Arrebatadas

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Из серии: Um Mistério de Riley Paige #3
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Após um momento de silêncio, Riley acrescentou, “Preciso de ficar mais tempo afastada do trabalho de campo. Ainda estou tecnicamente de licença e estou a tentar recompor a minha vida.”

Seguiu-se um prolongado silêncio. Não parecia que Meredith fosse argumentar ou impor a sua vontade. Mas também não ia dizer que concordava. Não ia desistir de a pressionar.

Ouviu Meredith libertar um triste e longo suspiro. “O Garreth já não tinha qualquer contacto com a Nancy há vários anos. Agora o que lhe aconteceu está a corroê-lo por dentro. Penso que há uma lição qualquer a retirar daqui, não é? Não dês nada nem ninguém como certo na tua vida. Vai sempre ao encontro do que é importante.”

Riley quase deixou cair o telefone. As palavras de Meredith atingiram uma parte dela que não era tocada há muito tempo. Riley não contactava com a sua própria irmã mais velha há vários anos. Estavam afastadas e nem sequer pensava na Wendy há muito tempo. Não fazia a mínima ideia do que a sua própria irmã fazia agora.

Após outra pausa, Meredith disse, “Prometa-me que pensa no assunto.”

“Prometo,” Disse Riley.

Terminaram a chamada.

Riley sentia-se pessimamente. Meredith acompanhara-a em momentos difíceis e nunca mostrara tamanha vulnerabilidade como naquele momento. Não queria desiludi-lo. E acabara de lhe prometer que pensaria no assunto.

E por muito desesperadamente que quisesse, Riley não sabia se seria capaz de recusar.

CAPÍTULO TRÊS

O homem estava sentado no seu carro no parque de estacionamento, observando a prostituta enquanto ela se aproximava. Chamava-se a si própria “Chiffon”. Obviamente que não era o seu nome verdadeiro e ele tinha a certeza de que havia muito mais a seu respeito que ele desconhecia.

Podia obrigá-la a dizer-me, Pensou. Mas não aqui. Não hoje.

E também não a mataria hoje e ali. Não, não ali tão perto do seu pouso habitual – o “Kinetic Custom Gym”. A partir do local onde ele se encontrava sentado, podia observar as decrépitas máquinas de exercícios – três passadeiras, uma máquina de remos e um par de máquinas de pesos, nenhuma a funcionar. Tanto quanto ele sabia, ninguém lá ia para fazer exercício.

Pelo menos não de uma forma socialmente aceitável, Pensou, sorrindo sarcasticamente.

Não ia àquele lugar muitas vezes – não desde que levara aquela morena que ali trabalhara há vários anos. É evidente que não a tinha morto ali. Tinha-a atraído para um quarto de motel para “serviços extra” e com a promessa de receber muito mais dinheiro.

E mesmo assim não tinha sido um homicídio premeditado. O saco de plástico na cabeça da mulher apenas se destinava a acrescentar o perigo como elemento de fantasia. Mas uma vez consumado, tinha ficado surpreendido com a profunda satisfação que sentira. Tinha sentido um prazer epicurista, distinto de todos os outros que já experimentara na sua vida povoada de prazeres.

Ainda assim, nos encontros que tivera desde essa altura, tinha sido mais cuidadoso e contido. Ou pelo menos assim tinha sido até à semana passada, altura em que o mesmo jogo mortal acontecera com aquela acompanhante… Como é que se chamava?

Ah, sim, Lembrou-se. Nanette.

Na altura suspeitou que Nanette poderia não ser o seu nome verdadeiro. Agora nunca descobriria. No seu íntimo, ele sabia que a morte dela não havia sido um acidente. Não propriamente. Ele tivera a intenção de o fazer. E a sua consciência estava impoluta. Estava pronto para o fazer novamente.

A tal da Chiffon aproximava-se a uma distância de meio quarteirão. Envergava um top amarelo e uma saia minúscula, e trotava na direção do ginásio empoleirada nuns saltos altos impossíveis ao mesmo tempo que falava ao telemóvel.

