Forças Opostas

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O primeiro desafio

À primeira vista, percebo que na minha frente há uma estrada de vereda batida. Começo a andar por ela. Diante daquele matagal cheio de espinhos, o melhor seria seguir a trilha. As pedras que meus passos derribam parecem querer me dizer alguma coisa. Será que estou no caminho certo? Penso em tudo que deixei para trás em busca do meu sonho: casa, alimento, roupa lavada e meus livros de Matemática. Será que valerá a pena? Penso que vou descobrir (o tempo dirá). A estranha senhora parece não ter me dito tudo. Por mais que eu ande, não encontro nada. O topo não parecia ser tão extenso assim logo que cheguei. Uma luz? Vejo uma luz à frente. Preciso ir até lá. Chego a uma clareira espaçosa, onde os raios de sol refletem claramente o aspecto da montanha. A trilha se desfaz e renasce em dois caminhos distintos. O que fazer? Há horas que eu ando e minhas forças parecem ter se esgotado.

Sento-me um momento para descansar. Dois caminhos e duas escolhas. Quantas vezes, na vida, nos deparamos com situações como essa. O empresário que tem de escolher entre a sobrevivência da empresa e a demissão de alguns funcionários. A mãe pobre do sertão do Nordeste que tem de escolher um dos filhos para alimentar. O marido infiel que tem de escolher entre sua esposa e a amante. Enfim, são inúmeras as situações na vida. A minha vantagem é que a minha escolha só afetará a mim mesmo. Preciso seguir minha intuição, como a senhora recomendou.

Levanto-me e escolho o caminho da direita. Caminho a largos passos nessa trilha e não demora muito para eu vislumbrar outra clareira. Desta feita, encontro um poço de água e alguns animais à sua volta. Eles se refrescam na água límpida e transparente. Como proceder? Encontro a água, mas ela está infestada de animais. Consulto o meu coração e ele me diz que todos têm direito à água. Eu não poderia tangê-los e privá-los desse bem. A natureza dá em abundância seus recursos para a sobrevivência de seus seres. Eu sou um de seus fios que ela tece. Não sou superior a ponto de me considerar dono dela. Com as minhas mãos, tenho acesso à água e a reservo em um pequeno pote que trouxe de casa. A primeira parte do desafio está cumprida. Preciso achar agora o alimento.

Continuo andando para a frente, na trilha, esperando encontrar alguma coisa para comer. O meu estômago ronca, pois já passa do meio-dia. Começo a olhar de lado. Talvez o alimento esteja dentro da mata. Quantas vezes não procuramos o caminho mais fácil, mas não é ele que conduz ao sucesso (nem sempre o escalador que percorre uma trilha consegue ser o primeiro a chegar ao topo de uma montanha). Os atalhos conduzem mais rápido ao objetivo. Com esse pensamento, saio da trilha e, pouco tempo depois, encontro uma bananeira e um coqueiro. É deles que vou retirar alimento. Preciso subir neles com a mesma força e fé que escalei a montanha. Tento uma, duas, três vezes. Consegui. Voltarei agora para a cabana, pois cumpri o primeiro desafio.

O segundo desafio

Ao chegar à cabana, encontro a guardiã da montanha mais fulgurante do que nunca. O seu olhar não consegue separar-se do meu. Penso que sou realmente especial para Deus. Em todos os momentos, sinto a presença Dele. Ele me ressuscitou em todos os sentidos. Quando eu estava sem trabalho, ele me abriu as portas; quando eu não tinha oportunidades de crescer profissionalmente, ele me abriu caminhos; quando eu estava em crise, ele me libertou das amarras do demônio. Enfim, aquele olhar de aprovação da estranha senhora lembrou-me o homem que eu era até pouco tempo atrás. O meu objetivo atual era vencer, sem me importar com os obstáculos que eu tivesse que transpor.

