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Memorias de José Garibaldi, volume I

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Eram commandados por um antigo irmão de armas de Lavalleja, o coronel Jurien. Lavalleja podia evitar o combate, mas não o quiz e marchou direito aos duzentos cavalleiros, e pediu uma entrevista ao coronel antes de entrar em combate.

– Que quer e que vem aqui fazer? perguntou Jurien a Lavalleja.

– Venho libertar Montevideo do dominio estrangeiro, respondeu Lavalleja, se tem as minhas idéas acompanhe-me, se não, entregue-me as suas armas, ou prepare-se para o combate.

– Não comprehendo o que querem dizer essas palavras=entregue-me as suas armas, respondeu o coronel, e espero que ninguem m'as ha-de explicar.

– Então tome o commando dos seus soldados, e vamos vêr por quem é Deus.

– Veremos, disse Jurien.

E partiu a galope a unir-se aos seus soldados.

Mas no mesmo momento Lavalleja desenrolou a bandeira nacional, azul, branca e encarnada e immediatamente os cento e sessenta orientaes passaram para o seu lado.

Os quarenta brazileiros foram feitos prisioneiros.

A marcha de Lavalleja para Montevideo foi uma verdadeira marcha triumphal, de que o resultado foi que a republica oriental, proclamada pela vontade e enthusiasmo de um povo inteiro, tomou logar entre as nações.

ROSAS

Durante estes acontecimentos engrandecia-se um nome que mais tarde devia ser o terror da federação argentina.

Pouco depois da revolução de 1810 um mancebo de quinze a dezaseis annos saía de Buenos-Ayres, abandonando a cidade e dirigindo-se para o campo. Ia muito perturbado e caminhava apressadamente.

Este mancebo chamava-se João Manoel Rosas.

Porque esta creança, este fugitivo abandonava a casa onde havia nascido? Porque ia pedir um asylo aos habitantes dos montes? É porque acabava de insultar sua mãe, como mais tarde devia insultar a sua patria; ia perseguido pela maldição paterna.

Este successo, sem nenhuma importancia para os acontecimentos d'aquelle paiz, esqueceu bem depressa no meio de factos mais serios que então tiveram logar, e em quanto todos os antigos companheiros do fugitivo se reuniam debaixo do estandarte da independencia para combater os hespanhoes, Rosas, andava pelos pampas entregando-se á vida dos gauchos, adoptando o seu vestuario e costumes, tornando-se um dos melhores cavalleiros e um dos homens mais habeis d'essas immensas planicies, no manejo do laço e da bola, de sorte que vendo-o tão habil n'estes exercicios selvagens, quem não o conhecesse não o tomaria por um habitante da cidade, nem por um pueblero fugitivo, mas por um verdadeiro gaucho.

Rosas entrou primeiramente como peon, isto é jornaleiro, em uma estancia, depois foi capataz, – Garibaldi já nos explicou o que era um capataz– chegando depois a mayordomo.

N'esta qualidade governava os bens da poderosa familia Anchorena. É d'ahi que começa a sua fortuna como proprietario.

Sendo o nosso designio fazer conhecer Rosas debaixo de todos os aspectos; vamos dizer qual era a situação do seu espirito no meio dos acontecimentos que então tinham logar.

Rosas tinha estado em Buenos-Ayres durante os prodigios praticados pela revolução contra a Hespanha. Então quem tinha coragem procurava a celebridade no campo da batalha, quem tinha instrucção procurava-a nos conselhos. Rosas era ambicioso de celebridade, mas qual era a que elle poderia esperar? Que nome poderia adquirir, elle que não tinha nem coragem para se apresentar no campo da batalha, nem instrucção alguma para adquirir um nome entre os homens da sciencia? A todos os momentos ouvia proferir a seu lado alguns nomes que se haviam tornado celebres. Eram como ministros, Rivadaria, de Pasos, de Aguerro, como guerreiros, Saint-Martin, de Baléarés, de Rodrigues, e de Las Heras.

E todos estes nomes de que o ruido, vindo da cidade, ia achar éco nas solidões dos campos, todos estes nomes avivavam o seu odio contra essa cidade que tendo triumphos para todos, não tinha para elle senão o exilio.

Já n'esta época Rosas pensava no futuro e preparava-o. Errando pelos pampas, confundido com os gauchos, fazia-se o companheiro da miseria do povo, elogiando os prejuizos do homem das planicies, excitando-o contra os cidadãos, demonstrando-lhe a superioridade do numero e diligenciando fazer-lhe comprehender que quando quizessem os habitantes do campo, seriam senhores da cidade.

Os annos foram passando, até que chegamos a 1820.

