Apenas os Dignos

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Из серии: O Caminho da Robustez #1
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PARTE DOIS

CAPÍTULO QUATRO

17 Ciclos Solares mais tarde

Royce estava no topo da colina, debaixo da única árvore de carvalho que existia naqueles campos de cereais. Uma coisa antiga cujos galhos pareciam chegar ao céu. Olhava profundamente para os olhos de Genevieve, profundamente apaixonado. Eles deram as mãos e ela sorriu-lhe. Aproximaram-se e beijaram-se. Ele sentia reverência e gratidão por estar de coração tão cheio. O dia amanheceu por cima dos campos de cereais e Royce desejava conseguir congelar aquele momento para sempre.

Royce inclinou-se para trás e olhou para ela. Genevieve era maravilhosa. Aos dezassete anos, tal com ele, ela era alta, magra, com cabelos loiros e olhos verdes inteligentes, com um punhado de sardas nos seus traços delicados. Ela tinha um sorriso que o fazia sentir-se feliz por estar vivo e um riso que o punha à vontade. Mais do que isso, ela tinha uma graciosidade, uma nobreza que superava, de longe, o seu estado de pobre camponês.

Royce viu o seu reflexo nos olhos dela e ficou maravilhado por parecer que se podia identificar com ela. Ele era muito maior, claro, alto mesmo para a sua idade, com ombros mais largos do que até mesmo os seus irmãos mais velhos, com um queixo forte, um nariz nobre, uma testa altiva, uma abundância de músculo que ondulava por debaixo da sua túnica desgastada, e feições ligeiras, como as dela. O seu cabelo loiro comprido caia pouco acima dos olhos e os seus olhos cor de avelã-esverdeados davam com os dela, embora um tom mais escuro. Ele tinha sido abençoado com uma força e com uma habilidade com a espada que combinava com a dos seus irmãos, embora ele fosse o mais novo dos quatro. O seu pai estava sempre a brincar dizendo que ele tinha caído do céu e Royce entendia: ele não compartilhava os traços escuros dos seus irmãos ou a estatura. Ele era como um estranho na sua própria família.

Eles abraçaram-se. Sabia tão bem ser abraçado com tanta força, ter alguém que o amava tanto quanto ele a amava a ela. Os dois eram, de facto, inseparáveis desde crianças, haviam crescido juntos a brincar naqueles campos, haviam jurado, mesmo naquela época, que no solstício de verão do seu décimo sétimo ano, se casariam. Enquanto crianças, tinha sido uma promessa verdadeiramente séria.

À medida que foram crescendo, ano após ano, não se foram afastando, como a maioria das crianças, mas sim aproximando-se mais. Contra todas as probabilidades, o seu voto passou de uma coisa infantil para algo mais forte, solene, inquebrável, ano após ano após ano. As suas vidas, ao que parece, nunca tinham estado destinadas a separarem-se.

Agora, por fim, incrivelmente, o dia tinha chegado. Ambos tinham dezassete anos, o solstício de verão havia chegado. Agora eles eram adultos, livres para escolher por si mesmo e, ali, debaixo daquela árvore, a ver o sol nascer, cada um deles sabia, com um entusiasmo vertiginoso, o que isso significava.

"A tua mãe está animada?", perguntou ela.

Royce sorriu.

"Acho que ela ama-te mais do que eu, se é que isso é possível", ele riu-se.

O riso de Genevieve atingiu a sua alma.

"E os teus pais?", perguntou ele.

O seu rosto ficou sombrio, só por um momento, e ele ficou desconsolado.

"Sou eu?", perguntou ele.

Ela abanou a cabeça.

"Eles amam-te", ela respondeu. "Eles só …", suspirou. "Nós ainda não somos casados. Para eles, nunca seria cedo de mais. Eles temem por mim."

Royce compreendeu. Os pais dela temiam os nobres. Camponeses solteiros como Royce e Genevieve não tinham direitos; se os nobres quisessem, poderiam vir e levar as mulheres deles, reclamá-las para si. Isto é, até eles serem casados. Depois, ficariam em segurança.

"Brevemente", disse Genevieve, com o seu sorriso a começar a brilhar.