– Então você venceu o primeiro desafio? Meus parabéns! – Exclamou a senhora. – O primeiro desafio teve como objetivo explorar a sua capacidade de tomar decisões, de partilha e de sabedoria. Os dois caminhos representam as “forças opostas” que dominam o universo (bem e mal). O ser humano é totalmente livre para escolher qualquer um dos caminhos. Se escolher o caminho da direita, ele terá plena luz e a ajuda dos anjos em todos os momentos da vida. Foi o caminho que você escolheu. Porém, não é um caminho fácil. Muitas vezes, a dúvida assaltará o seu coração, e você se perguntará se vale mesmo a pena esse caminho. As pessoas do mundo irão sempre lhe magoar e aproveitar-se de sua bondade. Além disso, a confiança que você depositará nos outros será quase sempre decepcionada. Quando você se afligir, lembre-se: o seu Deus é forte e nunca lhe abandonará. Nunca deixe que a riqueza ou luxúria pervertam o seu coração. Você é especial e, por seu valor, Deus o considera seu filho. Nunca perca essa graça. O caminho da esquerda pertence a todos que se rebelaram ao chamado do Pai. Todos nós nascemos com uma missão divina. No entanto, alguns se desviam dela, por materialismo, más influências, corrupção do coração. Todos os que escolhem o caminho da esquerda não têm um bom destino, ensinou-nos Jesus. Toda árvore que não der bons frutos será arrancada e jogada nas trevas exteriores. É esse o destino dos maus porque o Pai é justo. No momento em que você encontrou o poço e aqueles animais sôfregos, seu coração falou mais alto. Escute-o sempre, menino, e você irá longe. O dom da partilha resplandeceu em você naquele momento e o seu crescimento espiritual foi surpreendente. A sabedoria que você tem ajudou-o a encontrar o alimento. Nem sempre o caminho mais fácil é o certo a seguir. Creio que agora você está preparado para o segundo desafio. Daqui a três dias, você sairá de sua cabana e procurará um fato. Aja conforme sua consciência. Se você for aprovado, passará para o terceiro e último desafio.

– Obrigado por me acompanhar todo esse tempo. Eu não sei o que me espera na gruta nem o que acontecerá comigo. A sua contribuição é muito importante para mim. Desde que escalei a montanha, sinto que minha vida mudou. Estou mais tranquilo e convicto do que quero. Eu vou cumprir o segundo desafio.

– Muito bem. Vejo-o daqui a três dias.

Dito isso, a senhora desapareceu mais uma vez. Deixou-me sozinho na quietude do entardecer juntamente com grilos, pernilongos e outros insetos.

O fantasma da montanha

A noite desce sob a montanha. Acendo a fogueira, e o seu crepitar acalma mais o meu coração. Já faz dois dias que subi a montanha, e ela ainda me parece desconhecida. O meu pensamento voa e pousa na minha infância: as brincadeiras, os medos, as tragédias. Lembro-me bem do dia que me vesti de índio: com arco, flecha e tacape. Agora estava numa montanha que era sagrada justamente por ter morrido um indígena misterioso (o pajé da tribo). Eu tenho que pensar em alguma coisa, pois o medo me congela a alma. Barulhos ensurdecedores rodeiam a minha cabana e não tenho ideia de que ou de quem se trata. Como vencer o medo numa ocasião dessas? Responda-me, leitor, pois eu não sei. A montanha é ainda desconhecida para mim.

O barulho se aproxima cada vez mais, e eu não tenho para onde fugir. Sair da cabana é uma temeridade, pois poderei ser devorado por animais ferozes. Eu vou ter de enfrentar seja o que for. O barulho cessa, e uma luz surge. Ela me deixa com mais medo ainda. Com um ímpeto de coragem, exclamo:

– Quem é, em nome de Deus?

Uma voz, fanhosa e obscura, responde:

– Sou o bravo guerreiro a quem a gruta do desespero destruiu. Desista de seu sonho, ou terá o mesmo fim. Eu era um pequeno indígena duma aldeia da nação xukuru. Ambicionava ser chefe supremo da minha tribo e ser mais forte que o leão. Então procurei a montanha sagrada para realizar meus objetivos. Venci os três desafios que a guardiã da montanha me impôs. Porém, ao entrar na gruta, fui devorado pelo seu fogo, que estraçalhou meu coração e meus objetivos. Hoje meu espírito sofre e está preso irremediavelmente a essa montanha. Escute-me, ou você terá o mesmo fim.

