Enterrados

Текст
Из серии: Um Mistério de Riley Paige #11
0
Отзывы
Читать фрагмент
Отметить прочитанной
Как читать книгу после покупки
Шрифт:Меньше АаБольше Аа

CAPÍTULO SEIS

O chefe Belt encaminhou-se para o homem que se aproximava.

Disse, “Ouça, esta área está fechada. Não viu a barreira?”

“Está tudo bem,” Disse Riley. “Este é o Agente Especial Bill Jeffreys. Ele está connosco.”

Riley foi ter com Bill e falou de forma a não serem ouvidos pelos outros.

“O que é que aconteceu?” Perguntou ela. “Porque é que não respondeste às minhas mensagens?”

Bill sorriu envergonhado.

“Estava só a ser idiota. Eu… “ Não conseguiu prosseguir e desviou o olhar.

Riley esperou pela sua resposta.

Então ele finalmente disse, “Quando recebi as tuas mensagens, não sabia se estava pronto. Liguei ao Meredith para saber mais pormenores, mas mesmo assim fiquei sem saber se estava pronto. Raios, eu nem sabia se estava pronto quando já estava a vir para cá. Só soube que já estava pronto quando vi…”

Apontou para o corpo.

Acrescentou, “Agora sei. Estou pronto para regressar ao trabalho. Contem comigo.”

A sua voz era firme e a sua expressão era assertiva. Riley suspirou de alívio.

Conduziu Bill até ao pessoal reunido à volta do buraco onde se encontrava o corpo. Apresentou-o ao chefe e ao médico-legista.

Jenn já conhecia Bill e parecia contente por vê-lo, o que agradou a Riley. A última coisa de que Riley precisava era que Jenn se sentisse marginalizada ou ressentida.

Riley e os outros disseram a Bill o pouco que sabiam até ao momento. Ele ouviu com um olhar que demonstrava grande interesse.

Por fim, Bill disse ao médico-legista, “Penso que já pode levar o corpo. Isto é, se a Agente Paige não se importar.”

“Por mim, tudo bem,” Concordou Riley. Ela estava feliz por ver o velho Bill em ação novamente.

Enquanto a equipa do médico-legista começou a retirar o corpo do buraco, Bill analisou a área durante uns instantes.

Perguntou a Riley, “Foram ao local do primeiro homicídio?”

“Ainda não,” Respondeu.

“Então temos que lá ir,” Disse ele.

Riley disse ao chefe Belt, “Vamos até à outra cena de crime.”

O chefe concordou. “Não fica muito longe daqui,” Acrescentou.

Todos conseguiram passar pelos jornalistas mais uma vez sem tecer quaisquer comentários. Riley, Bill e Jenn entraram no SUV do FBI, e o chefe Belt e o médico-legista seguiram noutro carro. O chefe guiou-os pela praia ao longo de uma estrada de terra até uma área arborizada. Quando a estrada terminou, estacionaram os carros. Riley e os seus colegas seguiram dois polícias a pé ao longo de um trilho no meio das árvores.

O chefe manteve o grupo num dos lados do trilho, apontando para algumas pegadas nítidas ali em solo mais firme.

“Ténis normais,” Comentou Bill.

Riley anuiu. Conseguiu ver aquelas pegadas em ambas as direções, mas tinha a certeza de que não dariam muitas informações, tirando o tamanho que o assassino calçava.

Contudo, algumas marcas interessantes estavam intercaladas com as pegadas. Duas linhas instáveis estavam marcadas na terra.

“O que te parecem estas linhas?” Perguntou Riley a Bill.

“Marcas de um carrinho de mão, a ir e a vir,” Disse Bill. Olhou por cima do ombro na direção da estrada e acrescentou, “Penso que o assassino estacionou onde nós estacionámos agora e trouxe as sus ferramentas por este caminho.”

“Foi a conclusão a que também chegámos,” Concordou Belt. “E foi-se embora também por este caminho.”

