Um Destino De Dragões

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Из серии: Anel Do Feiticeiro #3
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A garota parecia confusa e imediatamente baixou os olhos para o chão, piscando várias vezes. Ela torcia as mãos, parecendo nervosa, atordoada. Era óbvio que ela não estava habituada a isso.

“Por favor, minha senhora, diga-me. Qual é o seu nome?”

“Alistair.” Ela respondeu, humildemente.

“Alistair.” Erec repetia embelezado. Era o nome mais lindo que ele já tinha ouvido.

“Mas eu não sei de que lhe serviria saber o meu nome.” Acrescentou ela em voz baixa, ainda olhando para o chão. “O senhor é um Lorde e eu sou apenas uma criada.”

“Ela é minha criada, para ser exato.” Disse o estalajadeiro dando um passo à frente com ar arrogante. “Ela é dependente de mim. Ela assinou um contrato há alguns anos. Sete anos foi o que ela prometeu. Em troca, eu lhe dou casa e comida. Ela já leva três anos aqui. Então, como pode ver, você está perdendo o tempo. Ela é minha. Minha propriedade. Você não poderá levá-la. Ela é minha. Você entende?”

Erec sentiu um ódio pelo estalajadeiro superior a qualquer ódio que ele pudesse ter sentido por outro homem. Ele estava a ponto de desembainhar sua espada e com ela perfurar o coração daquele homem e acabar com ele. No entanto, por mais que aquele homem perverso merecesse, Erec não queria violar a lei do rei. Afinal, suas ações refletiam sobre o rei.

“A lei do Rei é a lei do Rei.” Erec disse para o homem, com firmeza. “Eu não pretendo violá-la. Dito isso, amanhã começam os torneios e eu tenho o direito, como qualquer homem, a escolher a minha noiva. Saibam todos os aqui presentes que eu escolho Alistair.”

Um suspiro espalhou-se pelo quarto quando todos se viraram uns para os outros, completamente chocados.

“Isto é…” Erec acrescentou. “… Se ela aceitar.”

Erec olhou para Alistair, seu coração batia descompassado enquanto ela continuava com o rosto baixo olhando para o chão. Ele podia ver que ela estava corando.

“A senhora aceita?” Ele perguntou.

O silêncio apoderou-se da sala.

“Meu Senhor…” Ela disse baixinho. ”… O senhor não sabe nada sobre quem eu sou, de onde eu sou, por que eu estou aqui. E eu receio que eu não possa contar-lhe nada sobre essas coisas.”

Erec olhou para ela intrigado.

“Por que não pode me contar?”

“Eu nunca contei a ninguém desde a minha chegada. Eu fiz uma promessa.”

“Mas por quê?” Ele pressionou muito curioso.

Mas Alistair simplesmente manteve seu rosto baixo e ficou em silêncio.

“É verdade.” Uma das mulheres se intrometeu dizendo:

– Esta mulher nunca nos disse quem ela é, ou por que ela está aqui. Ela não quer. Já tentamos por anos.

Erec estava profundamente intrigado com ela, mas isso só aumentava seu mistério.

“Se eu não posso saber quem a senhora é, então não vou insistir.” Erec disse. “Eu respeito sua promessa. Mas isso não vai mudar o meu afeto pela senhora. Minha senhora, quem quer que seja, se eu ganhar estes torneios, então eu a escolherei como meu prêmio. Escolherei a senhora, entre todas as mulheres de todo o Reino. Pergunto mais uma vez: A senhora aceita?”

Alistair manteve seus olhos fixos no chão e enquanto Erec a observava, ele via as lágrimas rolando pelo rosto dela.

De repente, ela se virou e fugiu da sala correndo, fechando com força a porta atrás de si.

Erec ficou ali com os outros, no silêncio atordoante. Ele mal sabia como interpretar a resposta dela.

“Então, como você viu, você perdeu seu tempo e o meu.” Disse o estalajadeiro. “Ela disse que não. Então, caia fora.”

Erec franziu a testa.

“Ela não disse que não.” Brandt interrompeu. “Ela apenas não respondeu.”