"Eles estão aliviados porque sou eu, ou porque, uma vez casada, vais ficar a salvo dos nobres?"

Ela riu-se e bateu-lhe a brincar.

"Eles amam-te como o filho que nunca tiveram!", disse ela.

Ele agarrou-a pelos braços e beijou-a.

"Royce!", gritou uma voz.

Royce virou-se e viu os seus três irmãos a caminhar pela colina acima, num grande grupo, com as irmãs e primas de Genevieve juntamente com eles. Todos tinham foices e forquilhas, todos eles prontos para o trabalho do dia. Royce respirou fundo, sabendo que o tempo para as despedidas havia chegado. Eles eram camponeses e, afinal de contas, não se podiam dar ao luxo de tirar um dia inteiro de folga. O casamento teria de esperar pelo pôr-do-sol.

Royce não estava incomodado por trabalhar naquele dia, mas sentia-se mal por Genevieve. Ele desejava poder dar-lhe mais.

"Eu gostava que pudesses tirar o dia de folga", disse Royce.

Ela sorriu e depois riu-se.

"Trabalhar faz-me feliz. Distrai-me, especialmente, de ter de esperar tanto tempo para te ver novamente hoje", disse ela, inclinando-se e beijando o seu nariz.

Eles beijaram-se. Ela virou-se com um risinho e abraçou-se às suas irmãs e primas e, em pouco tempo, estava a saltar com elas pelos campos fora, todas tontas de felicidade neste dia de verão espetacular.

Os irmãos de Royce apareceram por detrás dele, tocando-lhe nos ombros. Os quatro foram para o outro lado da colina.

"Vamos pinga-amor!", disse Raymond, o filho mais velho, que era como um pai para Royce. "Podes esperar até logo à noite!"

Os seus outros dois irmãos riram-se.

"Ele está completamente apanhado por ela", Lofen acrescentou, o irmão do meio, mais baixo do que os outros, mas mais encorpado.

"Não há esperança para ti", Garet entrou na conversa. O mais jovem dos três, apenas alguns anos mais velho do que Royce, era o seu irmão mais próximo, no entanto, era também o que mais rivalizava com ele. "Ainda nem sequer casou e já está perdido."

Os três riram-se, provocando-o. Royce sorriu com eles e seguiram todos para os campos. Ele olhou uma última vez para trás para Genevieve e desapareceu colina abaixo, ficando aliviado quando ela olhou, também, para trás uma última vez e sorriu para ele de longe. O sorriso tinha-lhe restaurado a alma.

Esta  noite, meu amor, pensou. Esta noite.

*

Genevieve trabalhava os campos, levantando e balançando a sua foice, cercada pelas suas irmãs e primas, uma dúzia delas, todas a rirem-se alto naquele dia auspicioso, enquanto trabalhava frouxamente. Genevieve parava a cada poucos cortes, encostava-se à longa haste, olhava para os céus azuis e gloriosos campos de trigo amarelo e pensava em Royce. Ao fazê-lo, o seu coração batia mais rápido. Este era o dia com que ela sempre tinha sonhado, desde criança. Era o dia mais importante da sua vida. Depois daquele dia, ela e Royce viveriam juntos para o resto dos seus dias; depois daquele dia, eles teriam a sua própria cabana, uma simples habitação de uma assoalhada junto ao campo, um lugar humilde que lhe fora legado pelos pais deles. Seria um novo começo, um lugar para começar uma nova vida como marido e mulher.

Genevieve sorria só de pensar. Não havia nada que ela mais quisesse do que estar com Royce. Ele tinha estado sempre ali, ao seu lado, desde criança, e ela nunca tinha tido olhos para mais ninguém. Embora ele fosse o mais novo dos seus quatro irmãos, ela sempre sentiu que havia algo de especial acerca de Royce, algo de diferente nele. Ele era diferente de todos ao seu redor, de qualquer pessoa que já conhecera. Ela não sabia exatamente o quê e suspeitava que ele também não. Mas ela via algo nele, algo maior do que aquela aldeia, do que aquele campo. Era como se o destino dele estivesse noutro lugar.

"E os irmãos dele?", perguntou uma voz.

Genevieve despertou para a realidade. Ela virou-se e viu Sheila, a sua irmã mais velha, com risinhos, com duas das suas primas atrás dela.

