A Multidão

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A Multidão
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A MULTIDÃO

por Stephen Goldin

Publicado por Parsina Press

Editor da Tradução: Tektime

A multidão. Copyright 1975 by Stephen Goldin. Todos os direitos reservados

Original title: Herds

Translator: Claudia Peruto

Índice

Prólogo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6

Capítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Sobre Stephen Goldin

Conecte-se com Stephen Goldin

Dedicado à minha mãe, Frances Goldin, que sempre gostou de mistérios

Prólogo

O planeta Zarti foi pacífico um dia. A raça mais avançada era uma espécie de herbívoro gentil de pescoço alongado que não possuía maiores ambições do que a barriga cheia. Estes Zarticku se uniram em bandos para se protegerem de predadores e, eventualmente, desenvolveram métodos simples de comunicação para trocar ideias básicas entre si.

Sem avisar, os Offasii chegaram. Essa raça especial chegou em massa a Zarti, centenas de milhares deles – e uma forma concebível, toda a população Offasii – em navios que tinham vários quilômetros de diâmetro. Eles pulavam como gafanhotos neste planeta idílico e mudaram irrevogavelmente o curso da vida ali.

Primeiro, eles formaram zoológicos, pegando espécimes de cada espécie de animal grande que encontraram. Estes espécimes foram testados, sondados e estimulados de todas as formas possíveis por motivos muito sutis para compreender. Os Zarticku passaram no teste e foram mantidos, enquanto os outros foram devolvidos para o seu habitat natural.

Houve um redimensionamento em todo o planeta. Todos os Zarticku que foram capturados foram colocados em currais especiais, enquanto os que não puderam ser capturados foram mortos. E então, a tortura começou. Muitos Zarticku foram mortos e dissecados. Alguns outros não tiveram tanta sorte – eles foram cortados vivos para que seus sistemas pudessem ser observados enquanto funcionavam. Os gritos destas pobres criaturas foram permitidos para serem filtrados até os bandos encurralados, enchendo de pânico os outros animais e causando ainda mais mortes.

Nenhum Zarticku tinha permissão para reproduzir normalmente. Espermas e óvulos especialmente selecionados foram acompanhados por inseminação artificial, enquanto os Offasii registravam com calma os resultados destes cruzamentos por três gerações. Quando os seus computadores tinham dados suficientes, começavam a alterar a estrutura de DNA dos gametas Zartic. Os genes que não gostavam eram removidos. Os novos eram substituídos para ver quais efeitos teriam na nova geração. Alguns desses novos genes também provaram ser indesejáveis. Eles foram eliminados nas gerações seguintes.

Depois de vinte vidas Zartic, uma geração que combinava com o ideal dos Offasii nasceu. Quando essa geração chegava à maturidade, todos os membros que restaram das gerações seguintes foram condenados à morte, não deixando nenhum deles, mas apenas esta raça nova de Zarticku para herdar o mundo.

Estas novas criaturas eram substancialmente diferentes de seus antepassados, que andavam livres nas florestas de Zarti. Eles eram maiores, mais fortes e mais saudáveis. Sua visão era mais aguçada. Os cabelos duros e emaranhados que tinham em suas costas se tornaram como blindagem fina. Os pequenos apêndices nos ombros, que inicialmente serviam para se manter nos ramos das árvores enquanto comiam se desenvolveram em braços crescidos, terminando em faixas de seis dedos com dois dedões polegares opositores que podiam agarrar e manipular objetos. Sua expectativa de vida média foi dobrada. E o mais importante, eles eram muito mais inteligentes do que seus antepassados. Seu nível de inteligência quadruplicou, no mínimo.

Eles também possuíam um legado de seus antepassados. Histórias de torturas dos Offasii foram passadas ao longo dos anos de boca em boca, com cada geração acrescentando novos contos de horror. As histórias aumentaram nos relatos, e os mitos de crueldade dos Offasii aumentaram.

Agora que eles aparentemente tinham conseguido o que queriam, os Offasii passaram a usar – e abusar – de seus súditos. Os Zarticku se tornaram escravos da raça mais velha, usados para as tarefas de rotina e as tarefas mais domésticas. Eles eram acorrentados para assistir as máquinas que não precisavam de supervisão, forçados a fazer parte de rituais que não tinham qualquer propósito, feitos para desmontar as máquinas somente para que outros Zarticku pudessem montá-las novamente. Eles podiam ser caçados e mortos pelos Offasii apenas por esporte. Algumas vezes eram colocados em arenas para lutar contra animais selvagens ou até com outros de sua espécie. Embora copular fosse permitido, a escolha dos companheiros era feita pelos Offasii, e nenhum padrão era seguido para que os Zarticku fossem distinguidos.

