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Memorias sobre a influencia dos descobrimentos portuguezes no conhecimento das plantas

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IV
Do commercio da malagueta, e da parte da costa a que se deu este nome

Na ultima metade do XV seculo, e no principio do seguinte, o commercio da malagueta, como o de todos os outros productos da costa occidental da Africa, foi exclusivamente feito pelos portuguezes. O caracter, que distingue os descobrimentos dos nossos, e os separa de muitas tentativas arrojadas, mas desconnexas, de outros navegadores, é a energia e a persistencia com que, não só proseguem avançando para o desconhecido, mas vão consolidando, por meio de novas e repetidas expedições, o seu dominio nas longinquas praias recentemente visitadas. Inspiradas pelo genio ardente do infante D. Henrique, as navegações portuguezas algum tanto affrouxam no tempo de D. Affonso V, occupado pelas dissenções intestinas do reino, pelos cuidados das expedições á Africa mediterranica, e pela lucta em que a defesa dos direitos da excellente Senhora o havia envolvido; tomam porém novo impulso sob a mão energica e inflexivel de D. João II, para chegarem no reinado de D. Manuel, a essa época de maravilhosa espansão, em que as naus portuguezas sulcavam todos os mares.[28] Não se satisfazem os nossos em descobrir novas terras, mas procuram firmar por toda a parte o dominio portuguez, levantam o castello de Arguim, edificam a fortaleza de S. Jorge da Mina, e cobrem a costa oriental da Africa e a costa do Malabar de fortes e feitorias. Estabelecem-se assim relações seguidas, e um activissimo commercio com a Africa e com o Oriente, no qual as especiarias representavam, como é geralmente sabido, o mais importante papel.

Hoje, que algumas especiarias tem caído em completo desuso e abandono, e outras se encontram tão vulgares e correntes no commercio, surprehende-nos a singular estima, em que foram tidas nos tempos antigos, durante toda a edade média, e ainda no primeiro periodo do renascimento. É certo, porém, que as difficeis, e muitas vezes interrompidas relações com o extremo Oriente, e as longas e demoradas viagens pela Persia, ou pelo Mar Vermelho59, tornaram estes productos vegetaes raros e custosos, e por isso mesmo procurados como objecto de luxo excepcional. As duvidas sobre a sua patria, o mysterio que envolvia a sua origem, e fazia considerar alguns como provenientes do parayso terrestre60, ainda mais contribuiram para que se encarecessem as suas[29] excellencias como medicamentos, e como adubos. Quantidades pequenas d'estas substancias, e que hoje teriamos por insignificantes, se offereciam como valiosos presentes a papas e imperadores, ou se enumeravam cuidadosamente entre as riquezas accumuladas em seus thesouros61.

O desejo de chegar ás terras aonde cresciam tão ricos e estimados productos, e de, pela communicação directa, arrancar das mãos dos venezianos o monopolio do trato commercial com o Oriente, foi sem duvida uma das causas principaes, que incitaram portuguezes e hespanhoes nas suas navegações.

É impossivel desconhecer, que outros motivos mais elevados e desinteressados actuaram no animo dos nossos antepassados. As vivas crenças religiosas, e o empenho de dilatar a verdadeira fé entre as populações pagans ou mahometanas, o intuito de alargar o dominio das quinas, accrescentando novas glorias, a tantas que já as rodeavam, e ainda o puro interesse scientifico de resolver alguns problemas geographicos, influiram por certo nos portuguezes para os lançar em empresas heroicas, nas quaes nunca regatearam o sangue, nem a vida. Todavia, devemos confessar, que a estes motivos mais puros accresceram depois a sede do lucro, a rivalidade com as opulentas cidades de Italia, e a attracção irresistivel exercida pelas riquezas do Oriente, a terra das pedras preciosas, do ouro e das especiarias.

As relações com o estremo Oriente haviam-se tornado durante a dominação dos tartaros, pelos XIII e XIV seculos mais seguidas e frequentes. A viagem tão conhecida de Marco Polo, e as perigrinações de alguns frades menores, como Fr. João de Plano Carpini, Guilherme Rubruk, mais conhecido com o nome de Rubruquis, Fr. João de Monte Corvino, Fr. Odorico de Pordenone, Fr. João de Marignolli e muitos outros, rasgaram um pouco o véo, que envolvia as terras quasi fabulosas do Cathayo ou da Ilha de Cipango, e avivaram o desejo e a cubiça de penetrar n'aquellas regiões, pois antes encareciam que diminuiam a fama já antiga das suas riquezas. Se algumas d'estas viagens foram menos conhecidas ou quasi ignoradas62, não succedeu o mesmo[30] a todas. As copias e traducções da relação escripta por Marco Polo multiplicaram-se desde logo, e é bem sabido, que em Portugal se conheceram e estudaram na época, que precede o grande movimento dos nossos descobrimentos63. O mesmo se deu no XV seculo com a viagem de Nicolo di Conti, escripta por Poggio64, e avidamente lida e estudada pelos mais notaveis geographos de então, como Fra Mauro e Toscanelli.