"Afinal de contas, ele tem três! Não podes ficar com todos para ti! ", ela acrescentou, rindo-se.

"Sim, do que é que estás à espera?", a sua prima entrou na conversa. "Temos estado à espera que nos apresentes."

Genevieve riu-se.

"Eu te apresentei", respondeu ela. "Muitas vezes."

"Não o suficiente!", respondeu Sheila enquanto as outras se riam.

"Afinal, não deve a tua irmã casar-se com o irmão dele?"

Genevieve sorriu.

"Não havia nada que eu gostasse mais", respondeu ela. "Mas eu não posso falar por eles. Só conheço o coração de Royce."

"Convence-os!", insistiu a sua outra prima.

Genevieve riu-se novamente. "Vou fazer o meu melhor."

"E o que é que vais vestir?", a prima dela interrompeu. "Ainda não decidiste qual o vestido que…"

Um ruído repentino cortou o ar, um que imediatamente amedrontou Genevieve e a fez largar a sua foice e voltar-se para o horizonte. Ela percebeu, mesmo antes de o ouvir completamente, que era um som sinistro, um som que trazia problemas.

Ela virou-se e observou o horizonte e, ao fazê-lo, os seus piores medos foram confirmados. O som do galope tornou-se audível e, sobre o monte, apareceu um séquito de cavalos. Ela ficou apavorada ao ver que os seus cavaleiros estavam vestidos com as melhores sedas e ao ver a sua bandeira, verde e dourada, com um urso ao centro, anunciando a casa de Nors.

Os nobres estavam a chegar.

Genevieve ficou irada com o que via. Aqueles homens gananciosos tinham o dízimo após dízimo da sua família, das famílias de todos os camponeses. Eles tinham tirado tudo a todas as pessoas, até à última gota, e viviam como reis. E ainda assim, não era o suficiente.

Genevieve observava-os a galopar e rezava intensamente para que eles estivessem apenas de passagem, para que não virassem para o seu lado. Afinal, ela não os via naqueles campos há muitos ciclos solares.

No entanto, Genevieve viu com desespero que eles, de repente, se viraram e se dirigiram diretamente para ela.

 

Não, desejou ela silenciosamente. Agora não. Não aqui. Hoje não.

No entanto, eles continuaram a cavalgar, aproximando-se cada vez mais, claramente indo na direção dela. A notícia do dia do seu casamento provavelmente ter-se-ia espalhado, o que os deixava sempre ansiosos para apanharem o que conseguissem, antes que fosse tarde demais.

As outras miúdas reuniram-se em torno dela, instintivamente, aproximando-se. Sheila virou-se para ela e agarrou-lhe o braço freneticamente.

"CORRE!", ordenou, empurrando-a.

Genevieve virou-se e viu uma área aberta que se estendia por milhas. Ela sabia o quão tolo seria – ela não iria longe. Ela seria ainda assim levada – mas sem dignidade.

"Não", ela respondeu, com frieza, calma.

Em vez disso, ela agarrou com força a sua foice e segurou-a diante dela.

"Vou enfrentá-los de cabeça erguida."

Elas olharam para ela, claramente perplexas.

"Com a tua foice?", perguntou a sua prima em dúvida.

"Talvez eles não venham com maldade", entrou na conversa a sua outra prima.

Mas Genevieve via-os a chegar. Lentamente, abanou a cabeça.

"Eles vêm", ela respondeu.

Ela viu-os perto, esperando que abrandassem – contudo, para sua surpresa, eles não o fizeram. Ao centro cavalgava Manfor, um nobre privilegiado de vinte anos de idade, a quem ela desprezava, o duque do reino, um menino com lábios grandes, olhos claros, cabelos cacheados dourados e um sorriso permanente. Parecia que estava constantemente a olhar para o mundo de cima para baixo.

Quando ele se aproximou, Genevieve viu que ele tinha um sorriso cruel no rosto, enquanto olhava para o seu corpo como se ela fosse um pedaço de carne. A menos de vinte jardas de distância, Genevieve levantou a foice e deu um passo para a frente.