O período de escravidão durou cerca de um século. Durante esse tempo, a face do planeta mudou. Cada centímetro quadrado de terra arável foi transformado para um bom uso pelos brutalmente eficientes Offasii. As cidades surgiram, planejadas e projetadas à perfeição. Os sistemas de transporte e de comunicação eram universais.

Então, um dia, os Offasii foram embora. Foi um êxodo ordenado e bem planejado, sem qualquer palavra direcionada aos assustados Zarticku. Em um momento, os Offasii haviam corrido o mundo de acordo com sua forma habitual, e no momento seguinte, caminharam até suas espaçonaves enormes – que estavam paradas desde o dia do pouso – e partiram em direção ao espaço. Eles deixaram para trás todas as suas obras, suas cidades, fazendas, máquinas. Abandonaram também uma raça de escravos muito atordoados e perplexos.

Os Zarticku não podiam acreditar que os seus mestres realmente tinham partido. Eles se juntaram com medo de que isso pudesse ser uma forma nova e desleal de tortura. Mas as semanas foram passando, havia culturas e máquinas que precisavam de cuidados. Como por reflexo, eles voltaram às suas tarefas habituais.

Vários séculos se passaram e os Zarticku modificaram sua inteligência criada especialmente para uso próprio. Examinaram as máquinas que os Offasii deixaram para trás e descobriram os princípios da ciência. A partir daí, melhoraram e adaptaram as máquinas para uso próprio. Desenvolveram uma cultura própria. Usaram sua inteligência para criar filosofias e o pensamento abstrato. Criaram suas próprias recreações e prazeres. Começaram a viver uma vida confortável de uma espécie inteligente, que dominou seu próprio planeta.

Mas por baixo do verniz do sucesso sempre havia o medo – o medo dos Offasii. Séculos de opressão cruel deixaram sua marca na psiquê dos Zartic. E se os Offasii voltassem algum dia? Eles não considerariam essa usurpação de seus equipamentos por parte dos escravos arrogantes de forma gentil. Eles acabariam inventando torturas novas e mais horríveis, e os Zarticku, como sempre, sofreriam.

Foi essa atmosfera de medo e curiosidade que alimentou o passo mais ousado que a raça Zartic já tomou – o Projeto de Exploração Espacial.

CAPÍTULO 1

Um trecho de duas pistas da rodovia California 1 corria ao longo da costa. Ao oeste, apenas há alguns metros de estrada, estava o Oceano Pacífico, envolvendo calmamente suas ondas sobre as areias e as pedras de San Marcos State Beach. Ao leste, um penhasco de rochas brancas e nuas saltava para cima, a uma altura de mais de sessenta metros. Além do penhasco, tinha uma trilha de montanhas. Elas não eram muito altas, sendo a mais alta com no máximo trezentos metros acima do nível do mar, mas eram suficientes para os moradores locais. As montanhas eram cobertas com florestas esparsas de ciprestes e arbustos emaranhados, com outros tipos de vegetação que ousavam fazer sua presença conhecida em intervalos dispersos.

No topo do penhasco, com vista para a rodovia e para o oceano, havia uma pequena cabana de madeira. Estava no centro de uma área limpa, um eufemismo da presença humana no meio da natureza. Um carro estava estacionado ao lado da cabana, no cascalho, que estava espalhado ao redor do perímetro da estrutura. O cascalho se estendia por cerca de dez metros, cedendo depois na terra seca solta sobre a rocha dura, passando, por fim, pelas árvores para além de seis metros.

 

Havia uma estrada de terra estreita que levava até a cabana. Não subia, mas serpenteava entre as árvores até alcançar a clareira. Um par de faróis podia ser visto tecendo ao longo da estrada, desaparecendo e reaparecendo conforme o carro rodeava em várias curvas ou passava por trás dos grupos de ciprestes.

