Читать книгу: «Um Quarto De Lua», страница 3
ao longo do caminho podia admirar, além das classicas luzes e bandeirinhas coloridas, as decoraçoes que naquele ano os organizadores da festa tinham efectuado.
Nas margens das ruas, fardos de feno quadrados, rectangulares, em suma de todas as formas e dimensoes, decoravam a aldeia.
No centro principal, o monumento dos mortos pela patria estava circundado por enormes rodas de palha.
A praça principal tinha um palco sobre o qual a banda chamada para tocar preparava os seus instrumentos.
Em volta da area para a dança, as cadeiras ja hospedavam os idosos que conversavam aguardando para defrutar da vista dos jovens que dançariam no centro. na verdade os mais pequenos corriam para a pista de dança imitando os mais grandes que dentro de pouco tempo os teriam com delicadeza evitados durante as danças.
a fofoca principal naquela noite era dedicada à chegada na aldeia de Gaia e Elio, os filhos de Carlo e Giulia. os anciaos e os adultos recordavam por turnos os acontecimentos dos anos passados na aldeia dos dois.
Como de costume, as discordancias eram varias: quem os recordava como trambolhoes, outros como extraordinarios rapazes, enquanto os velhos amigos de escola pelas jornadas gazetadas onde se perdiam pelos campos a brincar e nao fazendo nada.
quem reconhecia no rosto de Elio o seu pai, quem em Gaia, quem desconhecendo em ambos qualquer semelhança, indicava como culpados os avós.
começaram os ruidos da banda que aquecia os instrumentos. tudo estava pronto. o apresentador, ou para melhor dizer o homem que todos os anos ocupava-se falando a partir do palco, convidou as habituais autoridades da aldeia para subir.
terminou o discurso e tambem os agradecimentos aos sponsor, no mais absoluto desinteresse dos citadinos que começavam a bocejar. no momento aplaudiam à esperança que tivessem terminado e deixassem a banda tocar.
ao anuncio do abandono do palco do pseudo-apresentador partiu o mais forte dos aplausos. o maestro deu um pequeno salto e, com um movimento da mão, agitou a baqueta deixando partir o ataque dos trombones que deram a partida da musica, seguidos, intempestivamente, antes pela bateria, depois pelos saxofones e por ultimo pelos clarinetes.
O primeiro a lançar-se na pista foi Libero, juntamente com a sua namorada preferida com a qual abria todos os anos as danças. diferentemente por mais que se possa imaginar pela descriçao de Libero, era um bailarino engraçado e todas as mulheres da aldeia todos os anos costumavam deliciar-se com ele pelo menos uma vez na pista. isto valia para as mais jovens e para as mais ancias cujo ele nao deixava sentir a falta de atençao, amava dançar e conseguia transmitir este seu amor sem interesse especial às suas parceiras de dança.
A pista extravasou, Gaia tinha uma quantidade de pedidos dos quais nao rejeitou.
Elio durante um instante sentiu uma estranha sensaçao, sem dar-se conta do seu pé tinha começado a tamborilar intempestivamente.
A tia, antes que ele pudesse recusar, mal que a dança fez-se mais espontanea e bastava agarrar-se pela mao e rodear, agarrou-o pelas maos, que as tinha caidos, e o fez dançar ao ritmo no meio da pista.
Elio, estranhamente, nao se opôs, sentiu por um instante o ritmo a entrar-lhe dentro, divertiu-se até que feriu-se nas bochechas por causa da contorçao estranha que nao acontecia ha anos nos seus musculos faciais.
conseguiu passar das maos da tia para aquelas de varias curiosas raparigas da aldeia que o fixavam divertidas.
Terminado a ronda de dança, Elio voltou para o seu lugar, sentia o sangue a banhar os musculos. repentinamente o estranho zumbir nas orelhas recomeçou, forçando-o a distanciar-se da praça. a musica, que um momento antes o divertia, estava a tornar-se ensurdecedor.