"Eles não me levarão", disse ela resignada, pensando em Royce. Mais do que qualquer coisa, ela desejava que ele estivesse ao seu lado agora.

"Genevieve, não!", exclamou Sheila.

Genevieve correu em direção a eles com a foice erguida, sentindo a adrenalina a percorrer-lhe o corpo. Ela não sabia como tinha convocado a coragem, mas fê-lo. Avançou, levantou a foice e golpeou o primeiro nobre que se aproximou dela.

Mas eles eram demasiado rápidos. Cavalgavam como trovões e, enquanto ela dava balanço, um simplesmente ergueu o seu taco, girou ao redor e arrancou-lhe a foice da mão. Ela sentiu uma vibração terrível através das suas mãos e viu, sem esperança, a sua arma a voar e a cair nas espigas nas proximidades.

Logo a seguir, Manfor passou a galopar, inclinou-se e golpeou-a na cara com as costas da mão com a sua manopla de metal.

Genevieve gritou, girou com a força do movimento e caiu de cara nas espigas com uma dor lancinante.

Os cavalos pararam abruptamente e, enquanto os cavaleiros à sua volta desmontavam, Genevieve sentiu umas mãos ásperas sobre ela. Foi posta de pé com um puxão, arrebatada pelo golpe.

Ela ficou ali a cambalear. Olhou para cima e viu Manfor de pé diante dela. Ele riu com desdenho, levantando o elmo e removendo-o.

"Larga-me!", ela sibilou. "Eu não sou tua propriedade!"

Ela ouviu gritos. Olhou e viu a sua irmã e primas a correrem até ela, tentando salvá-la – e ela viu horrorizada os cavaleiros a darem-lhe com as costas das mãos, atirando-as ao chão.

Genevieve ouviu o riso horrível de Manfor quando ele a agarrou e a atirou para as costas do seu cavalo, amarrando-lhe os punhos um ao outro. Um momento depois, ele montou-se atrás dela, esporeou o cavalo e partiu, com as miúdas a gritarem atrás dela enquanto ela se distanciava cada vez mais. Ela tentava lutar, mas era escusado reagir já que ele a segurava como se ela estivesse presa num torno.

"Como estás errada, jovem", respondeu ele, rindo enquanto cavalgava. "Tu és minha."

CAPÍTULO CINCO

Royce estava no meio dos campos de trigo, a talhar com a sua foice, alegre ao pensar na sua noiva. Ele mal podia acreditar que o dia do seu casamento tinha chegado. Ele amava Genevieve desde sempre. E este dia seria um dia que não rivalizaria com nenhum outro. Amanhã, ele iria acordar com ela ao seu lado, numa nova cabana só deles, com uma nova vida pela frente. Ele conseguia sentir a excitação no seu estômago. Não havia nada que ele desejasse mais.

Enquanto dava balanço à sua foice, Royce pensava nos treinos com os seus irmãos todas as noites, com os quatro a lutar incessantemente com espadas de madeira e às vezes com espadas verdadeiras, com pesos duplos, quase impossíveis de levantar, para torná-los mais fortes, mais rápidos. Embora ele fosse mais jovem do que os seus três irmãos, Royce percebia que já era um melhor lutador do que todos eles, mais ágil com a espada, mais rápido a atacar e a defender. Era como se ele fosse cortado de um pano diferente. Ele era diferente, ele sabia disso. No entanto, não sabia porquê. E isso incomodava-o.

De onde vinha o seu talento para o combate? ele perguntava-se. Porque é que ele era tão diferente? Não fazia muito sentido. Eram todos irmãos, todos do mesmo sangue, da mesma família. No entanto, ao mesmo tempo os quatro eram inseparáveis, fazendo tudo juntos, quer fosse lutar ou trabalhar nos campos. Isso, na verdade, era a sua única apreensão acerca daquele alegre dia: seria a sua saída de casa o início do afastamento deles? Ele prometeu, em silêncio, que não iria permitir que isso acontecesse.

Os pensamentos de Royce foram subitamente interrompidos por um som no limite do campo, um som incomum para aquele momento do dia, um som que ele não queria ouvir num dia perfeito como aquele. Cavalos. Galopando com pressa.