“Ela tem o direito de tomar o seu tempo.” Erec disse em defesa dela. “Afinal, é muita coisa para considerar. Ela também não me conhece.”

Erec ficou ali, debatendo sobre o que fazer.

“Vou ficar aqui esta noite.” Erec finalmente anunciou. “Você vai me dar um quarto aqui, no corredor perto dela. Pela manhã, antes de começarem os torneios, eu vou perguntar para ela novamente. Se ela aceitar e se eu ganhar, ela será minha noiva. Se assim for, eu vou comprar o contrato de servidão dela de você e ela abandonará este lugar comigo.”

O dono da hospedaria claramente não queria Erec sob seu teto, mas não se atreveu a dizer nada. Então ele se virou e saiu da sala, batendo a porta atrás de si.

“Tem certeza de que deseja ficar aqui?” O Duque perguntou. “Volte para o castelo com a gente.”

Erec assentiu com a cabeça, sério.

“Eu nunca tive tanta certeza de algo em minha vida.”

CAPÍTULO OITO

Thor saltou através do ar e mergulhou, caindo de cabeça nas águas agitadas do Mar de Fogo.

Ele penetrou na água e afundou permanecendo submerso. Ele se surpreendeu ao sentir que a água estava quente.

Abaixo da superfície, Thor abriu os olhos brevemente e logo se arrependeu de ter feito isso. Ele deu uma olhada e viu todo tipo de criaturas marinhas estranhas, pequenas e grandes, com suas caras feias, grotescas e incomuns. O oceano estava infestado delas. Thor rezou para que elas não o atacassem antes que ele pudesse alcançar a segurança do barco.

Thor veio à tona com uma arfada, ele procurou imediatamente o menino que estava se afogando. Conseguiu vê-lo bem a tempo: o garoto estava debatendo-se e afundando, mais alguns segundos e ele certamente teria se afogado.

Thor se aproximou, agarrou o jovem passando um braço ao redor de sua clavícula e começou a nadar com ele, tratando de manter a cabeça dos dois acima da água. Thor ouviu um gemido, um ganido e quando se virou ficou admirado ao ver Krohn: ele devia ter pulado na água em sua ajuda. O leopardo nadava ao lado dele e gania enquanto tentava aproximar-se de Thor movendo suas patas para dar impulso. Thor sentia-se mal por ver Krohn assim, em perigo, mas suas mãos já estavam ocupadas e havia pouco que ele pudesse fazer.

Thor tentou não olhar para as águas vermelhas e agitadas ao seu redor, ele não queria ver as criaturas estranhas surgindo e desaparecendo ao redor dele. Uma criatura feia, roxa, com quatro braços e duas cabeças, surgiu nas proximidades e silvou para ele, logo depois ela submergiu, fazendo Thor estremecer.

Thor se virou e viu barco a remo a cerca de vinte metros de distância. Ele nadou freneticamente até o barco, usando seu braço livre e as pernas, enquanto arrastava o garoto. O jovem se debatia e gritava, resistindo e Thor tinha medo de poder afundar junto com ele.

“Fique quieto!” Thor gritou duramente, esperando que o menino escutasse.

Finalmente, ele se acalmou. Thor estava momentaneamente aliviado – até que ele ouviu um estrondo e virou a cabeça para o outro lado: bem ao lado dele, outra criatura veio à tona, ela era pequena tinha uma cabeça amarela e quatro tentáculos. Sua cabeça era quadrada e ela nadava até ele, rosnando e sacudindo-se. Se a cabeça da criatura não fosse quadrada ela pareceria uma serpente marinha. Thor precaveu-se já que a criatura se aproximava cada vez mais, ele preparou-se para ser mordido, mas, de repente, a criatura abriu sua enorme boca e cuspiu água do mar para ele. Thor piscou, tentando eliminá-la de seus olhos.

A criatura nadava em círculos ao redor dele e Thor redobrou seus esforços, nadando mais rápido, tentando fugir.

