Abatidos

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Из серии: Um Mistério de Riley Paige #9
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CAPÍTULO CINCO

Ao levar Jilly, April e Gabriela para casa, Riley não foi capaz de lhes dizer que se ia embora dali a pouco. Ia perder o primeiro grande evento de Jilly, um papel de protagonista numa peça. Será que as miúdas perceberiam que ela se limitava a seguir ordens?

Mesmo depois de chegarem a casa, Riley não lhes conseguiu dizer.

A vergonha dominava-a.

Naquele dia ganhara uma medalha de perseverança e no passado fora reconhecida por valor e coragem. E claro, as suas filhas estavam na plateia a vê-la receber a medalha.

Mas ela não se sentia uma heroína.

As miúdas dirigiram-se ao exterior para se entreterem no quintal e Riley foi para o seu quarto e começou a fazer as malas. Era uma rotina familiar. O truque era preparar uma mala pequena com items suficientes para durar alguns dias ou um mês.

Enquanto dispunha as coisas em cima da cama, ouviu a voz de Gabriela.

“Señora Riley – o que é que está a fazer?”

Riley virou-se e viu Gabriela na soleira da porta. A empregada segurava um monte de roupa lavada que iria colocar no armário do corredor.

Riley gaguejou, “Gabriela, eu… Eu tenho que ir.”

Gabriela ficou espantada.

“Ir? Para onde?”

“Tenho um novo caso. Na Califórnia.”

“Não pode ir amanhã?” Perguntou Gabriela.

Riley engoliu em seco.

“Gabriela, o avião do FBI está neste momento a minha espera. Tenho que ir.”

Gabriela abanou a cabeça.

Disse, “É bom combater o mal, Señora Riley. Mas às vezes penso que perde a noção do que é importante.”

Gabriela desapareceu em direção ao corredor.

Riley suspirou. Desde quando é que Riley pagava a Gabriela para ser a sua consciência?

Mas não se podia queixar. Gabriela era demasiado boa no que fazia.

Riley ficou a olhar para a sua mala ainda incompleta.

Abanou a cabeça e murmurou para si própria…

“Não posso fazer isto à Jilly. Não posso.”

Durante toda a sua vida sacrificara os filhos em detrimento do trabalho. Sempre. Nunca colocara os filhos à frente.

E isso, apercebeu-se, era o que estava errado na sua vida. Isso era parte da sua escuridão.

Ela era suficientemente corajosa para enfrentar um assassino em série. Mas era suficientemente corajosa para fazer dos filhos a sua prioridade?

Naquele momento, Bill e Lucy estavam a preparar-se para ir para a Califórnia.

Esperavam encontrá-la na pista de Quantico.

Riley suspirou.

Só havia uma maneira de resolver aquele problema – se o conseguisse resolver.

Tinha que tentar.

Pegou no telemóvel e ligou para o número privado de Meredith.

Perante o som da sua voz áspera, Riley disse, “Senhor, é a Agente Paige.”

“O que é que se passa?” Perguntou Meredith.

Havia uma nota de preocupação na sua voz. Riley percebeu porquê. Nunca usara aquele número a não ser em circunstâncias extremas.

Riley ganhou coragem e foi direta ao assunto.

“Senhor, gostaria de adiar a minha viagem para a Califórnia. Só por esta noite. Os Agentes Jeffreys e Vargas podem ir antes de mim.”

Após uma pausa, Meredith perguntou, “Qual é a emergência?”

Riley engoliu em seco. Meredith não ia tornar aquilo fácil.

Mas ela estava determinada a não mentir.

Numa voz trémula, gaguejou, “A minha filha mais nova, Jilly – entra na peça da escola esta noite. Ela vai representar o papel principal.”

O silêncio que se seguiu era ensurdecedor.

Será que ele me desligou a chamada? Interrogou-se Riley.

Mas pouco depois Meredith disse, “Pode repetir, por favor? Não estou certo se percebi bem.”

Riley conteve um suspiro. Ela tinha a certeza de que ela a tinha ouvido perfeitamente bem.