Ele queria mesmo saber se Chiffon era o seu nome verdadeiro. O anterior encontro profissional que haviam tido, tinha sido um fracasso – culpa dela, não dele, disso ele tinha a certeza. Algo nela o havia desencorajado.

Ele sabia perfeitamente que ela era mais velha do que dizia ser. Não era apena o corpo – até prostitutas adolescentes tinham marcas de partos. E também não eram as rugas que já despontavam no seu rosto. As prostitutas envelheciam mais rapidamente.

Não conseguia entender. Mas havia muitas mais coisas nela que o deixavam perplexo. Ela mostrava um certo tipo de entusiasmo falsamente ameninado que não era característica de uma verdadeira profissional, nem mesmo de uma novata.

Dava demasiadas risadinhas como se se tratasse de uma criança a jogar um jogo. Era demasiado ávida. E muito estranhamente, ele suspeitava que ela gostava realmente do que fazia.

Uma prostituta que gosta realmente de sexo, Pensou ele ao vê-la aproximar-se. Quem já ouviu uma coisa destas?

Na verdade, era algo que o excitava.

Bem, pelo menos tinha a certeza que não era uma polícia infiltrada. Tê-lo-ia percebido num instante.

Quando ela se aproximou o suficiente para o ver, ele buzinou. Ela parou de falar ao telemóvel por um momento e olhou na sua direção, protegendo os olhos da luz da manhã. Quando viu quem era, acenou-lhe e sorriu - um sorriso que parecia completamente sincero.

Depois caminhou pelas traseiras do ginásio na direção da entrada de “serviço”. Ele apercebeu-se que ela muito provavelmente teria um compromisso no bordel. Não importava, solicitaria os seus serviços noutro dia quando lhe apetecesse gozar um tipo de prazer mais específico. Entretanto, havia por ali muitas mais prostitutas.

Agora recordava-se em que ponto as coisas tinham ficado no seu último encontro. Ela mostrara-se alegre, bondosa e apologética.

“Volta sempre que quiseres,” Dissera-lhe. “Da próxima vez vai correr melhor. Vamos consegui-lo juntos. Vai ser mesmo excitante.”

“Ah, Chiffon,” Murmurou em voz alta para si próprio. “Nem fazes ideia.”

CAPITULO QUATRO

Um tiroteio desfilava à volta de Riley. À esquerda, ouvia os ruídos ensurdecedores de pistolas. À direita, ouvia armas mais pesadas – rebentamentos de espingardas de assalto e o silvar pausado de submetralhadoras.

No meio de todo este clamor, sacou da sua Glock do coldre na anca, descendeu à posição de decúbio ventral e disparou seis rodadas. Ergueu-se para a posição de joelhos e disparou três rodadas. Recarregou a arma rápida e habilmente, depois levantou-se, disparou seis rodadas e, finalmente, ajoelhou-se e disparou mais três rodadas com a mão esquerda.

Levantou-se e guardou a arma no coldre, depois afastou-se da linha de fogo e retirou os protetores auditivos e óculos de proteção. O alvo em forma de garrafa estava a vinte e três metros de distância. Mesmo àquela distância, conseguiu ver que tinha agregado todos os tiros juntos. Nas filas ao lado da sua, estagiários da Academia do FBI continuavam a treinar sob a orientação dos seus instrutores.

Já tinha passado algum tempo desde que Riley disparara uma arma pela última vez, apesar de andar sempre armada em serviço. Tinha reservado aquela fila da carreira de tiro da Academia do FBI para treinar e, como sempre, sentira a satisfação do poderoso recuo da arma, da força bruta que transmitia.

Ouviu uma voz atrás de si.

“És mesmo da velha guarda, não és?”