Stella Stoneham estava na escuridão, observando os faróis se aproximarem. Seus órgãos internos estavam tentando, valentemente, se prender em nós enquanto as luzes se aproximavam. Ela puxou um trago longo de seu cigarro e o apagou nervosamente por baixo dos seus pés, no cascalho. Se houvesse alguém que ela não queria ver agora, era seu marido, mas parecia que a escolha não era dela. Ela franziu a testa e olhou para o céu. A noite estava bastante clara, com apenas pequenas manchas de nuvem cobrindo as estrelas. Ela olhou para os faróis. Ele estaria aqui em um minuto. Suspirando, voltou para dentro da cabine.

O interior normalmente a animava com seu brilho e calor, mas essa noite havia uma qualidade irônica que só aprofundou sua depressão. O quarto era grande e sem aglomeração, dando a ilusão de espaço e liberdade que Stella queria. Havia um longo sofá marrom encostado na parede, com uma pequena mesa de leitura e uma lâmpada ao lado. No canto próximo, no sentido horário, havia uma pia e um pequeno fogão. Uma dispensa pendurada na parede perto deles, esculpida em madeira de forma elaborada, com arabescos e pequenos gnomos vermelhos no canto, segurando-a. Também na parede tinha uma prateleira com vários utensílios de cozinha, ainda brilhantes por falta de uso. Continuando em torno da sala, havia uma pequena mesa de jantar branca perfeitamente instalada no terceiro canto. As portas do quarto de trás e do banheiro estavam entreabertas, com a luz da sala principal penetrando apenas ligeiramente a escuridão além do limiar. Finalmente, havia uma escrivaninha com uma máquina de escrever, um telefone e uma cadeira dobrável velha ao lado, no canto mais próximo da porta. O centro da sala estava vazio, com exceção de um tapete castanho esfarrapado que cobria o chão de madeira. O lugar não tinha muito com o que se agarrar, Stella sabia, mas se uma luta estivesse acontecendo ali, como agora parecia que aconteceria – seria melhor lidar com isso em seu próprio território.

Ela se sentou no sofá e se levantou imediatamente. Percorreu a extensão da sala, imaginando o que faria com as mãos enquanto falava ou escutava. Homens, ao menos, tinham a sorte de terem bolsos. Lá fora, ela podia ouvir o carro triturar seu caminho até o cascalho, chegando à porta da cabine e parar. Uma porta do carro se abriu e, em seguida, fechou. A porta da cabine se abriu e seu marido entrou.

* * *

Este seria o décimo primeiro sistema solar que havia explorado pessoalmente, o que significava que, para Garnna iff-Almanic, a tarefa de encontrar e examinar planetas se tornou tão rotineira quanto um trabalho exótico. Os Zartic foram treinados há anos, antes mesmo se serem autorizados no Projeto. Houve, antes de tudo, o rigoroso treinamento mental que permitia que a combinação de máquinas e drogas projetasse sua mente para longe de seu corpo e para além das profundezas do espaço. Mas um explorador tinha que ter mais treinamento do que apenas isso. Ele teria que traçar seu curso no vazio, seja na tentativa de localizar um novo planeta, seja para encontrar o caminho de volta para casa depois. Isso exigia um extenso conhecimento da navegação celestial. Ele tinha que classificar, em um breve momento, o tipo geral de planeta que estaria investigando, o que exigia uma experiência atualizada na crescente ciência da planetologia. Ele seria chamado para fazer um relatório sobre as formas de vida que o planeta mantinha, se houvesse. Isso exigia um conhecimento de biologia. E, no caso do planeta abrigar vida inteligente, ele tinha que ser capaz de descrever o nível de sua civilização a partir de um pouco mais do que um olhar – e que exigia que esta descrição fosse o máximo possível feita livre de preconceitos pessoais e medos, por sociedades alienígenas que tinham formas diferentes de fazer as coisas, podendo enviar um Zartic normal em crises histéricas.

Mas, acima de tudo, os Zartic tinham que superar o medo instintivo dos Offasii, e que exigia o treinamento mais difícil de todos. Sua mente pairava acima desse novo sistema solar, estudando-o para possibilidades. Era a exploração mais distante feita até agora, bem mais de cem parsecs de Zarti. A estrela era média, uma anã amarela – o tipo frequentemente associado aos sistemas planetários. Mas se esse sistema tinha planetas... Garnna fez uma careta mental. Esta sempre era a parte que mais odiava.

