Apenas os Dignos

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Из серии: O Caminho da Robustez #1
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Royce agarrou os pulsos de Manfor ainda com mais força.

"Não vais fazer nada do género. Genevieve e eu vamo-nos embora daqui hoje. Se vieres atrás dela novamente, eu mato-te."

Para surpresa de Royce, Manfor sorriu maleficamente, com sangue a escorrer-lhe da boca.

"Eu nunca a vou deixar", Manfor respondeu. "Nunca. Vou atormentá-la para o resto da sua vida. E vou perseguir-te como um cão com todos os homens do meu pai. Vou levá-la e ela será minha. E tu serás pendurado na forca. Portanto, foge agora e lembra-te da cara dela – dentro em breve, ela será minha."

Royce sentiu uma quente onda de raiva. O pior daquelas palavras cruéis era que ele sabia que elas eram verdadeiras. Não havia para onde fugir; os nobres eram donos do território. Ele não podia lutar contra um exército. E Manfor, de facto, nunca iria desistir. Por puro desporto – por mais nenhuma razão. Ele tinha tanto e, ainda assim, não conseguia evitar privar as pessoas que não tinham nada.

Royce olhou para os olhos daquele nobre cruel. Ele sabia que Genevieve seria possuída por aquele homem um dia. E ele sabia que não podia deixar que isso acontecesse. Ele queria ir-se embora, ele realmente queria. Mas não podia. Fazer isso significaria a morte de Genevieve.

Royce, de repente, agarrou Manfor e atirou-o ao chão. Ele encarou-o e sacou da sua espada.

"Saca da tua espada!", Royce ordenou-lhe, dando-lhe uma hipótese de lutar com honra.

Manfor olhou para ele, claramente surpreendido por lhe estar a ser dada aquela oportunidade. De seguida, ele sacou da espada.

Manfor atacou, dando balanço com força e Royce ergueu a sua espada e bloqueou-a. Voaram faíscas. Royce, sentindo que era mais forte, ergueu a sua espada, empurrando Manfor para trás. Depois girou com o cotovelo e bateu-lhe no rosto com o punho da espada.

Royce partiu o nariz de Manfor, ouvindo-se um estalido. Manfor cambaleou para trás e olhou, claramente atordoado enquanto agarrava o seu nariz. Royce poderia ter aproveitado o momento para matá-lo, mas, novamente, deu-lhe mais uma hipótese.

"Desiste", Royce propôs, "e eu deixo-te viver."

Manfor, no entanto, soltou um gemido de fúria. Ergueu a sua espada e atacou novamente.

Royce bloqueava-a, enquanto Manfor balançava furiosamente, cada um deles a golpear para a frente e para trás, com as espadas a ressoar quando as faíscas voavam. Os dois andavam de um lado para o outro por todo o quarto. Manfor podia ser um nobre, criado com todos os benefícios da classe real, porém, Royce tinha um talento superior para o combate.

Durante a luta, ouviram-se cornetas ao longe e o som de um exército a aproximar-se do castelo, com os cascos dos cavalos a baterem calçada abaixo. Royce ficou preocupado. Ele sabia que o seu tempo estava a acabar. Algo tinha de ser feito rapidamente.

Finalmente, Royce fez girar acentuadamente a espada de Manfor e desarmou-o, atirando-a pelo ar para o outro lado da sala. Royce encostou a ponta da sua espada à garganta de Manfor.

"Recua, agora", Royce ordenou.

Manfor afastou-se lentamente, de braços para cima. No entanto, quando chegou a uma pequena mesa de madeira, ele, de repente, girou, apanhou algo e atirou-a para os olhos de Royce.

Royce gritou ao ficar, de repente, cego. Os olhos ardiam-lhe e o seu mundo ficou preto. Ele percebeu, tarde demais, ao tatear os seus olhos, que era tinta. Tinha sido uma jogada suja, um movimento impróprio de um nobre ou de qualquer lutador. Mas, mais uma vez, Royce sabia que não deveria ficar surpreendido.

