Apenas os Dignos

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Из серии: O Caminho da Robustez #1
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Apenas os Dignos
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Morgan Rice

Morgan Rice é a best-seller nº1 e a autora do best-selling do USA TODAY da série de fantasia épica O ANEL DO FEITICEIRO, composta por dezassete livros; do best-seller nº1 da série OS DIÁRIOS DO VAMPIRO, composta por onze livros (a continuar); do best-seller nº1 da série TRILOGIA DA SOBREVIVÊNCIA, um thriller pós-apocalíptico composto por dois livros (a continuar); e da nova série de fantasia épica REIS E FEITICEIROS, composta por três livros (a continuar). Os livros de Morgan estão disponíveis em áudio e versões impressas e as traduções estão disponíveis em mais de 25 idiomas.

Morgan adora ouvir a sua opinião, pelo que, por favor, sinta-se à vontade para visitar www.morganricebooks.com e juntar-se à lista de endereços eletrónicos, receber um livro grátis, receber ofertas, fazer o download da aplicação grátis, obter as últimas notícias exclusivas, ligar-se ao Facebook e ao Twitter e manter-se em contacto!

Seleção de aclamações para Morgan Rice

"Se pensava que já não havia motivo para viver depois do fim da série O ANEL DO FEITICEIRO, estava enganado. Em A ASCENSÃO DOS DRAGÕES Morgan Rice surgiu com o que promete ser mais uma série brilhante, fazendo-nos imergir numa fantasia de trolls e dragões, de valentia, honra, coragem, magia e fé no seu destino. Morgan conseguiu mais uma vez produzir um conjunto forte de personagens que nos faz torcer por eles em todas as páginas… Recomendado para a biblioteca permanente de todos os leitores que adoram uma fantasia bem escrita."

--Books and Movie Reviews
Roberto Mattos

"Uma ação carregada de fantasia que irá certamente agradar aos fãs das histórias anteriores de Morgan rice, juntamente com os fãs de trabalhos tais como O CICLO DA HERANÇA de Christopher Paolini…Fãs de ficção para jovens adultos irão devorar este último trabalho de Rice e suplicar por mais."

--The Wanderer, A Literary Journal (referente a Ascensão dos Dragões)

"Uma fantasia espirituosa que entrelaça elementos de mistério e intriga no seu enredo. A Busca de Heróis tem tudo a ver com a criação da coragem e com a compreensão do propósito da vida e como estas levam ao crescimento, maturidade e excelência… Para os que procuram aventuras de fantasia com sentido, os protagonistas, estratagemas e ações proporcionam um conjunto vigoroso de encontros que se relacionam com a evolução de Thor desde uma criança sonhadora a um jovem adulto que procura a sobrevivência apesar das dificuldades… Apenas o princípio do que promete ser uma série de literatura juvenil épica."

--Midwest Book Review (D. Donovan, eBook Reviewer)

"O ANEL DO FEITICEIRO reúne todos os ingredientes para um sucesso instantâneo: enredos, intrigas, mistério, valentes cavaleiros e relacionamentos que florescem repletos de corações partidos, decepções e traições. O livro manterá o leitor entretido por horas e agradará a pessoas de todas as idades. Recomendado para a biblioteca permanente de todos os leitores do género de fantasia."

--Books and Movie Reviews, Roberto Mattos.

"Neste primeiro livro cheio de ação da série de fantasia épica Anel do Feiticeiro (que conta atualmente com 14 livros), Rice introduz os leitores ao Thorgrin "Thor" McLeod de 14 anos, cujo sonho é juntar-se à Legião de Prata, aos cavaleiros de elite que servem o rei… A escrita de Rice é sólida e a premissa intrigante."