Royce virou-se e olhou, instantaneamente alarmado, e seus irmãos fizeram o mesmo. A sua preocupação aprofundou-se ao vislumbrar as irmãs e primas de Genevieve a cavalgarem até ele. Mesmo dali Royce conseguia ver as suas expressões de pânico, em urgência.

Royce tentava desesperadamente compreender o que estava a ver. Onde estava Genevieve? Porque é que eles estavam todos a cavalgar para ele?

E então, ele ficou verdadeiramente preocupado ao perceber que algo terrível tinha acontecido.

Ele largou a foice, assim como os seus irmãos e a outra dúzia da sua aldeia, correndo ao encontro deles. A primeira a chegar ao pé dele foi Sheila, a irmã de Genevieve, que desmontou do cavalo mesmo antes de ele parar, agarrando-se aos ombros de Royce.

"O que é que passa?", Royce gritou. Ele agarrou-lhe os ombros. Ele conseguia senti-la a tremer.

Ela mal conseguia pronunciar as palavras por entre as suas lágrimas.

"Genevieve!", ela gritou, com uma voz aterrorizada. "Eles levaram-na!"

Royce sentiu o seu mundo a desabar ao ouvir as palavras dela, ocorrendo-lhe os piores cenários.

"Quem?", ele perguntou, enquanto os seus irmãos corriam até ele.

"Manfor!", chorava ela. "Da casa de Nors!"

Royce ficou apavorado e a indignação percorreu-lhe o corpo. A sua noiva. Levada pelos nobres, como se ela fosse propriedade deles. O rosto dele encolerizou-se.

"Quando!?", ele exigiu saber, apertando o braço de Sheila com mais força do que pretendia.

"Mesmo agora!", respondeu ela. "Arranjámos estes cavalos para te vir dizer assim que conseguimos!"

As outras desmontaram atrás dela e, ao fazê-lo, entregaram as rédeas a Royce e aos seus irmãos. Royce não hesitou. Num movimento rápido ele montou o cavalo dela, esporeou e foi a romper pelos campos.

Atrás dele, ele ouvia os seus irmãos a cavalgar, também, sem perderem o ritmo, todos através das espigas e na direção do distante forte.

O seu irmão mais velho, Raymond, cavalgava ao seu lado.

"Sabes que a lei está do lado dele", ele gritou. "Ele é um nobre e ela é solteira – pelo menos por agora."

Royce acenou de volta.

"Se invadirmos o forte e pedirmos para eles a deixarem voltar, eles vão recusar", Raymond acrescentou. "Não temos base legal para exigir que a devolvam."

Royce rangeu os dentes.

"Eu não vou pedir para eles a deixarem voltar", ele respondeu. "Eu vou tirá-la de lá."

Loren abanava a cabeça enquanto cavalgava ao lado deles.

"Nunca vais conseguir passar por aquelas portas", ele gritou. "Um exército profissional espera por ti. Cavaleiros. Armamento. Portões". Ele abanou a cabeça novamente. "E mesmo que conseguisses, de alguma forma, passar por eles, mesmo que conseguisses resgatá-la, eles não a iriam libertar. Eles vão perseguir-te e matar-te."

"Eu sei", respondeu-lhe Royce.

"Meu irmão," disse Garet. "Eu adoro-te. E adoro Genevieve. Mas isto vai significar a tua morte. A morte de todos nós. Deixa-a ir. Não há nada que possas fazer."

Royce conseguia ouvir o quanto os seus irmãos se importavam com ele, o que agradecia – mas ele não podia permitir-se a ouvir aquilo. Aquela era a sua noiva e, independentemente do que estivesse em jogo, ele não tinha escolha. Ele não podia abandoná-la, mesmo que isso significasse a sua morte. Era assim que ele era.

Royce esporeou o seu cavalo com mais força, não querendo ouvir mais, galopando mais rapidamente pelos campos, em direção ao horizonte, em direção à extensa cidade, onde estava o forte de Manfor. Na direção do que certamente iria ser a sua morte.

Genevieve, pensou Royce. Eu vou salvar-te.

