca e estendeu a cigarreira em nossa direção.

‒ Obrigada, eu não fumo ‒ eu disse. ‒ E agradeceria se você também se abstivesse. O fumo me incomoda.

Sem nem mesmo considerar o que eu havia dito, ela acendeu o cigarro, direcionando para mim, quase como um desafio, a primeira nuvem densa de fumaça que exalou. Não sei como contive minha raiva, mas consegui.

‒ Chega de conversa, Aurora Della Rosa! Onde você estava ontem à noite quando o incêndio começou?

Ela sugou novamente e respondeu soprando fumaça junto com as palavras.

‒ Ontem à noite jantei em um restaurante mais abaixo no vale, o Da Luigi. Não estava com vontade de cozinhar e saí. Eu estava voltando para casa quando vi o brilho do fogo e eu mesma chamei o socorro pelo meu celular.

‒ Vamos verificar o que você está dizendo. E, diga-me, imagino que você receba seus clientes aqui em sua casa. Me disseram que você é uma feiticeira, que pessoas de todas as origens e classes sociais vêm aqui para pedir conselhos, comprar poções e assim por diante. A julgar pelo seu carro, é um trabalho que compensa. Não quero expressar minha opinião sobre seu trabalho, só quero perguntar se você recebeu nos últimos dias uma cliente em particular, uma mulher, que poderia ser a vítima cujo corpo encontramos.

‒ Meu Deus! ‒ interrompeu Aurora, mostrando surpresa. ‒ O incêndio causou uma vítima? Quem poderia estar na floresta àquela hora da noite?

‒ Esperávamos que você nos dissesse isso! Vamos lá, faça um esforço, não acho que seja difícil para você.

Com um ar pensativo, ela sugou o cigarro novamente.

‒ O que você pensa do meu trabalho, Doutora…?

‒ Ruggeri, Caterina Ruggeri.

E jogou outra nuvem de fumaça em minha direção.

‒ Veja, o trabalho que nós, magos, fazemos é muito respeitável. Pago meus impostos e também faço parte do sindicato dos magos, e não vendo fumo, como este cigarro. As pessoas vêm porque confiam em mim, e eu também devo respeitar um código de ética e proteger o direito à privacidade dos meus clientes.

‒ Gostaria de invocar o sigilo profissional, por acaso?

Casualmente, ela apagou a bituca em um cinzeiro e continuou.

‒ Não estou aqui vendendo amuletos ou enganando meus clientes sobre seu possível futuro. Tenho bons conhecimentos como herbalista e sei quais doenças podem ser curadas com ervas medicinais e quais devem ser tratadas de forma convencional. Muitas pessoas vêm aqui pedindo bons conselhos e eu os dou, com base na minha ciência e na minha experiência. Ninguém nunca se queixou de ter sido enganado por mim, eu sempre digo o que a pessoa espera, e todos saem felizes e com o coração enriquecido.

‒ Sim, mas com a carteira empobrecida. Vamos lá, eu conheço bem sua categoria, você é capaz de fazer as pessoas acreditarem que seus enganos são grandes remédios. Posso concordar sobre a medicina natural, mas sobre o resto…

‒ Dra. Ruggeri, não seja preconceituosa! Todos nós somos levados a acreditar que aquilo que vemos, ouvimos e tocamos é a verdade, que não há nada além do que é perceptível pelos nossos cinco sentidos, mas às vezes não é assim. Dentro desta sala, podem ser criados efeitos ópticos e acústicos que fazem o que é real parecer falso e o que é falso parecer real. Tente me tocar, colocar sua mão em meu ombro e se apoiar em mim!

Aproximei-me e tentei tocá-la, mas minha mão sentiu o vazio onde eu realmente podia ver sua imagem.

‒ É um jogo de espelhos ‒ eu disse. ‒ Algum tipo de truque mágico!

‒ E agora vá ao centro do pentáculo, no ladrilho central, e fale. Você ouvirá a sua voz soando em seus ouvidos como se viesse de um poderoso sistema estéreo.

‒ Claro, efeito da acústica da sala! Era assim também nos anfiteatros romanos. Uma questão de arquitetura! Você está desviando a conversa, tentando me distrair dos meus objetivos. Disseram-me que, entre seus visitantes, há uma categoria particular, adeptos de uma seita que lhe reconhecem como uma santa. Estes vêm aqui para obter acesso à biblioteca e completar o processo para alcançar vários níveis de conhecimento nas artes esotéricas. Você recebeu essas visitas recentemente?

‒ A seita de que fala chama-se Oamolas ed sovres, e não é uma seita satânica. Seus adeptos, através dos diversos níveis, adquirem conhecimentos ignorados pelos mortais comuns. Há séculos, aqueles que chegam aqui, ou em três ou quatro outros lugares espalhados pelo mundo semelhantes a este, aspiram atingir um dos níveis mais elevados de conhecimento, o sétimo, para o qual existe um caminho difícil. Por gerações, minha família tem sido guardiã de textos que só podem ser acessados por aqueles que concluíram os níveis anteriores. Aqueles que querem ir além, para alcançar o Conhecimento Universal, devem fazer a peregrinação ao Templo do Conhecimento e da Regeneração, que está localizado em um vale remoto entre o Nepal e o Tibete, de muito difícil acesso.