 

Os projectos para chegar a essas ricas regiões do oriente, a terra das especiarias occupam por esta época todos os espiritos. D. Affonso V manda por um dos seus capellães, o conego Fernão Martins, consultar o celebre Toscanelli sobre o mais curto caminho para aquella terra. Christovão Colombo consulta egualmente Toscanelli sobre o seu grande intento de chegar aonde nascem as especiarias navegando para o occidente; intento que não levou a cabo, que só devia realisar Fernando de Magalhães alguns annos mais tarde, mas[31] que o conduziu ao inesperado descobrimento do novo mundo e illustrou para sempre o seu nome. D. João II, não affrouxando nas expedições maritimas, manda pela via do Mediterraneo Pero da Covilhan e Affonso de Paiva, estudar o caminho para a terra das especiarias, e procurar o Preste João, esse singular e mysterioso personagem, que tanto occupou as attenções do mundo christão durante alguns seculos65.

Dada esta preoccupação dos espiritos, este desejo de alcançar as terras do oriente ricas em aromas e productos preciosos, e os esforços durante muitos annos baldados para ahi penetrar dobrando a terra incognita do continente africano, facil é comprehender, com que alvoroço seria acolhido o descobrimento, nas novas terras de Africa, de substancias vegetaes aromaticas capazes de rivalisar com as producções da Asia. É o que se torna bem patente pela sollicitude com que, no dizer de João de Barros e de Garcia de Rezende, D. João II procurava fazer conhecida nos mercados da Europa, a pimenta trazida por João Affonso de Aveiro da costa de Benin66.

Por mais importante se teve sem duvida o descobrimento da malagueta, pois se tratava, não de uma substancia nova, e que podia ser recebida no commercio com maior ou menor acceitação, mas de uma droga conhecida, apreciada e unica talvez, entre as drogas africanas, que gosava já então de tanta nomeada como as especiarias do oriente.

Que esta droga ou especiaria fosse conhecida dos portuguezes antes de descobrirem as terras d'onde é natural, parece-me fóra de toda a duvida. O contacto que tiveram com os italianos, a presença nas esquadras portuguezas de genovezes e de Venezianos, versados na navegação e commercio do Mediterraneo, levam-nos a crer que os nossos andassem bem informados do valor e natureza dos principaes objectos de trafico com o Oriente e com a Africa. O modo porque alguns dos primeiros navegadores, como por exemplo Diogo Gomes, se referem áquella substancia confirma inteiramente esta opinião.

Que por outro lado a patria da malagueta e a natureza da planta que a produz fossem então desconhecidas, parece-me facto egualmente provado. É[32] bem notorio, que as regiões centraes da Africa não permaneceram inexploradas, até aos descobrimentos dos portuguezes na costa occidental, e que desde épocas remotas os viajantes e mercadores arabes penetraram no Sudan. Pelas relações que estes conservaram durante muito tempo na peninsula, deviam os portuguezes e os hespanhoes, andar mais bem informados das coisas de Africa, que outro qualquer povo da Europa: sabemos mesmo, com quanto zelo e sollicitude o infante D. Henrique procurava obter, por esta via, informações das terras africanas67: no entanto não temos motivo para suppor que essas informações fossem muito exactas e detalhadas, no que dizia respeito á origem e natureza das producções vegetaes.

Algumas passagens das narrações dos nossos primeiros navegadores, vem tambem em apoio d'esta opinião. Diz Diogo Gomes, enumerando os objectos que os negros trouxeram de terra estando as suas caravellas em frente do rio Grande «e uma quarta de malagueta em grão, e nos fructos em que nasce, de que fiquei muito satisfeito.» Parece-me resultar claramente d'esta phrase que conhecia bem a malagueta, sabia o seu valor, e folgava de encontrar a terra ou região aonde era produzida. Ainda mais, referindo-se ao facto, que parece julgar importante, de trazerem a semente incluida nos fructos, indica que estes lhe eram menos familiares que a semente ou grão, o que é natural, pois se encontravam com menos frequencia no commercio. Tinha por tanto a[33] vista do fructo por um signal de que a planta se encontrava em logares proximos, como de feito succedia.

Foram pois os portuguezes, os primeiros europeos que observaram a planta, e definiram bem a situação das terras aonde nasce; situação que se havia conservado, durante a edade média, envolvida em grande obscuridade e mysterio, dando origem ao nome de grana paradisi. Lançou-se assim um primeiro raio de luz sobre um ponto importante de geographia botanica.

Foram egualmente os portuguezes, os primeiros a darem a uma parte do littoral africano o nome, que ainda conserva, de costa da Malagueta. Vamos demonstrar pelo exame de alguns documentos importantes, que este nome se applicava á mesma extensão de costa, hoje assim designada, e que os limites pouco ou nada tem variado.