Voltou-se e viu o sorridente Agente Especial Bill Jeffreys próximo dela. Ela devolveu-lhe o sorriso. Riley sabia muito bem o que ele queria dizer com “velha guarda”. Há alguns atrás, o FBI tinha alterado as regras de fogo real para habilitação no disparo de armas de fogo. Disparar na posição de decúbio ventral fazia parte do antigo exercício e já não era obrigatório. Agora davam mais ênfase ao disparo contra alvos mais próximos, a distâncias entre os três e os seis metros. A isso acrescentou-se ainda uma instalação de realidade virtual onde os agentes eram inseridos em cenários que envolviam confrontos armados em bairros. E os formandos também passavam pelo conhecido Hogan’s Alley, uma cidade de dez acres em tamanho real onde combatiam terroristas com armas de paintball.

“Às vezes gosto de agir à moda da velha guarda,” Disse ela. “Pode ser que um dia tenha que fazer uso de força letal à distância.”

Da sua própria experiência, Riley sabia que as situações mais sérias eram próximas e pessoais, e eram muitas vezes inesperadas. Na verdade, ela já tivera que lutar com as suas próprias mãos em dois casos bem recentes. Tinha morto um assassino com a sua própria faca e outro com uma pedra.

“Achas que alguma coisa prepara estes miúdos para a realidade?” Perguntou Bill, indicando com a cabeça os formandos que se preparavam para abandonar a carreira de tiro.

“Nem por isso,” Respondeu Riley. “Na RV o teu cenário assume o cenário como real, mas não há perigo iminente, não há dor, não há raiva para controlar. Algo no nosso íntimo sabe que não podemos ser mortos.”

“Pois é,” Disse Bill. “Vão ter que o descobrir por si próprios como nós descobrimos há tantos anos atrás.”

Riley observou-o de lado enquanto se afastavam da carreira de tiro.

Tal como ela, Bill tinha quarenta anos e cabelos brancos a despontar da cabeleira escura. Perguntava-se qual o significado de o estar a comparar mentalmente com o seu magro e enjeitado vizinho.

Qual era o nome dele? Questionou-se. Ah, sim… Blaine.

Blaine era atraente, mas não estava certa se batia Bill. Bill era grande, sólido e cativante.

“O que te traz por cá?” Perguntou Riley.

“Soube que estarias cá,” Respondeu Bill.

Riley fitou-o apreensiva. Muito provavelmente, aquela não era uma visita de cortesia. Pela sua expressão, Riley percebeu que ele ainda não estava preparado para lhe contar o que queria.

 

Bill disse, “Posso cronometrar se quiseres fazer o exercício completo.”

“Agradecia-te,” Disse Riley.

Dirigiram-se a uma secção à parte da carreira de tiro onde não correria o risco de ser atingida por balas perdidas provenientes dos formandos.

Enquanto Bill segurava num cronómetro, Riley ultrapassou todos os níveis do curso de habilitação para manuseamento de arma, disparando contra o alvo a uma distância de três metros, depois cinco, depois sete, depois quinze. A quinta e última fase do exercício era a única parte que Riley considerava pouco desafiante – disparar atrás de uma barricada a uma distância de vinte e três metros.

Quando terminou, Riley retirou os protetores de cabeça. Ela e Bill encaminharam-se para o alvo e observaram o resultado do treino de Riley. Todas as marcas estavam juntas.

“Cem porcento – um resultado perfeito,” Disse Bill.

“Só tinha que ser,” Disse Riley. Não gostaria nada de constatar que estava a perder o jeito.

Bill apontou para o cenário natural atrás do alvo.

“Um tanto surreal, não?” Perguntou Bill.

Vários veados de cauda branca pastavam satisfeitos no alto da colina. Na verdade, tinham-se ali reunido enquanto Riley disparava. Estavam a curta distância, facilmente alcançáveis até para a sua arma. Mas a realidade é que não estavam minimamente incomodados com os milhares de balas que embatiam contra os alvos logo abaixo da cumeeira em que se encontravam.

“Sim,” Concordou Riley, “e belo.”