Dali a pouco chegaram a um ponto onde o caminho se intercetava com outro mais estreito. No meio do caminho mais pequeno encontrava-se um buraco longo e fundo. Devia ter a largura do caminho.

O chefe Belt apontou para onde o novo caminho surgia das árvores circundantes. “A outra vítima parece ter vindo a correr daquela direção,” Disse ele. “O buraco estava camuflado e ela caiu dentro dele.”

Terzis acrescentou, “Ficou com o tornozelo partido, provavelmente da queda. E por isso ficou indefesa quando o assassino começou a atirar-lhe terra.”

Riley estremeceu novamente ao pensar naquela forma horrível de se morrer.

Jenn disse, “E tudo isto aconteceu ontem.”

Terzis anuiu e disse, “Tenho quase a certeza que a hora da morte foi a mesma do homicídio na praia – provavelmente por volta das seis da manhã.”

“Antes do nascer do sol,” Acrescentou Belt. “Ainda estaria bastante escuro. Alguém que corria por aqui depois do amanhecer viu a terra remexida e ligou-nos.”

Enquanto Jenn tirava mais fotos, Riley observou a área com atenção. O seu olhar pousou numas ervas pisadas pelo carrinho de mão. Viu que o assassino colocara a terra a cerca de cinco metros de distância do trilho. Havia grande densidade de árvores por ali, por isso alguém que corresse não teria visto nem o assassino, nem a terra ao aproximar-se a correr naquela direção.

Agora o buraco tinha sido novamente escavado pela polícia que empilhara a terra ao lado dele.

Riley lembrou-se que Meredith tinha referido o nome da vítima em Quantico, mas não se conseguia lembrar.

Riley disse ao chefe Belt, “Presumo que conseguiram identificar a vítima.”

“Sim,” Disse Belt. “Tinha identificação, tal como o Todd Brier. Chamava-se Courtney Wallace. Vivia em Sattler, mas eu não a conhecia pessoalmente por isso não lhe consigo adiantar muito sobre ela neste momento, tirando o facto de que era jovem, andaria pelos vinte e poucos anos.”

Riley ajoelhou-se junto ao buraco e olhou lá para dentro. Conseguiu ver de imediato como é que o assassino tinha montado a sua armadilha. No fundo do buraco via-se um cobertor pesado com folhas e destroços agarrados. Fora colocado por cima do buraco, invisível para um corredor desavisado, ainda para mais na escuridão que precedia o amanhecer.

Tentou não se esquecer que teria chamar uma equipa forense da UAC para passar a pente fino ambos os locais. Talvez conseguissem chegar à origem do cobertor.

Entretanto, Riley começava a ter a mesma sensação que a arrebatara na praia, a sensação de entrar na mente do assassino. Mas desta vez não era tão vivida. Conseguia, no entanto, imaginá-lo empoleirado exatamente onde ela se encontrava ajoelhada naquele momento, olhando para baixo para a sua presa indefesa.

Então, o que é que ele fizera naqueles instantes antes de começar a enterra-la viva?

Riley lembrou-se da sua impressão anterior – ele era encantador e simpático.

De início deve ter demonstrado surpresa por encontrar a mulher no buraco. Até lhe pode ter dado a entender que ia ajudá-la a sair dali.

Ela confiou nele, Pensou Riley. Nem que fosse por um momento.

Depois ele começou a importuná-la.

E pouco depois, começou a despejar o carrinho de mão cheio de terra em cima dela.

Ela deve ter gritado quando se apercebeu do que estava a acontecer.

Então como é que ele reagiu aos seus gritos?

Riley teve a sensação de que o seu sadismo veio completamente ao de cima. Parou a sua tarefa para atirar uma pá repleta de terra para o seu rosto – não tanto para a impedir de gritar, mas para a atormentar.

Riley tremeu.

E sentiu-se aliviada quando aquela sensação de ligações começou a desaparecer.