--Publishers Weekly
Livros de Morgan Rice

O CAMINHO DA ROBUSTEZ

APENAS OS DIGNOS (Livro nº1)

DAS COROAS E GLÓRIA

ESCRAVA, GUERREIRA E RAINHA (Livro nº1)

REIS E FEITICEIROS

A ASCENSÃO DOS DRAGÕES (Livro nº1)

A ASCENSÃO DOS BRAVOS (Livro nº2)

O PESO DA HONRA (Livro nº3)

UMA FORJA DE VALENTIA (Livro nº4)

UM REINO DE SOMBRAS (Livro nº5)

A NOITE DOS CORAJOSOS (Livro nº6)

O ANEL DO FEITICEIRO

EM BUSCA DE HERÓIS (Livro nº1)

UMA MARCHA DE REIS (Livro nº2)

UM DESTINO DE DRAGÕES (Livro nº3)

UM GRITO DE HONRA (Livro nº4)

UM VOTO DE GLÓRIA (Livro nº5)

UMA CARGA DE VALOR (Livro nº6)

UM RITO DE ESPADAS (Livro nº7)

UM ESCUDO DE ARMAS (Livro nº8)

UM CÉU DE FEITIÇOS (Livro nº9)

UM MAR DE ESCUDOS (Livro nº10)

UM REINADO DE AÇO (Livro nº11)

UMA TERRA DE FOGO (Livro nº12)

UM GOVERNO DE RAINHAS (Livro nº 13)

UM JURAMENTO DE IRMÃOS (Livro nº 14)

UM SONHO DE MORTAIS (Livro nº 15)

UMA JUSTA DE CAVALEIROS (Livro nº 16)

O PRESENTE DA BATALHA (Livro nº 17)

TRILOGIA DE SOBREVIVÊNCIA

ARENA UM: TRAFICANTES DE ESCRAVOS (Livro nº 1)

ARENA DOIS (Livro nº 2)

ARENA TRÊS (Livro nº 3)

VAMPIRO, APAIXONADA

ANTES DO AMANHECER (Livro nº 1)

MEMÓRIAS DE UM VAMPIRO

TRANSFORMADA (Livro nº 1)

AMADA (Livro nº 2)

TRAÍDA (Livro nº 3)

PREDESTINADA (Livro nº 4)

DESEJADA (Livro nº 5)

COMPROMETIDA (Livro nº 6)

PROMETIDA (Livro nº 7)

ENCONTRADA (Livro nº 8)

RESSUSCITADA (Livro nº 9)

ALMEJADA (Livro nº 10)

DESTINADA (Livro nº 11)

OBCECADA (Livro nº 12)

Oiça a série O ANEL DO FEITICEIRO em formato Audiobook!

Copyright © 2016 por Morgan Rice. Todos os direitos reservados. Exceto conforme permitido pela Lei de Direitos de Autor dos EUA de 1976, nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, distribuída ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, ou armazenada numa base de dados ou sistema de recuperação, sem a autorização prévia da autora. Este e-book é licenciado para o seu uso pessoal.  Este e-book não pode ser revendido ou cedido a outras pessoas.  Se quiser compartilhar este livro com outra pessoa, por favor, compre uma cópia adicional para cada destinatário.  Se está a ler este livro e não o comprou, ou se ele não foi comprado apenas para seu uso pessoal, por favor, devolva-o e adquira a sua própria cópia. Obrigado por respeitar o trabalho árduo desta autora. Esta é uma obra de ficção.  Nomes, personagens, empresas, organizações, lugares, eventos e incidentes são produto da imaginação da autora ou foram usados de maneira fictícia.  Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou falecidas, é mera coincidência. Imagem da capa Copyright Dm_Cherry, usada com autorização da Shutterstock.com.

A palavra do Senhor veio até mim, dizendo: "Antes de te formar no ventre eu conhecia-te e antes de nasceres eu santifiquei-te; nomeie-te profeta para as nações."

Mas eu disse: "Ai, meu Senhor, eu não sei falar; eu sou muito jovem."

Mas o Senhor disse-me: "Não digas: 'Eu sou muito jovem.’ Em vez disso, onde quer que eu te envie, irás; e tudo o que eu te ordenar, falarás. Não os temas, porque eu estou contigo e salvar-te-ei."

Jeremias 1: 4-7


PARTE UM

CAPÍTULO UM

Rea sentou-se na sua simples cama, a transpirar, despertada pelos guinchos que rasgavam a noite. O seu coração batia com força e ela sentou-se no escuro, esperando que não fosse nada, que fosse apenas mais um dos pesadelos que a vinham a assolar. Ela agarrou a borda do seu barato colchão de palha e pôs-se à escuta, a rezar, desejando que a noite ficasse em silêncio.

Porém, Rea ouviu mais um guincho e encolheu-se.