Antes de conseguir recuperar a sua visão, Royce, de repente, sentiu um pontapé forte no estômago. Desequilibrou-se, caindo para o chão, sem fôlego, e, ao olhar para cima, recuperou apenas a visão suficiente para ver Manfor a sorrir enquanto extraia um punhal escondido na sua capa – e ergueu-o na direção das costas de Royce.

"ROYCE!", Genevieve gritou.

No momento em que o punhal desceu na direção das suas costas, Royce conseguiu recompor-se, apoiando-se num joelho, levantando o braço e agarrando o pulso de Manfor. Royce lentamente ficou de pé, com os braços tremendo e, enquanto Manfor baixava o punhal, ele, de repente, esquivou-se para o lado e girou o braço dele ao redor, usando a sua força contra ele. Manfor continuou a mover-se, não disposto a parar, mas, desta vez, quando Royce se desviou, ele mergulhou o punhal no seu próprio estômago.

Manfor arfava. Ele estava ali, a olhar para Royce, com os olhos arregalados, com o sangue a escorrer-lhe da boca. Ele estava a morrer.

Royce sentiu a solenidade do momento. Ele havia matado um homem. Pela primeira vez na sua vida, ele havia matado um homem. E não um homem qualquer mas sim um nobre.

O último gesto de Manfor foi um sorriso cruel, com o sangue a escorrer-lhe da boca.

"Recuperaste a tua noiva", ele ofegou, "à custa da tua vida. Vais juntar-te a mim em breve."

Dito isso, Manfor sucumbiu e caiu no chão com um baque.

Morto.

Royce virou-se e olhou para Genevieve, que estava sentada na cama, atordoada. Ele conseguia ver o alívio e gratidão no seu rosto. Ela saltou da cama, correu pelo quarto, diretamente para os seus braços. Ele abraçou-a com força. Era tão bom. Tudo fazia sentido no mundo outra vez.

"Oh, Royce", disse ela ao seu ouvido. E isso era tudo o que ela precisava de dizer. Ele entendeu.

"Vamos, temos de ir", disse Royce. "O nosso tempo é curto."

Ele pegou-lhe na mão e os dois saíram a correr pela porta do quarto para os corredores.

Royce correu pelo corredor com Genevieve ao seu lado. O coração dele batia com força ao ouvir soar as cornetas reais, uma e outra vez. Ele sabia que era o som do alarme – e sabia que era por causa dele.

Ao ouvir o barulho da armadura abaixo, Royce sabia que o forte estava fechado e que ele estava cercado. Os seus irmãos tinham feito um bom trabalho ao conseguir mantê-los fora, mas a incursão de Royce tinha demorado muito tempo. Enquanto corriam, ele olhou para baixo para o pátio e ficou aterrorizado ao ver dezenas de cavaleiros já a passar pelos portões.

Royce sabia que não havia saída. Não só ele havia invadido a casa deles, como também tinha matado um deles, um nobre, um membro da família real. Ele sabia que eles não o iam deixar viver. Hoje seria o dia em que sua vida mudaria para sempre. Que ironia, pensou; esta manhã, ele tinha acordado tão cheio de alegria, antecipando o dia. Agora, antes do sol se pôr naquele mesmo dia, ele provavelmente estaria, ao invés, enfrentando a forca.

Royce e Genevieve correram sem parar, aproximando-se do fim do corredor e da entrada para a escada em espiral, quando de repente uma meia dúzia de cavaleiros apareceu, emergindo das escadas, bloqueando o seu caminho.

Royce e Genevieve pararam imediatamente, viraram-se e correram para o outro lado, enquanto os cavaleiros os perseguiam. Royce ouvia a armadura deles a ressoar atrás dele e sabia que a sua única vantagem era a sua falta de armadura, o que lhe dava a velocidade suficiente para se manter à frente deles.

Eles corriam sem parar, percorrendo os corredores. Royce esperava desesperadamente encontrar uma escada traseira, outra saída – quando, de repente, ao viraram noutro corredor, deram por eles diante de uma parede de pedra. Royce ficou desesperado ao chegarem ao fim.