Agora podia voltar a observar a cena do crime com um olhar mais objetivo.

A forma do buraco parecia-lhe estranha. A ponta onde se encontrava estava escavada numa forma de cunha pontiaguda. A outra ponta refletia a mesma forma só que invertida.

Parecia que o assassino se tinha empenhado naquilo.

Mas porquê? Interrogou-se Riley. O que poderia significar?

Naquele momento, ouviu a voz de Bill algures atrás dela.

“Encontrei alguma coisa. Venham cá todos ver.”

CAPÍTULO SETE

Riley voltou-se ao som da voz de Bill. A sua voz vinha detrás das árvores de um dos lados do caminho.

“O que é?” Perguntou o chefe Belt.

“O que é que encontrou?” Questionou também Terzis.

“Venham até aqui,” Disse Bill novamente.

Riley levantou-se e foi na sua direção. Viu arbustos pisados no local onde ele estivera.

“Vêm?” Perguntou Bill, começando a parecer um pouco impaciente.

Riley percebeu pelo seu tom de voz que era sério.

Seguida por Belt e Terzis, Riley percorreu o matagal até chegarem a uma pequena clareira onde se encontrava Bill que olhava para o chão.

Ele tinha mesmo encontrado alguma coisa.

Outro cobertor estava esticado no chão, preso por pequenas cavilhas nos cantos.

“Meu Deus,” Murmurou Terzis.

“Não outro corpo,” Disse Belt.

Mas Riley sabia que tinha que ser algo diferente. Para começar, o buraco era muito mais pequeno do que o outro e de forma quadrada.

Bill estava a colocar luvas de plástico para evitar deixar impressões digitais no que quer que encontrasse. Depois ajoelhou-se e puxou o cobertor cuidadosamente.

Riley só conseguia ver um pedaço escuro e circular e madeira polida.

Bill pegou com cuidado no círculo de madeira com ambas as mãos e puxou-o para cima.

Todos exceto Bill ficaram surpresos com aquilo que ele retirou lentamente do buraco.

“Uma ampulheta!” Disse o chefe Belt.

“A maior que eu já vi,” Acrescentou Terzis.

E de facto, o objeto tinha mais de sessenta centímetros de altura.

“Tens a certeza de que não se trata de algum tipo de armadilha?” Perguntou Riley.

Bill levantou-se com o objeto, mantendo-o na perpendicular, manuseando-o de forma tão delicada como se tratasse se um dispositivo explosivo. Colocou-o de pé no chão ao lado do buraco.

 

Riley ajoelhou-se e examinou-o com atenção. A coisa parecia não ter fios ou molas. Mas estaria alguma coisa escondida debaixo daquela areia? Inclinou o objeto e não viu nada de estranho.

“É apenas uma grande ampulheta,” Murmurou. “E escondida tal como a armadilha no trilho.”

“Não é bem uma ampulheta,” Disse Bill. “Tenho a certeza de que mede um período de tempo superior a uma hora. É aquilo que se chama de relógio de areia.”

O objeto era muito belo. Os dois globos de vidro eram requintados e estavam ligados por uma abertura estreita. As peças redondas de madeira do topo e fundo estavam ligadas por três hastes de madeira, esculpidas com padrões decorativos.

Riley já tinha visto relógios de areia antes – versões muito mais pequenas para cozinhar que contavam três ou cinco ou vinte minutos. Este era muito maior.

O globo da base estava parcialmente coberto com areia escura.

No globo de cima não havia areia.

O chefe Belt perguntou a Bill, “Como é que sabia que estava aqui alguma coisa?”

Bill estava agachado ao lado do relógio de areia, examinando-o atentamente. Perguntou, “Mais alguém notou algo de estranho na forma do buraco do trilho?”

“Eu notei,” Disse Riley. “As extremidades do buraco foram escavadas em forma de cunha.”

Bill anuiu.