Foi então que Rosas começou a apparecer, apoiado na influencia que havia adquirido nos habitantes das planicies.

Já vimos o que se passou em Montevideo. Vejamos agora o que se passou em Buenos-Ayres.

A milicia de Buenos-Ayres rebellou-se contra o governador Rodrigues. Então um regimento das milicias do campo, los colorados de las Conchas entraram na cidade, em 5 de outubro de 1820, tendo á sua frente um coronel, que era conhecido em Buenos-Ayres, e que conhecia Buenos Ayres.

Este coronel era Rosas.

No dia seguinte as milicias do campo, e as milicias da cidade vieram ás mãos, mas n'esse dia o coronel não estava á frente do regimento.

Uma violenta dôr de dentes, que Rosas deixou de soffrer assim que finalisou o combate, affastava-o, com grande pezar, do campo da batalha. E porque não teria elle razão? Octavio tambem teve um grande ataque de febre no dia da batalha de Actium.

Rosas parecia-se muito com Octavio; mas mais tarde Octavio foi Augusto, o que segundo todas as probabilidades nunca será Rosas.

Esta entrada em Buenos-Ayres foi a unica expedição guerreira em que Rosas tomou parte durante toda a sua vida politica.

Foi então que Rivadavia, já mui conhecido, foi nomeado ministro do reino, tomando a direcção de todos os negocios.

Rivadavia era um d'esses homens de genio, como apparecem no meio das revoluções durante os dias de tormenta. Havia viajado muito na Europa, possuindo uma instrucção universal, e parecendo animado do mais ardente e puro patriotismo. Infelizmente a vista da civilisação europea, que tinha estudado em Paris e Londres havia-lhe feito nascer falsas idéas da sua applicação a um povo que não tendo por detraz de si dez seculos de luctas sociaes, não as podia admittir.

Rivadavia queria dobrar a marcha do tempo e fazer o mesmo pela America que Pedro o Grande havia feito pela Russia; mas não tendo á sua disposição os meios de Pedro foi obrigado a desistir das suas intenções.

Póde ser que com mais alguma esperteza Rivadavia as tivesse alcançado, mas censurava os homens pelos seus habitos e certos habitos são uma nacionalidade e outros um orgulho. Escarnecia os trajes americanos, manifestando a sua repugnancia pela jaqueta, o seu desprezo pela chiripa, o vestuario do homem dos campos, e como ao mesmo tempo não occultava a sua preferencia pela casaca e bota de polimento, despopularisou-se pouco a pouco, e sentiu o poder prestes a escapar-lhe.

E não obstante que de beneficios não fez ao seu paiz em troca d'esses vestidos ridiculos que lhe queria tirar? A sua administração foi a mais prospera que Buenos-Ayres teve. Foi elle que fundou a universidade, os liceos, e que introduziu nas escolas o ensino mutuo. Durante a sua administração, muitos sabios foram chamados da Europa, as artes foram protegidas, desenvolvendo-se muito, emfim Buenos-Ayres era chamada a Athenas da America do Sul.

Já fallámos da guerra de Buenos-Ayres em 1826. Para sustentar esta guerra, Buenos-Ayres fez sacrificios enormes, exgotando as suas finanças, e enfraquecendo por esse motivo muito as molas da sua administração.

Exgotadas as finanças, enfraquecido o governo, as revoluções começaram.

Já dissemos que em Buenos-Ayres como em Montevideo, o campo e a cidade nunca estavam em harmonias de opiniões, como nunca o estavam em harmonias de interesse.

Buenos-Ayres fez uma revolução.

Immediatamente o campo fez uma revolução, e dirigindo-se sobre Buenos-Ayres, invadiu a cidade e fez o seu chefe governador.

Este chefe era Rosas.

Vamos fechar o parenthesis, aberto algumas paginas atraz.

Em 1830 Rosas foi eleito governador pela influencia dos habitantes do campo, não obstante a opposição da cidade, que elle encontrou meia policiada pela administração de Rivadavia.

Então Rosas, o gaucho, tentou reconciliar-se com a civilisação, parecendo querer esquecer os costumes selvagens adoptados por elle até então: a serpente queria mudar de pelle.

Mas a cidade resistiu ás suas tentativas, e a civilisação recusou receber o transfuga que se havia passado para o campo da barbaria. Rosas mostrava-se revestido de um uniforme, e immediatamente os militares perguntavam em que campo de batalha havia elle ganho aquellas dragonas. Fallava n'uma reunião, e logo os homens intelligentes perguntavam entre si onde tinha elle ido aprender aquelle estylo; quando apparecia n'um passeio, as mulheres designando-o com o dedo diziam: «Ahi vae o gaucho disfarçado!»