“Senhor, esta peça é importante para ela,” Disse Riley, ficando cada vez mais nervosa. “A Jilly… Bem, sabe que estou a tentar adotá-la. Ela teve uma vida difícil e tem os sentimentos à flor da pele e…”

A voz de Riley desvaneceu-se.

“E o quê?” Perguntou Meredith.

Riley engoliu em seco.

“Eu não a posso desiludir. Não desta vez. Não hoje.”

Outro silêncio sombrio se seguiu.

Riley começava a sentir-se mais determinada.

“Senhor, não fará qualquer diferença para este caso,” Disse ela. “Os Agentes Jeffreys e Vargas vão antes de mim e sabe como são capazes. Podem colocar-me ao corrente de tudo quando lá chegar.”

“E quando é que seria?” Perguntou Meredith.

“Amanhã de manhã. Cedo. Vou para o aeroporto assim que a peça terminar. Apanho o primeiro voo que conseguir.”

Após nova pausa, Riley acrescentou, “Eu pago a minha viagem.”

Ouviu Meredith a emitir sons.

“Certamente que pagará, Agente Paige,” Disse ele.

Riley mal conseguia acreditar.

Ele está a autorizar-me!

De repente apercebeu-se que mal respirara durante a conversa.

Teve que fazer um enorme esforço para não demonstrar de forma efusiva a sua gratidão.

Ela sabia que Meredith não gostaria disso. E a última coisa que queria era que ele mudasse de ideias.

Então limitou-se a dizer, “Obrigada.”

Ouviu outro grunhido.

Depois Meredith disse, “Diga à sua filha para partir uma perna.”

E terminou a chamada.

Riley suspirou de alívio, depois olhou para cima e viu Gabriela na soleira da porta outra vez, a sorrir.

Estivera obviamente a ouvir a chamada.

“Penso que está a crescer, Señora Riley,” Disse Gabriela.

*

Sentada na plateia com April e Gabriela, Riley estava a gostar muito da peça da escola. Já se esquecera de como eventos daqueles podiam ser encantadores.

Os miúdos do secundário estavam todos enfarpelados com fatos improvisados. Tinham pintado um cenário para dar vida à história de Deméter e Perséfone – campos cheios de flores, um vulcão na Sicília, as cavernas húmidas do submundo e outros locais míticos.

E a atuação de Jilly estava simplesmente fantástica!

Ela interpretava Perséfone, a jovem filha da deusa das colheitas. Riley deu por si a lembrar-se da história à medida que ia sendo contada.

Perséfone estava a colher flores quando Hades, o deus do submundo, passou na sua carruagem e a levou para o submundo para ser a sua rainha. Quando Deméter se apercebeu do que sucedera à filha, gemeu de dor.

Riley sentiu arrepiar-se pela forma como a rapariga que interpretava Deméter expressava a sua dor.

Naquele momento, a história começou a afetar Riley de uma forma que não esperava.

A história de Perséfone parecia-se estranhamente com a própria história de Jilly. No final de contas, era a história de uma rapariga que perdera parte da juventude devido à intrusão de forças mais poderosas do que ela.

Riley sentiu-se a quebrar.

Ela conhecia muito bem o resto da história. Perséfone ganharia de novo a liberdade, mas apenas durante metade de cada ano. Sempre que Perséfone se ia embora, Deméter espalhava o frio e a morte na terra. Quando ela regressava, Deméter dava nova vida à terra e a primavera regressava.

E fora dessa forma que as estações se haviam criado.

Riley apertou a mão de April e sussurrou, “Agora vem a parte triste.”

Riley ficou surpreendida por ouvir April a rir.

“Não tão triste,” Sussurrou April. “A Jilly disse-me que tinham alterado um pouco a história. Vê.”

Riley ficou atenta ao que ali vinha.

Perséfone deu uma pancada na cabeça de Hades com uma urna Grega – na verdade uma almofada disfarçada. Depois saiu do submundo e voltou para junto da sua mãe jubilante.