“Mais ou menos a forma de uma seta. A seta apontava para onde o caminho se afastava e alguns dos arbustos estavam pisados. Limitei-me a ir para onde estava a apontar.”

O chefe Belt ainda olhava para o relógio de areia com espanto.

“Bem, temos sorte em tê-lo descoberto,” Disse ele.

“O assassino queria que o encontrássemos,” Murmurou Riley. “Ele queria que déssemos com ele.”

Riley olhou para Bill, depois para Jenn. Ela sabia que eles estavam a pensar exatamente no que ela estava a pensar.

A areia no relógio tinha-se escoado.

De alguma forma, ainda incompreensível para eles, isso significava que não estavam com sorte nenhuma.

Riley olhou para Belt e perguntou, “Algum dos seus homens encontrou um relógio destes na praia?”

Belt abanou a cabeça e disse, “Não.”

Riley foi arrebatada por uma intuição soturna.

“Então é porque não procuraram suficientemente bem,” Disse ela.

Nem Belt, nem Terzis falaram naquele momento. Parecia que não acreditavam no que estavam a ouvir.

Então Belt disse, “Ouçam, algo como isto ter-se-ia certamente destacado. Tenho a certeza de que não se encontrava nada de semelhante na área próxima.”

Riley não gostou do que ouviu. Esta coisa que tinha sido ali colocada tão cuidadosamente tinha que ser importante. Ela tinha a certeza que os polícias tinham negligenciado outro relógio de areia.

Seguindo essa lógica, também tinham ela, Bill e Jenn quando tinham estado na praia. Onde estaria esse outro relógio?

“Temos que regressar e procurar,” Disse Riley.

Bill carregou o enorme relógio para o SUV. Jenn abriu a mala e ela e Bill colocaram o objeto lá dentro, certificando-se de que estava seguro e fixo contra qualquer movimento repentino. Cobriram-no com um cobertor que se encontrava no SUV.

Riley, Bill e Jenn entraram no SUV e seguiram o carro do chefe da polícia em direção à praia.

O número de jornalistas reunidos na área de estacionamento aumentara e pareciam estar mais agressivos. Quando Riley e os seus colegas passaram por eles e pela fita amarela, ela interrogou-se quanto mais tempo seriam eles capazes de ignorar as suas perguntas.

Quando chegaram à praia, o corpo já não estava no buraco. A equipa do médico-legista já o tinha colocado na sua carrinha. Os polícias locais ainda procuravam pistas na área.

Belt chamou os seus homens que se reuniram à sua volta.

“Alguém viu um relógio de areia por aqui?” Perguntou ele. “Teria o aspeto de uma grande ampulheta, com pelo menos sessenta centímetros de altura.”

Os polícias pareceram espantados com a pergunta. Abanaram as cabeças em sinal negativo.

Riley começava a sentir-se impaciente.

Deve estar algures por aqui, Pensou ela. Riley foi até uma pequena colina relvada e olhou à sua volta. Mas não viu nenhuma ampulheta, nem sequer terra remexida que indicasse que algo ali teria sido enterrado há pouco tempo.

Ou estaria a sua intuição a pregar-lhe partidas? Às vezes acontecia.

Não desta vez, Pensou.

O seu instinto dava-lhe garantias.

Voltou para trás e ficou a olhar para o buraco. Era muito diferente daquele que tinham acabado de observar na zona arborizada. Era mais superficial, sem grande forma. O assassino não teria conseguido moldar a areia seca da praia em forma de seta.

Olhou em seu redor e perscrutou todas as direções.

Tudo o que viu foi areia e mar.

A maré agora estava baixa. É claro que o assassino poderia ter feito uma espécie de escultura com areia húmida em forma se seta, mas teria seria visto de imediato. Se não tivesse sido destruído, ainda estaria visível.

Riley perguntou aos outros, “Viram mais alguém próximo daqui – para além do homem com o cão que descobriu o corpo?”

Os polícias encolheram os ombros e olharam uns para os outros .