Naquela altura do ano os veados eram uma presença natural ali na carreira de tiro. Era época de caça e de alguma forma sabiam que ali estavam seguros. De facto, os terrenos da Academia do FBI tinham-se tornado numa espécie de refúgio de vida selvagem para muitos animais, incluindo raposas, perus selvagens e marmotas.

“Há alguns dias atrás um dos meus alunos viu um urso no parque de estacionamento,” Comentou Riley.

Riley aproximou-se da barreira. Os veados ergueram as cabeças, fitaram-na e afastaram-se. Não tinham medo de tiroteio, mas não gostavam que as pessoas se aproximassem demasiado.

“Como é que eles saberão?” Perguntou Bill. “Quero dizer, que aqui é um sítio seguro. Os tiros não soam todos da mesma forma?”

Riley limitou-se a abanar a cabeça. Era um mistério para ela. O pai tinha-a levado a caçar quando era pequena. Para ele, os veados eram simplesmente recursos – comida e pele. Não a tinha incomodado matá-los há tantos anos atrás. Mas isso tinha mudado.

Parecia estranho, agora que se dava ao trabalho de pensar nisso. Não tinha qualquer pejo em usar força letal contra um ser humano quando necessário. Podia matar um homem num abrir e fechar de olhos. Mas matar uma dessas criaturas parecia agora impensável.

Riley e Bill caminharam na direção de uma área de repouso e sentaram-se juntos numa vedação. Fosse qual fosse o motivo que o levara até ali, Bill continuava reticente em verbalizá-lo.

“Como te estás a dar sozinho?” Perguntou Riley com uma voz carinhosa.

Ela sabia que era uma questão delicada e viu-o estremecer. A mulher de Bill tinha-o deixado recentemente após anos de tensão entre o trabalho e a vida familiar. Bill tinha ficado preocupado com a perspetiva de perder o contacto com os filhos ainda tão jovens. Agora vivia num apartamento na cidade de Quantico e passava tempo com os filhos aos fins-de-semana.

“Não sei, Riley,” Disse. “Não sei se alguma vez me vou habituar.”

Era óbvio que Bill se sentia só e deprimido. Riley tinha passado por um processo semelhante depois de recentemente se ter separado e divorciado. Ela também sabia que após uma separação se ficava particularmente frágil. Mesmo que a relação não fosse das melhores, dava-se por si num mundo de estranhos, a sentir falta de anos de familiaridade, sem saber bem o que fazer.

Bill tocou-lhe no braço. Com a voz embargada pela emoção, disse, “Às vezes penso que tudo aquilo que me resta na vida… és tu.”

Naquele momento, Riley sentiu uma vontade incontrolável de o abraçar. Quando haviam sido parceiros, Bill tinha-a ajudado inúmeras vezes, tanto física como emocionalmente. Mas ela sabia que tinha que ter cuidado. E também sabia que em situações como aquela, as pessoas podiam agir de forma precipitada. Riley tinha telefonado a Bill numa noite de bebedeira e propusera-lhe iniciarem uma relação. Agora os papéis tinham-se invertido. Riley sentia a iminente dependência de Bill em relação a ela, logo agora que ela começava a sentir-se livre e suficientemente forte para estar sozinha.

“Fomos bons parceiros,” Disse Riley. Era uma lamechice mas não lhe ocorrera mais nada para dizer.

Bill respirou fundo.

“Foi por isso mesmo que vim ter contigo,” Disse Bill. “O Meredith disse-me que te tinha ligado sobre o caso de Phoenix. Estou a trabalhar nesse caso e preciso de um parceiro.”

Riley sentiu-se ligeiramente irritada. A visita de Bill parecia-lhe agora uma espécie de cilada.

“Eu disse ao Meredith que ia pensar no assunto,” Respondeu Riley.

“E agora sou eu que te estou a pedir,” Continuou Bill.

Instalou-se o silêncio.

“E a Lucy Vargas?” Perguntou Riley.

A Agente Vargas era uma novata que tinha trabalhado com Bill e Riley no seu último caso. Ambos tinham ficado muito impressionados com o seu trabalho.