Thor estava fazendo progressos e já se aproximava do barco, quando de repente, surgiu outra criatura do outro lado dele. Ela era longa, estreita e alaranjada, tinha duas pinças próximas da boca e dezenas de pequenas pernas. Ela também tinha uma longa cauda, que chicoteava a água em todas as direções. Parecia uma lagosta de pé. Ela ficou rodeando Thor, dando voltas como um besouro d'água, logo se encaminhou para bem perto de Thor, voltando-se para o lado e chicoteando sua cauda. A cauda chicoteou o braço de Thor e ele gritou de dor com a picada.

A criatura passava por ele zunindo em todas as direções e chicoteava uma e outra vez. Thor desejou que ele pudesse desembainhar a espada e atacá-la, mas ele só tinha uma mão livre e ele precisava nadar.

Krohn que estava nadando ao lado de Thor, virou-se e rosnou para a criatura, foi um barulho de arrepiar os cabelos. Krohn nadou destemidamente até o animal, assustando-o e fazendo-o desaparecer sob as águas. Thor suspirou de alívio, então, de repente a criatura reapareceu do outro lado e atacou-o novamente. Krohn deu a volta e perseguiu-a por toda a parte, tentando pegá-la, ele tratava de mordê-la, mas sempre falhava.

Thor nadava por sua vida, percebendo que a única maneira sair daquela confusão era sair daquele mar. Depois do que pareceu uma eternidade e de nadar com a maior dificuldade, ele conseguiu chegar perto do barco, o qual balançava violentamente com as ondas. Enquanto Thor se aproximava, dois membros da Legião estavam esperando ali para ajudá-lo. Eles eram mais velhos e nunca tinham falado com Thor e seus colegas antes. Para seu crédito, eles se inclinaram e estenderam-lhe uma mão.

Thor ajudou o garoto primeiro, rodeando-o com os braços e levantando-o em direção ao barco. Os rapazes mais velhos agarraram o garoto pelos braços e o puxaram para dentro.

Thor em seguida aproximou-se de Krohn agarrou-o pela barriga e jogou-o para dentro do barco. Krohn aterrissou sobre as quatro patas, deslizou pelo fundo molhado do barco, escorregando e arranhando a madeira, a água escorria de sua pele e ele tremia. Em seguida, ele afirmou-se, virou- se e correu de volta para a borda, à procura de Thor. Ele ficou ali olhando para a água e ganindo.

Thor agarrou a mão estendida de um dos rapazes, ele já estava sendo puxado para o barco quando de repente sentiu algo forte e musculoso enroscando-se em seu tornozelo e em sua coxa. Ele virou-se e olhou para baixo, seu coração gelou quando ele viu uma criatura verde-limão, parecida com uma lula, enrolando um tentáculo em torno de sua perna.

Thor gritou de dor quando sentiu seus ferrões perfurando sua carne.

 

Thor percebeu que se ele não fizesse algo rápido, logo estaria liquidado. Com a mão livre ele tirou do seu cinto uma adaga curta, inclinou-se e tratou de cortar o tentáculo. Mas ele era tão grosso, o punhal não podia nem sequer perfurá-lo.

Isso o enfureceu. A cabeça verde da criatura de repente veio à tona, ela não tinha olhos, possuía duas mandíbulas em seu pescoço longo, uma sobre a outra, ela abriu as suas fileiras de dentes afiados e se inclinou em direção a Thor. Thor sentia o sangue parando de circular em sua perna e sabia que tinha de agir rápido. Apesar dos esforços dos rapazes mais velhos para segurá-lo, a mão de Thor estava escorregando e ele estava afundando de volta na água.

Krohn gania e gania, o pelo de suas costas estava eriçado, ele se inclinou como se estivesse se preparando para dar o bote na água. Mas até mesmo Krohn sabia muito bem que seria inútil atacar aquela coisa monstruosa.

Um dos rapazes mais velhos se adiantou e gritou:

“ABAIXE-SE!”

Thor baixou a cabeça quando o rapaz atirou uma lança. Ela zumbiu pelo ar, mas não acertou o alvo, simplesmente voou inofensivamente e afundou na água. A criatura era muito magra, e rápida demais.

De repente, Krohn pulou para fora do barco, de volta para a água, caindo com suas mandíbulas abertas e os seus dentes afiados sobre a parte de trás do pescoço da criatura. Krohn sujeitava a criatura com suas mandíbulas balançando-a para a esquerda e para a direita, não a deixando escapar.