Um deles disse, “Ninguém a não ser o Rags Tucker.”

Os olhos de Riley dilataram-se.

“Quem é ele?” Perguntou.

“É só um excêntrico,” Disse o chefe Belt. “Vive numa pequena barraca ali.”

Belt apontou para um ponto na praia onde a linha de água fazia um cotovelo.

Riley agora estava a ficar um pouco zangada.

“Porque é que ninguém o tinha mencionado antes?” Explodiu.

“Não havia grande necessidade,” Disse Belt. “Falámos com ele quando cá chegámos. Ele não viu nada relacionado com o homicídio. Disse que estava a dormir quando os acontecimentos ocorreram.”

Riley soltou um grunhido de irritação.

“Vamos ter com este tipo,” Disse ela.

Seguida por Bill, Jenn e o chefe Belt, começou a caminhar pela areia.

Enquanto caminhavam, Riley disse a Belt, “Pensei que tivessem encerrado a praia.”

“E encerrámos,” Disse Belt.

“Então o que é que alguém estava aqui a fazer?” Perguntou Riley.

“Bem, como eu disse, o Rags praticamente vive aqui,” Disse Belt. “Não parecia lógico expulsá-lo daqui. Para além disso, não tem mais para onde ir.”

Depois de contornarem a curva, Belt conduziu-os até uma colina relvada. O grupo percorreu com alguma dificuldade a areia fofa e erva alta até ao topo da colina. Dali Riley viu uma pequena barraca improvisada a cerca de noventa metros de distância.

“É a casa do velho Rags,” Disse Belt.

Ao aproximarem-se, Riley viu que estava coberta com sacos de plástico e cobertores. Atrás da colina, estava a salvo do mar quando a maré enchesse. A barraca estava rodeada de cobertores cobertos com o que pareciam ser todo o tipo de objetos.

Riley disse a Belt, “Fale-me deste Rags Tucker. Belle Terre não tem leis contra a vagabundagem?”

Belt deu uma risada.

Disse, “Bem, sim, mas o Rags não é exatamente um vagabundo típico. Ele é pitoresco e as pessoas gostam dele, sobretudo os visitantes. E acredite em mim quando lhe digo que não é um suspeito. Ele é o tipo mais inofensivo do mundo.”

Belt apontou para as coisas no cobertor.

“Ele montou uma espécie de negócio com todas as coisas que tem. Apanha lixo da praia e as pessoas vêm até cá comprar coisas ou trocar coisas que já não querem. A maior parte das vezes é apenas uma desculpa para as pessoas virem até cá e falarem com ele. Faz isto todo o verão enquanto o tempo aqui estiver bom. Consegue juntar dinheiro suficiente para alugar um pequeno apartamento barato em Sattler no inverno. Então, quando o tempo fica bom outra vez, ele regressa.”

Ao aproximarem-se, Riley conseguiu ver os objetos com mais clareza. Era realmente uma coleção bizarra que incluía troncos, conchas e outros objetos naturais, mas também velhas torradeiras, televisões arruinadas, velhos candeeiros e outros itens que os visitantes lhe haviam trazido.

Quando chegaram à extremidade dos cobertores esticados, Belt chamou, “Ei, Rags. Será que podemos conversar contigo mais um bocado?”

Uma voz áspera respondeu do interior da barraca.

“Já vos disse, não vi ninguém. Ainda não apanharam o sacana? Não gosto nada da ideia de ter um assassino à solta na minha praia. Se soubesse alguma coisa, já vos tinha dito.”

Riley avançou na direção da barraca e disse, “Rags, preciso de falar consigo.”

“Quem é você?”

“FBI. Será que encontrou um grande relógio de areia? Sabe, algo semelhante a uma ampulheta.”

Durante alguns instantes não se ouviu qualquer resposta. Então, uma mão no interior da barraca afastou um lençol que cobria a entrada.