Ele começou a se dispersar pelo espaço que cercava a estrela. Suas fibras mentais se espalharam como uma rede, tornando-se mais finas enquanto ele empurrava seus fragmentos de mente em todas as três dimensões em sua busca por planetas.

Ali! Ele tocou uma quase imediatamente, e a descartou rapidamente. Não era nada além de uma rocha em forma de bola, sem ar, e nem sequer estava dentro da zona de habitação de vida protoplasmática da estrela. Embora fosse fracamente concebível que algum tipo de vida pudesse existir ali, isso não o incomodava. Ele continuou a espalhar sua rede externa.

Outro planeta. Ele estava feliz em encontrar um segundo planeta, pois os três pontos que ele tinha agora – o sol e dois planetas – determinariam para ele o plano eclíptico do sistema. Há muito tempo foi descoberto que os sistemas planetários se formavam geralmente dentro de um único plano, com apenas pequenos desvios individuais dele. Agora que ele sabia sua orientação, ele poderia parar sua expansão tridimensional e se concentrar, em vez disso, em explorar toda a área dentro do plano eclíptico.

O segundo planeta também foi uma decepção. Estava dentro da zona de habitação, mas era a única coisa que ele podia dizer a seu favor. A atmosfera estava coberta de nuvens e cheia de dióxido de carbono, enquanto a superfície era tão incrivelmente quente que oceanos de alumínio e rios de estanho eram comuns. Nenhuma vida protoplasmática poderia existir aqui também. Garnna continuou na sua exploração.

A próxima coisa que encontrou o deixou um pouco surpreso – um planeta duplo. Dois grandes objetos de tamanho planetário circularam a estrela em uma órbita comum. Em uma inspeção mais íntima, um dos planetas parecia muito mais maciço do que o outro. Garnna começou a pensar nisso como um sendo o principal e o outro como uma espécie de satélite.

Ele tentou concentrar toda a atenção que pode sobre esse sistema enquanto ainda mantinha a rede que havia espalhado pelo espaço. O satélite era outra bola cinzenta sem ar, ainda menor do que o primeiro planeta, e parecia completamente sem ar, mas o principal parecia promissor. Visto do espaço, tinha uma aparência azul e branca manchada. O branco eram as nuvens e o azul, aparentemente, era água líquida. Grandes quantidades de água líquida. Isso parecia bem para a existência de vida protoplasmática lá. Ele verificou a atmosfera e ficou ainda mais agradavelmente surpreso. Havia grande quantidade de oxigênio livremente disponível para respiração. Fez uma nota mental para investigar isso mais de perto, se nada melhor aparecesse e continuasse a expandir para o exterior, em busca de planetas.

O próximo planeta que descobriu foi um pequeno e vermelho. A pouca atmosfera que havia parecia consistir principalmente de dióxido de carbono, com quase nenhum oxigênio livre detectável. A temperatura superficial era aceitável para a vida protoplasmática, mas parecia haver pouca água disponível, se houvesse – um sinal muito triste. Embora este lugar tivesse possibilidades, o planeta duplo principal tinha mais. Garnna continuou sua expansão.

A rede estava ficando muito fina, agora, enquanto os Zartic se esticavam cada vez mais. As imagens estavam ficando embaçadas e sua mente parecia ter apenas um controle tênue de sua própria identidade. Ele encontrou algumas pequenas rochas flutuando no espaço, mas se recusou a considerá-las. O planeta seguinte era um gigante de gás. Era difícil percebê-lo, pois sua mentalidade estava tão esticada e fina no momento, mas aquilo não era necessário. A busca por planetas havia terminado neste sistema, ele sabia, pois já havia passado pela zona de habitação. Um gigante de gás como este não poderia existir dentro daquela zona, de acordo com a teoria. Poderia haver outros planetas além desta órbita, mas também não importava. Os Offasii não estariam interessados neles e, portanto Garnna não estava interessado neles também.

Ele voltou sua atenção para o sistema planetário duplo. Ele sentiu um enorme alívio enquanto cambaleava por todas as partes distantes de sua mente, aquelas que haviam se expandido pelo espaço. Sempre foi um sentimento bom quando a pesquisa planetária inicial terminava, com uma sensação de juntar os elementos díspares para formar um todo coeso mais uma vez. Um sentimento semelhante a fazer uma multidão de indivíduos, apenas em uma escala menor, mais pessoal.