O rapaz que fazia o papel de Hades trouxe o inverno ao mundo. Ele e Deméter lutaram alternando as estações entre inverno e primavera, indefinidamente.

Riley estava encantada.

Quando a peça terminou, Riley dirigiu-se aos bastidores para dar os parabéns a Jilly. A caminho, encontrou a professora responsável pela peça.

“Adorei o que fez com a historia!” Disse Riley à professora. “Foi tão refrescante ver Perséfone transformar-se de vítima indefesa em heroína independente.”

A professora sorriu.

“Não me agradeça a mim,” Disse ela. “A ideia foi da Jilly.”

Riley foi ter com Jilly e deu-lhe um grande abraço.

“Estou tão orgulhosa!” Disse Riley.

“Obrigada mãe,” Disse Jilly, sorrindo alegremente.

Mãe.

A palavra ecoou em Riley. O significado era mais profundo do que poderia dizer.

*

Mais tarde nessa noite quando estavam todas em casa, Riley finalmente teve que dizer às miúdas que se ia embora. Espreitou pela porta do quarto de Jilly.

Jilly já dormia, exausta da noite bem-sucedida. Riley adorava o aspeto de contentamento que o seu rosto mostrava.

Depois Riley foi ao quarto de April e olhou para ela. April estava sentada na cama a ler um livro.

April olhou para cima e viu a mãe.

“Então mãe,” Disse ela. “O que é que se passa?”

Riley entrou silenciosamente no quarto.

Ela disse, “Isto vai parecer estranho mas… Tenho que me ir embora agora mesmo. Foi-me dado um caso na Califórnia.”

April sorriu.

Ela disse, “Eu e a Jilly adivinhámos que a tua reunião em Quantico era sobre qualquer coisa do género. E depois vimos a mala na tua cama. Até pensámos que te ias embora antes da peça. Geralmente não fazes as malas a não ser que estejas prestes a ir.”

Ela olhou para Riley com um sorriso amplo.

 

“Mas depois ficaste,” Acrescentou. “Eu sei que adiaste a viagem pela peça. Sabes o quanto isso significa para nós?”

Riley sentiu-se comovida. Encostou-se para a frente e as duas abraçaram-se.

“Então, não faz mal se eu for?” Perguntou Riley.

“Claro que não. A Jilly disse-me que esperava que apanhasses uns maus da fita. Ela tem muito orgulho no que fazes, mãe. E eu também.”

Riley ficou emocionada. Ambas as filhas estavam a crescer tão depressa. E estavam a tornar-se umas jovens extraordinárias.

Riley beijou APril na testa.

“Amo-te querida,” Disse ela.

“Eu também te amo,” Disse April.

“O que é que estás a fazer a pé?” Disse Riley a April. “Desliga a luz e vai dormir. Amanhã é dia de escola.”

April deu uma risadinha e desligou a luz. Riley foi para o seu quarto para pegar na mala.

Já passava da meia-noite e tinha que ir até DC para apanhar um voo comercial a tempo.

Ia ser uma longa noite.

CAPÍTULO SEIS

O lobo estava deitado sobre a barriga no duro solo do deserto.

Era assim que o homem se via a si próprio – um animal a perseguir a sua próxima vítima.

Tinha uma excelente vista de Fort Nash Mowat do seu posto bem situado e o ar noturno era agradável e fresco. Espreitou a vítima daquela noite através da espingarda com visão noturna.

Pensou nas suas vítimas odiadas.

Há três semanas tinha sido Rolsky.

Depois fora Fraser.

E por fim Worthing.

Abatera-os com grande destreza, com tiros na cabeça tão limpos que nem se haviam apercebido do que lhes sucedera.

Naquela noite seria a vez de Barton.

O lobo observou Barton a andar num caminho sem iluminação. Apesar da imagem noturna ser granulosa e monótona, o alvo estava suficientemente visível para poder alcançar o seu objetivo.

Mas ainda não atingiria a presa daquela noite – ainda não.