Um beco sem saída.

Royce voltou-se e sacou da espada ao mesmo tempo que colocou Genevieve atrás dele, preparado para marcar uma posição contra os cavaleiros, embora ele soubesse que seria a última.

De repente, ele sentiu Genevieve a agarrar-lhe o braço freneticamente, gritando: "Royce"

Ele voltou-se e viu para onde ela estava a olhar: uma grande janela ao lado deles. Ele olhou para baixo e ficou apavorado. Era uma longa queda, demasiado longa para sobreviver.

Porém, ele viu que ela estava a apontar para uma carroça cheia de feno que passava devagar por baixo deles.

"Nós podemos saltar!", gritou ela.

Ela agarrou na mão dele e, juntos, aproximaram-se da janela. Ele virou-se e olhou para trás, viu os cavaleiros a aproximarem-se, e, de repente, antes de ter tempo para pensar o quão louco aquilo era, sentiu a sua mão a ser puxada – e foram transportados pelo ar.

Genevieve era ainda mais valente do que ele. Ela tinha sempre sido, até mesmo em criança, ele lembrou-se.

Eles saltaram, caindo uns bons trinta pés pelo do ar, com Royce apavorado e Genevieve a gritar, visando o vagão. Royce preparava-se para morrer e estava grato por, pelo menos, não ir morrer nas mãos dos nobres – e com o seu amor ao seu lado.

Para grande alívio de Royce eles caíram na pilha de feno, provocando uma enorme nuvem à volta deles. Apesar de estar sem fôlego e magoado com a queda, para sua surpresa, ele não tinha partido nada. Sentou-se imediatamente e olhou para ver se Genevieve estava bem; ali estava ela, atordoada, mas sentou-se, também, e, ao escovar o feno, viu com imenso alívio que não se tinha ferido.

Sem dizer uma palavra, ambos, ao mesmo tempo, lembraram-se da sua difícil situação e saltaram do carro, com Royce a agarrar-lhe a mão. Royce correu para o seu cavalo, que ainda o aguardava no pátio, montou, agarrou Genevieve e ajudou-a a subir para trás dele. Com um pontapé, os dois partiram a galope, com Royce a apontar para o portão aberto para o castelo, enquanto os cavaleiros continuavam a entrar, passando a correr por eles, sem sequer se aperceberem que eram eles.

Eles aproximaram-se do portão aberto. O coração de Royce batia com força; eles estavam tão perto. Tudo o que tinham a fazer era transpô-lo e, com alguns passos largos eles estariam fora, no campo. Lá eles poderiam reunir-se com os irmãos dele, os seus primos e homens, e, juntos, podiam todos fugir daquele lugar, e começar uma nova vida algures. Ou melhor ainda, eles poderiam juntar o seu próprio exército e lutar contra aqueles nobres de uma vez por todas. Por um glorioso momento, o tempo parou e Royce sentia-se à beira de mudança, da vitória, da mudança de paradigma. O dia para a revolta tinha chegado. O dia para as suas vidas nunca mais voltarem a ser as mesmas.

 

Ao aproximar-se do portão, Royce ficou congelado de medo quando viu a grade de ferro, que estava aberta novamente para deixar os cavaleiros entrar, de repente, a baixar e a fechar-se diante dele. O seu cavalo empinou-se e eles pararam mesmo a tempo.

Royce virou-se, olhando para trás para o pátio. Lá ele viu cinquenta cavaleiros, que agora percebiam quem eles eram, a aproximarem-se. Royce preparava-se para cavalgar para a frente e encontrá-los no campo de batalha, por muito imprudente que isso fosse, quando, de repente, sentiu uma corda a cair sobre ele, vinda de trás, ouvindo Genevieve a gritar.

As cordas apertaram-se ao redor da sua cintura e, com uma sacudidela, Royce sentiu-se a ser atirado para trás do seu cavalo. Ele caiu com força no chão, sem fôlego, atado por trás. Ele olhou e viu Genevieve atada com cordas e puxada para o chão, também.