Os tres annos do seu governo passaram-se n'esta lucta mortal para o seu orgulho, e póde ser que a estas torturas moraes que lhe fizeram soffrer n'este periodo, seja devida a sua ferocidade. D'esta maneira quando resignou o poder e desceu a escada do palacio, com a alma cheia de odio, e o coração de fel, sabendo que desde então não havia alliança possivel com a cidade, foi ter de novo com os seus fieis gauchos, e as suas estancias de que era o senhor, com a intenção de um dia entrar de novo em Buenos-Ayres, como Scylla, que elle não conhecia e de quem provavelmente nunca havia ouvido fallar, havia entrado em Roma, com a espada n'uma mão e uma tocha m outra.

Para alcançar este fim vejamos o que elle fez. Pedia ao governo que lhe concedesse um commando qualquer no exercito que ia combater os indios selvagens. O governo que o temia julgou affastal-o concedendo-lhe este favor, e deu-lhe todas as tropas de que podia dispôr, esquecendo que se enfraquecia mettendo todo o poder nas mãos de Rosas.

 

Este logo que se achou á frente do exercito fez uma revolução em Buenos-Ayres, fez-se chamar ao poder que não acceitou senão com grandes condições, porque tinha ás suas ordens todo o exercito, e entrou em Buenos-Ayres com a dictadura mais absoluta de que se tem conhecimento, isto é com toda la suma del poder publico– com toda a extensão do poder publico.

O governador que elle fez cair, ou antes que elle precipitou era o general João Romão Baleace, um dos homens que tinha mais trabalhado na guerra da independencia, e um dos chefes do partido federal de que Rosas se dizia o sustentaculo. Baleace era um nobre coração e a sua fidelidade á patria era proverbial. Havia acreditado em Rosas e tinha trabalhado muito para a sua elevação. Baleace foi o primeiro sacrificado por Rosas, morrendo proscripto e quando o seu cadaver repassou a fronteira, protegido pela morte, Rosas recusou á sua familia, não as honras funebres que eram devidas a um ex-governador, mas as simples ceremonias a quem todo o cidadão tem direito.

Em 1833 foi que começou o verdadeiro poder de Rosas. No seu primeiro governo, cheio de dissimulação, não tinha apresentado os seus instinctos de crueldade, que fizeram depois d'elle uma celebridade de sangue. Este primeiro periodo não tinha sido marcado senão pelo fuzilamento do major Monteiro e dos prisioneiros de S. Nicolau. Comtudo não devemos esquecer que foi n'esta época que tiveram logar muitas mortes sombrias e subitas, d'essas mortes de que a historia inscreve a data com tinta encarnada no livro das nações.

D'esta maneira desappareceram dois chefes de que a influencia poderia fazer alguma sombra a Rosas. As mortes de Arbolito e de Molina tiveram logar n'esta época. O mesmo aconteceu, segundo nos parece, aos dois consules que acompanharam Octavio na sua primeira batalha contra Antonio.

Daremos mais alguns detalhes de Rosas que ainda não nos appareceu senão como dictador, mas tendo já alcançado um poder como poucos homens tem exercido n'uma nação.

Em 1833, Rosas contava trinta e nove annos. Tinha o aspecto europeo, cabellos louros, olhos azues, e uma presença soffrivel. Não usava nem de barbas, nem de bigodes. O seu olhar seria bello se se podesse examinar, mas Rosas havia-se habituado a não olhar de frente, nem os seus amigos nem os seus inimigos, porque sabia que n'um amigo existe quasi sempre um inimigo disfarçado. A sua voz era doce, e, quando tinha necessidade de agradar a sua conversação tinha muito de attrahente. A sua reputação de cobarde é proverbial, e a de esperto é universal. Adorava as mystificações, sendo esta a sua grande occupação antes de se entregar aos negocios serios. Uma vez chegado ao poder, não foi senão uma distracção, que eram brutaes como a sua natureza.

Citemos um ou dois exemplos:

Uma tarde que devia jantar na companhia de um dos seus amigos, occultou o vinho destinado a beber-se e deixou unicamente no bofete uma garrafa do famoso licor de Leroy, que para ser completamente celebre só lhe falta ser descuberto no tempo de Moliere. O amigo procurando o vinho só achou a garrafa de Leroy e encontrando-lhe um gosto mui agradavel, bebeu-a toda. Rosas não bebeu se não agua, e partiu logo que acabou o jantar para a sua estancia.