Ele não estava muito longe. Alguém próximo poderia descobrir a sua localização, apesar de ter colocado um silenciador à sua M110. Ele não iria cometer o erro de amador de subestimar os soldados daquela base.

Seguindo Barton através da mira, o lobo apreciou a sensação de ter a M110 nas mãos. Por aqueles dias o Exército estava a começar a utilizar a Heckler & Kock G28 como espingarda de sniper padrão. Apesar do lobo saber que a G28 era mais leve e mais compacta, ainda assim preferia a M110. Era mais certeira, apesar de ser mais longa e mais difícil de esconder.

Tinha vinte balas, mas apenas tencionava utilizar uma quando chegasse o momento de disparar.

Ia eliminar Barton com um tiro ou com nenhum.

O homem conseguia sentir a energia da matilha, como se o estivessem a observar, como se o estivessem a apoiar.

Viu Barton a chegar finalmente ao seu destino – um dos courts de ténis ao ar livre da base. Vários outros jogadores o cumprimentaram quando ele entrou no court e começou a retirar do saco o seu equipamento.

Agora que Barton estava numa área bem iluminada, o lobo já não tinha necessidade de utilizar a mira noturna. Retirou-a para utilizar a mira diurna. Depois apontou diretamente à cabeça de Barton. A imagem já não era granulosa, mas sim nítida e colorida.

Barton encontrava-se a noventa metros de distância naquele momento.

Àquela distância, o lobo podia depender da precisão da espingarda até uma polegada.

Dependia dele manter-se dentro dessa polegada.

E ele sabia que o faria.

Basta apenas apertar ligeiramente o gatilho, Pensou.

Era tudo aquilo de que necessitava naquele momento.

O lobo deliciou-se naquele momento misterioso e suspenso no tempo.

Havia algo quase religioso nesses segundos que antecediam o apertar do gatilho, quando ele aguardava pelo disparo, quando aguardava decidir-se a pressionar o gatilho com o dedo. Nesses momentos, A vida e a morte pareciam estranhamente distantes da sua vontade. O movimento irrevogável sucederia na completude de um instante.

A decisão seria sua – e no entanto, seria tudo menos sua.

Então, a decisão era de quem?

Ele imaginava que havia um animal, um verdadeiro lobo, a insinuar-se dentro de si, uma criatura sem remorsos que assumia o real comando sob aquele momento e movimento fatal.

Aquele animal era tanto seu amigo como seu inimigo. E ele adorava-o com um amor estranho que apenas podia sentir por um inimigo mortal. Aquele animal interior era o que despoletava o melhor de si.

O lobo ficou deitado à espera que o animal atacasse.

Mas o animal não o fez.

O lobo não pressionou o gatilho.

Interrogou-se porquê.

Algo parece errado, Pensou.

Rapidamente lhe ocorreu o que seria.

A vista do alvo do court de ténis luminoso através da mira regular era simplesmente demasiado clara.

Não lhe custaria nada.

Não haveria qualquer desafio.

Não seria digno de um verdadeiro lobo.

E também era demasiado cedo em relação à última morte. Os outros tinham sido espaçados para despoletar alguma ansiedade e incerteza entre os homens que abominava. Matar Barton agora iria interromper o impacto ritmado psicológico do seu trabalho.

Sorriu perante a sua tomada de consciência. Levantou-se com a arma e começou a caminhar de onde viera.

Sentiu que deixar a sua presa por agora era a atitude certa.

Ninguém sabia quando é que ele voltaria a atacar.

Nem ele próprio.

CAPÍTULO SETE

Ainda estava escuro quando o avião de Riley levantou voo. Mas mesmo com a mudança de hora, ela sabia que seria de dia em San Diego quando lá chegasse. Estaria a voar durante mais de cinco horas e já se sentia cansada. Amanhã de manhã tinha que estar completamente operacional quando se juntasse a Bill e Lucy para a investigação. Haveria muito trabalho a fazer e ela precisava de estar pronta para o concretizar.

O melhor é dormir um pouco, Pensou Riley. A mulher sentada a seu lado já parecia estar a dormitar.