Como vimos, a primeira malagueta encontrou-se na região do Gambia, e nas terras da Guiné portugueza, que foram descobertas em 1446 por Nuno Tristam68 na viagem em que pereceu, e visitadas no mesmo anno e nos seguintes por Alvaro Fernandes69, Diogo Gomes70 e Cadamosto71. Alguns annos depois, no de 146072, Pedro de Cintra avançou muito nos descobrimentos, correndo toda a costa africana até á Serra Leôa, a qual já fôra reconhecida por Alvaro Fernandes, mas ao que parece imperfeitamente, e avançando para o meio dia até ao cabo Mesurado e ao arvoredo de Santa Maria. Dos annos seguintes temos escassas noticias; é certo, porém, que pouco ou nada se adiantou, e que mesmo a ultima parte da viagem de Pedro de Cintra era mal conhecida, pois se encontra, no contracto celebrado com Fernão Gomes no de 1469, marcada a Serra Leôa como o termo dos anteriores descobrimentos, feitos pelo mencionado Pedro de Cintra e por Sueiro da Costa73. Em janeiro de 1471 descobriram João de Santarem e Pedro de Escobar74 o resgate do ouro, já no golfo de Guiné sendo, ao que parece, os primeiros que correram a costa depois chamada da Malagueta. Podemos por tanto fixar o descobrimento d'aquella costa entre o anno de 1460, em que as nossas caravellas passaram além da Serra Leôa, e o de 1471, em que penetraram no golfo de Guiné, dobrando o cabo das Palmas.[34]

 

O nome de Guiné, applicado primeiro de um modo vago a todo o occidente de Africa, veiu depois a dar-se mais especialmente á terra dos negros, aos quaes os primeiros historiadores das nossas conquistas, como por exemplo Azurara, chamam muitas vezes guinéos. O rio Senegal determinava rigorosamente o limite septentrional da Guiné, pois que as differenças de vegetação e de clima, e a passagem dos berbéres ou mouros da margem direita aos negros Jallofs da margem esquerda estabeleciam ahi uma transição rapida, que não escapou á observação dos nossos75. Dava-se por tanto o nome de costa de Guiné, á que corria para o meio-dia do Senegal, e ás vezes o de costa de Anterote, á que ficava ao norte entre o cabo Branco e a foz do dito rio. O limite meridional da Guiné, não era bem definido, e parece ter-se designado com aquelle nome toda a Senegambia, assim como toda a região, que hoje o conserva mais especialmente e limita pelo norte o golfo de Guiné. É certo, porém, que as diversas partes da costa começaram desde logo a receber nomes especiaes, derivados geralmente das principaes mercadorias que ahi affluiam. Assim como parte da costa do golfo de Guiné, que corre para oriente do cabo das Palmas, se chamou costa do Resgate do ouro ou da Mina, a que fica aquem d'aquelle cabo teve o nome da costa da Malagueta.

Encontra-se uma primeira menção d'este nome nos escriptos de Christovão Colombo, o qual antes de emprehender a celebre viagem, em que descobriu o novo mundo, tinha navegado varias vezes para Guiné em companhia dos portuguezes. Na relação da sua primeira expedição á America, diz por incidente ter visto, tempo antes, algumas sereias na costa da Malagueta76. Com quanto não sejam conhecidas, com rigor, as datas das suas viagens a Africa, podera-se fixar com bastante aproximação. De feito Colombo affirma, no seu tratado das zonas habitaveis, que esteve no Castello da Mina do rei de Portugal77.[35] Como a fortaleza de S. Jorge da Mina foi mandada edificar no anno de 1481, e terminada no seguinte de 1482, e como no de 148478, saíu Colombo para Hespanha a offerecer os seus serviços aos reis de Castella, segue-se que uma das suas viagens teve logar entre estas datas, e que as outras foram provavelmente anteriores, pois decerto não voltou a Guiné, depois de passar a Hespanha. Vê-se, por tanto, que já n'essa época os portuguezes, com quem Colombo navegou, empregavam a designação de costa da Malagueta79.

Vejamos agora as curiosas observações, que nos depára o Esmeraldo de Duarte Pacheco, do qual já de passagem fiz menção, mas que é mister examinar em detalhe, não só pela importancia das noticias que contém, como pelo facto de se conservar inedito.

Em primeiro logar convém advertir, que o nome de costa da Malagueta se encontra ali mencionado repetidas vezes, como expressão vulgar e corrente. Assim em uma taboada das latitudes de diversos logares, vem (fol. 12 v.º) a latitude «do rio dos Cestos na costa da Malagueta.» Mais adiante (fol. 50) explicando a derrota, que os navios devem seguir, diz assim: «se algum[36] navio estiver tanto avante como o cabo Ledo da Serra Lyoa e ouver de ir pera a costa da Malagueta.» E ainda em outra passagem (fol. 53 v.º) tratando do Cabo das Palmas, e da navegação, que convém fazer para o dobrar na volta para Portugal, diz; «Costumamos de fazer caminho de Loes Sudoeste caminho destes reynos, por nos arradarmos da costa da Malagueta.»

Em quanto aos limites do littoral comprehendido sob aquella designação, estão fixados com o maior rigor nas seguintes passagens. A (fl. 50) encontra-se no Esmeraldo o seguinte: «Item do Cabo do Mesurado ha matta de Santa Maria som 2 leguoas e esta matta he muito grande e de muito grosso arvoredo e daqui se comessa o resguate da Malagueta, que em latim se chama grany paradisy (sic) e dura este comercio 40 leguoas ao longo d'esta costa.» Segue depois enumerando os diversos pontos do littoral80, mencionando repetidas[37] vezes a Malagueta entre os objectos de commercio, e quando falla do Cabo das Palmas, diz: (fol. 53 v.º) «da costa da Malagueta a qual faz fim no dito cabo das Palmas.»