Em seguida, mais outro.

Eles estavam a ficar cada vez mais frequentes – e cada vez mais próximos.

Em pânico, Rea ficou ali sentada a ouvir os guinchos a aproximarem-se. Acima do som da forte chuva ouvia também o som de cavalos, fraco no início. Depois, ouvia o som característico de espadas a serem desembainhadas. Mas nenhum daqueles sons era mais alto do que os guinchos.

E, então, um novo som surgiu, um que, se é que era possível, era ainda pior: o crepitar das chamas. Rea ficou desolada ao perceber que a sua aldeia estava a ser incendiada. Isso só poderia significar uma coisa: os nobres tinham chegado.

Rea saltou da cama, batendo com o joelho nas trempes, o seu único bem na sua simples cabana de um quarto, começando a correr para fora de casa. Ela saiu para a rua lamacenta, para a chuva quente da primavera, que a molhou instantaneamente. No entanto, ela não se importava. Ela pestanejava na escuridão, tentando ainda libertar-se do seu pesadelo. A toda à sua volta, abriam-se persianas, abriam-se portas e os seus companheiros de aldeia saiam hesitantemente das suas casas. Ali estavam todos a olhar para a única e simples estrada sinuosa na aldeia. Rea olhava juntamente com eles. Ao longe avistou um brilho. Ficou preocupada. Era uma chama que se propagava.

Viver ali, na parte mais pobre da cidade, escondida atrás dos labirintos contorcidos que golpeavam o seu caminho desde a principal praça da cidade, era, num momento como aquele, uma bênção: pelo menos ali ela estaria em segurança. Nunca ninguém ia ali, àquela parte mais pobre da cidade, àquelas casas prestes a desmoronarem-se onde só os servos viviam, onde o mau cheiro das ruas forçava as pessoas a manterem-se à distância. Tinha-se sempre parecido como um gueto de onde Rea não conseguia sair.

 

No entanto, enquanto observava as chamas a alumiar a noite, Rea, pela primeira vez, sentia-se aliviada por viver ali atrás, escondida. Os nobres nunca se dariam ao trabalho de tentar navegar pelas ruas labirínticas e becos traseiros que iam até lá. Não havia nada para pilhar ali, afinal.

Rea sabia que era por isso que os seus vizinhos pobres apenas estavam ali fora das suas casas, sem entrar em pânico, mas apenas assistindo. Era por isso que, também, nenhum deles tinha tentado correr em auxílio dos moradores no centro da cidade, aqueles ricos que os haviam olhado de cima para baixo durante toda a sua vida. Eles não lhes deviam nada. Os pobres ali, pelo menos, estavam a salvo e não arriscariam as suas vidas para salvar aqueles que os haviam tratado como menos do que nada.

E porém, Rea observava a noite, ficando desconcertada ao ver as chamas a aproximarem-se e a noite a ficar mais brilhante. O brilho estava claramente a espalhar-se, fazendo o seu caminho a rastejar em direção a ela. Ela pestanejou, questionando-se se os seus olhos a estariam a enganar. Não fazia qualquer sentido: os saqueadores parecia estar a caminhar na sua direção.

Os guinchos ouviam-se cada vez mais, ela tinha certeza disso. Ela estremeceu quando, de repente, a quase uma centena de pés dela, chamas irromperam, emergindo das ruas labirínticas. Ela ficou ali, atordoada: eles estavam a vir na sua direção. Mas porquê?

Assim que terminou de pensar, um cavalo de batalha a galope trovejou praça adentro, montado por um cavaleiro feroz vestido com uma armadura toda preta. A viseira estava para baixo, o elmo sinistramente em crista. Empunhando uma alabarda, ele parecia um mensageiro da morte.

Mal entrou na praça, ele baixou a alabarda na direção das costas de um velho corpulento que tentava fugir. O homem não teve sequer tempo de gritar antes de a alabarda lhe cortar a cabeça.

Os relâmpagos enchiam o céu e os trovões ressoavam, com a chuva a intensificar-se, enquanto mais uma dúzia de cavaleiros invadiu a praça. Um deles erguia um estandarte, que brilhava à luz das tochas, ainda que Rea não conseguisse identificar as insígnias.