A minha voz congelou em minha garganta e por instantes não pude responder ao espírito atormentado. Tinha deixado para trás abrigo, alimento, um calor familiar. Eu estava a dois desafios da gruta. A gruta que poderia tornar a impossível realidade. Eu não desistiria facilmente do meu sonho.

– Escute-me, você, bravo guerreiro. A gruta não realiza sonhos mesquinhos. Se estou aqui, é por um motivo nobre. Eu não ambiciono bens materiais. O meu sonho vai além disso. Quero realizar-me profissional e espiritualmente. Em suma, quero trabalhar no que gosto, ganhar dinheiro com responsabilidade e contribuir com o meu talento para um universo melhor. Eu não desistirei do meu sonho tão facilmente.

O fantasma retrucou:

– Você conhece a gruta e suas armadilhas? Você não passa de um pobre jovem que desconhece a alta periculosidade do caminho que está traçando. A guardiã é uma charlatã que o está enganando. Ela quer a sua ruína.

A insistência do fantasma me aborreceu. Ele me conhecia, por acaso? Deus, em sua benignidade, não permitiria meu fracasso. Deus e a Virgem Maria estavam efetivamente ao meu lado, sempre. As provas disso foram as várias aparições da Virgem em minha vida. Em Visão de um médium (livro que eu não publiquei), está descrita a cena em que, sentado em um banco de praça, onde pássaros e o vento me agitavam, pensava no mundo e na vida. Repentinamente, não mais que de repente, apareceu a figura de uma mulher que, ao me ver, indagou:

– Acredita em Deus, meu filho? Eu, prontamente, respondi:

– Certamente e com toda a fé.

Instantaneamente, ela colocou a mão na minha cabeça e orou:

– Que o Deus da glória lhe cubra de luz e o deixe repleto de dons.

Dizendo isso, afastou-se e, quando eu percebi, ela não estava mais do meu lado. Simplesmente desapareceu. Foi a primeira aparição da Virgem em minha vida. Outra vez, disfarçou-se de mendiga e aproximou-se de mim pedindo alguns trocados. Ela falou que era agricultora e ainda não estava aposentada. Prontamente, entreguei-lhe algumas moedas que tinha em meu bolso. Ao receber o dinheiro, agradeceu e, quando percebi, havia sumido. Na montanha, naquele momento, eu não tinha a menor dúvida de que Deus me amava e estava ao meu lado. Por conseguinte, respondi ao fantasma com certa rudeza.

 

– Eu não ouvirei seus conselhos. Eu conheço meus limites e minha fé. Vá embora! Vá assombrar uma casa ou qualquer outro lugar. Deixe-me em paz!

A luz apagou-se, e escutei o barulho de passos afastando- se da cabana. Eu estava livre do fantasma.

O dia D

Passaram-se os três dias que me separavam do segundo desafio. Era uma manhã de sexta-feira, clara, ensolarada e resplandecente. Estava eu contemplando o horizonte dessa manhã, quando a estranha senhora se aproximou.

– Está preparado? Procure um fato inusitado na mata e aja conforme seus princípios. É o seu segundo teste.

– Está bem. Há três dias espero por esse momento. Acredito que estou preparado.

Apressadamente, dirigi-me à trilha mais próxima que dava acesso à mata. Os meus passos seguiam uma cadência quase musical. Em que consistia realmente esse segundo desafio? A ansiedade tomou conta de mim, e meus passos aceleraram em busca do objetivo desconhecido. Logo à frente, surgiu a mesma clareira em que a trilha se desfazia e bifurcava-se. Quando cheguei lá, para minha surpresa, a bifurcação não existia mais, e pude visualizar a seguinte cena: um menino, arrastado por um adulto, chorava muito. A emoção tomou conta de mim diante da injustiça e por isso bradei:

– Solte o menino! Ele é menor do que você e não pode se defender.

– Não solto! Estou o maltratando porque ele não quer trabalhar.

– Bruto! Meninos não devem trabalhar. Eles devem estudar e ser bem-educados. Solte-o!

– Quem vai me obrigar? Você?