Dirigiu-se para o prado verde ao lado de uma pequena igreja, repleto de antigos tractores em exposiçao e de criancinhas que nao cessavam de repará-los e a girar em volta deles.
Elio sentou-se numa esquina obscura e pôs-se a observá-los.
todas aquelas gargalhadas ribombavam dentro de si e lhe recordavam algo, o eco de uma felicidade remota ja sepultada um tempo a tras.
Invejou uma criança que corria indo ao encontro do pai e agarrar a sua mão. um lembrança sepultada na sua mente procurou vir à ribalta: o calor e o cheiro da mao do seu pai.
Uma pontada de dor lhe trespassou a têmpora, impedindo-lhe de pensar, e levou as maos à cabeça, sentia frio.
- Elio o que fazes aqui sozinho? estás mal?
A tia, que nao o tinha perdido por acaso de vista, sentou-se ao lado dele, Elio nao respondeu.
Ida colocou um braço em volta dos seus ombros e o apertou afectuosamente, mas ele nao sentia o calor, estava de novo no seu gelido mundo.
Naquela noite, regressando à fazenda, gaia nao censava de falar do quanto se divertira e das novas amizades.
Dormiram pela primeira vez no sotao, tinham arrumado a cama em baixo da claraboia proprio como desejava gaia que adormeceu observando as estrelas.
Quinto Capítulo
cara a cara com algo monstruoso
Na manhã seguinte, foi um raio de sol, que espreitava furtivamente da claraboia, e despertar Elio, Gaia ja estava acordada. o sotao, limpada e arrumada, tinha-se tornado um espaço hospitaleiro onde se poderia refugiar.
Iluminada pelo sol, nao tinha mais o aspecto da manhã anterior, agora lhe parecia impossivel ficar assustado tanto assim. resolveu ficar na cama a observar o céu mas com uma voz baixa a tia o chamava, esperava mesmo que nao guardasse para ele novas surpresas, pelo contrario, mal entrou na cozinha, Ercole pôs na cabeça dele um chapeu de palha e disse para ele:
- Coma alguma coisa porque vamos ao lago para pescar.
Ercole ja tinha esquecido a sua zanga com o primo. a suaindole, auxiliada pela sugestao da mãe para suportá-lo, tinha tomado a dianteira.
Elio nao se desapontou-se pela coisa, pescava-se sentados e em silencio, pena que nao poderia ouvir um pouco de musica em paz, nao conseguia ter emprestado um leitor e o seu pai tinha-lhe recusado de comprar um outro com o dinheiro que tinha confiado à irmã.
Juntou-se tambem Gaia que vinha vestido de um fato de banho e preparava-se para passar o dia bronzeando e lendo na praia. a comitiva alargava-se à medida ao longo da rua que levava até ao lago.
Os amigos de Ercole corriam em direcçao à meta bricando e dando uns murros nas costas. Elio nao conseguia manter o passo, Ercole, para fazer-lhe companhia, caminhou durante um pouco ao seu lado depois, espicaçado pelo seu amigo Alessandro, começou ele tambem a persegui-los.
Elio nao tinha a vontade de andar atras deles e um pouco depois, ofegando, apoioou-se sobre uma estacada que ladeava o caminho.
de repente teve a impressao de estar a ser observado por alguem ou alguma coisa. virou para tras lentamente e, à altura da sua orelha, viu-se frente a frente com algo que para ele pareceu monstruoso.
Rosto, devia ser um horrivel rosto cheio de rugas, uns olhos profundos fixavam-no.
Uma vez ainda, naquela terrivel viagem, um encontro misterioso. possuido pelo medo pôs-se a correr a plenos pulmoes para a comitiva que via ao de longe enquanto atras de si ouvia uma voz aguda e tremula a gritar algo do tipo: “Pára, estás capturado!”.
Ou talves: “Pára, capturar-te-ei!”.
Ou ainda: “És meu, nao podes escapar!”.