Seguiu-se o caos. Os aldeões entraram em pânico, viraram-se e correram, gritando, alguns a correr de volta para as suas casas por algum instinto remoto, escorregando na lama, alguns a fugir pelos becos. No entanto, mesmo estes não foram muito longe antes de as lanças voadoras encontrarem um lugar nas suas costas. Ela sabia que a morte não pouparia ninguém naquela noite.

Rea não tentou fugir. Ela simplesmente chegou-se para trás calmamente, enfiou a mão para lá da porta da sua cabana e sacou de uma espada, uma espada longa que lhe tinha sido dada há muito tempo, um belo trabalho de artesanato. O som que a espada fez ao ser desembainhada fez o coração de Rea acelerar. Era uma obra-prima, uma arma que ela não tinha o direito de possuir, herdada de seu pai. Ela não sabia como é que ele próprio a havia obtido.

Rea caminhou lenta e decididamente para o centro da praça da cidade, a única dos seus aldeões com coragem suficiente para resistir, para enfrentar aqueles homens. Ela, uma frágil menina de dezassete anos de idade, e sozinha, tinha a coragem de lutar perante o medo. Ela não sabia de onde vinha a sua coragem. Ela queria fugir, mas algo profundo dentro dela a proibia de o fazer. Algo dentro dela sempre a levara a enfrentar os seus medos, fossem quais fossem as probabilidades. Não que ela não sentisse pavor; ela sentia-o. Era que outra parte dela permitia-lhe funcionar perante o medo. Desafiando-a a ser mais forte do que ele.

Rea ficou ali, com as mãos a tremer, mas obrigando-se a manter o foco. E quando o primeiro cavalo galopou na sua direção, ela ergueu a sua espada, aproximou-se, inclinou-se para baixo e cortou as pernas do cavalo.

Doía-lhe fazê-lo, mutilar aquele lindo animal; afinal ela tinha passado a maior parte da sua vida a cuidar de cavalos. Mas o homem tinha levantado a sua lança e ela sabia que estava em causa a sua sobrevivência.

O cavalo soltou um guincho horrível que ela sabia que iria ficar consigo o resto dos seus dias. Ele caiu no chão, aterrando de focinho no chão e atirando o seu cavaleiro. Os cavalos que vinham trás embateram nele, tropeçando e estatelando-se no chão num amontoado à volta dela.

Numa nuvem de poeira e caos, Rea girava e enfrentava-os a todos, pronta para morrer ali.

Um cavaleiro apenas, numa armadura toda branca, montando um cavalo branco, diferente dos outros, de repente, avançou na sua direção. Ela ergueu a espada para atacar novamente, mas aquele cavaleiro era demasiado rápido. Ele movia-se como um relâmpago. Assim que ela levantou a espada, ele oscilou em arco a sua alabarda para cima, apanhando a lâmina dela, desarmando-a. Ela sentiu-se desamparada quando a sua arma preciosa lhe foi arrancada, navegando num amplo arco através do ar pousando na lama do outro lado da praça. Poderia perfeitamente ter aterrado a um milhão de milhas de distância.

Rea ficou ali, atordoada por ficar indefesa, mas acima de tudo confusa. Aquele golpe do cavaleiro não tinha tido a intensão de a matar. Porquê?

Antes de ela terminar o pensamento, o cavaleiro, ainda montado, inclinou-se para baixo e agarrou-a; ela sentiu a sua manopla de metal cravando-se no seu peito quando ele agarrou a sua camisa com as duas mãos e num único movimento ergueu-a para cima do seu cavalo, sentando-a à sua frente. Ela gritou com o choque, aterrando bruscamente no seu cavalo em movimento, firmemente plantada na frente dele, com os braços dele à sua volta, segurando-a com firmeza. Ela mal tinha tempo para pensar, muito menos para respirar. Ele segurava-a com força. Rea contorcia-se, sacudindo-se de um lado para o outro, mas de nada valia. Ele era demasiado forte.

Ele continuou, atravessando a aldeia a galope, tecendo o seu caminho através das ruas tortuosas, afastando-se da casa dela.