Das affirmações d'estes dois escriptores contemporaneos, Christovão Colombo e Duarte Pacheco Pereira, que conheceram muito bem, e frequentaram[38] a costa africana, se deduz, que a designação de costa da Malagueta era usada nos fins do seculo XV e por tanto se devia ter começado a empregar logo após o descobrimento. Torna-se pois bem claro, que o commercio d'aquella droga, havia tomado grande importancia logo nos primeiros annos, o que nos não póde surprehender, em vista da nomeada que então tinha nos mercados da Europa. É egualmente certo, que este nome era então exclusivamente usado entre os portuguezes e pelos portugueses, ou estrangeiros, que em seus navios embarcavam, pois n'estas primeiras épocas, os navegadores de outras nações nem frequentavam, nem quasi conheciam o caminho d'aquellas regiões. Quando annos depois esses navegadores começaram a concorrer com os nossos, adoptaram a designação portugueza, ou os seus equivalentes de Côte des grains e de grain coast. Só muito recentemente se tem empregado o nome de costa da Liberia, não se tendo, ainda assim, abandonado a designação primitiva. No tocante aos limites não houve alteração, pois em todo o tempo a costa da Malagueta, se considerou, como começando no cabo do Monte, ou no Mesurado e estendendo-se até ao das Palmas; isto é, limitada pelo mesmo modo que na época de Duarte Pacheco.

Seguindo o exame do Esmeraldo encontramos outras importantes noticias. A origem do nome do rio dos Cestos, vem ali explicada do modo o mais claro na seguinte passagem (fol. 51 v.º) «Item do rio do Junco ao rio dos Cestos som 12 leguoas, e este nome do rio dos Cestos lhe foi posto porque os negros d'esta terra vem resguatar malagueta, a qual he muito boa e arrazoada quantidade e esta trazem em huns Cestos, o que em toda a outra costa honde há a dita malagueta nom costumam trazer81

Sobre o preço da droga, e sua variação nos dá Duarte Pacheco preciosas informações. Fallando da Ilha da Palma, e do commercio de escravos, que tres leguas adiante se podia fazer, diz assim: «aguóra está este comercio danado, porque quando se comprava um alqueire de malagueta por uma manilha de latam, que teria em pezo meio arratel, e um escrávo por duas bacias,[39] assi como as dos barbeiros, e aguóra vai um alqueire de malagueta cinco e seis manilhas e um escrávo quatro e cinco bacias.» D'onde se vê, que o preço augmentára de um modo consideravel, e que os negros tinham tirado partido da frequencia, com que as nossas caravellas visitavam aquella costa. É para notar a circumstancia curiosa, de ter, relativamente, crescido mais o preço da malagueta, que o dos escravos, ou porque a primeira fosse mais procurada, ou (o que infelizmente é mais provavel) porque o mercado andasse sempre abundantemente provido da mercadoria humana pelas guerras e correrias continuas das populações do littoral e do interior.

Ainda merece ser citada uma observação feita por Pacheco quando, descrevendo a costa situada na proximidade da Lagea, diz «neste lugar ha maior malagueta de toda esta costa:» observação pela qual se vê, que as differentes dimensões da planta, e dos seus fructos e sementes, tinham attrahido a attenção dos portugueses já nos fins do seculo XV. Estas differenças são, como vimos, bastante sensiveis, sendo os fructos e sementes de grandes dimensões na fórma, que Roscoe, o dr. Hooker e outros botanicos, admittiram como especie distincta e descreveram sob o nome de Amomum Melegueta, e que o dr. Daniell tem por uma simples variedade (var. a majus da malagueta vera), e sendo mais pequenas na especie Amomum Granum paradisi de alguns auctores, a qual corresponde ás duas variedades (b. medium e c. minus) do dr. Daniell82. Da memoria d'este botanico consta, que a primeira fórma é mais frequente na parte média da area habitada pela planta, isto é, na extremidade meridional da costa da Malagueta, na costa do golfo de Guiné até ao delta do Niger e nas terras interiores do Sudan, em quanto que as fórmas menores abundam para o norte na costa da Serra Leôa, e para o sul em Fernão do Pó, costa do Gabão e terras do Congo. Confirma-se assim a exactidão do reparo de Duarte Pacheco, pois que a Lagea estava situada na região aonde então, como ainda hoje, se devia encontrar a especie ou variedade de sementes maiores.

Temos, por tanto provas numerosas e seguras, de que os portuguezes, conheceram a Malagueta, souberam bem o seu valor, frequentaram as terras d'onde é natural, e distinguiram mesmo as variedades, que os negros offereciam á venda nas diversas localidades. Fica egualmente provado, que os portuguezes, desviaram o commercio d'aquella especiaria do caminho, moroso e difficil, até então seguido pelo interior da Africa, abrindo-lhe via mais rapida e segura pelo Atlantico. De feito, se das terras sertanejas do Sudan continuaram a vir, como ainda hoje vem algumas pequenas porções através do Sahará, toda a que se produzia na região occidental, passou a ser conduzida pelos[40] nossos, os quaes se senhorearam d'este commercio, como mais tarde do das drogas asiaticas.