Mas era uma batalha perdida: a pele da criatura era muito grossa e ela era puro músculo. A criatura sacudia Krohn para todos os lados e finalmente o jogou na água. Enquanto isso, o tentáculo da criatura apertava cada vez mais a perna de Thor, era como um vício. Thor estava ficando sem oxigênio. Os tentáculos queimavam terrivelmente, Thor sentia que sua perna estava prestes a ser arrancada de seu corpo.

Em uma última tentativa desesperada, Thor soltou a mão do rapaz e com o mesmo movimento se virou e tentou pegar a espada curta que estava em seu cinto.

Mas ele não pôde agarrá-la a tempo. Ele escorregou, girou e caiu de cara na água.

Thor sentiu-se arrastado para mais longe do barco, a criatura puxava-o para o mar. Ele estava sendo arrastado para trás cada vez mais rápido e quando ele estendeu a mão sem poder fazer nada, ele viu o barco a remo desaparecer diante dele. A próxima coisa que ele sentiu foi que estava sendo puxado para baixo, bem abaixo da superfície da água, puxado para o fundo, para as profundezas do Mar de Fogo.

CAPÍTULO NOVE

Gwendolyn corria pelo campo aberto, seu pai, o rei MacGil, estava ao lado dela. Ela era jovem, talvez tivesse dez anos e seu pai era muito mais jovem também. A barba dele era curta, não tinha os fios grisalhos que teria mais tarde na vida. Sua pele estava livre de rugas, era jovem, brilhante. Ele estava feliz, despreocupado e ria relaxado enquanto segurava a mão de Gwen e corria com ela através dos campos. Era assim que ela recordava seu pai. Aquele era o pai que ela havia conhecido.

Ele levantou-a, colocou-a sobre os ombros e a girava vez após vez, rindo cada vez mais alto e ela ria histericamente. Ela sentia-se tão segura em seus braços, ela queria que aquele tempo que passavam juntos nunca acabasse.

Mas quando seu pai a colocou no chão, algo estranho aconteceu. De repente, o dia passou de uma tarde ensolarada para o crepúsculo. Quando os pés de Gwen tocaram o chão, eles já não estavam nas flores do prado, mas presos na lama até os tornozelos. Seu pai agora estava deitado de costas na lama, a poucos metros de distância dela. Ele estava ficando velho, muito velho, velho demais e ele estava preso na lama. Um pouco mais longe, também jogada na lama, sua coroa ainda brilhava.

“Gwendolyn.” Ele dizia sufocado. “Minha filha. Ajude-me.”

Ele levantou uma mão para fora da lama e a estendeu para ela, desesperado.

Ela foi invadida pela urgência de ajudá-lo e tentou ir ter com ele para pegar sua mão. Mas seus pés não se moviam. Ela olhou para baixo e viu a lama endurecendo ao redor dela, secando, rachando. Ela se mexia e se contorcia, tentando se libertar.

Gwen piscou os olhos e viu-se de pé sobre o parapeito do castelo, olhando para baixo na Corte do Rei. Alguma coisa estava errada: quando ela olhou para baixo, não viu o esplendor habitual e as festividades, mas sim um cemitério alastrando-se. No lugar onde uma vez esteve o esplendor luminoso da Corte do Rei, havia agora sepulturas novas até onde a vista alcançava.

Ela ouviu um ruído de pés que se arrastavam e seu coração parou quando ela se virou para ver um assassino, vestindo uma capa preta e capuz. Ele aproximou-se dela. Ele correu para ela, puxou o capuz para trás, revelando um rosto grotesco no qual estava faltando um olho. No lugar dele havia uma horrenda cicatriz contornando a bacia orbital. O assassino rosnou, ergueu a mão e levantou um punhal reluzente, seu punho era vermelho brilhante.

Ele estava se movendo muito rápido e ela não conseguiu reagir a tempo. Ela se preparou, sabendo que estava prestes a ser morta quando o homem baixou o punhal com toda a força.