Eles saíram rapidamente da aldeia para o campo e, de repente, tudo ficou calmo. Eles afastaram-se a galope para cada vez mais longe do caos, da pilhagem, dos gritos. Rea não conseguia deixar de se sentir culpada ao sentir-se momentaneamente aliviada por estar novamente num mundo em paz. Sentia que deveria ter morrido lá atrás, com o povo. No entanto, quando ele a agarrou com mais força, ela percebeu que o seu destino podia ser ainda pior.

"Por favor", ela esforçou-se por dizer, com dificuldade em saírem-lhe as palavras.

Mas ele cada vez a segurava com mais força e galopava mais rapidamente para o prado, pelas colinas acima e abaixo, à chuva, até chegarem a um lugar absolutamente silencioso. Era estranho, tão calmo e tranquilo ali, como se nada nunca estivesse estado errado no mundo.

Finalmente, ele parou num amplo planalto, debaixo de uma árvore antiga, uma árvore que ela imediatamente reconheceu. Ela se havia sentado debaixo dela muitas vezes anteriormente.

Num movimento rápido, ele desmontou, continuando a segurá-la e levando-a com ele. Eles aterraram no campo molhado, a rebolar e a tropeçar. Rea sentiu-se sem fôlego quando o peso dele aterrou ao lado dela. Ao caírem ela reparou que ele poderia ter caído em cima dela, poderia tê-la realmente magoado, mas escolheu não o fazer. Na verdade, ele caiu de uma forma que amorteceu a queda dela.

O cavaleiro rebolou por cima dela, imobilizando-a. Ela olhou para ele, desesperada para ver o seu rosto. Porém, estava tapado, com a viseira branca para baixo. Apenas via a aparecerem por detrás das ranhuras do seu elmo uns olhos ameaçadores. Ela viu novamente aquela bandeira no cavalo dele e, desta vez, ela olhou bem para a sua insígnia: duas cobras, envolvidas à volta de uma lua, um punhal no meio delas, envolto num círculo de ouro.

Rea agitava-se, batendo-lhe na armadura. Mas era inútil. Eram umas mãos frágeis e pequenas a baterem num fato de metal. Era como se ela estivesse a bater numa rocha.

"Quem és tu?", perguntou ela. "O que queres de mim?"

Não houve nenhuma resposta.

Em vez disso, ele agarrou-a com a sua manopla e, quase sem ela dar por isso, ele virou-a, com a cara voltada para o chão, puxando o seu vestido.

Rea gritou, percebendo o que estava prestes a acontecer. Ela tinha dezassete anos. Ela estava a guardar-se para o homem perfeito. Ela não queria que aquilo acontecesse daquela maneira.

"Não!", gritou. "Por favor. Tudo menos isto. Mata-me primeiro!"

Mas o cavaleiro não queria ouvir e ela sabia que não havia como pará-lo.

Rea fechou os olhos com força, tentando afastar a situação, tentando transportar-se para outro lugar, para outro momento, para qualquer lugar menos para ali. O pesadelo dela tinha voltado, aquele do qual havia estado desperta, aquele que tinha tido durante muitas luas. Ela percebeu com temor que era aquilo que ela tinha andado a ver. Esta mesma cena. Esta árvore, estas ervas, este planalto. Esta tempestade.

De alguma forma, ela havia previsto aquilo.

Rea fechou os olhos com mais força e tentou imaginar que aquilo não estava a acontecer. Ela tentava perceber se era pior no sonho ou na vida real.

Rapidamente terminou.

Ele parou de se mexer e deitou-se por cima dela, ela entorpecida demais para se mover.

Ela ouviu o som do metal a levantar-se, sentindo o peso dele, finalmente, a sair de cima de si. Ela preparou-se, esperando que ele a matasse naquele momento. Ela antecipava o golpe da sua espada. Seria um alívio muito bem-vindo.

"Vá", disse ela. "Mata-me."

No entanto, para sua surpresa não ouviu nenhum som de uma espada, mas sim o som suave de uma corrente delicada. Ela sentiu algo frio e leve a ser-lhe colocado na palma da mão. Ela olhou, confusa.

Ela pestanejou à chuva e ficou surpreendida ao ver que ele lhe tinha colocado na mão um colar de ouro, com um pingente na sua extremidade, duas cobras, à volta de uma lua, com um punhal entre elas.

Finalmente, ele falou as suas primeiras palavras.