*

Royce cavalgou com toda a sua veemência pelos campos, com os seus três irmãos ao seu lado, subindo a última colina e, depois, avançando para a extensa cidade que ficava lá em baixo. No seu centro havia um enorme forte, a casa da Câmara dos Nors, os nobres que governavam a sua terra com um punho de ferro, que haviam tirado tudo à sua família, exigindo dízimo após dízimo de tudo o que eles cultivavam. Eles tinham conseguido manter os camponeses pobres durante gerações. Eles tinham dezenas de cavaleiros à sua disposição, de armadura completa, com armas reais e cavalos reais; eles tinham grossas paredes de pedra, um fosso, uma ponte e eles vigiavam a cidade como uma mulher ciumenta, sob o pretexto de manter a lei e a ordem – mas na verdade apenas para lhes sacarem tudo.

Eles faziam a lei. Eles aplicavam as cruéis leis que lhes eram passadas por todos os nobres de todo o território, leis que só os beneficiavam a eles. Eles funcionavam sob o disfarce de oferecer proteção, mas todos os camponeses sabiam que apenas precisavam de ser protegidos dos próprios nobres. O reino de Sevania, afinal de contas, era um reino seguro, isolado de outros territórios por água dos três lados, no extremo norte do continente Alufen. Um forte oceano, rios e montanhas eram as suas grossas paredes de segurança. O território não era invadido há séculos.

O único perigo e tirania vinha lá de dentro, da aristocracia nobre e do que eles sugavam dos pobres. De pessoas como Royce. Já nem os bens eram suficientes, eles tinham de ter as suas esposas também.

O pensamento trouxe cor às bochechas de Royce. Ele baixou a cabeça e preparou-se ao agarrar com mais força a sua espada.

"A ponte está para baixo!", Raymond gritou. "A grade de ferro do forte está aberta!"

Royce reparou nisso ele próprio e considerou isso um sinal encorajador.

"Claro que está!", Lofen respondeu. "Achas realmente que eles estão à espera de um ataque? Ainda por cima nosso?"

Royce cavalgou mais rápido, grato pela companhia dos seus irmãos, sabendo que todos os seus irmãos tinham um sentimento tão forte por Genevieve quanto ele. Ela era como uma irmã para eles e uma afronta a Royce era uma afronta a todos eles. Ele olhou em frente e sobre a ponte levadiça viu alguns dos cavaleiros do castelo, sem entusiasmo a olharem para os pastos e campos que rodeavam a cidade. Eles não estavam preparados. Eles não eram atacados há séculos e não tinham nenhum motivo para esperar serem naquele momento.

Royce puxou da espada com um toque diferenciado, baixou a cabeça e ergueu a espada. O som das espadas ecoou no ar quando os seus irmãos puxaram das suas, também. Royce saiu primeiro para a frente para assumir a liderança, querendo ser o primeiro na batalha. O seu coração batia com a excitação e medo, não medo por ele mesmo, mas por Genevieve.

"Vou entrar, encontrá-la e sair!", Royce gritou para os seus irmãos, formulando um plano. "Vocês ficam todos fora do perímetro. Esta é a minha luta."

"Não vamos deixar que entres sozinho!", Garet respondeu.

Royce sacudiu a cabeça, inflexível.

"Se algo correr mal, não quero que vocês paguem o preço", ele gritou. "Fiquem aqui e distraiam aqueles guardas. Isso é o que eu mais preciso."

Ele apontou com a sua espada para uma dúzia de cavaleiros que estavam na guarita ao lado do fosso. Royce sabia que, assim que ele cavalgasse por cima da ponte, eles iriam reagir; mas se os seus irmãos os distraíssem, talvez desse para os manter alheios apenas o tempo suficiente para Royce entrar e encontrá-la. Ele calculava que apenas precisava era de uns minutos. Se ele conseguisse encontrá-la depressa, poderia agarrar nela rapidamente, fugir e ver-se livre daquele lugar. Ele não queria matar ninguém se o conseguisse evitar; ele nem sequer queria magoá-los. Ele só queria a sua noiva de volta.