O assassino parou de repente, a poucos centímetros de seu rosto e ela abriu os olhos para ver seu pai ali, com um aspecto cadavérico, agarrando o pulso do homem no ar. Ele apertou a mão do homem até que ele deixou cair o punhal, em seguida, ergueu o homem sobre seus ombros e jogou-o pelo parapeito. Gwen ouvia seus gritos enquanto ele despencava pela borda.

Seu pai se virou e olhou para ela, ele agarrou os ombros dela firmemente com suas mãos em decomposição e tinha uma expressão severa.

“Este não é um lugar seguro para você.” Ele advertiu. “Não é seguro!” Ele gritou; suas mãos apertavam firmemente os ombros dela, seus dedos cravaram em seus ombros com a força do seu aperto, fazendo Gwen chorar.

Gwen acordou gritando. Ela sentou-se na cama, olhando ao redor de seu quarto, esperando um atacante.

Mas ela não encontrou mais que silêncio – o denso e tranquilo silêncio que precede o amanhecer.

Gwen estava suando e respirava com dificuldade quando pulou da cama e passeou por seu quarto, vestida com sua camisola rendada. Ela correu para uma pequena bacia de pedra e molhou seu rosto uma e outra vez. Ela apoiou-se contra a parede, sentiu a pedra fria sob seus pés descalços naquela manhã quente de verão e tentou se recompor.

O sonho parecia tão real. Ela sentia que era mais do que um sonho, que era um verdadeiro aviso de seu pai, uma mensagem. Ela sentiu a urgência de deixar a Corte do Rei naquele instante e nunca mais voltar.

Ela sabia que era algo que não podia fazer. Ela tinha de se recompor para recuperar seu raciocínio. Mas cada vez que ela piscava os olhos, ela via o rosto de seu pai, sentia sua advertência. Ela tinha de fazer alguma coisa para borrar aquele sonho da sua mente.

Gwen olhou para fora e viu o primeiro sol que começava a subir e pensou no único lugar que poderia ajudá-la a recuperar a compostura: o Rio Real. Sim, ela tinha de ir lá.

*

Gwendolyn mergulhou uma e outra vez nas nascentes frias  do Rio Real. Ela prendeu a respiração e meteu a cabeça debaixo d'água. Ela sentou-se na pequena piscina natural esculpida na rocha, oculta nas fontes superiores, as quais ela tinha encontrado e frequentado desde que era criança. Ela manteve sua cabeça sob a água e permaneceu ali, sentindo as correntes frias correndo através de seu cabelo, ao longo do seu couro cabeludo, sentindo como elas lavavam e limpavam seu corpo nu.

Um dia ela tinha encontrado aquele lugar isolado, escondido no meio de um grupo de árvores, no alto da montanha, num pequeno planalto onde a corrente do rio se acalmava e criava uma piscina profunda e de águas tranquilas. As águas do rio acima escorriam para dentro da piscina e transbordavam, continuando a escorrer ainda ali, naquele planalto, onde a correnteza era bem mais suave. A piscina era funda, suas pedras eram lisas e o lugar estava tão bem escondido, que ela podia tomar banho nua com total tranquilidade. Ela ia ali quase todas as manhãs durante o verão, quando o sol ainda estava nascendo, para arejar sua cabeça. Era especialmente em dias como aquele, quando os sonhos a atormentavam, tal como eles sempre faziam, que ela encontrava um refúgio naquele lugar.

Era tão difícil para Gwen saber se tinha sido apenas um sonho, ou se seria algo mais. O que ela precisava fazer para saber quando um sonho era uma mensagem ou um presságio? O que fazer para saber se era apenas sua mente brincando com ela, ou se ela estava recebendo uma oportunidade para tomar medidas?

Gwendolyn subiu em busca de ar, respirando na manhã quente de verão e ouvindo os pássaros gorjeando nas árvores ao seu redor. Ela sentou-se em uma borda natural da piscina e encostou-se na rocha, seu corpo estava imerso na água até o pescoço. Ela ficou ali pensando. Ela estendeu as mãos e jogou água em seu rosto, em seguida, passou as mãos pelo seu cabelo longo, e loiro. Ela olhou para a superfície cristalina da água que refletia o céu; o segundo sol que já estava começando a subir; as árvores que se curvavam sobre a água e o seu próprio rosto. Seus olhos amendoados e de um azul brilhante olharam de volta para ela a partir do reflexo ondulante da água. Ela podia ver algo de seu pai em si mesma. Ela virou-se, pensando outra vez em seu sonho.