"Quando ele nascer", ouviu-se uma voz profunda e misteriosa, uma voz de autoridade, "dá-lhe isto. E manda-o para mim."

Ela ouviu o cavaleiro montar o seu cavalo, apercebendo-se vagamente do seu som a afastar-se.

Os olhos de Rea ficaram pesados. Ela estava demasiado exausta para se mexer ali deitada à chuva. Sentindo-se destroçada, ela sentiu um doce sono a chegar-lhe e não lhe resistiu. Talvez agora, pelo menos, os pesadelos parassem.

Antes de deixar o sono aproximar-se, ela olhou fixamente para o colar, o emblema. Apertou-o, sentindo-o na mão, o ouro tão espesso, grosso o suficiente para alimentar toda a sua aldeia durante uma vida.

Porque é que ele o tinha dado a ela? Porque é que ele não a tinha matado?

A ele, ele tinha dito. Não a ela. Ele sabia que ela ficaria grávida. E ele sabia que seria um rapaz.

Como?

De repente, antes de um doce sono se apoderar dela, veio-lhe tudo à memória. A última peça do seu sonho.

Um rapaz. Ela tinha dado à luz a um menino. Um nascimento vindo da fúria. Da violência.

Um rapaz destinado a ser rei.

CAPÍTULO DOIS

Três Luas Mais tarde

Rea ficou sozinha na clareira da floresta, atordoada, perdida no seu próprio mundo. Ela não ouvia o riacho a gotejar sob os seus pés, não ouvia o chilrear dos pássaros na densa floresta ao seu redor, não reparava na luz do sol que brilhava através dos ramos, ou no grupo de veados que a observava de perto. O mundo inteiro tinha-se dissipado e ela olhava apenas para uma coisa: as veias da folha de Ukanda que ela segurava entre os seus dedos trêmulos. Ela tirou as palmas das suas mãos da ampla folha verde e, lentamente, para seu horror, a cor das veias das folhas mudaram de verde para branco.

Vê-las mudar era como uma faca no seu coração.

As folhas de Ukanda não mudavam de cor, a não ser que a pessoa que lhes tocasse estivesse grávida.

O mundo de Rea vacilou. Ela tinha perdido toda a noção de tempo e espaço enquanto ali tinha estado. O seu coração latejava nos seus ouvidos, as suas mãos tremiam e o seu pensamento voltava àquela naquela noite fatídica há três luas atrás, quando a sua aldeia tinha sido saqueada, muitos dos seus mortos por contar. Quando ele a tinha levado. Ela estendeu a mão e passou-a sobre a barriga, sentindo uma pequena protuberância, sentindo uma outra onda de náusea e, finalmente, ela entendeu o porquê. Estendeu a mão e tocou o colar de ouro que ela tinha andado a esconder à volta do pescoço, bem por dentro da roupa, é claro, para que os outros não o vissem. Ela questionava-se, pela milionésima vez, quem seria aquele cavaleiro.

 

Por muito que ela as tentasse bloquear, as palavras finais dele não paravam de soar na sua cabeça.

Manda-o para mim.

Subitamente Rea ouviu um ruído por trás de si e virou-se, assustada, ao ver os olhos redondos de Prudência, sua vizinha, a olhar para ela. Uma menina de catorze anos de idade, que perdeu a sua família no ataque, uma intrometida sempre muito ansiosa por bisbilhotar qualquer pessoa. Prudência era a última pessoa que Rea queria que soubesse acerca do que se passava consigo. Rea viu horrorizada os olhos de Prudência a desviaram o olhar da sua mão para a folha em transformação, arregalando-se ao se aperceber.

Com um olhar de desaprovação, Prudência deixou cair a sua cesta de lençóis, virou-se e correu. Rea sabia que ela ter saído dali a correr apenas poderia significar uma coisa: ela ia informar os aldeões.

Rea ficou apavorada e sentiu a primeira onda de medo. Os aldeões iriam exigir que ela matasse o seu bebé, é claro. Eles não queriam nenhuma recordação do ataque dos nobres. Mas porque é que isso a assustava? Será que ela queria realmente manter aquela criança, o subproduto daquele monstro?