Durante todo o XV seculo, e ainda no primeiro quartel do seguinte, se conservou este monopolio nas mãos dos portuguezes. Os reis de Portugal, escudados nas bullas de Nicolau V, de Calixto III, de Xisto IV e de outros papas, tendo os seus direitos garantidos por tratados celebrados com diversos soberanos, entre os quaes avulta o de Tordesillas de 1493, tratados que os declaravam e reconheciam por senhores exclusivos do commercio e navegação de Guiné, mantiveram com vigillante sollicitude os seus privilegios. Algumas viagens de mercadores estrangeiros, que tentaram traficar na costa de Africa, deram logar a reclamações diplomaticas promptamente attendidas83 quando não foram reprimidas por meios mais expeditos e violentos, sendo apresados ou mettidos a pique os seus galeões.

Correndo porém o XVI seculo, esta vigillancia veiu a afrouxar, começando os navios francezes e inglezes a frequentar a costa de Guiné. As conquistas no oriente, que não só traziam occupadas todas as forças da nação, mas distraidos os animos para empresas, que então se affiguravam mais lucrativas e gloriosas, contribuiram sem duvida, para que se descurasse a guarda das possessões africanas. A pimenta, a canella, o cravo e as outras ricas especiarias da India e da China, lançavam no esquecimento os mais conhecidos e menos valiosos productos africanos. Continuaram, é certo, as restricções commerciaes, inspiradas pelo desejo de aproveitar as drogas de Africa e ainda mais pelo receio de que estas affrontassem no mercado os productos da Asia; mas essas restricções foram sendo successivamente mantidas com menor energia e cuidado. As nossas armadas conservavam-se o mais do tempo, occupadas nos mares da India e da China, ou na guarda do estreito, fazendo apenas escalla pelos portos de Guiné aonde pouco se demoravam. Iam-se assim[41] tornando mais ousados os mercadores estrangeiros, e mais repetidas as suas viagens. Abundam os documentos, que nos fazem assistir, quasi que dia a dia, a esta lucta de Portugal com as nações maritimas rivaes; que nos mostram o caminho de Guiné, aberto pelos portuguezes e só d'elles conhecido durante annos, devassado pouco a pouco pelos outros navegadores, até que o monopolio de Portugal se torna insustentavel e a egualdade se estabelece.