Riley recostou a cadeira para trás e fechou os olhos. Mas em vez de adormecer, deu por si a lembrar-se na peça de Jilly.

Sorriu ao recordar-se de como a Perséfone de Jilly tinha batido na cabeça de Hades e fugido do submundo para viver a vida segundo as suas regras.

Emocionou-se ao lembrar-se da primeira vez que encontrara Jilly. Era de noite numa paragem de camiões em Phoenix. Jilly fugira da miserável vida que tinha em casa com um pai agressivo e subiu para a cabine de um camião estacionado. Iria vender o seu corpo ao condutor quando ele regressasse.

Riley estremeceu.

O que seria de Jilly se ela não tivesse aparecido naquela noite?

Amigos e colegas muitas vezes diziam a Riley o bem que fizera em trazer Jilly para sua casa.

Então porque é que ela não se sentia melhor a esse respeito? Em vez disso, sentia pontadas de desespero.

No final de contas, havia incontáveis Jillys por esse mundo fora e muito poucas eram salvas de vidas terríveis.

Riley não as podia ajudar a todas, nem podia livrar o mundo de todos os seus terríveis assassinos.

É tudo tão fútil, Pensou. Tudo o que faço.

Abriu os olhos e olhou pela janela. O avião deixara as luzes de DC para trás e lá fora só se via uma escuridão impenetrável.

Ao espreitar para a noite sombria, pensou na sua reunião daquele dia com Bill, Lucy e Meredith, e quão pouco sabia sobre o caso em que iam trabalhar. Meredith dissera que as três vítimas haviam morrido com disparos de longa distância realizados por um atirador habilidoso.

O que é que isso lhe dizia sobre o assassino?

Que matar era um desporto para ele?

Ou que estava nalguma missão sinistra?

Uma coisa parecia certa – o assassino sabia o que estava a fazer e era bom a fazê-lo.

O caso ia sem dúvida ser um desafio.

Entretanto, Riley começou a sentir as pálpebras pesadas.

Talvez consiga dormir, Pensou. Mais uma vez encostou a cabeça para trás e fechou os olhos.

*

Riley olhava para o que pareciam ser milhares de Rileys, todas em pé em ângulos estranhos viradas umas para as outras, tornando-se mais pequenas e finalmente desaparecendo na distância.

Virou-se ligeiramente e também todas as outras Rileys.

Levantou o braço e as outras também o fizeram.

Depois a sua mão tocou numa superfície de vidro.

Estou cercada de espelhos, Apercebeu-se Riley.

Mas como chegara ali? E como sairia?

Ouviu uma voz chamar…

“Riley!”

Era uma voz de mulher, algo familiar para ela.

“Estou aqui!” Gritou Riley. “Onde estás?”

“Também estou aqui.”

De repente, Riley viu-a.

Estava bem à sua frente, no meio da multidão de reflexos.

Era uma mulher jovem e atraente que usava um vestido fora de moda há várias décadas.

Riley soube de imediato de quem se tratava.

“Mãe!” Disse ela num sussurro espantado.

Ficou surpreendida por ouvir que a sua própria voz agora era a de uma menina.

“O que é que estás aqui a fazer?” Perguntou Riley.

“Vim só dizer adeus,” Disse a mãe com um sorriso.

Riley lutou para compreender o que se estava a passar.

Depois lembrou-se…

A mãe tinha sido morta à frente de Riley na loja de doces quando Riley tinha seis anos.

Mas ali estava a mãe, com o mesmo aspeto que tinha quando Riley a viu pela última vez.

“Onde é que vais mãe?” Perguntou Riley. “Porque é que tens que ir?”

A mãe sorriu e tocou no vidro que estava entre elas.

“Estou em paz agora, graças a ti. Posso prosseguir.”

Aos poucos Riley começou a compreender.

Há pouco tempo Riley encontrara o assassino da mãe.

Tornara-se num velho sem-abrigo a viver debaixo de uma ponte.

Riley deixara-o lá, percebendo que a sua vida fora castigo suficiente para o crime que cometera.