Continuou a corrida sem olhar para tras até ajustar-se a alguns metros do grupo.
as maos dele tremiam de forma vistosa, procurou calmar-se para nao parecer estranho aos outros rapazes, nao queria tornar-se vitima das suas piadas, nem ser considerado um medricas.
olhou para tras, perto da vedaçao nao havia mais ninguem, era a vedaçao de uma velha casota com um jardim bem tratado e repleto de flores.
no lago procurou um lugarzito tranquilo e escondeu-se, ninguem deu-se conta dele durante quase toda a manhã.
a arvore mais grande na margem do lago tinha uns ramos majestosos que permitiam aos rapazes do local saltar como se de um trampolim se tratasse. na parte inferior estava ponteado por uma espiral de pregos em grupos de filas de quatro ou cinco. estes pregos eram um pouco grandes e compridos daqueles utilizados pelos mestres pedreiros para pregar as tabuas que serviam para as coaduras de cimento. estavam todos enferujados e a maior parte deles estavam mal dobrados, provavelmente o motivo pelo qual os operarios do circo os tinham abandonados no pátio depois da partida e onde os rapazes os tinha encontrado.
Ercole e os seus amigos, usando como plano de trabalho uma enorme rocha lisa plantada pela metade no solo e como martelo umas pedras recolhidas por aí, tinham-nos pacientemente endireitados e utilizados para espetá-los no tronco da arvore criando uma especie de uma pequena escada. cingindo com os braços a arvore e colocando um pé depois do outro sobre os pregos, a utilizavam para superar a zona lisa e larga do tronco. depois logravam agarrar-se nos ramos e doravante, com os braços, para escalar o gigante que das suas extremidades lhes permitia para fazer lindissimos mergulhos no lago.
A fila em baixo da arvore era longa, a desputar a subida estavam tambem Emma e Matilde, apelidadas irmas tempestivas. mesmo nao sendo irmas, esta alcunha tinha sido a elas atribuido porque desde crianças nao se separavam por acaso e muitos tinham sido os sarilhos arranjados junto das suas amigas.
Os admiradores de Gaia competiam para exibir-se em mergulhos espectaculares que pudessem atrair a sua atençao.
Entre estes o melhor amigo de ercole, Alessandro, que vivia, para a sua sorte, numa lindissima fazenda na margem do lago e provavelmente mesmo por isso nadava como um peixe. alto e de estatura media, tinha os olhos castanhos e os cabelos castanhos, curtos com o traço no meio. a nataçao a tinha dotado de grandes ombros e o seu rosto estava sempre bronzeado porque ajudava o pai no trabalho dos campos. era um tipo reservado embora nao timido, muito diferente do exuberante Ercole.
tinha visto Gaia pela primeira vez na festa da ceifa e tinha tentado pedir-lhe para dançar com ela em vao, por causa da multidao, durante toda a noitada.
agora estava no seu ambiente natural, para ele era mais simples um mergulho do que uma dança, e contava de ter alguma esperança a mais. nao reunindo tambem esta vez a coragem de dar um passo para frente sugeriu ao Ercole para convidar a prima para banhar-se. Ercole, para deixar embaraçar o amigo, correu ao encontro de Gaia e dali lhe indicou com a mao quem tinha tido a ideia para convidá-la.
Gaia naquele dia preferiu renunciar, estava com vontade de ficar a desfrutar da sombra e o pouco sol que conseguia atravessar as folhas da arvore que a abrigava. alessandro ficou desiludido, mas nao pensou tanto sobre isso porque Ercole, chegado correndo, o atropelou lançando-o para a agua.
Ida aproveitou a ausencia dos rapazes para telefonar para o seu irmao Carlo durante a sua pausa para o almoço, preocupada por aquilo que tinha acontecido na festa da ceifa.
- Olá Carlo, como estás?
- Sinto muito falta dos meninos, para o resto tudo bem. - Ligo para ti para ter algumas informaçoes a respeito de Elio.
- diga, o que queres saber?