Durante a noite o amigo de Rosas soffreu dores infernaes. Rosas riu muito d'este seu innocente brinquedo, se elle tivesse morrido, Rosas teria, sem duvida, rido muito mais.

Quando recebia algum cidadão em uma das suas estancias, fazia-o montar em cavallos muito fogosos e a sua alegria era conforme a gravidade da queda que o cavalleiro dava.

No palacio do governo achava-se sempre rodeado de loucos e de imbecis, e no meio dos negocios mais serios conservava este singular cortejo. Quando sitiava Buenos-Ayres, em 1829, tinha a seu lado quatro d'estes pobres diabos, que havia feito monges, tornando-se em virtude do seu poder, seu prior. Chamavam-se frei Biqua, frei Chaja, frei Lechuza, e frei Biscacha. Rosas gostava muito de confeitos, tendo-os sempre de todas os qualidades na sua tenda.

Os monges que tambem gostavam muito de confeitos, roubavam alguns de quando em quando. Rosas então chamava-os a todos e os monges que sabiam o que lhe custaria a mentir, confessavam o crime.

Immediatamente o culpado era despojado dos vestidos e fustigado pelos seus tres companheiros.

Todos conheciam em Buenos-Ayres o seu mulato Eusebio, e para isso muito concorreu Rosas que em um dia de recepção publica, teve a idéa de fazer o mesmo que a condessa Dubarry fazia com o preto Zamora.

Eusebio vestido de governador recebeu os cumprimentos das authoridades, em logar do seu senhor.

Não obstante a amizade que Rosas tinha a Eusebio, teve um dia a lembrança de lhe fazer uma brincadeira, como costumavam ser todas as que esta boa alma inventava. Fingiu que acabava de ser descoberta uma conspiração, contra elle, de que o chefe era Eusebio. O fim d'esta conspiração era matar Rosas. Eusebio foi preso apezar dos seus protestos de innocencia. Rosas dominava os juizes a tal ponto que elles não se importavam se o accusado era ou não innocente. Rosas accusava, e elles julgaram e condemnaram Eusebio á morte.

Eusebio soffreu todos os preparativos do supplicio. Confessou-se, e sendo depois conduzido ao logar do supplicio, ahi encontrou o carrasco e seus ajudantes, e quando este brinquedo estava quasi a terminar tragicamente, appareceu Rosas que disse a Eusebio estar sua filha Manuelita apaixonada por elle, e que por isso lhe perdoava, com a condição de a desposar.

É inutil dizer que Eusebio não morrendo do supplicio esteve quasi a morrer de medo.

Vamos agora dizer aos nossos leitores quem era como mulher esta Manuelita que a Providencia tinha collocado ao pé de seu pae como um bom anjo, de que a principal occupação, durante toda a sua vida, foi repetir todos os dias a palavra perdão, alcançando-o muitas vezes.

Manuelita é hoje uma mulher de quarenta annos que por dedicação por seu pae, e póde ser, que talvez pela missão que recebeu do ceu, se tem conservado solteira, pelo menos até 1850, época em que a perdemos de vista.

Manuelita não era precisamente uma mulher encantadora, mas era bella, com uma figura distincta, dotada de um tacto profundo, coquette como uma parisiense, e muito preoccupada, sobre tudo do effeito que produzia nos estrangeiros.

Manuelita foi muito calumniada, o que era muito natural por ser filha de Rosas, isto é, do homem sobre o qual convergiam todos os odios. Era accusada de ter herdado os sentimentos crueis de seu pae, e de ter, como a filha do papa Borgia, esquecido o amor filial por outro mais terno e menos christão.

Tudo isto é falso. Manuelita ficou solteira por duas razões: a primeira porque Rosas sentia muitas vezes a necessidade de ser amado, e sabia que o unico amor real, dedicado, infinito, sobre que podia contar era o de sua filha. Manuelita ficou solteira porque, talvez, nos seus sonhos de realeza, Rosas, hoje simples particular, vivendo num canto da Inglaterra, via no futuro brilhar para Manuelita alguma alliança mais aristocratica do que aquellas a que poderia então aspirar.

Tanto a historia deve ser severa para com Rosas, tanto, a menos de ser injusta, deve ser cheia de indulgencia para com Manuelita, a quem todos que a conhecem fazem justiça, reconhecendo o que dizemos como uma verdade. Manuelita foi o dique eterno, que fazia parar a colera de seu pae. Quando creança tinha um meio muito extravagante para obter d'elle a graça que pedia.

Fazia despir completamente o mulato Eusebio, arreiando-o como um cavallo, e calçava uns lindos sapatos com esporas. Eusebio punha as mãos no chão, e Manuelita montava-se-lhe nas costas, fazendo caracolar o seu bucephalo humano diante de seu pae que ria muito d'este singular brinquedo, concedendo a Manuelita o perdão que implorava.