Lá dentro estava um homem esquelético sentando de pernas cruzadas com os seus olhos grandes a fixá-la.

E mesmo à sua frente estava um enorme relógio de areia.

CAPÍTULO OITO

O homem na barraca olhou para Riley com os seus grandes olhos cinzentos. A atenção de Riley dividia-se entre o vagabundo e o grande relógio de areia à sua frente. Era-lhe difícil decidir qual deles era mais surpreendente.

Rags Tucker tinha cabelo comprido grisalho e uma barba que lhe chegava à cintura. As suas roupas esfarrapadas condiziam com o seu nome.

É claro que ela se interrogou…

É um suspeito?

Parecia-lhe difícil de acreditar. Os seus membros eram magros e não parecia ser suficientemente robusto para ter concretizado qualquer daqueles homicídios. Dele emanava um quê de inofensivo.

Riley também suspeitava que a sua aparência desalinhada era mais uma representação. Ele não cheirava mal, pelo menos de onde ela se encontrava e as suas roupas pareciam limpas apesar de coçadas e rasgadas.

Quanto ao relógio de areia, era muito parecido com aquele que tinha encontrado junto ao caminho. Tinha mais de sessenta centímetros de altura, rebordos ondulados no topo e três hastes esculpidas com habilidade a segurar a estrutura.

Contudo, não era igual ao outro. Por um lado, o da zona arborizada não era tão escuro – era mais de um castanho avermelhado. Apesar dos padrões esculpidos serem semelhantes, não pareciam réplicas exatas dos desenhos que tinham visto no primeiro relógio de areia.

Mas essas pequenas variações não eram as diferenças mais significativas entre os dois.

O maior contraste estava na areia que assinalava a passagem do tempo. NO relógio que Bill encontrara entre as árvores, toda a areia se encontrava no globo inferior. Mas neste relógio, a maior parte da areia ainda se encontrava no globo superior.

Esta areia estava em movimento, caindo lentamente para o globo inferior.

Riley tinha a certeza de uma coisa – que o assassino queria que aquele relógio fosse encontrado, tal como quisera que o outro também fosse descoberto.

Finalmente Tucker falou, “Como sabia que o tinha?” Perguntou a Riley.

Riley mostrou o seu distintivo.

“Eu faço as perguntas, se não se importar,” Disse ela numa voz calma. “Como é que o obteve?”

Tucker encolheu os ombros.

“Foi um presente,” Disse ele.

“De quem?” Perguntou Riley.

“Dos deuses, talvez. Caiu do céu. Quando olhei para o exterior esta manhã, vi-o logo, ali nos cobertores com as minhas outras coisas. Trouxe-o para dentro e voltei a dormir. Depois acordei novamente e sentei-me aqui a observá-lo.”

Olhou com muita atenção para o relógio de areia.

“Nunca tinha observado o tempo a passar,” Disse ele. “É uma experiência única. Parece que passa rápido e lentamente ao mesmo tempo. E passa uma sensação de inevitabilidade. O tempo não pode voltar atrás, como se costuma dizer.”

Riley perguntou a Tucker, “A areia estava a mover-se assim quando o encontrou ou virou-o?”

“Mantive-o como estava,” Disse Tucker. “Acha que me atreveria a alterar o fluxo do tempo? Não interfiro com questões cósmicas como essa. Não sou tão estúpido.”

Não, ele não é mesmo nada estúpido, Pensou Riley.

Sentiu que começava a compreender Rags Tucker melhor à medida que a conversa avançava. Esta figura vestida de trapos era cuidadosamente cultivada para o divertimento dos visitantes. Tinha-se transformado numa atração local ali em Belle Terre. E pelo que o chefe Belt dissera sobre ele, Riley sabia que levava uma vida modesta. Estabelecera-se como um acessório local e adquiriu autorização tácita para viver onde e como queria.

 

Rags Tucker estava ali para divertir e para o divertirem.