Era ruim o suficiente ser um Zartic solitário no espaço, destacado de toda a multidão, para não mencionar a segurança de seu próprio grupo. O trabalho era necessário, claro, para o bem da multidão, mas a necessidade não o tornava mais agradável. E quando um indivíduo Zartic tinha que estender partes de si mesmo até que não houvesse quase nada, era quase insuportável. Era por isso que Garnna odiava essa parte da missão mais do que qualquer outra coisa. Mas estava acabando, agora, e ele podia se concentrar no verdadeiro objetivo da exploração.

* * *

Wesley Stoneham era um homem grande, com mais de um metro e oitenta, com ombros largos e bem musculosos e o rosto de um herói de meia idade. Ele ainda tinha os cabelos, uma juba preta grossa, cortada de modo que ele bagunçava de modo elegante. A testa por baixo dos cabeços era estreita em comparação às grandes sobrancelhas espessas. Seus olhos eram cinza e determinados, seu nariz proeminente e reto. Em sua mão, ele carregava uma mala de tamanho médio.

“Eu recebi seu recado”, foi tudo o que disse quando tirou um pedaço de papel dobrado de seu bolso e o jogou no chão, aos pés da esposa.

Stella soltou o ar suavemente. Ela reconheceu que o tom estava muito bom, e sabia que esta seria uma noite longa e cruel. “Por que a mala?” ela perguntou.

“Enquanto eu estava dirigindo para cá, pensei que poderia ficar por aqui à noite”. Sua voz era uniforme e suave, mas havia uma ponta de comando quando colocou a mala no chão.

“Você não se importa em pedir permissão à sua anfitriã antes de se mudar?”

“Por que eu deveria? Esta é minha cabana, que construí com o meu dinheiro”. A ênfase no “meu” em ambos os casos foi leve, mas inconfundível.

Ela se afastou dele. Mesmo estando de costas para ele, no entanto, ela ainda podia sentir seu olhar penetrando sua alma. “Por que não termina o pensamento, Wes? Minha cabana, meu dinheiro, minha esposa, não é?”

“Você é minha esposa, você sabe.”

“Não sou mais”. Ela já podia sentir os cantos dos olhos começando a aquecer, e tentou verificar suas emoções. Chorar agora não seria bom, e poderia acabar com o seu propósito. Além disso, ela tinha aprendido com a experiência dolorosa que Wesley Stoneham não se afetava pelas lágrimas.

“Você ainda é a lei, de qualquer forma”. Ele cruzou a sala até ela com dois passos largos, agarrou-a pelos ombros e a girou. “E você vai olhar pra mim quando eu falar com você.”

Stella tentou se soltar de seu aperto, mas seus dedos apertaram ainda mais sua pele, um deles (ele fez isso intencionalmente?) acertando um nervo, de modo que um traço de dor percorreu seus ombros. Ela parou de se contorcer e, eventualmente, ele afastou os braços.

“Está um pouco melhor”, ele disse. “O mínimo que um homem pode esperar é um pouco de cortesia de sua própria esposa.”

“Desculpe-me”, ela disse com doçura. Havia uma pequena mentira em sua voz enquanto tentava forçar alguma alegria nela. “Eu deveria ir até o fogão e assar um grande bolo de boas-vindas.”

“Economize o sarcasmo para alguém que gosta dessa porcaria, Stella”, Stoneham grunhiu. “Eu quero saber por que quer o divórcio.”

“Ora, meu precioso, é” – ela começou com os mesmos tons sarcásticos. Stoneham lhe deu uma tapa forte na bochecha. “Eu lhe disse para parar com isso”, ele disse.

 

“Eu acho que minhas razões devem ser mais do que aparentes”, Stella disse amargamente. Havia um rubor aparecendo lentamente na bochecha onde ela havia sido atingida. Ela levou a mão até o lugar, mais por autoconsciência do que por dor.

As narinas de Stoneham se abriram, e seu olhar era superfrio. Stella desviou os olhos, mas se manteve firme por teimosia. Havia gelo nas palavras de seu marido quando perguntou, “Você está tendo um caso com esse velhote, sua hippie?”

Demorou um momento para ela entender de quem ele estava falando. A cerca de um quilômetro e meio da cabana, em Totido Canyon, um grupo de jovens se mudaram para um apartamento de verão abandonado e formaram o que eles orgulhosamente chamaram de “Comunidade Totid.” Por causa de seu comportamento e vestuário não convencional, eles eram considerados pelos moradores da vizinhança como hippies e, portanto, condenados. Seu líder era um homem mais velho, com pelo menos trinta anos de idade, e parecia manter o grupo em ordem apenas neste lado da lei.