‒ Imagino que você já tenha feito essa peregrinação, mas não é isso que quero saber. Repito a pergunta: você recebeu a visita de algum desses adeptos nos últimos dias?

‒ Já contei isso a outros policiais e carabinieri que me interrogaram. A última visita desse tipo foi em 1997, quando veio uma feiticeira originária de um pequeno vilarejo em Abruzzo, Sant’Egidio alla Val Vibrata. Ela se chamava Mariella, A Ruiva. Ela me disse que, antes de enfrentar as provas a que eu a submeteria, queria visitar os lugares mágicos nos bosques e ao redor de Triora, a Fonte de Campomavùe e a Fonte das Nozes, a Rua Atrás da Igreja e o Lago Degnu. Era o dia do solstício de verão, uma das datas típicas em que as bruxas e os bruxos se reúnem, também nestes locais, para o ritual do Sabbath. Mariella saiu ao pôr do sol e nunca mais voltou.

‒ E você certamente não participou do Sabbath e nem imagina o que aconteceu com Mariella! Vamos lá, sabemos muito bem que esses chamados Sabbaths são a ocasião para realizar rituais satânicos, às vezes violência sexual, outras vezes sacrifícios de animais ou de pessoas. Com sua lavagem cerebral, vocês convencem algumas pessoas, as psicologicamente mais fracas, a serem purificadas, a renascerem para uma nova vida e assim por diante, desde que se submetam à violência proposta durante os ritos. Sem mencionar todos aqueles que você engana para obter lucro. Não são incomuns os casos em que alguém perdeu todos os seus bens para seguir um Guru.

‒ Eu já lhe disse que nossa seita não é satânica. Aqueles que se juntam à nossa organização o fazem por livre escolha e pelo desejo de alcançar elevados níveis de conhecimento. Repito que não sou uma vendedora de fumo, e tudo o que digo ou prego sempre se tornou realidade. Mostre-me sua mão esquerda e me olhe nos olhos, Dra. Ruggeri. Como você sabe que não é uma de nós, talvez sem se dar conta disso? Vejo que sofreu quando menina, vejo os lutos familiares que a marcaram, vejo uma vida amorosa complicada, mas que recentemente foi resolvida de forma positiva. Você tem poderes além do normal, tem percepções notáveis, tem uma aura muito forte, vermelha como fogo, nada lhe escapa naqueles que estão à sua frente, nem mesmo um único detalhe. E agora vá, Dra. Caterina Ruggeri, já sei tudo o que há para saber sobre você.

Sem nem perceber, me vi do lado de fora da casa de Aurora, no pátio, seguida por Mauro que, com um sorriso irônico, comentou o que havia presenciado.

‒ Essa mulher tem poderes hipnóticos. Ela fez você fazer tudo o que ela queria. Ela basicamente nos expulsou à sua maneira e, como todos os outros que vieram antes de nós, também estamos saindo com o rabo entre as pernas.

‒ Sim, mas a bruxa está certa, nada me escapa, nem um único detalhe. Voltaremos com uma estratégia diferente. Eu só preciso pensar e vir aqui preparada. Vamos voltar para verificar se a equipe forense terminou seu trabalho e depois damos uma olhada nos arredores. Quais eram os nomes dos lugares que essa maléfica mencionou relacionados com Mariella, A Ruiva?

‒ Fonte de Campomavùe, Fonte das Nozes, Rua Atrás da Igreja e Lago Degnu.

‒ Puxa, parabéns, você tem uma boa memória! Com você não há necessidade de gravadores ou cadernos!

‒ Sim, no entanto, lembre-se de que o palmtop pode ser útil para gravar conversas. É um modelo muito sensível e, mesmo que você o guarde no bolso, ele consegue gravar.

‒ Ah, obrigada por me dizer. Certamente também será útil para tirar fotos!

Os homens de macacão branco e luvas de látex estavam terminando seu trabalho na cena do crime. Enquanto um tirava fotos, outro coletava o solo ao redor da vítima e colocava as amostras dentro de sacos plásticos, e ainda outro espalhava Luminol para procurar vestígios ocultos de sangue.

‒ Encontraram algo interessante? ‒ perguntei.

‒ Parece que o incêndio foi iniciado com um líquido inflamável, não gasolina, mas outra coisa que tentaremos identificar no laboratório. Também encontramos vestígios de cera, talvez provenientes de uma tocha feita de papel prensado e cera, daquelas usadas em procissões e cortejos, por exemplo ‒ respondeu-me um dos três.

‒ Você encontrou a tocha?