Mais tarde quando ella comprehendeu que não podia empregar este meio, apezar de ser tão efficaz, começou a pôr em pratica a obra de Mecena ao pé de Augusto, quando elle lhe lançava as suas tabuas nas quaes estava escripto: Surge, carnifex! Mas Manuelita procedia de outra maneira, porque conhecendo seu pae perfeitamente, sabia as vaidades secretas que era necessario fazer vibrar, e por isso muitas vezes alcançava o que pedia.

Manuelita era ao mesmo tempo a rainha e escrava de seu pae. Administrava a casa, cuidava de Rosas, e encarregada de todas as relações diplomaticas era o verdadeiro ministro dos negocios estrangeiros de Buenos-Ayres.

Assim como Rosas era um ente á parte, que não se confundia com pessoa alguma na sociedade, Manuelita era tambem uma creatura não só estranha no meio de todas, mas mesmo estranha a todas, e que viveu n'este mundo solitaria, longe do amor dos homens e da sympathia das mulheres.

Rosas tambem tinha um filho chamado João, mas que nunca seguiu a politica de seu pae, e uma filha que ainda creança casou, sendo hoje uma casta esposa e mãi feliz, tendo um nome, o de seu marido, honrado e respeitado por todos.

Tendo alcançado o poder, o grande trabalho de Rosas, foi anniquilar a federação.

Lopes o seu fundador, cahiu doente. Rosas mandou-o vir para Buenos-Ayres e tornou-se seu enfermeiro.

Lopes morreu envenenado.

Quiroga, o chefe da federação, que havia escapado são e salvo de vinte batalhas, e de quem a coragem e lealdade era proverbial, morreu assassinado.

Cullen, o conselheiro da federação, foi nomeado governador de Santa Fé. Rosas improvisou uma revolução, e Cullen foi entregue a Rosas pelo governador de São Thiago.

Cullen foi fuzillado.

Todos os homens notaveis no partido federal tiveram a mesma sorte que tinham tido na Italia os homens de consideração durante o dominio dos Borgias. Pouco a pouco, Rosas, empregando os mesmos meios que Alexandre VI e seu filho Cesar, conseguiu reinar na republica argentina, que apezar de reduzida a uma perfeita unidade, conserva ainda o nome pomposo de federação, e vae talvez, ser inimiga dos unitarios.

Diremos algumas palavras dos homens que acabamos de nomear, fazendo reviver algum tempo os seus spectros accusadores, o que dará alguma idéa da scena de Shakespeare no Ricardo 3.o, antes do combate.

Havia n'esses homens uma especie de selvajaria politica que é digna de ser conhecida.

Fallemos primeiramente do general Lopes. Uma unica anedocta, dará não sómente idéa d'este chefe, mas fará conhecidos os homens com quem elle tinha a tratar.

Lopes era governador da Santa Fé, e tinha em Entre Rios um inimigo pessoal, o coronel Ovando, que em seguida a uma revolta foi conduzido prisioneiro ao general Lopes.

O general almoçava. Recebeu perfeitamente Ovando e convidou-o a almoçar. A conversação travou-se entre elles como entre dois convivas, aos quaes uma egualdade de condições tivesse ordenado a mais perfeita cortezia.

Comtudo no meio da conversação, Lopes exclamou:

– Coronel, se eu tivesse cahido nas suas mãos, como cahiu nas minhas e isto no momento em que almoçasse, que faria?

– Convidal-o-ia para almoçar, como v. ex.a acaba de fazer.

– E depois?

– Mandava-o fuzillar.

– Estimo muito que pense do mesmo modo que eu. Acabando de almoçar será fuzillado.

– Se não se quer demorar muito, póde ser já.

– Não, não, acabe de comer descançado, não tenho muita pressa.

E continuaram a almoçar com todo o descanço, e tendo concluido:

– Julgo ser tempo, disse Ovando.

– Agradeço-lhe o não haver esperado que eu o lembrasse, respondeu Lopes.

Depois chamando o seu camarada.

– O piquete está prompto? perguntou elle.

– Sim, meu general, respondeu o soldado.

Então voltando-se para Ovando:

– Adeus, coronel, disse Lopes.

– Adeus, não; mas sim até á vista, porque não se vive muito tempo quando se fazem guerras como as nossas.

E cumprimentando Lopes sahiu. Cinco minutos depois, o estrondo de uma descarga annunciou a Lopes que o coronel Ovando havia entregue a alma a Deos.

Passemos a Quiroga.

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