“Você está falando de Carl Polaski?” Stella perguntou incrédula.

“Eu não estou me referindo ao Papai Noel.”

Apesar do nervosismo, Stella riu. “Isso é um absurdo. E, além disso, ele não é hippie. Ele é um professor de psicologia fazendo pesquisas sobre o fenômeno da desistência.”

“As pessoas me falam que ele está andando por aí, Stell. Eu não gosto disso.”

“Não há nada de imoral nisso. Ele trás alguns recados para mim e faz alguns trabalhos esquisitos. Eu lhe devolvo o favor, o deixando usar a cabine para escrever. Ele escreve aqui, porque não consegue privacidade suficiente para dizer o que realmente pensa na comunidade. Algumas vezes nos falamos. Ele é um homem muito interessante, Wes. Mas não, eu não estou tendo um caso com ele, nem pretendo.”

“Então, o que está corroendo você? Por que você quer o divórcio?” Ele foi para o sofá e se sentou sem tirar os olhos dela em nenhum momento.

Stella andou de um lado para outro na frente dele algumas vezes. Ela fechou e abriu as mãos, e finalmente as deixou cair do lado. “Eu quero ser capaz de ter algum respeito próprio”, ela disse, por fim.

“Você tem isso agora. Você pode manter sua cabeça erguida para qualquer um no país.”

“Não foi isso que eu quis dizer. Eu gostaria, apenas uma vez, poder assinar meu nome ‘Stella Stoneham’ ao invés de ‘Sra. Wesley Stoneham.’ Talvez dê uma festa para as pessoas que eu gosto, em vez de seus amigos políticos. Wes, eu quero me sentir como uma parceira igual neste casamento, não apenas um acessório de bom gosto para sua casa.”

“Eu não entendo você. Eu lhe dei tudo que qualquer mulher poderia querer—”

“Exceto identidade. No que diz respeito a você, eu não sou um ser humano, apenas uma esposa. Eu decorei seu braço em jantares de cem dólares o prato e faço barulhos charmosos como as esposas de outros aspirantes a políticos. Eu faço um advogado corporativo socialmente respeitável o suficiente para pensar em correr para o escritório. E, quando você não está me usando, você me esquece, me manda para a cabana ao lado do mar ou me deixa andando sozinha por quinze salas da mansão, apodrecendo lentamente. Eu não posso viver assim, Wes. Eu quero sair.”

“O que você acha de uma separação de experiência, talvez um mês ou mais—”

“Eu falei sair’, S-A-I-R. Uma separação não traria nada de bom. A culpa, querido marido, não está em nossas estrelas, mas em nós mesmos. Eu conheço você muito bem, e sei que você nunca mudará algo que seja aceitável para mim. E eu nunca vou ficar satisfeita em ser uma decoração. Assim, uma separação não nos faria bem nenhum. Quero o divórcio.”

Stoneham cruzou as pernas. “Você falou para alguém sobre isso?”

“Não.” Ela balançou a cabeça. “Não, eu estava planejando ver Larry amanhã, mas senti que você deveria ser o primeiro a ser informado.”

“Bom,” Stoneham disse em um sussurro quase inaudível.

“O que isso quer dizer?” Stella perguntou bruscamente. Suas mãos estavam se mexendo, o que era uma sugestão para buscar na sua bolsa, em cima da escrivaninha, por seu maço de cigarros. Ela realmente precisava de um neste momento.

Mas, até que ela colocou um cigarro entre seus lábios, percebeu que estava sem fósforos. “Tem isqueiro?”

“Claro.” Stoneham procurou no bolso do casado e tirou uma caixa de fósforos. “Fique com eles,” ele disse e os jogou para sua esposa.

Stella os pegou e examinou com interesse. A parte de fora da caixa era de cor prata clara, com estrelas vermelhas e azuis em torno da borda. No centro estavam as palavras que proclamavam:

WESLEY STONEHAM

SUPERVISOR

CONDADO DE SAN MARCOS

Dentro, os fósforos de papel eram da cor vermelha, branca e azul.

Ela olhou com curiosidade para seu marido, que estava sorrindo para ela. “Gostou deles?” ele perguntou. “Eu acabei de pegar de volta da impressora esta tarde.”