 

Royce baixou a cabeça, galopando tão rápido quanto conseguia, tão rápido que ele mal conseguia respirar, com o vento a bater-lhe no seu cabelo e rosto. Ele aproximou-se da ponte, a trinta, a vinte, a dez jardas de distância, ouvindo o som do seu cavalo e o seu batimento cardíaco. Sentia-se inquieto ao cavalgar, percebendo o quão louco aquilo era. Ele estava prestes a fazer o que a classe camponesa nunca sonhara fazer: atacar a aristocracia. Era uma guerra que possivelmente não conseguiria ganhar e uma maneira certa de ser morto. Mas, no entanto, a sua noiva estava por detrás daquelas portas e isso era o suficiente para ele.

Royce estava tão perto agora, a apenas a algumas jardas de alcançar a ponte. Olhou para cima e viu os olhos dos cavaleiros arregalarem-se de surpresa e a ficarem atrapalhados com as armas, apanhados de surpresa, claramente não estando à espera de nada daquilo.

A sua reação tardia era exatamente o que Royce precisava. Ele correu para a frente e, quando eles levantaram as suas alabardas, baixou a espada e, apontando para os fustes, cortou-os ao meio. Ele golpeava de um lado para o outro, destruindo as armas dos cavaleiros que estavam em ambos os lados da ponte, com cuidado para não os magoar se tal não fosse necessário. Ele só queria desarmá-los e não propriamente envolver-se num combate.

Royce ganhou velocidade, incitando o seu cavalo. Cavalgava cada vez mais rápido, usando o seu cavalo como uma arma, embatendo nos restantes guardas com força suficiente para atirá-los para o ar, na sua armadura pesada, por cima da ponte estreita e fazendo-os cair no fosso de água abaixo. Seria preciso algum tempo para que eles conseguissem de lá sair, Royce apercebeu-se. E esse era todo o tempo que ele precisava.

Atrás dele, Royce ouvia os seus irmãos ajudando à sua causa; do outro lado da ponte eles cavalgaram para a guarita, golpeando os guardas, desarmando-os antes de eles terem qualquer hipótese de se reagruparem. Eles conseguiram bloquear e barrar a guarita, mantendo os desconcertados cavaleiros desprevenidos e dando a Royce a cobertura de que precisava.

Royce baixou a cabeça e avançou para a grade de ferro, que estava aberta, cavalgando mais rápido e vendo que ela começava a baixar. Ele baixou a cabeça e conseguiu passar rapidamente pelo arco aberto exatamente antes de a grade se fechar de uma vez por todas.

Royce entrou no pátio interno, com o coração aos pulos. Fez um balanço, olhando ao redor. Ele nunca tinha estado lá dentro e estava desorientado, encontrando-se cercado por grossas paredes de pedra por todos os lados, com vários andares de altura. Servos e pessoas comuns movimentavam-se de um lado para o outro, carregando baldes de água e outros produtos. Felizmente, nenhum cavaleiro o aguardava. Claro, eles não tinham nenhum motivo para esperar um ataque.

Royce examinou as paredes, desesperado por qualquer sinal da sua noiva.

No entanto, ele não encontrou nenhum. Ele entrou em pânico. E se eles a tivessem levado para outro lugar?

"GENEVIEVE!", gritou ele.

Royce olhava para todos os lados, freneticamente a girar no seu cavalo que relinchava. Ele não fazia a mínima ideia para onde olhar e não tinha nenhum plano. Ele não tinha sequer pensado que conseguiria chegar tão longe.

Royce atormentava o seu cérebro, precisando pensar novamente. Os nobres provavelmente viviam lá em cima, ele imaginou, longe do mau cheiro, das multidões, onde o vento e a luz do sol eram fortes. Naturalmente, seria para ai que eles levariam Genevieve.

Aquele pensamento enraiveceu-o.

Forçando-se a controlar as suas emoções, Royce esporeou o seu cavalo e galopou pelo pátio, passando por servos em choque que paravam e olhavam, largando o trabalho à sua passagem. Ele viu uma grande escadaria de pedra, em espiral, do outro lado e cavalgou até lá, desmontando do cavalo ainda antes de ele parar, correndo a grande velocidade pelas escadas acima. Ele correu espiral acima sem parar, subindo lance após lance. Ele não tinha ideia para onde estava a ir, mas imaginava ter quando chegasse ao topo.

Royce finalmente saiu da escadaria no patamar mais alto, respirando com dificuldade.