- Tem comportamentos paranoicos? momentos em que vê ou sente alguma coisa?
- O que eu saiba, nada de especial. eu e Giulia o vemos pouco, isola-se frequentemente com os auscultadores no seu quarto e, durante os breves momentos onde nos cruzamos, nao notei nada de estranho, a parte o humor negro e os seus silencios infinitos. por que me questiona, aconteceu alguma coisa?
Ida nao queria deixar preocupado o irmao e continuou o discurso esclarecendo-lhe que queria apenas perceber aquele seu estranho isolamento.
- Deverias tentar falar com a Gaia. eles, como todos os irmaos nesta idade, nao se frequentam, mas o vê relacionar-se fora de casa e talves notou algo.
- tentarei, Gaia é mesmo uma esplendida rapariga.
- tambem Elio, precisamos apenas de perceber o que o tormenta - saiu em defesa dele o pai.
- sei - disse Ida - e verás que consiguiremos.
as saidas para o lago repetiram-se varias vezes. Elio, passando no ponto onde tinha tido aquele susto, deu-se conta de que sentada diante da casa havia aquela que para ele, naquele momento terrivel, lhe tinha parecido nao sei à qual criatura. pelo contrario tratava-se de uma simples velhota, pequena e ossuda, com o rosto meigo e rugoso, embelezado com dois olhos azuis e contornado por uma cabeleira encaracolada e branca, que apesar de todo o seu prassagio o fixava.
Ida mantia-se em contacto com Giulia e Carlo na tentativa de achar um modo para fazer voltar o sorriso no rosto do rapaz. mas os dias passavam e Elio nao melhorava se nao para o apetite.
ao fim da tarde, Elio ajudava Libero com os trabalhos: regavam a horta, quando servia os campos e a comida aos animais.
Libero nao cessava de falar, Elio o seguia silencioso, este nao descartava que tivesse aprendido a escutá-lo.
Uma noite, terminado o trabalho, Libero propôs-lhe uma passeata no tractor.
- Dar-te-ia jeito fazer aquela passeata que te prometi?
Dito assim, subiu no tractor nao fazendo caso à falta de entusiasmo do primo. mal que Elio ficou ao seu lado, pôs em acçao e dirigiu-se para a rua terraplenada que atravessava os campos: à direita encontrava-se um fosso cheio de agua e ninfas vermelhas, à esquerda um cheio de tifas com o haste verde e assemelhava a uma folha de uma florzinha dobrada para frente contendo no topo uma enorme capsula de cortiça trespassada de cor castanha, com as suas verdissimas folhas longas pareciam os enfeites de uma festa.
Ao longo da estrada os gansos afastavam-se lentamente à sua passagem.
Era relaxante e surpreendente ver os campos de lá em cima, a natureza e o homem em harmonia criavam uma paisagem incrivel: nos campos de trigo, ja ceifado, faziam linda exposiçao os fardos de feno, os campos de milho, altos e verdes, tinham as maçarocas ainda nao totalmente maduras. mais adiante encontraram um riacho com as aguas lentas e as rãs grasnantes.
Libero tinha cessado de falar, ele tambem observava à sua volta. Elio sentia-se seguro, circundado pela vida, nascia nele o desejo de fazer parte dela, mas nao encontrava a força para reagir.
- Libero, quem vive naquela casa lá em baixo? - perguntou a dado passo indicando ao primo a casa da velhota que tanto o tinha deixado assustado.
- aquela é a casa da avó Felicia, levar-te-ei para conhecê-la um destes dias, uma tipa interesante.
- Levar-me-á até ela? nao é perigosa?
- Por que está pergunta?
- No primeiro dia que fomos ao algo parei na estacada que delimita o seu jardim para recuperar folego e a dado passo vi-a ao meu lado e me reparava na orelha, depois gritou coisas estranhas e, para ser honesto, nao entendi bem, talves “Capturo-te”. fiquei com medo, pensei que tivesse como minimo alguns parafusos fora de lugar.