Royce rebolava e tropeçava, tentando freneticamente libertar-se, com as cordas apertadas à volta dos seus braços e ombros. Ele alcançou a sua cintura, agarrou no punhal e, com um empurrão, conseguiu soltá-las.

Livre, ele desviou-se a rebolar de um taco que vinha na direção da sua cabeça. Agarrou a espada do seu atacante, virando-se e depois, ficou de pé no centro do pátio, cercado por aquilo que era naquele momento quase uma centena de cavaleiros. Eles cercaram-no de todos os lados.

Eles atacaram. Royce levantou a sua espada e lutou também, defendendo-se à medida que eles golpeavam, golpeando também, sentindo-se invencível, mais forte e mais rápido do que todos eles. Ainda assim, eles cercavam-no cada vez mais, com as suas fileiras a crescerem.

Royce ergueu a sua espada e bloqueou um golpe apontado para a sua cabeça; então ele girou e golpeou outra espada apontada para as suas costas, arrancando a espada das mãos do seu atacante. Ele então inclinou-se para trás e pontapeou outro cavaleiro no peito quando ele se aproximou, forçando-o a largar o seu taco.

Royce lutava como um homem possuído, golpeando e defendendo-se, conseguindo manter dezenas deles afastados, à medida que as espadas soavam e as faíscas choviam à sua volta. Ele respirava com dificuldade, mal capaz de ver por causa do suor que lhe fazia arder os olhos. E durante todo aquele tempo, ele pensava apenas numa coisa: Genevieve. Ele morreria aqui por ela.

As fileiras estavam cada vez maiores. Era demasiado até mesmo para ele. Os braços e os ombros de Royce doíam-lhe, a sua respiração estava pesada. A multidão era tanta, tão próxima, que ele mal conseguia mexer-se para dar balanço. Ao erguer a sua espada uma última vez para golpear, de repente, sentiu uma terrível dor na parte de trás da cabeça.

Caiu no chão, vagamente consciente de que tinha sido atingido por um taco. Ele só deu por estar deitado de lado no chão, incapaz de se mover, quando dezenas de cavaleiros se lançaram sobre ele. Era um muro de metal a prendê-lo ao chão, dobrando-lhe os braços, com os joelhos nas suas costas e com os braços na sua cabeça.

Era o fim, ele percebeu.

Ele tinha perdido.

CAPÍTULO SEIS

Royce acordou, sobressaltado, sentindo água gelada no rosto e ouvindo gritos e vaias. Ele pestanejou com a luz. Apercebeu-se de imediato que um de seus olhos estava fechado e o outro quase fechado, apenas o suficiente para ele conseguir ver. A sua cabeça cambaleava por causa da dor, o seu estava corpo rígido, coberto de inchaços e contusões. Sentia-se como se tivesse rebolado por uma montanha abaixo. Olhou para o mundo diante de si e desejou não o ter feito.

Uma multidão agitada rodeava-o, alguns a gritar e a vaiar, outros a protestar, aparentemente em seu nome. Era como se aquelas pessoas tivessem irrompido numa guerra civil, com ele no centro. Ele esforçava-se por perceber o sentido do que via. Seria um sonho? ele questionava-se.

A dor era demasiado intensa para que fosse um sonho; a dor de cabeça dos golpes e as cordas grossas a apertarem os pulsos. Ele lutava com as cordas que lhe atavam os pulsos e tornozelos, sem sucesso, e, ao olhar para baixo, percebeu que estava amarrado a uma estaca. O seu coração bateu com mais força ao ver uma pilha de madeira debaixo dele, como se estivesse pronta para ser acesa. O medo apoderou-se de si ao perceber que estava amarrado no pátio do castelo.

Royce olhou e viu centenas de aldeões a multiplicavam no pátio e dezenas de cavaleiros e guardas de pé ao longo dos muros; ele viu um palco de madeira improvisado, talvez a cinquenta pés de distância e, nele, juízes do tribunal, todos eles nobres. Ao centro estava um homem que ele reconheceu: Lorde Nors. O chefe da família dos nobres. O pai de Manfor. Ele era o juiz presidente do território. Ele estava ao meio a olhar para Royce com um ódio que Royce jamais havia visto.