"Genevieve!", ele gritou, esperando, rezando por uma resposta.

Não havia nenhuma. O seu pavor aprofundava-se.

Ele escolheu um corredor e correu por ele fora, rezando para que aquele fosse o caminho certo. Ao passar a correr, um homem, de repente, abriu uma porta e espreitou. Era um nobre, um homem baixo e gordo, com um nariz largo e cabelo fino.

Ele fez má cara para Royce, claramente por ver o seu traje de camponês; ele torceu o nariz como se algo desagradável o tivesse invadido.

"Ei!", gritou. "O que é que estás a fazer no nosso…"

Royce não hesitou. Quando o indignado nobre se lançou para ele, Royce deu-lhe um soco na cara, derrubando-o de costas no chão.

Royce, rapidamente, espreitou pela porta aberta, esperando vislumbrá-la. Mas não estava lá.

Ele continuou a correr.

"GENEVIEVE!", gritava Royce.

De repente, ele ouviu um grito, ao longe, em resposta.

Ele ficou ali quieto e alerta a ouvir, perguntando-se de onde tinha vindo. Ciente de que o seu tempo era limitado, que um exército inteiro estaria em breve atrás dele, ele continuou a correr, com o coração bater com força, chamando por ela repetidas vezes.

Mais uma vez, ouviu um grito abafado. Royce sabia que era ela. Ficou inquieto. Ela estava aqui em cima. E ele estava a aproximar-se.

Royce chegou finalmente ao fim do corredor e, ao fazê-lo, por trás da última porta à esquerda, ele ouviu um grito. Ele não hesitou. Baixou o ombro e embateu contra a porta de carvalho antigo.

A porta partiu-se e Royce entrou de rompante. Ele estava numa opulenta câmara, trinta pés por trinta pés, com tetos altos, janelas esculpidas nas paredes de pedra, uma enorme fogueira e, no centro, uma enorme e luxuosa cama de dossel, diferente de tudo o que já havia visto. Ele sentiu uma onda de alívio quando viu ali, numa pilha de peles, o seu amor, Genevieve.

Ele ficou aliviado ao ver que ela estava completamente vestida, ainda a agitar-se, pontapeando, enquanto Manfor tentava agarrá-la por trás. Royce encolerizou-se. Ali estava ele, agarrando a sua noiva, tentando tirar-lhe as roupas. Royce estava aliviado por ter chegado a tempo.

Genevieve contorcia-se, tentando corajosamente tirá-lo de cima de si, mas Manfor era demasiado forte para ela.

Sem hesitar um momento, Royce explodiu em ação. Ele correu e atirou-se a ele, exatamente quando Manfor se virou para olhar. Os seus olhos arregalaram-se em choque. Royce agarrou-o pela camisa e atirou-o.

Manfor foi atirado do quarto a voar, estatelando-se com força no chão, a gemer.

"Royce!", gritou Genevieve, com uma voz de alívio ao vê-lo quando se virou.

Royce sabia que não podia dar a Manfor a hipótese de se recuperar. Quando ele se tentou levantar, Royce saltou-lhe para cima, prendendo-o para baixo. Cheio de raiva pelo que ele tinha feito à sua esposa, Royce chegou o seu punho atrás e deu-lhe um muro com força no maxilar.

Manfor foi projetado para trás. Porém, sentou-se e alcançou um punhal. Mas Royce arrancou-o da sua mão e bateu-lhe sem parar. Manfor caiu para trás e Royce atirou o punhal para longe, fazendo-o deslizar pelo chão.

Ele imobilizou Manfor que sorria sarcasticamente para ele, sempre desafiante e superior.

"A lei está do meu lado", Manfor fervilhava. "Eu posso ficar com quem eu quiser. Ela é minha."

Royce olhava para ele com má cara.

"Tu não podes ficar com a minha noiva."

"Estás louco", Manfor contrapôs. "Louco. Vais ser morto de qualquer das formas. Não há lugar onde te possas esconder. Não sabes isso? Nós possuímos este país."

Royce abanou a cabeça.

"O que tu não entendes", disse ele, "é que eu não quero saber."

Manfor franziu a testa.

"Não te vais safar desta", disse Manfor. "Eu vou tratar disso."

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