59O livro de Pegolloti, já muitas vezes citado, dá interessantes noticias sobre o commercio com o Oriente. Pode-se consultar tambem um curioso capitulo de João de Barros (Asia, dec. I, liv. VIII, cap. I), do qual se vê quanto eram extensas e exactas as suas informações sobre o modo porque se fazia o trafico das especiarias, antes de os nossos haverem dobrado o cabo da Boa Esperança; e egualmente o bem conhecido (Tratado dos diversos e desvairados caminhos, etc.) de Antonio Galvão.
60Sobre a supposta situação do parayso e a sua vegetação, póde ler-se a relação de Fr. João de Marignolli, e as eruditas notas de Yule (Cathay and the way, etc., pp. 360 e seguintes). Veja-se tambem uma carta de Letronne inserida na obra de Humboldt (Hist. de la géographie du nouveau continent, III p. 118). N'esta mesma obra se encontram expostas e discutidas as curiosas opiniões de Christovão Colombo sobre a proximidade em que deviam estar as novas terras por elle descobertas, do parayso terreal (Hist. etc. III, p. 111). Emquanto á influencia do parayso sobre a producção das especiarias ou substancias aromaticas, diz-nos Maçudi, escriptor arabe do X seculo, que Adão saíu do parayso coberto de folhas, e que estas depois de seccas, sendo espalhadas pelo vento sobre a India, deram origem a todos os aromas d'aquella região. (Les prairies d'or, etc. trad. de B. de Meynard et P. de Courteille. I. p. 60). O prudente arabe accrescenta no entanto (Deus sabe melhor a verdade). É curiosa a aproximação entre esta singular asserção e outra muito semelhante que encontramos nas obras de Santo Athanasio, o qual no dialogo Quaestiones ad Anthiocum (Opera, etc., n p. 279. Parisiis 1698), diz que a abundancia de substancias aromaticas nas regiões orientaes ou Indicas, é devida á proximidade do parayso, pois o vento que d'ali sopra póde tornar fragrantes e aromaticas as arvores das terras visinhas «sic fragrantia quae ex paradyso ventorum afflatu exit, arbores locorum illorum viciniores fragrantes efficit.» D'estas e de outras opiniões semelhantes resultou o nome de grana paradysi, dado, como vimos, á malagueta.
61O godo Alarico exigia da cidade de Roma para levantar o cerco, um resgate no qual figurava ao lado de avultada quantia de ouro e prata, uma porção relativamente pequena de pimenta. Constantino offerecia ao papa S. Silvestre vasos de ouro cravejados de pedrarias contendo quantidades minimas de perfumes e especiarias. Nos thesouros de Chosroes II, rei da Persia, mencionava-se a existencia da camphora, do almiscar e do sandalo. Muitos outros exemplos, que seria facil accumular, provam quanto eram considerados estes productos de afastadas regiões.
62Ao periodo de grande expansão que teve o christianismo no oriente, e particularmente na Tartaria e na China nos fins do seculo XIII e começo do seguinte, succede uma rapida decadencia, durante a qual quasi se apagou a sua memoria. Quando no XVI seculo os Jesuitas penetraram na India e na China, e tão cuidadosamente buscaram os vestigios dos christãos de S. Thomé, ou tiveram pouca noticia, ou intencionalmente callaram os grandes serviços feitos pelos Dominicanos, e sobretudo pelos Franciscanos, que ali os haviam precedido, e aos quaes só mais tarde se fez completa justiça. Veja-se Huc (Le christianisme en Chine, etc., I, p. 94 e seguintes) e tambem o livro já tantas vezes citado de Yule (Cathay and the way, etc).
63Quando o infante D. Pedro esteve em Veneza, foi-lhe ali offerecido um exemplar do livro de Marco Polo; o manuscripto original, como suppoz Ribeiro dos Santos (Mem. de litt. portugueza, VIII, p. 276, 2.ª ed.), ou, o que é mais provavel, uma copia authentica. Valentim Fernandes, no prefacio á traducção portugueza que depois fez, menciona esta circumstancia. Ramusio dá a mesma indicação (Discorso sopra la prima et secunda lettera di Andrea Corsali. – Delle nav. I. p. 176 v.º, Venetia 1563), e refere-se á influencia que o livro teve em Portugal «e che'l detto libro dapoi tradotto nella loro lingua fu gran causa che tutti quelli serenissimi Re s'infiammassero a voler far scoprir l'India orientale, e sopra tutti il Ré Don Giovanni.» Por esta, ou por outra copia, se fez desde logo uma traducção portugueza, pois entre os livros de uso d'el-rei D. Duarte, figura Marco Paulo, latim e linguagem em um volume (Provas da Hist. Geneal, etc. I. p. 844). Annos depois fez Valentim Fernandes a sua traducção, que imprimiu em Lisboa em 1502, obra muito rara, da qual a Bibliotheca nacional de Lisboa possue um exemplar.
64A relação da viagem do Nicolo di Conti, foi, por ordem do papa Eugenio IV, dictada ao seu secretario Poggio Bracciolini e por este escripta em latim. Foi depois vertida em portuguez por Valentim Fernandes e publicada juntamente com a obra de Marco Polo, com o titulo Ho livro de Nycolao Veneto. Quando Ramusio a quiz inserir na sua collecção não pôde encontrar o original latino, e teve de recorrer á versão portugueza, bastante defeituosa. (Dell. nav. etc. p. 338-1563.) Depois porém se publicou a relação em latim juntamente com outras obras de Poggio (De varietate fortunæ libri quatuor-1723) e por esta fez o sr. Major a traducção ingleza inserida no livro (India in the fifteenth century-Collec. Hakluyt). Sobre a influencia exercida pelo livro de Conti, veja-se Humboldt (Hist. de la géogr. du nouv. cont. I. p. 216).
65Primeiro mandou D. João II, Fr. Antonio de Lisboa, e Pero de Montarroyo, que por ignorarem a lingua arabica não proseguiram na sua viagem; depois Affonso de Paiva e Pero da Covilhan, e finalmente, em busca d'estes, dois judeos, Rabbi Abram de Beja, e um sapateiro de Lamego, chamado José. Veja-se o que diz Barros (Asia, dec. I, liv. III, cap. V) e sobretudo a relação muito mais detalhada dada pelo padre Francisco Alvares, na (Verdadeira informaçam das terras do Preste Joam).