Ocorreu a Riley que se tratava de uma situação delicada.

Ela precisava de afastar aquele relógio de areia dele. Queria fazê-lo rapidamente e sem dar muito nas vistas.

Mas estaria ele disposto a dar-lho?

Apesar de ela conhecer muito bem as leis sobre buscas e apreensões, não sabia muito bem como é que se aplicavam a um vagabundo a viver numa barraca em propriedade pública.

Era muito melhor tratar daquilo sem precisar de um mandado, mas tinha que proceder com cuidado.

Disse a Tucker, “Pensamos que tenha sido aqui deixado por quem cometeu os dois crimes.”

Os olhos de Tucker dilataram-se.

Então Riley disse, “Temos que levar este relógio connosco. Pode ser uma prova importante.”

Tucker abanou a cabeça lentamente.

Disse, “Está a esquecer-se da lei da praia.”

“E que lei é essa?” Perguntou Riley.

“’Achado não é roubado’. Para além disso, se isto é mesmo um presente dos deuses, não me devo separar dele. Não quero ir contra a vontade do cosmos.”

Riley estudou a sua expressão. Ela sabia que ele não era doido ou idiota – apesar de às vezes agir nesse sentido. Mas isso era apenas parte do espetáculo.

Não, este vagabundo específico sabia exatamente o que estava a fazer e a dizer.

Está a fazer negócios, Pensou Riley.

Riley abriu a sua carteira, tirou uma nota de vinte solares e entregou-lha.

Disse, “Talvez isto ajude a resolver as coisas com o cosmos.”

Tucker sorriu muito levemente.

“Não sei,” Disse ele. “O universo está com uns preços bem caros.”

Riley sentiu que entrava no jogo do homem e que jogava em concordância.

Ela disse, “Está sempre em expansão, não é?”

“Pois, desde o Big Bang,” Disse Tucker. Esfregou os dedos e acrescentou, “E parece que está a passar por uma nova fase de inflação.”

Riley não conseguiu evitar admirar a astúcia do homem – e a sua criatividade. Ela calculou que seria melhor fazer negócio com ele antes da conversa se aprofundar.

Tirou outra nota de vinte dólares da carteira.

Tucker surripiou as duas notas da sua mão.

“É seu,” Disse ele. “Tome bem conta dele. Tenho a sensação de que esta coisa é poderosa.”

Riley deu por si a pensar que ele tinha razão – provavelmente mais razão do que poderia saber.

Com um sorriso, Rags Tucker acrescentou, “Penso que consegue lidar com isso.”

Bill colocou novamente as luvas e aproximou-se do relógio para o pegar.

Riley disse-lhe, “Tem cuidado, mantém-no o mais imóvel possível. Não queremos interferir com a velocidade a que avança.”

Quando Bill pegou no relógio, Riley disse a Tucker, “Obrigada pela ajuda. Podemos voltar para fazer mais perguntas. Espero que esteja disponível.”

Tucker encolheu os ombros e disse, “Estarei aqui.”

Ao virarem-se para irem embora, o chefe Belt perguntou a Riley, “Quanto tempo pensa que vai decorrer até toda a areia cair no fundo?”

Riley lembrou-se que o médico-legista dissera que ambos os homicídios tinham ocorrido por volta das seis horas da manhã. Riley olhou para o seu relógio. Eram quase onze. Fez algumas contas de cabeça.

Riley disse a Belt, “A areia estará toda no fundo daqui a cerca de dezanove horas.”

“E o que acontece então?” Perguntou Belt.

“Alguém morre,” Disse Riley.

Бесплатный фрагмент закончился. Хотите читать дальше?
Купите 3 книги одновременно и выберите четвёртую в подарок!

Чтобы воспользоваться акцией, добавьте нужные книги в корзину. Сделать это можно на странице каждой книги, либо в общем списке:

  1. Нажмите на многоточие
    рядом с книгой
  2. Выберите пункт
    «Добавить в корзину»