Não era um bom presságio.

Voltou tudo à memória de Royce. Genevieve. A invasão ao forte. O resgate dela. Matar Manfor. Saltar. Lutar contra aqueles cavaleiros. E depois…

Ouviu-se várias vezes o bater de um martelo na madeira e a multidão sossegou. O Lorde Nors estava de pé, olhando taciturnamente para todos. Estava ainda mais feroz, mais imponente, de pé. Fixou o seu olhar cheio de fúria sobre Royce que percebeu que estava a ser levado a julgamento. Ele tinha visto vários julgamentos e nenhum tinha corrido bem para os prisioneiros.

Royce observava os rostos, desesperado por ver Genevieve, rezando para que ela estivesse em segurança, longe de tudo aquilo.

No entanto, ele não via nada. Isso era o que o preocupava mais do que tudo. Teria ela sido presa? Morta?

Ele tentava bloquear da sua mente vários cenários de pesadelo.

"És aqui acusado do assassinato de Manfor da Casa de Nors, filho do Lorde Nors, governante do Sul e das Florestas de Segall", fez soar o Lorde Nors. A multidão ficou completamente imóvel. "Qual é a tua alegação?"

Royce abriu a boca, esforçando-se para falar – mas os seus lábios e garganta estavam ressequidos. A sua voz ficou aquém e ele tentou novamente.

"Ele roubou a minha noiva", Royce finalmente conseguiu responder.

Ouviu-se um coro de aplausos de apoio. Royce olhou e viu milhares de aldeões, seus compatriotas, a aparecerem, empunhando tacos, foices e forquilhas. Ele ficou esperançado e grato ao perceber que todos os do seu povo tinham vindo para apoiá-lo. Eles estavam todos fartos.

Royce olhou para o Lorde Nors e viu-o perder a sua convicção, apenas um bocadinho. Um olhar nervoso espalhou-se pelo seu rosto. Ele virou-se e olhou para seus colegas juízes e eles olharam para os cavaleiros. Parecia que estavam a começar a aperceber-se que podiam, se condenassem Royce à morte, ter uma revolução nas suas mãos.

Finalmente, o Lorde Nors bateu com o martelo e a multidão sossegou.

"No entanto", ele bombardeou, "a lei é clara: qualquer mulher camponesa é propriedade de qualquer nobre até ela se casar."

Ouviu-se um grande coro de vaias e assobios da multidão que avançou. Uma pessoa anónima atirou um tomate em direção ao palco e a multidão aclamou, pois, por pouco não acertou no Lorde Nors.

Ouviu-se um sussurrar horrorizado entre os nobres e, quando o Lorde Nors assentiu, os cavaleiros começaram a empurrar a multidão, ansiosos por encontrar o agressor. No entanto, eles logo pararam, pensando melhor no assunto, ao serem cercados por mais centenas de aldeões que se movimentavam para a praça, tornando a passagem impossível. Um cavaleiro tentou passar em frente dando cotoveladas, mas em pouco tempo ficou submerso pelas massas, empurrado de um lado para o outro e, entre gritos zangados e aclamações, ele recuou.

A multidão aplaudiu. Finalmente, eles estavam a defender-se a si mesmos.

Royce sentiu uma onda de optimismo. Um ponto de viragem tinha chegado. Os camponeses, tal como ele, estavam fartos. Já ninguém queria que as suas mulheres fossem levadas. Ninguém queria ser considerado como propriedade. Todos se aperceberam que poderiam estar na posição de Royce.

Royce observou a multidão, ainda desesperado para encontrar Genevieve – de repente, ele viu-a ao fim do pátio, amarrada em cordas. Ao pé estavam os seus três irmãos, eles, também, amarrados. Ele ficou aliviado ao ver que, pelo menos, estavam vivos e ilesos. Mas preocupado ao ver que estavam amarrados. Ele perguntava-se o que é que lhes iria acontecer. Ele desejava mais do que qualquer coisa poder ser castigado em vez deles.