Libero sorriu, estava feliz pelo facto de que Elio se abrisse com ele pela primeira vez. depois ficou sério e questionou-lhe:
- Disse “Te capturo”? Tens certeza?
- Nao, talves disse “capturou-te”, era de todas as formas perturbador.
Libero ficou com o rosto sombrio, mas de imediato imaginou/pensou que nao fosse o caso de alarmar o primo e o tranquilizou:
- Estou certo que percebeste mal, é uma velha meiga e para mim é como uma vó. sem delongas te acompanho em casa dela assim tirarás as duvidas. é um pouco esquisita, mas tem todos os parafusos no lugar.
- vive sozinha?
- sim, embora de vez e quando recebe algumas visitas especiais dos seus amigos.
- especiais? que tipo de amigos tem?
- Todas almas boas Elio, nao estás com fome? regressemos à fazenda passando da rua principal assim chegaremos o mais rapido possivel, estarao à nossa espera para o jantar - propôs Libero procurando truncar o discurso e mergulhado nos seus pensamentos nao falou mais até a casa.
a sua mente o tinha deixado recuar no tempo, na sua cabeça apertada ao peito num fofo abraço, ao cheiro de lã e lavanda daquela mulher que ele considerava uma velhota.
Sexto Capítulo
A sua mente estava invadida por aquelas lengalengas
O jardim estava perticularmente perfumado naquele dia de fim de agosto.
Brincava com as suas maquinas quando, a dado passo, a partir de um buraco apenas fora da paliçada, saiu um animal, que a ele pareceu uma toupeira mais grande que o normal.
o menino, nao tendo por acaso visto uma igual, ficou curioso. a toupeira o fixava enquanto com um passo lento rastejava para com ele, de forma repentina e sem dar-lhe tempo para reagir pegou a sua favorita e correu velozmente. nao podia dar-lho tal luxo, assim lançou-se na abertura central da paliçada, a ultrapassou e começou a perseguiçao.
chegado na entrada do bosque, o menino hesitou, nao quisera entrar ali, a toupeira parou e virou o olhar como quem estava à espera dele, deixando passar pela cabeça a ideia de poder retomar sem avançar tanto assim, esquecido o perigo, seguiu-a.
Passaram poucos instantes e atras dele o caminho de casa desapareceu, apenas arvores e silvas, tudo em volta começou a ficar escuro, a direcçao para onde se movia vaga.
A toupeira o procedia e umas cantigas começavam a provir do bosque. sombras aglomeravam-se nas rendondezas, virou, quisera recuar, tudo era uma confusao e sentia as forças esmorecer.
A sua presa tinha desaparecida e na sua mente, cada vez mais prementes, aqueles estranhos sons fazia acelerar os batimentos do coraçao, a sua respiraçao tornava-se ofegante e os seus pés pesados enfim os arrastava. um suor gelido cobria de gotas a sua testa. tropeçou na raiz de uma arvore que sobressaia da terra, as maos com as quais tinha-se protegido da queda estavam sujas pela arreia. limpando-se o rosto transformou-o numa mascara de lama, agora os seus olhos ardiam. o frio o penetrava e num apice viu-se outra vez no chao.
estava estourado, ofegante, algo ainda o atraia, de pé novamente arrastou-se cada vez mais lentamente em direcçao daquelas vozes, enfim transportado pela inercia.
A sua respiraçao era pesada, quando, escorregando pela ultima vez, caiu por terra e devagarinho apagou-se.
A mãe começava a chamá-lo, como todas as noites. a asusencia da resposta contínua, naquela hora, deixou-a em agitaçao. saiu para o jardim simulando fúria, como faz uma mãe pelas habituais garotices diarios. levantou a voz enquanto o silencio aos seus chamamentos continuava.
Nunca tinha acontecido, a dúvida começava a atormentá-la, alarmar-se ou nao? Talves tinha-se somente distanciado um bocado mais que o normal, entao alargou o cerco da procura em volta da casa.