Eu sou totalmente contra a violência, mas nesse momento o meu coração me pediu para reagir ante esse canalha. O menino devia ser solto. Com delicadeza, afastei o menino de perto do bruto e comecei a espancar o homem. O canalha reagiu e me desferiu alguns golpes. Um acertou-me mesmo em cheio. O mundo rodou, e um vento forte penetrante invadiu todo o meu ser: Nuvens brancas, azuis e pássaros ágeis invadiram a minha mente.

Num momento, parecia que todo meu corpo flutuava sob o céu. Uma voz bem fininha me chamou de longe. Noutro momento era como se eu ultrapassasse portas e portas como obstáculos. As portas eram muito bem trancadas, e eu fazia um imenso esforço para abri-las. Cada porta dava acesso a salões ou santuários, alternadamente. No primeiro salão encontrei jovens vestidas de branco, reunidas ao redor de uma mesa onde no centro havia uma Bíblia aberta. Eram as virgens escolhidas para reinar no mundo futuro. Uma força me empurrou para fora do salão e, quando abri a segunda porta, fui parar no primeiro santuário. À beira do altar, estavam sendo queimados incensos com pedidos dos pobres do Brasil. Do lado direito, um sacerdote orava em voz alta e repentinamente começou a repetir: Vidente! Vidente! Vidente! Ao lado dele, havia duas mulheres com camisetas brancas onde estava escrito: sonho possível. Tudo começou a escurecer e, quando dei por mim, fui arrastado violentamente para fora com tal velocidade que me deixou um pouco tonto.

Abri a terceira porta e desta feita encontrei uma reunião de pessoas: um pastor, um padre, um budista, um islamita, um espírita, um judeu e um representante das religiões africanas. Eles estavam dispostos em círculo e no centro havia um fogo, cujas chamas desenhavam a expressão: união dos povos e caminhos para Deus. No fim, eles se abraçaram e me chamaram para o grupo. O fogo se moveu do centro, pousou na minha mão e desenhou a palavra aprendizado. O fogo era pura luz e não provocava queimaduras. O grupo se desfez, o fogo apagou-se e novamente fui empurrado para fora do salão.

Abri a quarta porta. O segundo santuário estava totalmente vazio e aproximei-me do altar. Ajoelhei-me em reverência ao santíssimo, peguei um papel que estava no chão e escrevi meu pedido. Dobrei o papel e coloquei-o aos pés de uma imagem. A voz que estava longe gradativamente tornava- se mais clara e nítida. Saí do santuário, abri a porta e finalmente acordei. Ao meu lado estava a guardiã da montanha.

– Então você acordou? Meus parabéns! Você venceu o desafio. O segundo desafio teve como objetivo explorar sua capacidade de autodoação e ação. Os dois caminhos que representavam as “forças opostas” tornaram-se um só, e isso significa que você deve trilhar o lado direito sem se esquecer do aprendizado que terá ao conhecer o esquerdo. A sua atitude salvou o menino, apesar de que ele não precisasse disso. Toda aquela cena foi uma projeção mental minha para avaliá-lo. Você tomou a atitude certa. A maioria das pessoas, quando se deparam com cenas de injustiça, preferem não se intrometer. A omissão é um pecado grave, e a pessoa torna-se cúmplice do agressor. Você auto doou-se como fez Jesus Cristo por nós. Isso é uma lição que você levará para toda a vida.

– Obrigado por me parabenizar. Eu agiria sempre em favor dos excluídos. O que me intriga é a experiência espiritual que tive agora há pouco. O que significa? Poderia me explicar, por favor.

– Todos nós temos a capacidade de penetrar em outros mundos através do pensamento. É o que se chama viagem astral. Há alguns experts em relação a esse assunto. O que você viu deve estar relacionado ao seu futuro ou ao das pessoas. Nunca se sabe.

– Entendo. Eu subi a montanha, cumpri os dois primeiros desafios e devo estar crescendo espiritualmente. Creio que brevemente estarei pronto para enfrentar a gruta do desespero. A gruta que realiza milagres e torna os sonhos mais profundos.

– Você deve realizar o terceiro desafio, e eu lhe direi qual é amanhã. Aguarde instruções.