À medida que a multidão se avolumava, os magistrados pareciam cada vez mais nervosos e olhavam para o Lorde Nors com olhares de incerteza.

"É a tua lei!", Royce gritou, recuperando a sua voz, encorajado. "Não a nossa!"

A multidão soltou um enorme rugido de aprovação, avançando perigosamente, com forquilhas e foices erguidas no ar.

Lorde Nors, olhando taciturnamente para baixo na direção de Royce, ergueu as mãos e, finalmente, a multidão sossegou-se.

"Hoje o meu filho está morto", ressoou ele, com uma voz pesada de tristeza. "E se eu fosse fazer cumprir a lei, tu serias morto, também."

A multidão vaiou e aglomerou-se ameaçadoramente.

"E, no entanto", ecoou Lorde Nors, levantando as mãos, "dada a situação dos nossos tempos, matar-te não seria no melhor interesse da coroa. E assim", disse ele, voltando-se e olhando para os seus companheiros magistrados, "decidi conceder-lhe misericórdia!"

A multidão aclamou calorosamente, agitando-se. Royce sentiu uma onda de alívio. O Lorde Nors ergueu as mãos.

"Os teus irmãos não mataram nenhum dos nossos homens no vosso ataque e, portanto, eles não vão mortos, tampouco."

A multidão aclamou

"Eles serão presos!", ressoou ele.

A multidão vaiou.

"No entanto, a tua noiva nunca será tua", disse o Lorde Nors numa voz crescente. "Ela será propriedade de um dos nossos nobres."

A multidão vaiou e assobiou, mas antes que se intensifica-se, Lorde Nors terminou, apontando para Royce com toda a sua ira:

"E tu, Royce, serás condenado à Arena!"

A multidão vaiou e correu para a frente e, em pouco tempo, uma briga irrompeu nas ruas.

Royce não conseguiu vê-la a crescer. De repente, as cordas foram cortadas dos seus pulsos e dos seus tornozelos e ele caiu no chão, mole. Ele sentiu uns braços ao seu redor e manoplas de metal a agarrarem-no, arrastando-o para longe através do caos.

Ao ser arrastado pela multidão, as palavras de Lorde Nors ecoavam na sua mente. A Arena. Royce sentiu um profundo pressentimento. Era o brutal desporto sangrento para o entretenimento dos nobres, aquele ao qual ninguém tinha sobrevivido. Lorde Nors tinha astutamente poupado-o a uma sentença de morte para apaziguar as massas – e, no entanto, a Arena era uma sentença pior do que a morte. Tinha sido uma jogada astuta. O Lorde Nors havia poupado uma revolução e, no entanto, havia conseguido arranjar forma de matar Royce.

Royce estava cabisbaixo. Era melhor ter morrido ali, nobremente diante do seu povo, do que ser despachado para uma morte ainda mais horrível.

No entanto, enquanto era arrastado através da multidão tumultuosa, em direção aos arcos imponentes para sair da cidade, Royce não pensava em si mesmo, mas sim em Genevieve. Ela era tudo o que importava para ele agora. Ela era tudo o que sempre tinha importado para ele. A ideia de ela ser dada a outro nobre era demais para ele. Isso fazia daquilo tudo uma futilidade.

Royce encolhia-se e contorcia-se, tentando inutilmente libertar-se. Ele olhava para trás enquanto eles o arrastavam, esperando vislumbrá-la pela última vez.

"Genevieve!", gritou ele.

Ele vislumbrou-a entre a imensa multidão.

"Royce!", ela gritou para ele, chorando.

No entanto, não havia nada que eles pudessem fazer.

Royce foi levado pelas portas em arco, para longe da cidade, para longe da sua vida, banido para sempre de todos que conhecia e amava, enfrentando uma jornada que seria muito pior do que a morte.

A Arena, pensou Royce. Era melhor ter morrido.

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