Outra vez nada, a ansiedade e o folego curto começaram a ameaçar a sua tranquilidade. outra vez uma volta correndo, mas nada: enfim o panico estava completo, a preocuapaçao tinha-se transformado em certeza. começou a gritar pedindo ajuda, começou a bater as portas às vizinhas mais queridas, dos amigos do filho, mas nada.
Chegou à casa de Felicia, na esperança que pudesse ajudá-la, mas nao, ninguem lhe deu resposta.
uma multidao tinha-se criado pela rua do lugarejo: todos procuravam, ninguem o tinha visto por aí.
ja era certeza: alguem ou algo devia tê-lo arrastado consigo, nao se teria certamente distanciado de casa, nao era dele, pequeno, pequenino para escapar para longe.
Devia ter-se dirigido para o bosque, certamente nao tinha saido da aldeia, ao anoitecer, muitos aproveitavam para regar os jardins e o teriam visto, era preciso reparar lá para as matas.
os caçadores ja tinham posto os caes à trela e calçado as botas. em filas organizadas entravam na mata, se tivesse estado ali era preciso ganhar tempo, o sol estava para deitar-se.
a mamã correu para casa para buscar uma peça de roupa sujo, teria servido aos caes para tentar achar uma pista. depois alinhou-se “Furio o porco” apelidado desta forma pela sua bravura em treinar os animais, entre os quais o porco, para farejar trufas. para a ocasiao tinha trazido os seus caes, precisamente um perdigueiro e um cao-d’agua, de nome Charlie e Brown, que o acompanhavam sempre, mesmo quando nao caçava.
em fila começaram com a procura, os cães de Furio parecia que tivesse farejado uma pista que partia do jardim. seguiam-na particularmente agitados, algo os incomodava, viram-se muitas vezes e rosnavam como se advertissem uma estranha presença. A Furio coube tranquilizá-los muitas vezes durante o percurso e recolocá-los na peugada certa.
no entanto a mãe estava de tal maneira na modalidade de alarme até para nao conseguir chorar, sentia-se numa bolha, tudo isto lhe parecia impossivel: “Nao pode acontecer comigo isto” repetia a si proprio “Nunca o tinha perdido de vista” e outra vez, outra vez os pensamentos emaranhavam-se. isto nao a paralisava na sua tarefa de chamar e gritar, esperando que aquele pesadelo passasse simplesmente com a resposta tantas vezes ouvida que perfeitamente a sua mente recordava: “mamã, estou aqui!”.
a dada altura, o perdigueiro mudou de direcçao, enquanto Brown pôs-se a rosnar numa arvore, Furio correu para calmá-lo enquanto a mãe seguia Charlie. tentando de estar bem atras dele, mas quase nao o via mais.
as arvores faziam-se mais densas, o cao começou a ladrar e, felizmente, antes que o perdesse de vista, parou. ladrava e rosnava em direcçao de algo, a mãe nao conseguia ver o que fosse, as arvores nao deixavam vislumbrar quase nada, assim começou a correr.
talves o tinha encontrado, mas porque nao se ouvia provir nenhuma voz? por que o cao ladrava e rosnava? os cães conheciam bem o menino.
Um saco, parecia um saco de longe: “Nao se move!” imaginou, e a tensao subiu.
os contornos ficaram mais nitidos: era o perfil de uma criança, firme no chao, a mãe afastou o cão que ainda ladrava.
era ele, como tinha feito para chegar até ali?
agora nao era o momento para procurar saber, instintivamente o pegou no braço, nao controlou sequer se respirasse. começou a recuar, poucos passos e Furio chegou ao encontro dela.
viu os seus braços ocupados:
- o que estás a fazer? controlaste que ainda está a respirar? - perguntou pragmatico.
- que respira? - respondeu - Nao!
nao entendia nada do que lhe estivesse a dizer. Furio apalpou o pulso do mal-aventurado.
- Felizmente está vivo, nao deverias movê-lo do chao.
ela nao respondeu. Furio estava a levá-lo das maos a criança mas ela durante um instante o reteu.