Riley tocou no vidro que a separava da mão da mãe.

“Mas não podes ir mãe,” Disse ela. “Eu sou só uma menina pequenina.”

“Oh não, não és,” Disse a mãe com o rosto radiante. “Olha só para ti.”

Riley olhou para o seu reflexo no espelho ao lado da mãe.

Era verdade.

Riley agora era uma adulta.

Parecia estranho perceber que ela era muito mais velha do que a mãe quando morrera.

Mas Riley também parecia cansada e triste em comparação com a sua mãe mais jovem.

Ela nunca envelhecerá, Pensou Riley.

Tal não se aplicava a Riley.

E ela sabia que o seu mundo estava repleto de julgamentos e desafios ainda para serem vividos.

Alguma vez teria paz para o resto da sua vida?

Deu por si a invejar a alegria pacífica, eterna e intemporal da mãe.

Depois a mãe virou-se e afastou-se, desparecendo nos reflexos infinitos de Riley.

De repente ouviu-se um som terrível e todos os espelhos se estilhaçaram.

Riley estava numa escuridão quase total e com vidros partidos até aos tornozelos.

Ergueu com cuidado os pés, depois tentou sair do meio daqueles destroços.

“Cuidado onde pões os pés,” Disse outra voz familiar.

Riley virou-se e viu um velho enrugado com um rosto duro.

“Pai!” Disse ela.

O pai riu perante a sua surpresa.

“Esperavas que estivesse morto, não é?” Disse ele. “Lamento desapontar-te.”

Riley abriu a boca para o contradizer.

Mas então percebeu que ele tinha razão. Ela não sofrera com a sua morte em outubro.

E era certo que não o queria de volta à sua vida.

No final de contas, raramente dissera uma palavra gentil em toda a sua vida.

“Onde tens estado?” Perguntou Riley.

“Onde sempre estive,” Disse o pai.

A cena começou a mudar de uma vastidão de vidro partido para o exterior da cabana do pai na floresta.

Ela agora estava na porta de entrada.

“Podes precisar da minha ajuda neste caso,” Disse ele. “Parece que o teu assassino é um soldado. Eu si muito sobre soldados. E sei muito sobre matar.”

Era verdade. O pai tinha sido capitão no Vietname. Ela não fazia ideia de quantos homens matara em serviço.

Mas a última coisa que queria era a sua ajuda.

 

“Chegou o momento de ires,” Disse Riley.

O sorriso do pai transformou-se numa careta.

“Oh não,” Disse ele. “Ainda agora me estou a instalar.”

O seu rosto e corpo mudaram de forma. Numa questão de segundos, era mais jovem, mais forte, de pele escura, mais ameaçador do que anteriormente.

Agora era Shane Hatcher.

A transformação aterrorizou Riley.

O pai sempre tinha sido uma presença cruel na sua vida.

Mas começava a temer Hatcher ainda mais.

Muito mais do que o pai, Hatcher tinha alguma espécie de poder manipulativo sobre ela.

Podia obrigá-la a fazer coisas que nunca imaginara fazer.

“Vá-se embora,” Disse Riley.

“Oh não,” Disse Hatcher. “Nós temos um acordo.”

Riley estremeceu.

Temos um acordo, disso não há dúvida, Pensou.

Hatcher tinha-a ajudado a descobrir o assassino da mãe. Em troca, ela permitira que ele vivesse na velha cabana do pai.

Para além disso, ela sabia que estava em dívida para com ele. Ajudara-a a resolver casos – mas fizera muito mais.

Até salvara a vida da filha e do ex-marido.

Riley abriu a boca para falar, para protestar.

Mas não saíram palavras.

Em vez disso, foi Hatcher quem falou.

“Estamos unidos pelo cérebro, Riley Paige.”

Riley foi acordada por um abanão.

O avião tinha aterrado no Aeroporto Internacional de San Diego.

O sol erguia-se para lá da pista de aterragem.

O piloto falou pelo intercomunicador anunciando a chegada e pedindo desculpas pela aterragem turbulenta.