Ela sabia que era perigoso para ela permanecer na Corte do Rei depois do assassinato de seu pai, com todos os espiões, todos os complots e especialmente, com Gareth como rei. Seu irmão era imprevisível. Vingativo. Paranóico. E muito, muito invejoso. Ele via a todos como uma ameaça, especialmente a ela. Tudo podia acontecer. Ela sabia que não estava segura ali. Ninguém estava.

Mas ela não era mulher de fugir. Ela precisava saber com certeza quem era o assassino de seu pai e se fosse Gareth, ela não podia fugir, até que ela o entregasse à justiça. Ela sabia que o espírito de seu pai não iria descansar até que seu assassino fosse capturado. Justiça tinha sido o seu grito de guerra toda a sua vida e seu pai, melhor que ninguém, merecia que se fizesse justiça por ele, mesmo depois que ele estivesse dormindo na morte.

Gwen pensou novamente no encontro dela e de Godfrey com Steffen. Ela tinha certeza de que Steffen estava escondendo alguma coisa e se perguntava o que seria. Uma parte dela sentia que ele poderia abrir-se no seu devido tempo. Mas e se ele não fizesse isso? Ela sentia a urgência de encontrar o assassino de seu pai, porém não sabia onde mais procurá-lo.

Gwendolyn finalmente se levantou de seu assento sob a água e subiu pela borda, ela estava nua e tremia com o ar da manhã, ela se escondeu atrás de uma árvore grossa e estendeu a mão para pegar a toalha que havia deixado sobre um galho, tal como ela sempre fazia.

No entanto, quando ela chegou até o galho, ficou chocada ao descobrir que sua toalha não estava lá. Ela ficou ali, nua, molhada, sem conseguir entender nada. Ela estava certa de que tinha pendurado a toalha ali, como era seu costume.

Enquanto ela permanecia ali, desconcertada, tremendo, tentando entender o que tinha acontecido, de repente, ela sentiu um movimento atrás dela. Tudo aconteceu tão rápido, um borrão e um instante depois, seu coração quase parou quando ela percebeu que havia homem atrás dela.

Tudo aconteceu muito rápido. Em segundos, o homem estava atrás dela. Ele vestia uma capa preta e capuz, exatamente como em seu sonho. O homem agarrou-a por trás, estendeu uma mão ossuda e apertou-a sobre a boca de Gwen silenciando seus gritos enquanto a segurava com força. Com a outra mão ele a agarrou pela cintura, puxou-a para mais perto e levantou-a do chão.

Ela chutava o ar, tentando gritar, até que ele a colocou no chão, ainda segurando-a com força. Ela tentou libertar-se de suas mãos, mas o homem era muito forte. Ele estendeu a mão e Gwen viu que ele segurava um punhal com um punho brilhante e vermelho, o mesmo que ela havia visto em seu sonho. Tinha sido um aviso, depois de tudo.

Gwen sentiu a lâmina pressionando sua garganta, o homem a apertava com tanta força que se ela se movesse em qualquer direção, sua garganta seria cortada. As lágrimas rolaram por seu rosto enquanto ela lutava para respirar. Ela estava tão furiosa consigo mesma. Ela tinha sido tão estúpida. Ela deveria ter sido mais vigilante.

“Reconhece meu rosto?” Ele perguntou.

Ele se inclinou para a frente e ela sentiu seu bafo quente e horrível, ela viu o perfil dele. O coração dela parou – era o mesmo rosto do sonho dela, o homem que tinha um olho só e uma cicatriz.

“Sim.” Ela respondeu com voz trêmula.

Era um rosto que ela conhecia muito bem. Ela não sabia seu nome, mas sabia que ele era um matador. Um tipo de classe baixa, um dos vários que vivia em torno de Gareth desde que ele era criança. Ele era o mensageiro de Gareth. Gareth sempre o enviava quando desejava assustar, torturar ou matar alguém.