‒ Não, Doutora. Mas também estamos recolhendo os detritos carbonizados, talvez possamos encontrar algo útil. Assim que o trabalho no laboratório for concluído, nós lhe enviaremos um relatório detalhado. Por enquanto, terminamos aqui. O carro do IML chegou e podemos transferir o cadáver para o necrotério.

No caminho de volta para a praça onde nosso carro estava estacionado, uma placa de madeira indicando a Fonte das Nozes chamou minha atenção.

‒ Vamos dar uma olhada? ‒ disse para Mauro e, sem esperar sua resposta, tomei o caminho que levava a uma área de floresta densa. Avançamos um pouco e chegamos a uma clareira dominada por uma grande nogueira, perto da qual jorrava uma convidativa fonte de água. Dado o calor e o cansaço do dia, Mauro e eu tomamos alguns goles de água bem fresca e então começamos a olhar em volta em busca de algo particular, algum sinal, alguma pista. À primeira vista, não parecia haver nada de interessante. Enquanto lamentava não ter comigo o meu fiel Fúria, um rastreador incomparável, meu olhar caiu bem ao lado da grande árvore, onde notei um pouco de terra solta.

‒ Foi feito um desenho no chão com um objeto pontiagudo, uma faca ou uma vara. Geralmente, os membros das seitas realizam rituais em determinados locais, desenhando símbolos, pentáculos ou qualquer outra coisa, que acabam sendo removidos. Parece que aqui o desenho foi apagado às pressas, pois algumas partes dele ainda podem ser vistas. Também é possível distinguir algumas inscrições. Talvez a cerimônia tenha sido interrompida ou perturbada e os adeptos tiveram que fugir, caso contrário, eles teriam tido muito mais cuidado em apagar todos os vestígios.

‒ Você está pensando em uma Missa Negra, talvez com o sacrifício de, sei lá, um animal, uma virgem ou um dos próprios seguidores?

‒ Por enquanto, não penso em nada, me limito a observar e absorvo o que vejo e ouço. Há muitos elementos, mas ainda não sei quais podem ser úteis e quais não. O caminho segue naquela direção. Vamos continuar?

Depois de alguns passos, a vegetação ficou tão emaranhada que parecia que o caminho tinha acabado. Eu estava prestes a voltar por onde vim quando vislumbrei, a uns trinta metros de distância, uma estrutura enferrujada.

‒ Deve ser a carcaça do veículo de lenha que pegou fogo anos atrás. Ninguém se preocupou em removê-la, até porque o proprietário já havia falecido há muito tempo. Com essa mata fechada, eu acho que nunca conseguiremos chegar até lá ‒ comentou Mauro.

‒ Sim, teremos que trazer algum equipamento adequado para limpar a vegetação e então dar uma olhada ‒ respondi. ‒ Vamos voltar para o carro agora!

Partimos em um ritmo moderado pelas curvas fechadas que levavam de volta ao fundo do vale, percorrendo o encantador Vale Argentina. Depois de passar pelo vilarejo de Molini di Triora, a estrada descia novamente. Uma placa indicava que, a poucas centenas de metros dali, encontraríamos o restaurante Da Luigi.

‒ Vamos checar o álibi da bruxa? ‒ propus a Mauro.

‒ Sim, com prazer ‒ foi sua resposta. ‒ E como já é fim da tarde e ainda não comemos nada, eu proponho aproveitar a ida ao restaurante para isso.

O lugar estava deserto àquela hora. Sentamos em uma das mesas e esperamos alguém aparecer. O proprietário do estabelecimento, um homem de uns quarenta e cinco anos, acima do peso, com o rosto corado e suado, não demorou a aparecer.

‒ Posso ajudá-los, senhores? Infelizmente, a esta hora não temos muita coisa na cozinha.

‒ Polícia ‒ falou Mauro. ‒ Poderia responder a algumas de nossas perguntas?

‒ Presumo que seja pelo crime de ontem à noite. O local é bem longe daqui. Como posso ser útil?

‒ Você conhece Aurora Della Rosa, certo? ‒ perguntei.

‒ Claro, é uma cliente fiel, ela vem aqui de vez em quando e eu aproveito para pedir alguns conselhos. Eu sofro de dor no ciático e ela tem remédios paliativos à base de ervas, muito melhores do que a medicina convencional.

‒ Ela esteve aqui ontem à noite?

‒ Sim, chegou por volta das 21h30 e saiu tarde, mais de meia-noite. Ela estava estranha, mais taciturna do que o normal. Pediu uma refeição, mas acho que não tocou na comida. Também tive que chamar sua atenção porque, sentada à mesa, ela acendeu um cigarro e estava fumando na sala. Não havia muitos clientes presentes, e ninguém reclamou, mas sendo proibido por lei, você sabe, eu tive que intervir!

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Дата выхода на Литрес:
30 января 2025
Объем:
434 стр. 7 иллюстраций
ISBN:
9788835465072
Правообладатель:
Tektime S.r.l.s.
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