Os outros passageiros estavam a reunir os seus pertences e preparavam-se para sair.

Quando Riley se levantou e pegou na sua mala, recordou-se do perturbador sonho que tivera.

Riley não era supersticiosa – mas ainda assim não conseguia deixar de pensar…

Seriam o sonho e a aterragem atribulada o presságio de algo?

CAPITULO OITO

A manhã estava luminosa quando Riley entrou no seu carro alugado e saiu do aeroporto. O tempo estava fantástico com uma temperatura a rondar uns confortáveis 20°C. Apercebeu-se de que a maioria das pessoas pensaria de imediato em apreciar a praia ou a piscina.

Mas Riley sentia uma apreensão a insinuar-se.

Pensou melancolicamente se alguma vez conseguiria ir à Califórnia só para desfrutar do tempo – ou ir para outro lugar qualquer para relaxar.

Parecia que o mal esperava por ela para onde quer que fosse.

A história da minha vida, Pensou.

Ela sabia que devia a si própria e à sua família quebrar aquele padrão – descansar e levar as miúdas a algum lado para se divertirem.

Mas quando é que isso ia acontecer?

Soltou um suspiro triste e cansado.

Talvez nunca, Pensou.

Não dormira muito no avião e sentia o jet lag das três horas de diferença entre San Diego e a Virginia.

Ainda assim, estava ansiosa para começar o novo caso.

Ao dirigir-se a norte na autoestrada de San Diego, passou por edifícios modernos embelezados com palmeiras. Passado pouco tempo estava fora da cidade, mas o trânsito na autoestrada de faixas múltiplas não diminuiu. A rápida procissão de veículos rápidos dirigia-se ao sol da manhã agora acentuado pela paisagem íngreme.

Não obstante o cenário, o Sul da Califórnia pareceu-lhe menos pacato do que esperava. Tal como ela, todos os que se encontravam no interior dos carros estava com pressa para ir a algum lugar importante.

Virou numa saída que indicava “Fort Nash Mowat”. Alguns minutos depois, parou à portas da base, mostrou o distintivo e foi-lhe dada permissão para entrar.

Riley já tinha enviado uma mensagem a Bill e Lucy para lhes dar conhecimento de que ia a caminho, por isso estavam à espera do carro. Bill apresentou a mulher sem uniforme que estava na sua companhia como sendo a Coronel Dana Larson, a comandante do gabinete ICE de Fort Mowat.

Riley ficou de imediato impressionada por Larson. Era uma mulher forte e robusta com intensos olhos negros. O seu aperto de mão deu logo a Riley uma sensação de confiança e profissionalismo.

“Prazer em conhecê-la, Agente Paige,” Disse a Coronel Larson numa voz cristalina e vigorosa. “A sua reputação precede-a.”

Os olhos de Riley dilataram-se.

“Estou surpreendida,” Disse ela.

Larson riu-se um pouco.

“Não esteja,” Disse ela. “Também faço parte das forças de segurança e estou a par das ações da UAC. Sentimo-nos honrados por estar aqui em Fort Mowat.”

Riley sentiu-se corar um pouco ao agradecer à Coronel Larson.

Larson chamou um soldado que estava próximo que energicamente se aproximou e lhe fez continência.

Ele disse, “Cabo Salerno, quero que leve o carro da Agente Paige de regresso ao aeroporto. Ela não vai precisar dele aqui.”

“Sim senhora,” Disse o cabo, “De imediato.” Entrou no carro de Riley e conduziu para fora da base.

Riley, Bill e Lucy entraram no outro carro.

Enquanto a Coronel Larson conduzia, Riley perguntou, “O que é que perdi até agora?”

“Não muito,” Disse Bill. “A Coronel Larson recebeu-nos aqui a noite passada e mostrou-nos o nosso alojamento.”

“Ainda não conhecemos o Comandante da base,” Acrescentou Lucy.

A Coronel Larson disse-lhes, “Estamos a caminho de conhecer o Coronel Dutch Adams agora mesmo.”