“O tornozelo dela não sarou,” Disse Bill. “Não pode regressar ao trabalho de campo pelo menos por mais um mês.”

Riley sentiu-se uma idiota por ter perguntado. Quando ela, Bill e Lucy tinham encontrado Eugene Fisk, o “assassino das correntes”, Lucy tinha caído, partido um tornozelo e quase fora morta. Era óbvio que não podia regressar tão cedo ao trabalho.

“Não sei, Bill,” Retomou Riley. “Esta pausa do trabalho tem-me feito muito bem. Estava a pensar em apenas ensinar a partir de agora. Só te posso dizer aquilo que já disse ao Meredith.”

“Que vais pensar no assunto.”

“Exatamente.”

Bill soltou um resmundo de descontentamento.

“Podemos ao menos encontrar-nos e conversar sobre o assunto?” Perguntou Bill. “Talvez amanhã?”

Riley calou-se novamente por alguns segundos.

“Amanhã não,” Disse. “Amanhã tenho que ver um homem morrer.”

CAPÍTULO CINCO

Riley olhou pela janela para a sala onde Derrick Caldwell em breve morreria. Estava sentada ao lado de Gail Bassett, a mãe de Kelly Sue Bassett, a última vítima de Caldwell. O homem tinha assassinado cinco mulheres antes de Riley o apanhar.

Riley tinha vacilado antes de aceitar o convite de Gail para assistir à execução. Só tinha visto outra até à data, dessa vez como testemunha voluntária sentada entre jornalistas, advogados, polícias, conselheiros espirituais e o representante do júri. Agora ela e Gail encontravam-se entre nove familiares de mulheres mortas por Caldwell, todos amalgamados num espaço exíguo, sentados em cadeiras de plástico.

Gail, uma mulher pequena de sessenta anos com um rosto delicado, tinha mantido o contacto com Riley ao longo dos anos. Na altura da execução o marido já tinha morrido e ela tinha escrito a Riley dizendo que não tinha ninguém para a amparar naquele momento tão importante. E Riley concordara em fazer-lhe companhia.

A câmara da morte estava logo ali do outro lado da janela. O único mobiliário visível na sala era a maca destinada à execução, uma mesa em forma de cruz. Uma cortina de plástico azul estava pendurada por cima da cabeceira da maca. Riley sabia que tubos intravenosos e químicos letais se encontravam por detrás daquela cortina.

Um telefone vermelho na parede tinha ligação direta ao gabinete do Governador. Só tocaria caso houvesse uma decisão de última hora ditando a clemência. Mas ninguém esperava que tal sucedesse. Um relógio por cima da porta que dava para a sala da execução, era o outro objeto de decoração visível.

Na Virginia, os criminosos condenados podiam escolher entre a cadeira elétrica e a injeção letal, mas os químicos acabavam por ser a escolha de eleição. Se o prisioneiro se recusasse a optar, era-lhe atribuída a injeção.

Riley quase estava surpreendida por Caldwell não ter optado pela cadeira elétrica. Era um monstro sem remorsos que parecia acolher com agrado a sua própria morte.

O relógio marcava 08:55 quando a porta se abriu. Riley ouviu um rumor silencioso na sala enquanto vários membros da equipa de execução introduziam Caldwell na câmara. Dois guardas flanqueavam-no, agarrando um em cada braço, e um outro seguia logo atrás dele. Um homem bem vestido surgiu atrás de todos os outros – o diretor da prisão.

Caldwell vestia calças e camisola azuis, sandálias sem meias e estava algemado. Riley não o via há vários anos. Durante a sua breve carreira de assassino em série, exibira cabelo comprido e uma barba desgrenhada, um aspeto boémio que condizia com a sua condição de artista de rua. Agora apresentava-se barbeado e com um aspeto absolutamente normal.

Apesar de não reagir ao ambiente que o rodeava, parecia assustado.

Ótimo, Pensou Riley.