O medo de Rea surpreendia-a e, ao pensar nisso, ela percebeu que era perigoso manter o seu bebé seguro. Isso desorientava-a. Intelectualmente, ela não queria tê-lo; fazê-lo seria uma traição à sua aldeia e a ela mesma. Isso só encorajaria os nobres que a tinham invadido. E seria tão fácil perder o bebé; ela poderia simplesmente mastigar a raiz Yukaba, e no seu próximo banho, a criança morreria.

No entanto, visceralmente, ela sentia a criança dentro dela e o seu corpo dizia-lhe algo que a sua mente não dizia: ela queria ficar com ele. Protegê-lo. Afinal, era uma criança.

Rea era uma filha única que nunca tinha conhecido os seus pais, que havia sofrido no mundo sem ninguém para amar e ninguém para amá-la. Sempre tinha desesperadamente querido alguém para amar e alguém para amá-la também. Ela estava farta de estar sozinha, de estar em quarentena na secção mais pobre da aldeia, de esfregar o chão dos outros, de fazer o trabalho árduo de manhã à noite, sem qualquer saída. Ela sabia que nunca iria encontrar um homem, dado o seu estado. Pelo menos ninguém que ela não desprezasse. E, provavelmente, nunca iria ter um filho.

Rea sentiu uma súbita onda de vontade. Podia ser a sua única hipótese, ela percebeu. E agora que ela estava grávida, ela percebeu que não sabia o quanto desejava aquela criança. Ela desejava-a mais do que qualquer coisa.

Rea começou a caminhar de volta para a sua aldeia, apreensiva, apanhada num remoinho de emoções misturadas, mal preparada para enfrentar a desaprovação que, ela sabia, estaria à sua espera. Os aldeões insistiriam para que nenhum filho dos saqueadores da sua cidade, dos homens que lhes haviam tirado tudo, sobrevivesse. Rea dificilmente poderia culpá-los; engravidar as mulheres era uma tática comum dos saqueadores para dominar e controlar as aldeias em todo o reino. Às vezes eles eram mesmo enviados para isso. E ter um filho só alimentava o seu ciclo de violência.

Ainda assim, nada disso poderia mudar a forma como ela se sentia. Uma vida vivia dentro dela. Podia senti-la a cada passo que dava. Ela sentia-se mais forte por aquela vida. Ela podia senti-la a cada batimento cardíaco, pulsando através do seu próprio.

Rea caminhou pelas ruas do centro da aldeia, de volta para a sua cabana de uma assoalhada, sentindo o seu mundo virado do avesso, querendo saber o que pensar. Grávida. Ela não sabia como estar grávida. Ela não sabia como dar à luz uma criança. Ou como criar uma. Ela mal conseguia alimentar-se a ela própria. Como é que ela poderia sustentá-la?

No entanto, de alguma forma, ela sentiu uma nova força a erguer-se dentro dela. Ela sentia-a a pulsar nas suas veias, uma força que ela só tomara vagamente consciência nestas últimas três luas, mas que agora tinha ficado perfeitamente nítida. Era uma força para além dela. A força do futuro, da esperança. Da possibilidade. De uma vida que ela nunca conseguiria escolher o destino.

Era uma força que exigia que ela fosse maior do que jamais conseguiria ser.

Ao caminhar lentamente pelas ruas de terra, ela começou a ficar vagamente consciente do que a rodeava e dos olhos dos aldeões a olhar para ela. Ela virou-se e, em ambos os lados da rua, viu os olhos curiosos e de desaprovação de mulheres novas e velhas, de homens velhos e rapazes, de sobreviventes solitários, de homens mutilados que traziam as cicatrizes daquela noite. Todos transportavam nos seus rostos grande sofrimento. E todos eles olhavam para ela, para a sua barriga, como se ela fosse de alguma forma culpada.

Entre eles, ela via mulheres da sua idade, de caras assombradas, olhando para ela sem compaixão. Muitas delas, Rea sabia, tinham também sido engravidadas e já tinham tomado a raiz. Ela conseguia ver a tristeza no seu olhar e conseguia sentir que elas queriam que ela a compartilhasse.

Rea sentiu a multidão a engrossar à sua volta e quando olhou para cima ficou surpreendida ao ver uma parede de pessoas a bloquearem-lhe o caminho. A vila inteira parecia ter saído à rua, homens e mulheres, jovens e velhos. Ela via a agonia nos seus rostos, uma agonia que ela tinha partilhado. Ela parou e olhou para eles. Ela sabia o que eles queriam. Eles queriam matar o seu filho.