- Deixa! Eu movimento-me melhor neste terreno, agora é preciso ser rapido. está gelido: é preciso escaldá-lo.
o percurso de regresso pareceu mais curto. chegados em casa Furio deixou ao cuidado da mãe o pequenote, nem o tempo de colocá-lo por baixo das mantas eis que chega o doutor.
este ultimo mandou sair todos do quarto, com a excepçao da mamã, sussurrando:
- Como de bons senhores que sao, a criança precisa de repousar.
Inclinou-se sobre o seu corpozito e lhe palpaou o pulso, depois consultou-o com atençao.
- nao se preocupe senhora, nenhum problema, um pouco de calor e repouso verás que voltará como antes - sentenciou no fim.
Finalmente Ida podia relaxar e sentou, estava estourada. as amigas da aldeia preparavam para ela um chá.
no dia seguinte tudo tinha voltado como antes, mas a criança, que nao quis contar o porquê tivesse ido parar ali naquele lugar, nem como tivesse ali chegado, começou com duradoiros silencios e dias infelizes.
- Isto é tudo - terminou de narrar Ida à Gaia.
- conseguiu por acaso o que tenha sucedido?
- Sim, muito tempo mais tarde, talves damasiado tarde - ainda se julgava por aquilo que tinha acontecido.
- Assim começaram os problemas de Libero?
- assim mesmo, o seu comportamento estranho durou mais tempo, até aos quinze anos. entao, antes acreditava que se tratasse do trauma sofrido o bosque, depois mudou para uma normal crise da adolescencia. alguma coisa do comportamento de Elio faz-me lembrar.
- De Elio?
- Sim. agora que tu estás a falar dele, devemos ajudá-lo. se os seus problemas forem iguais àqueles tidos por Libero é preciso intervir.
Gaia ficou alterada, nao percebia.
- Elio… Libero… Resolveu? explica-me bem Tia.
- Agora nao posso, fala-me de Elio.
Gaia começava seriamente a preocupar-se e todos aqueles acontecimentos estranhos, até entao considerados apenas umas obsessoes do irmao, lhe pareciam ligados e importantes.
começou com os acontecimentos mais recentes: o choque na alameda das tilias, o estranho homem visto só por ele no comboio, as duas vezes no sotao e, por ultimo, esboçou à tia do estranho livro perguntando-lhe o que ali fazia aquele estranho tomo.
a tia reparou-a preocupada, nao percebeu do que estivesse a falar, nunca tinha tido na posse de um livro do genero. do sotao encarregava-se ela, nenhum outro poderia levá-lo para cima.
gaia inssistiu e disse:
- aguarda um isntante, dou uma saltada para pegá-lo.
subiu correndo, afastou as quinquilharias sobre as quais o tinha deixado, mas nada, do livro nenhum sinal. procurou outra vez por aí, mas nada tinha desaparecido e voltou para baixo correndo.
- tia, o livro desapareceu!
- Desapareceu?
- sim, desapareceu! - confirmou Gaia - acredita em mim estava lá em cima. talves pegou-o Elio, embora penso que seja dificil, aquele livro o paralisou literalmente.
- Acredito em ti Gaia, nao te preocupes. Deverias falar disto com a vovó Felicia.
- Quem é a vovó Felicia?
Ouviu-se o vozear de Libero entrando em casa:
- mamã! Mamã!
Ida deu sinal a Gaia para interromper a conversa, teriam recomeçado num outro momento.
- Sim, Libero, há alguma coisa?
- está pronto? tenho uma fome de lobo!
“Meus Deus!” pensou Ida toda aquela historia tinha conseguido distrai-la.
- nao, tive muita coisa a fazer Libero, é preciso esperar.
- Oh, nao! - exclamou Libero - entao devorar-te-á - e correu para abraçar a mãe.
Ida ria enquanto expulsava Libero.