Caldwell olhou para a maca, mas desviou rapidamente o olhar. Parecia tentar a todo o custo não olhar para a cortina de plástico azul na cabeceira da maca. Por um instante, fixou a janela da sala onde se encontrava Riley e os familiares das vítimas. Subitamente pareceu mais calmo e mais composto.

“Quem me dera que nos pudesse ver,” Sussurrou Gail.

Estavam protegidos por um vidro especial e Riley não partilhava do desejo de Gail. Caldwell já tinha olhado para ela de demasiado perto para o seu gosto. Para o capturar tivera que se infiltrar. Fingira ser uma turista no passeio de Dunes Beach e contratou-o para lhe desenhar um retrato. Enquanto trabalhava, tinha-a inundado com todo o tipo de elogios, dizendo-lhe que ela era a mulher mais bela que desenhara em muito tempo.

E soube naquele momento que seria a sua próxima vítima. Naquela mesma noite servira de engodo para o atrair, deixando que a perseguisse na praia. Quando ele a tentara atacar, os reforços chegaram e não tinham tido qualquer dificuldade em detê-lo.

A sua captura tinha sido bastante vulgar. A descoberta de como ele tinha desfeito e mantido as vítimas na arca frigorífica fora outra questão. Estar presente no momento em que a arca fora aberta, resultara numas das experiências mais pungentes da carreira de Riley. Ainda sentia pena das famílias das vítimas, entre elas Gail, por terem tido que identificar as mulheres, filhas e irmãs desmembradas…

“Demasiado belas para viverem,” Tinha dito Caldwell.

Riley sentia-se arrepiada só de pensar que ela fora uma das mulheres que ele vira sob essa perspetiva. Nunca se encarara como bela e raramente os homens, mesmo o ex-marido Ryan, lhe diziam que era. Caldwell tinha sido uma crua e horrível exceção.

O que significaria o facto de um monstro patológico a ter considerado tão perfeitamente adorável? Será que tinha reconhecido nela o que havia de monstruoso nele? Depois do julgamento e condenação, Riley tivera durante algum tempo pesadelos com os seus olhos cintilantes, as suas palavras doces e a sua arca frigorífica repleta de partes de corpos.

A equipa de execução ergueu Caldwell na direção da maca de execução, retiraram as algemas, tiraram as sandálias e amarraram-no com tiras de couro – duas no peito, duas nas pernas, duas à volta dos tornozelos e duas nos pulsos. Os pés nus foram virados na direção da janela o que tornava difícil ver o seu rosto.

De repente, as cortinas das janelas fecharam-se. Riley compreendeu que tal sucedera para esconder a fase da execução em que algo de errado podia acontecer, como por exemplo, a equipa ter dificuldade em encontrar uma veia adequada. Ainda assim, Riley estranhou. As pessoas que ali se encontravam estavam prestes a assistir à morte de Caldwell contudo, não lhes era permitido testemunhar a mundana inserção de agulhas. As cortinas oscilaram ligeiramente, aparentemente deslocadas por um dos membros da equipa que se movimentava do lado de lá.

Quando as cortinas se abriram novamente, os tubos intravenosos estavam colocados, dispostos nos braços do prisioneiro por buracos que passavam as cortinas azuis de plástico. Alguns elementos da equipa de execução estavam atrás dessas cortinas onde administrariam as drogas letais.

Um homem segurava no auscultador do telefone, pronto para receber uma chamada que, com toda a certeza, nunca se realizaria. Outro homem falou com Caldwell, as suas palavras quase inaudíveis graças ao fraco sistema de som. Perguntava a Caldwell se queria pronunciar as suas últimas palavras.

 

De forma contrastante, a resposta de Caldwell surgiu com uma alarmante clareza.

“A Agente Paige está cá?” Perguntou.

Riley estremeceu ao ouvir aquelas palavras.

O homem não respondeu. Não era uma pergunta que Caldwell tivesse o direito de ver respondida.

Após um momento de silêncio tenso, Caldwell falou novamente.

“Digam à Agente Paige que gostava que a minha arte lhe tivesse feito justiça.”