“Não foi um pouco prematuro?” ela perguntou sarcasticamente.

“Apenas por alguns dias. O velho Chottman se demitiu da diretoria por causa de problemas de saúde no final de semana, e estão deixando que ele nomeie o homem que quer como seu sucessor para cumprir seu mandato. Não será oficial, claro, até que o governador nomeie o homem, mas eu tenho fontes muito confiáveis que dizem que o meu nome é o que está sendo mencionado. Se Chottman diz que quer que eu cumpra o seu mandato, o governador vai escutar. Chottman tem setenta e três anos e tem muitos favores a cobrar.”

Uma ideia começou a brotar na cabeça de Stella. “Então é por isso que você não quer o divórcio, não é?”

“Stell, você sabe tão bem quanto eu o quanto Chottman é puritano,” Stoneham disse. “O velho ainda se opõe firmemente ao pecado de qualquer tipo, e ele acha o divórcio um pecado. Só Deus sabe por que, mas ele acha.” Ele levantou do sofá e foi até sua esposa novamente, segurando seus ombros com ternura, dessa vez. “É por isso que estou pedindo para você esperar. Seria apenas por uma semana ou duas—”

Stella se afastou com um sorriso elegante e triunfante em seu rosto. “Então é isso. Agora sabemos por que o grande e forte Wesley Stoneham está se rastejando. Você não vai me deixar com qualquer vestígio de auto-respeito, não é? Você nem sequer vai me deixar pensar que veio porque pensou que havia algo em nosso casamento que valeria à pena salvar. Não. Você vem direto com isso. É um favor que você quer.”

Ela acendeu um fósforo furiosamente e começou a soprar seu cigarro como uma locomotiva a vapor escalando uma colina. Ela jogou o fósforo no cinzeiro, e o fósforo caiu ao lado dele. “Bem, eu estou cansada de sua política, Wesley. Estou cansada de fazer as coisas para que você fique melhor ou mais preocupado com os cidadãos de San Marcos. A única pessoa que você considera é você mesmo. Suponho que você me daria mesmo o divórcio sem contestar se eu esperasse, não é?”

“Se é o que você quer.”

“Claro. O Grande Compromisso. Faça qualquer acordo, desde que você obtenha o que quer. Bem, tenho uma pequena surpresa para você, Senhor Supervisor. Eu não faço acordos. Eu não dou a mínima se você faz isso na política ou não. Pretendo entrar no escritório de nosso advogado amanhã e começar a fazer os papéis andarem.”

“Stella—”

“Talvez eu até converse um pouco com a imprensa sobre todo o líquido de humanidade humana que flui nas suas veias, querido marido.”

“Estou avisando, Stella—”

“Esta seria uma grande tragédia, não seria, Wes, se você tivesse que realmente ser eleito...”

“PARE, STELLA!”

“...pelos eleitores para entrar no cargo, em vez de ser nomeado pelos seus amigos por causa de sua bondade e simpatia.”

“STELLA!”

Suas mãos estavam em sua garganta enquanto gritava seu nome. Ele queria que ela parasse, mas ela não pararia. Seus lábios continuaram se mexendo e mexendo, e as palavras se perderam em uma névoa silenciosa que envolveu a cabana. As cores normais desapareceram quando o quarto ficou com um tom de sangue. Ele a sacudiu e fechou suas enormes mãos em volta do seu pescoço.

O cigarro caiu de seus dedos surpresos com o ataque inesperado, derramando algumas cinzas no chão. Stella levantou as mãos contra o peito do marido e tentou afastá-lo. Ela conseguiu por um momento, mas ele continuou vindo, lutando com seus braços se debatendo para agarrá-la com toda a força que tinha.

Havia um entorpecimento em seus dedos quando se fecharam em volta de sua garganta. Ele não sentia o suave calor de sua pele cedendo sob sua pressão, o pulsar das artérias em seu pescoço ou o aperto instintivo de seus tendões. Tudo o que ele sentia era seus próprios músculos, apertando, apertando, apertando.

Gradualmente, sua luta cessou. A cor de sua face parecia engraçada, mesmo através da névoa vermelha que escureceu sua visão. Seus olhos esbugalhados pareciam prontos para saltar das órbitas, bem abertos, olhando fixamente para ele, olhando, olhando...

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