- anda tolo, deixa-me cozinhar ou ficarás sem o jantar, mais antes vá lavar o teu primo.
Elio tinha permanecido na porta, Gaia virou-se de repente e o reparou, nao tinha se dado conta dele.
- olá Elio - saudou-o.
- Olá - respondeu Elio.
- levaste o livro que estava lá em cima? aquele estranho? Elio fez caretas:
- Nao, por quê?
Gaia, vista a agitaçao do irmao, nao repetiu a questao:
- Nada, desta forma - e virou-se para com a tia que lhe deu com a cabeça sinal para nao continuar.
Gaia anuiu.
- Ajuda-me Gaia, vocês vao ao banho.
- Ok, vamos - disse libero - deixemo-as trabalhar. estou bastante esfomeado - e foi com Elio.
Naquele domingo Ida os tinha deixado dormir mais tempo que o normal.
foi acordá-los suavemente.
- acordem rapazes, hoje haverá o casamento da filha de uma minha amiga, caprichem na vossa imagem e desçam para o pequeno-almoço.
dirigiram-se à igreja, no largo a gente aguardava a chegada dos noivos.
- Olha Gaia, a noiva ja chegou, está à espera do noivo naquele automovel atras da esquina - fez notar Ida à sobrinha.
a dado passo, ouviu-se o barulho de um tractor seguido por uma fila de dezenas de automoveis que buzinavam festejando.
- É o noivo - disse Gaia - coitadinho dispôs-se e coluna atras daquele lentissimo tractor.
- nao é um tractor, mas uma debulhadora - esclareceu libero - e no volante o noivo.
Tratava-se de uma daquelas modernissimas debulhadoras com partes internas de fazer inveja a um automovel de luxo, verde e brilhante.
Gaia e Elio nao davam credito aos seus olhos, o jovem no volante estava vestido inequivocavelmente de noivo e atras da debulhadora, a fila de carros barulhetas, era um dos seus parentes.
O veiculo parou diante da pequena igreja e desceu o noivo. de imediato estacionou ao lado dele a carro da noiva. os dois jovens estavam radiantes como se fica apenas no dia das nupcias.
todos apressaram-se para entrar na igreja antes dos noivos, para que a nave nao ficasse vazia à entrada deles. uma rapariga tocava o orgao em tubos, pequeno e perfeitamente restaurado. a igreja, com a nave unica, era bastante pequena para toda aquela gente que apinhou-se ao lado dos bancos. a cerimonia desenrolou alegrada pelos cantos do coro que engendraram a habitual comoçao das mães dos noivos.
Lá para o fim da missa ouviu-se o rumor do alarme de marcha atras da debulhadora.
Libero acenou à Gaia e Elio para segui-lo e desembocaram fora pela pequena porta lateral. no largo os amigos dos noivos tinham afastado a debulhadora e estavam a embelezá-la com fios cujo tinham amarado latinhas e velhas panelinhas para que ressoassem pelas ruas à sua passagem. na parte frontal tinham colocado um cartaz com uma escrita feita a caneta propositadamente rasurada “viva os noivos”.
Gaia exclamou:
- Libero, nao vais me dizer que depois da cerimonia os noivos usarao aquela coisa para deslocar-se, nao é?
- De como a enfeitaram, creio precisamente que sim - respondeu o primo.
- como fará a noiva, com o vestido comprido, para subir?
- Veremos… - respondeu Libero.
Terminada a cerimonia e feitas as inumeraveis fotos de costume com os parentes e amigos, os noivos sairam finalmente para o largo, entre os aplausos gerais e o lançamento de arroz.
O noivo subiu na debulhadora e virou-se para com a noiva para auxiliá-la. ela agarrou a sua mao, coma outra levantou ligeiramente o vestido e com um salto ligeiro sentou-se ao lado dele. todos os presentes aplaudiram.
à sua passagem o ribombo era total, entre buzinas, latinhas e panelinhas que tilintavam.
- é o matrimonio mais original que eu jamais tenha visto - comentou Gaia.
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