Apesar de Riley não conseguir ver o seu rosto com clareza, julgou ouvir uma risadinha.

“É tudo,” Disse. “Estou pronto.”

Riley foi inundada por uma onda de raiva, horror e confusão. Não esperava que aquilo pudesse acontecer. Derrick Caldwell tinha dedicado os seus últimos momentos de vida a ela. E sentada ali atrás daquela inquebrantável barreira de vidro, sentiu-se incapaz de fazer fosse o que fosse em relação ao que acabara de ouvir.

Tinha-o levado a prestar contas perante a justiça, mas no final, ele parecia ter alcançado um tipo de vingança estranha e doentia.

Riley sentiu a pequena mão de Gail a apertar a sua.

Meu Deus, Pensou Riley. Ela está a reconfortar-me.

Riley reprimiu a náusea que se apoderava dela.

E então Caldwell proferiu mais algumas palavras.

“Vou sentir quando começar?”

Mas mais uma vez, não obteve qualquer resposta à sua pergunta. Riley viu o fluido mover-se nos tubos intravenosos transparentes. Caldwell respirou fundo várias vezes e pareceu adormecer. O seu pé esquerdo contraiu-se algumas vezes e depois parou.

Um momento depois, um dos guardas apertou ambos os pés e não obteve qualquer reação. Parecia um gesto peculiar. Mas Riley compreendeu que o guarda verificava se o sedativo estava a fazer efeito e se Caldwell estava completamente inconsciente.

O guarda disse qualquer coisa de inaudível às pessoas que estavam atrás da cortina. Riley viu um fluxo renovado de fluido movimentar-se nos tubos intravenosos. Ela sabia que uma segunda droga iria agora atuar para parar o funcionamento dos pulmões. Dali a pouco, uma terceira droga parar-lhe-ia o coração.

À medida que a respiração de Caldwell abrandava, Riley deu por si a pensar naquilo que estava a assistir. Quão diferente era aquilo do seu uso de força letal? A verdade é que já tinha morto vários assassinos.

Mas esta era uma morte diferente dessas outras. Por comparação, era bizarramente controlado, limpo, clínico, imaculado. Parecia inexplicavelmente errado. Irracionalmente, Riley deu por si a pensar…

Não devia ter deixado as coisas chegarem a este ponto.

Ela sabia que estava errada, que tinha capturado Caldwell de forma profissional e em concordância com as regras. Mas mesmo assim pensou…

Devia tê-lo morto eu mesma.

Gail agarrou na mão de Riley com força durante dez longos minutos. Por fim, o elemento da equipa de execução junto a Caldwell disse algo que Riley não conseguiu ouvir.

O guarda saiu de trás da cortina e falou numa voz clara para ser compreendido por todas as testemunhas.

“A sentença foi cumprida com sucesso às 09:07.”

Depois as cortinas encerraram-se novamente. As testemunhas já tinham visto tudo o que deviam ver. Os guardas entraram na sala e pediram a todos para saírem o mais rapidamente possível.

Quando o grupo se encaminhava para o corredor, Gail pegou novamente na mão de Riley.

“Lamento que ele tenha dito o que disse,” Afirmou Gail.

Riley ficou sobressaltada. Como é que era possível que Gail estivesse preocupada com os sentimentos de Riley num momento daqueles, quando justiça tinha sido finalmente feita ao assassino da sua própria filha?

“Com está Gail?” Perguntou Riley enquanto se dirigiam apressadamente para a saída.

Gail caminhou em silêncio durante alguns segundos. A sua expressão parecia completamente vazia.

“Acabou,” Disse por fim, a voz entorpecida e fria. “Acabou.”

Dali a nada já estavam no exterior banhado pelo sol da manhã. Riley conseguiu ver dois ajuntamentos de pessoas do outro lado da rua, divididos um do outro e controlados firmemente pela polícia. De um lado estavam as pessoas que se tinham reunido para aplaudir a execução empunhando sinais de ódio, alguns profanos e obscenos. Estavam compreensivelmente jubilantes. Do outro lado estavam manifestantes anti pena de morte com os seus próprios cartazes. Tinham passado ali a noite em vigília. Eram muito mais moderados.