Ela sentiu uma repentina onda de desafio – e resolveu naquele momento que nunca o faria.

"Rea", ouviu-se uma voz grossa.

Severn, um homem de meia-idade com cabelo escuro e barba, uma cicatriz na bochecha feita naquela noite, estava ao centro e olhou para ela, cima abaixo, como se ela fosse um pedaço de gado. Passou-lhe pela cabeça dela que ele não era muito melhor do que os nobres. Eles eram todos iguais: todos achavam que tinham o direito de controlar o seu corpo.

"Tu vais tomar a raiz", ele ordenou sombriamente. "Vais tomar a raiz e amanhã tudo isto vai ficar no teu passado."

Ao lado de Severn, uma mulher deu um passo adiante. Luca. Ela também tinha sido atacado naquela noite e tinha tomado a raiz na semana anterior. Rea tinha-a ouvido a gemer durante toda a noite, gritando de dor pelo seu filho perdido.

Luca deu-lhe um saco, com o pó amarelo a ver-se lá dentro. Rea recuou. Ela sentiu a aldeia inteira a olhar para ela, esperando que o aceitasse e levasse.

"Luca irá acompanhar-te ao rio. Ela vai ficar contigo durante a noite.", acrescentou Severn.

Rea olhava para ele, sentindo uma energia estranha a crescer dentro dela ao olhar para todos eles friamente.

Ela não disse nada.

Os rostos deles endureceram-se.

"Não nos desafies, miúda", disse outro homem, aproximando-se, segurando a sua foice com força até os seus dedos ficaram brancos. "Não desonres a memória dos homens e mulheres que perdemos naquela noite, dando vida aos seus filhos. Faz o que esperam de ti. Faz o que tens a fazer."

Rea respirou fundo e ficou surpreendida com a força da sua própria voz ao responder:

"Eu não o farei."

A sua voz soava-lhe estranha, mais profunda e madura do que nunca. Era como se ela se tivesse tornado numa mulher do dia para a noite.

Rea observou os rostos deles a enraivecerem-se, como uma nuvem de tempestade a passar num dia ensolarado. Um homem, Kavo, franziu a testa e deu um passo adiante, com um ar autoritário. Ela olhou para baixo e viu o chicote na sua mão.

"Há uma maneira fácil de fazer isto", disse ele, com uma voz dura como o aço. "E uma maneira difícil."

Rea sentiu o seu coração a bater com mais força e olhou para ele bem nos olhos. Ela lembrou-se do que o pai lhe havia dito uma vez, quando ela era uma menina: nunca recues. Perante ninguém. Luta pelo que queres, mesmo que as hipóteses estejam contra ti. Especialmente se as hipóteses estiverem contra ti. Olha sempre para o valentão maior. Ataca primeiro. Mesmo que isso signifique a tua vida.

Rea explodiu em ação. Sem pensar, ela estendeu a mão, agarrou num bastão da mão de um dos homens, aproximou-se e, com toda sua força, golpeou Kavo no seu plexo solar.

Kavo arfou ao cair de joelhos e Rea, não lhe dando outra hipótese, golpeou-o na cara. O seu nariz partiu-se e ele largou o chicote e caiu no chão, segurando o nariz e gemendo na lama.

Rea, ainda segurando firmemente o bastão, olhou para cima e viu o grupo de rostos horrorizados e em choque a olhar para ela. Todos eles pareciam um pouco menos certos.

"É o meu filho", ela cuspiu. "Eu vou tê-lo. Se vierem atrás de mim, da próxima vez não vai ser um bastão na vossa barriga, mas uma espada."

Com aquilo, ela segurou com mais força o bastão, virou-se e, lentamente, afastou-se, acotovelando a multidão para passar. Nenhum deles, ela sabia, se atreveria a segui-la. Não agora, pelo menos.

Ela afastou-se, com as mãos a tremer, com o coração a bater com força, sabendo que seriam uns longos seis meses até que o seu bebé nascesse.

E sabendo que da próxima vez que eles viessem atrás dela, viriam para matá-la.

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