 

“Você é o capacho de meu irmão.” Ela disse para ele desafiante.

Ele sorriu, revelando a falta de alguns dentes.

“Eu sou o mensageiro dele.” Disse ele. “E minha mensagem vem acompanhada por uma arma especial para ajudar você a se lembrar dela. A mensagem para você, hoje, é que pare de fazer perguntas. É uma mensagem que você vai saber de cor, porque quando eu terminar com você, a cicatriz que vou deixar nesse seu rosto lindo vai fazer com que você se lembre da mensagem pela vida inteira.”

Ele fungou, então, levantou a faca bem alto e começou a baixá-la em direção ao rosto dela.

“NÃO!” Gwen deu um grito.

Ela se preparou para o corte que mudaria sua vida.

Mas enquanto a lâmina descia algo aconteceu. De repente, um pássaro gritou, descendo do alto dos céus e mergulhando direto para o homem. Ela olhou para cima e o reconheceu no último segundo:

Estopheles.

O falcão desceu com suas garras projetadas para fora e arranhou o rosto do homem fazendo-o derrubar o punhal.

O punhal tinha apenas raspado o rosto de Gwen, que ardia de dor, quando de repente, mudou de direção; o homem gritou, deixando cair o punhal e levantando as mãos. Gwen viu um raio de luz branco no céu, o sol brilhava por trás dos galhos e quando Estopheles voou para longe, ela soube, ela simplesmente soube que o falcão tinha sido enviado por seu pai.

Gwen não perdeu tempo. Ela virou-se, inclinou-se para trás e tal como seus treinadores a tinham ensinado a fazer, chutou fortemente o homem no plexo solar, fazendo pontaria perfeita com o pé descalço. O homem tombou, sentindo a força de sua perna enquanto ela dirigia seu chute certeiro a ele. Graças às repetitivas lições de seus treinadores, Gwen tinha incorporado técnicas de combate desde que era mais jovem. Ela havia aprendido que não precisava ser forte para se defender de um atacante. Ela só precisava usar seus músculos mais fortes, as coxas, e apontar com precisão.

Enquanto o homem estava ali, tombado, Gwen deu um passo à frente, agarrou a parte de trás do cabelo dele e levantou o joelho novamente e golpeou com precisão milimétrica o cavalete do nariz.

Ela ficou satisfeita quando ouviu um estalo e sentiu o sangue quente do homem jorrar e derramar-se sobre a perna dela, manchando-a. Quando ele caiu no chão, ela sabia que tinha quebrado o nariz dele.

Ela sabia que deveria acabar com aquele homem de uma vez por todas, pegar o punhal e mergulhá-lo no coração dele.

Porém ela estava ali nua e seu instinto foi o de vestir-se e sair rápido dali. Por mais que ele merecesse, Gwen não queria sujar suas mãos com o sangue dele.

Então, ao invés disso, Gwen se abaixou, pegou o punhal, atirou-o no rio e logo se cobriu com suas roupas. Ela preparou-se para fugir, mas antes disso, ela se virou para trás, se dobrou, e chutou o homem na virilha o mais forte que podia.

Ele gritou de dor e se enrolou como uma bola, como um animal ferido.

Ela estava tremendo interiormente, sentindo que tinha estado muito perto de ser morta, ou pelo menos de ser mutilada. Ela sentiu o corte ardendo-lhe no rosto e percebeu que ele provavelmente deixaria alguma cicatriz, porém ela seria leve. Gwen sentia-se traumatizada. Mas ela não demonstraria isso. Porque, ao mesmo tempo, ela também sentia uma nova força brotando dentro de si, a força de seu pai, a força de sete gerações de reis MacGil. Então, pela primeira vez, ela percebeu que também era forte. Tão forte quanto seus irmãos. Tão forte quanto qualquer um deles.

Antes que ela se virasse para ir embora, ela inclinou-se bem perto do homem para que ele pudesse ouvi-la em meio aos seus gemidos.

“Chegue perto de mim novamente…” Ela rosnou para o homem. “… E eu mato você.”

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