66Diz João de Barros fallando da pimenta de rabo «a qual ElRei mandou a Frandes, mas não foi tida em tanta estima como a da India.» (Asia, dec. I, livr. III, cap. III.) Garcia de Rezende diz tambem da mesma pimenta «da qual foi logo mandado a Frandes.» (Chron. del Rey D. João II. pag. 43 verso. Lisboa).
67Sobre as informações que o infante tomava dos arabes veja-se o que diz João de Barros: «Donde assi na tomada de Cepta como as outras vezes que lá passou sempre inquiria dos mouros as cousas de dentro do sertão da terra» vindo a saber não só das terras dos Alarves e do Sahará mas tambem dos Azenegnes «que confinam com os negros de Jalof onde se começa a regiam de Guiné.» (Asia dec. I, livr. I, cap. II). Damiam de Goes falla tambem «das muitas informações que (o infante) cada dia tomava de mouros e azenégues practicos nas cousas de Africa» (Chron. do Princ. D. Joam. etc. cap. VII). Diogo Gomes conta que estando em Cantor, no Rio Gambia, ahi soubera de uma batalha travada entre dois regulos negros do interior, e que voltando ao reino, dera esta noticia ao infante, o qual lhe respondeu, que por uma carta de um mercador de Oran já fôra informado d'aquelle successo. Prova curiosissima de quanto eram extensas as relações que D. Henrique mantinha com o interior de Africa. Sobre o conhecimento que os arabes tiveram do Sudan desde o tempo de Ibn Haucal (X seculo), e a influencia que as noções por elles obtidas e transmittidas mais tarde aos christãos exerceram na construcção da carta Catalan de 1375, na do museu Borgia, e em outros monumentos cosmographicos, veja-se o que diz o visconde de Santarem (Essai sur l'hist. de la cosm. etc). A curiosa viagem de Ibn Batuta ás terras do Alto Niger, em 1352, dá uma idéa clara das relações dos arabes com aquellas regiões. (Viagens ext. e dil. de Abu-Abdallah etc. versão de fr. J. de Santo Antonio Moura. II. pag. 140 e seguintes).
68Azurara (Chron. da conq. etc. pag. 400). Barros (Asia dec. I, liv. I, cap. XIV).
69No mesmo anno de 1446. Azurara (Chron. etc. pag. 410). Barros (Asia ibid).
70Em 1448; veja-se Major (Life of Princ. Henry etc. pag. 288).
71Em 1454 e 1455. (Collecção de not. etc. II. pag. 28 e seguintes). As datas citadas não são as admittidas na versão portugueza, mas as que se encontram em Ramusio, tidas geralmente por mais exactas.
72Collecção de not. II. pag. 73.
73Barros (Asia dec. I, livr. II, cap. II).
74Barros (ibid.)
75Veja-se o que diz Azurara (Chron. da conq. etc. pag. 158), em uma curiosa passagem na qual define bem o sentido em que toma a palavra. Pode-se consultar egualmente o admiravel capitulo, cheio de observações curiosas e exactas de João de Barros (Asia dec. I, livr. III, cap. VIII). Sobre o conhecimento que os arabes tiveram da Guiné e sobre os erros commettidos em relação á sua situação geographica antes dos descobrimentos dos portuguezes, veja-se o visconde de Santarem (Essai sus l'hist. de la cosm. etc. I. pag. 300) e tambem a (Mem. sobre a prior. etc. pag. 161 e seguintes).
76É nel libro del primo viaggio dice, que egli vide alcune sirene nella costa della Manegueta. (Hist. del signor D. Fernando Colombo etc. pag. 16. Venezia 1676). Esta biographia do almirante foi escripta por seu filho D. Fernando Colombo em hespanhol, vertida por Affonso Ulloa em italiano, e havendo-se perdido o manuscripto original o qual nunca fôra publicado, vertida de novo em hespanhol e inserida na collecção de Historiadores primitivos de Andre Gonzales Barcia. A versão italiana, de que se fizeram diversas edições, é por tanto a mais authentica.
77«Yo estuve en el castillo de la Mina del Rey de Portugal.» Veja-se a Historia de las Indias, de Las Casas, contemporaneo do almirante. (Navarrete. Collection de Doc., etc. I. LXII). Na biographia antes citada, escripta por D. Fernando Colombo, encontra-se a mesma asserção. Em quanto ás outras viagens, Las Casas diz, que o almirante «affirma haber navegado muchas veces de Lisbona a Guinéa.» As datas, porém, são duvidosas, e o proprio D. Fernando Colombo confessa não saber bem quando tiveram logar estas viagens de seu pae.
78É a data marcada por Herrera (Historia de las Ind. ocid., dec. I, libr. I, cap. VII).
79É evidente que a designação empregada era a usada e vulgar entre os portuguezes. Colombo, como antes Cadamosto, A. da Nolle e outros, fez as suas viagens nos navios portuguezes, unicos que então se dirigiam para a Africa. O celebre genovez pelo seu casamento com a filha de Bartholomeu Perestrello, homem principal, e demais mui versado na navegação, tinha adquirido muitas relações em Portugal, e tão portuguez se havia tornado, que Toscanelli, seu compatriota, parece olvidar-se da sua nacionalidade e confundil-o com os portuguezes dizendo-lhe em uma carta, se não admira da sua grande coragem, e da de toda a nação portugueza, na qual sempre houve homens assinalados em todas as empresas: «Non mi maraviglio che tu, che sei di gran cuore, e tutta la natione Portoghese, la quale ha havuto sempre huomini segnalati in tutte le imprese etc.» segunda carta de Toscanelli a Colombo inserida na (Hist. del signor D. Fernando Colombo etc. cap. VIII). Las Casas diz, do modo o mais explicito, que as viagens a Guiné foram feitas em companhia dos portuguezes «y assi navegó algunas veces aquel camino en compania de los portuguezes, como persona ya vecina y quasi natural de Portugal.» (Hist. de las Indias. Collec. de doc. etc. t. LXII). Estas informações colheu Las Casas da boca de D. Diogo Colombo, filho do almirante.