Depois com uma risada, acrescentou, “Não esperem uma receção calorosa. Agentes Paige e Vargas, refiro-me especialmente a vocês.”

Riley não estava muito certa a que é que Larson se referia. Ficaria o Coronel Adams contrariado pelo facto da UAC ter enviado duas mulheres? Riley nem conseguia imaginar porquê. Para onde quer que Riley olhasse, via homens e mulheres de uniforme juntos. E com a Coronel Larson na base, com certeza que Adams estaria habituado a lidar com uma mulher figura de autoridade.

A Coronel Larson estacionou em frente a um edifício administrativo moderno e conduziu os agentes ao seu interior. Ao aproximarem-se, três jovens endireitaram-se e fizeram continência à Coronel Larson. Riley viu que os seus casacos da ICE eram iguais aos utilizados pelos agentes de campo do FBI.

A Coronel Larson apresentou os três homens como sendo o Sargento Matthews e os membros da sua equipa, os Agentes Especiais Goodwin e Shores. Depois todos entraram na sala de reuniões onde já eram aguardados pelo próprio Coronel Dutch Adams.

Matthews e os seus agentes saudaram Adams, mas a Coronel Larson não o fez. Riley apercebeu-se que se tratava porque o seu posto era idêntico. Rapidamente percebeu que a tensão entre os dois coronéis era palpável, quase dolorosa.

E como previsto, Adams parecia claramente desagradado por ver Riley e Lucy.

Agora Riley começava a perceber a situação.

O Coronel Dutch Adams era um oficial de carreira da velha escola que não estava habituado a ver homens e mulheres a servirem lado a lado. E a julgar pela sua idade, Riley tinha a certeza de que nunca se habituaria. O mais certo era aposentar-se com os seus preconceitos intactos.

Ela tinha a certeza de que Adams se devia ressentir especialmente da presença da Coronel Larson na sua base – uma mulher oficial sobre quem não tinha qualquer autoridade.

Quando o grupo se sentou, Riley sentiu um arrepio assustador de familiaridade ao estudar o rosto de Adams. Era largo e longo, esculpido severamente como os rostos de muitos outros oficiais militares que conhecera ao longo da sua vida – incluindo o seu pai.

Na verdade, Riley considerou a parecença do Coronel Adams com o seu pai bastante perturbadora.

Ele falou para Riley e colegas num tom excessivamente oficial.

“Bem-vindos a Fort Nash Mowat. Esta base opera desde 1942. Tem uma extensão de setenta e cinco mil hectares, tem mil e quinhentos edifícios e mais de quinhentos quilómetros de estradas. Encontrarão aqui todos os dias seis mil pessoas. Tenho orgulho em dizer que é a melhor base de treinos do Exército do país.”

Chegado àquele ponto, o Coronel Adams parecia estar a tentar suprimir uma careta. E não estava a conseguir.

Acrescentou, “E por essa razão, peço para que não haja incómodos enquanto aqui estiverem. Este lugar funciona como uma máquina bem afinada. Quem vem de fora tem uma infeliz tendência para não atrapalhar. Se o fizerem, prometo-vos que vão ter problemas. Faço-me entender?”

O Coronel Adams olhava diretamente para Riley, obviamente a tentar intimidá-la.

Ela ouviu Bill e Lucy dizer, “Sim senhor.”

Mas ela não disse nada.

Ele não é o meu Comandante, Pensou.

Ela limitou-se a olhá-lo nos olhos e a anuir.

Depois ele ficou o olhar nas outras pessoas que se encontravam na sala. Falou novamente com uma raiva fria a sobressair da sua voz.

“Três bons homens estão mortos. A situação em Fort Mowat é inaceitável. Concertem-na. Imediatamente. Quanto mais cedo melhor.”

Parou de falar por um momento. Depois disse, “O funeral do Sargento Clifford Worthing é às onze horas. Espero que estejam todos presentes.”

Sem dizer mais uma palavra, levantou-se da cadeira. Os agentes do ICE levantaram-se e saudaram-no, e o Coronel Adams saiu da sala.

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