Riley não conseguia sentir simpatia por qualquer um dos grupos. Estas pessoas estavam ali por elas, para fazer um espetáculo público da sua revolta e retidão, agindo por puro comodismo. No que lhe dizia respeito, não tinham o direito de estar ali, não entre pessoas cuja dor e pesar eram tão reais.

Entre a entrada e os ajuntamentos encontrava-se um enxame de jornalistas com as suas carrinhas de notícias por perto. Quando Riley tentou atravessar a multidão, uma mulher correu na sua direção com um microfone e um repórter de imagem logo atrás dela.

“Agente Paige? É a Agente Paige?” Perguntou.

Riley não respondeu. Tentou passar pela jornalista mas ela não desarmou. “Ouvimos dizer que Caldwell a mencionou nas suas últimas palavras. Quer comentar?”

Outros jornalistas se aproximaram, fazendo a mesma pergunta. Riley cerrou os dentes e furou a multidão. Pelo menos ela conseguiu libertar-se.

Quando se apressava na direção do carro, deu por si a pensar em Meredith e em Bill. Ambos lhe tinham implorado para aceitar um novo caso. E ela estava a evitar dar uma resposta a qualquer um deles.

Porquê? Pensou.

Tinha acabado de fugir aos jornalistas. Também estaria a fugir de Bill e Meredith? Estaria a fugir de quem ela era? De tudo o que tinha que fazer?

*

Riley estava feliz por se encontrar em casa. A morte a que assistira naquela manhã ainda a deixava com uma sensação de vazio e o regresso a Fredericksburg tinha sido cansativo. Mas quando abriu a porta de casa, algo parecia não estar certo.

Estava anormalmente silenciosa. April já devia ter voltado da escola. E onde estava Gabriela? Riley foi até à cozinha e encontrou-a vazia. Um recado repousava na mesa da cozinha.

Me voy a la tienda, Estava escrito. Gabriela tinha ido fazer compras.

Assolada por uma onda de pânico, Riley agarrou com força as costas de uma cadeira. Da outra vez que Gabriela tinha ido fazer compras, April tinha sido raptada da casa do pai.

Escuridão, o vislumbre da chama.

Riley virou-se e correu para junto das escadas.

“April,” Gritou.

Não obteve resposta.

Riley subiu as escadas a correr. Ninguém se encontrava nos quartos. Ninguém estava no seu escritório.

O coração de Riley batia aceleradamente, apesar da cabeça não parar de lhe dizer que estava a ser pateta. Mas o corpo não ouvia e não obedecia ao que a mente lhe dizia.

Desceu as escadas a correr e saiu para a varanda.

“April,” Gritou.

Mas não havia ninguém a brincar no quintal vizinho e não havia crianças à vista.

Impediu-se de soltar outro grito. Não queria que os vizinhos pensassem que era louca. Não tão cedo.

Tateou o bolso e tirou o telemóvel. Enviou um SMS a April.

Não obteve resposta.

Riley voltou para dentro de casa e sentou-se no sofá. Segurava a cabeça entre as mãos.

Estava de volta ao espaço exíguo do cativeiro, deitada na terra e na escuridão.

Mas a pequena luz movia-se na sua direção. Podia ver o seu rosto cruel a brilhar por entre as chamas. Mas não sabia se o assassino vinha para a levar a ela ou para levar April.

Riley obrigou-se a separar a visão da sua realidade presente.

O Peterson morreu, Dizia enfaticamente a si mesma. Nunca mais nos vai torturar.

Sentou-se no sofá e tentou focar-se no aqui e agora. Agora estava ali na sua nova casa, a viver a sua nova vida. Gabriela tinha ido à loja fazer compras. April estava com toda a certeza por perto.

A sua respiração abrandou, mas não se conseguiu erguer. Tinha medo de ir novamente lá fora e gritar.

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