80Eis as localidades mencionadas na descripção da costa da Malagueta por Duarte Pacheco. Cabo do Monte. Rio dos Cestos. Rio de S. Vicente. Cabo Mesurado. Ilha da Palma. Praia dos Escravos. Matta de Santa Maria. Ilhéos. Lagea. Rio de S. Paulo. Cabo Formoso. Cabo de S. Cremente. Rio do Junco. Resgate do Genovez. Cabo das Palmas. É facil definir a situação da maior parte d'estas localidades. Na excellente obra de A. M. de Castilho, encontram-se o Cabo do Monte, Cabo Mesurado, Rio de S. Paulo, Rio dos Juncos, Rio dos Cestos, Ilha da Palma e Cabo das Palmas (Descr. e Rot. da costa occ. de Africa, I, p. 264 a 301 e mappa VIII), situados por modo, que não póde haver duvida em serem as localidades mencionadas, com os mesmos nomes, por Duarte Pacheco. As outras designações, ou não se encontram no Roteiro como são a Matta de Santa Maria, os Ilhéos, o Resgate do Genovez, o Rio de S. Vicente, a Praia dos Escravos e a Lagea, ou se encontram applicados por modo diverso d'aquelle, que se adopta no Esmeraldo, como são o Cabo Formoso e o de S. Clemente. A Matta de S. Maria é uma localidade bem conhecida, situada logo adiante do Mesurado, e aonde segundo a relação de Cadamosto, já muitas vezes citada, terminou a viagem de Pero de Cintra. O Cabo Formoso do Roteiro de Castilho não póde ser o Cabo Formoso do Esmeraldo. De feito o primeiro, a Ponta Timbo de algumas cartas (Rot. p. 276), fica ao norte do Rio dos Cestos; em quanto que o do Esmeraldo demora muito ao sul, a 7 leguas da Ilha da Palma, e ainda ao sul dos Ilhéos. Deve corresponder á Ponta de Baffa ou á Ponta Tassou (Rot. p. 282). Não ha erro da parte de Duarte Pacheco em o collocar n'esta situação, pois temos uma prova de que segue a nomenclatura usada no seu tempo. Na carta de João Freire, de 1546, vem do mesmo modo Ilha da Palma, Ilhéo Cayado (é um dos ilhéos citados no Esmeraldo, e ahi se diz, que eram muito brancos, d'onde lhe veiu o nome) e depois Cabo Formoso, por tanto na mesma successão que adopta o nosso auctor. Segue-se o Resgate do Genovez, assim chamado porque um marinheiro genovez foi o primeiro que ahi resgatou malagueta, deverá collocar-se nas proximidades de Battoa Grande (Rot. p. 284). O Rio de S. Vicente é talvez o Rio do Sino (Rot. pag. 285): em quanto á Praia dos Escravos, que tinha, no dizer de Pacheco, duas leguas de extensão, é sem duvida a parte do littoral aonde vem desembocar os pequenos rios Dru, dos Escravos e Ferroowah (Rot. pag. 290 a 292). A Lagea, rochedo separado da costa coisa de um quarto de legua, póde com alguma duvida, identificar-se com o Carpenter rock ao mar da Ponta de Setre (Rot., pag. 293). Em quanto ao Cabo de S. Clemente, tambem não concorda a sua posição com a que vem no Roteiro: Castilho dá este nome á Ponta de Battoa Grande, sendo certo que o Cabo de S. Clemente de Duarte Pacheco fica muito para o sul, e já proximo ao Cabo das Palmas. Deve, me parece, corresponder á Ponta dos Bretons ou á de Fish town. (Rot. pag. 297). Na carta de Freire, que não vi, mas de que o visconde de Santarem transcreve os nomes por sua ordem (Mem. sobre a prior., etc., pag. 213) vem por estas alturas o Cabo do Sacramento; haverá erro de leitura e será Cabo de S. Cremente com a orthographia então usada? N'este caso a nomenclatura de Freire estaria mais uma vez de accordo com a do Esmeraldo. As latitudes ou «graos de ladeza» dadas por Duarte Pacheco não se afastam muito das que hoje se admittem. Sendo para notar que as citadas no texto differem ás vezes das que estão reunidas em uma taboada geral, o que sem duvida é devido a erros de copia. As que se referem á parte da costa que nos occupa são as seguintes: A divergencia maior no Cabo das Palmas, é devida sem duvida, a ter o copista omittido os minutos. Estas aproximações foram feitas rapidamente e de modo algum as tenho por seguras, pois levantam não poucas difficuldades, cuja discussão saíria completamente do plano n'este trabalho.
81Com quanto todo este trabalho se prenda á questão tão disputada da prioridade do descobrimento da costa occidental da Africa, e particularmente d'esta costa da Malagueta pelos portuguezes, mui deliberadamente a não tenho querido tratar, porque, com prefeita sinceridade e desprendido de todo o falso patriotismo a julgo fóra de contestação. No entanto, não posso deixar de recordar que Villaud de Bellefond, diz do Rio dos Cestos, que fôra assim chamado pelos portuguezes: «a cause d'une espèce de poivre qui y croit, quils appellent sextos:» e em outra parte, fallando dos negros da Costa, diz: le peu de langage qu'on peut entendre est français. Ils n'appellent pas ce poivre sextos a la portugaise, ni grain a la hollandaise, mais malaguette.» É difficil accumular tantos e tão palmares erros em tão poucas palavras! Pena é que estas ridiculas asserções fossem admittidas por escriptores serios e de boa nota.
82Veja-se a p. 25.
83Taes foram as viagens feitas pelos hespanhoes no anno de 1475, de que falla D. Diogo Ortiz de Zuniga (Annales ecl. y sec. de Sevilla, p. 373. Madrid, 1677); e outras levadas a cabo, ou projectadas, no anno de 1478, a que se refere um documento citado por Navarrete (Coll. t. II, pag. 386). Mas logo no anno seguinte de 1479, feitas as pazes com Hespanha, se reconheceram os direitos de Portugal ao exclusivo do commercio de Guiné. Veja-se tambem em Garcia de Rezende (Chron. d'elrey D. João III, cap. XXXIII e cap. LXXIII) a relação das duas embaixadas enviadas a Inglaterra em resultado dos preparativos, feitos por João Tintam e Guilherme Fabiam, por ordem do duque de Medina Sidonia, para passar a Guiné, no anno de 1481; e annos depois, no de 1484, em virtude de egual tentativa do conde de Penamacor. Em um e outro caso foram desde logo dadas ordens expressas para que taes viagens não tivessem logar, sendo mesmo o conde de Penamacor encarcerado na torre de Londres. Sobre estas e outras reclamações diplomaticas, veja-se o que diz o visconde de Santarem (Recherches sur la déc., etc., p. 198 a 222).
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