– Sim, general. Esperarei ansiosamente. O filho de Deus, como a senhora me denominou, está com muita fome e preparará uma sopa para mais tarde. A senhora está convidada.

– Ótimo. Eu adoro sopa. Aproveitarei para conhecê-lo melhor.

A estranha senhora afastou-se e deixou-me sozinho com meus pensamentos. Fui procurar na mata os ingredientes para a sopa.

A Jovem

A montanha já se encontrava às escuras quando a sopa ficou pronta. O vento frio da noite e o cricri dos insetos tornava o ambiente mais rural. A estranha senhora ainda não se encontrava na cabana. Esperava deixar tudo em ordem até que ela chegasse. Experimentei a sopa: ela realmente havia ficado boa, apesar de que eu não tivesse todos os temperos necessários. Saí um pouco da cabana e contemplei o céu: as estrelas eram testemunhas dos meus esforços. Subi a montanha, encontrei sua guardiã e cumpri dois desafios (um mais difícil do que o outro), encontrei um fantasma e ainda estou de pé. “Os pobres esforçam-se mais por seus sonhos. ” Olho a disposição das estrelas e sua luminosidade. Cada qual tem sua importância no grande universo em que vivemos. As pessoas também são assim, importantes. Sejam brancas, negras, ricas, pobres, da religião A, da religião B, ou de qualquer crença. Todas são filhas do mesmo pai. Eu também quero ter o meu lugar no universo. Sou um ser pensante e sem limites. Creio que um sonho não tem preço e estou disposto a pagá-lo ao entrar na gruta do desespero. Contemplo mais uma vez o céu e volto à cabana. Qual não foi a minha surpresa ao já encontrar a guardiã.

– Você já está aqui? Eu nem me dei conta.

– Você estava tão concentrado em contemplar o céu que não quis quebrar o encanto do momento. Além disso, considero-me de casa.

– Muito bem. Sente-se nesse banco improvisado que fiz. Vou servir a sopa já.

Com a sopa ainda quente, servi a estranha senhora na cuia que eu mesmo encontrei na mata. O vento gelado da noite me acariciou o rosto e sussurrou algumas palavras no meu ouvido. Quem seria aquela estranha senhora que eu estava servindo? Será que ela queria mesmo me destruir como insinuou o fantasma? Eu tinha muitas dúvidas sobre ela e essa era uma ótima oportunidade para saná-las.

– A sopa está boa? Eu prepararei com muito esmero.

– Está ótima! O que você usou para prepará-la?

– É sopa de pedra. Brincadeirinha! Comprei um pássaro de um caçador e usei alguns temperos naturais da mata. Mas, mudando de assunto, quem é você realmente?

– É da boa hospitalidade que o anfitrião fale primeiro sobre si mesmo. Já faz quatro dias que você chegou aqui ao topo da montanha e não sei qual é o seu nome.

– Tudo bem. Mas é uma longa história. Prepare-se. Meu nome é Aldivan Teixeira Tôrres e curso o sétimo período da faculdade de Matemática. Minhas duas grandes paixões são a literatura e a matemática. Eu sempre fui um amante dos livros e desde pequeno ambiciono escrever o meu. Quando eu estava no primeiro ano do ensino médio, eu reuni alguns trechos dos livros de Eclesiastes, Sabedoria e Provérbios. Fiquei muito feliz apesar dos textos não serem da minha autoria. Eu mostrei a todo mundo, com muito orgulho. Terminei o ensino médio, fiz um curso de informática e parei meus estudos por um tempo. Depois, ingressei num curso técnico de Eletrotécnica pertencente na época ao Centro Federal de Educação Tecnológica. No entanto, percebi que não era minha área por um sinal do destino. Eu estava preparado para estagiar nessa área. Porém, no dia anterior ao teste que eu ia fazer, uma força estranha me pedia continuamente para eu desistir. Quanto mais passava o tempo, maior era a pressão exercida por essa força. Até que eu resolvi não fazer o teste. A pressão acalmou, e o meu coração também. Creio que tenha sido um sinal do destino para eu não ir. Temos que respeitar nossos próprios limites. Fiz alguns concursos, fui aprovado e atualmente exerço a função de assistente administrativo educacional. Há três anos tive outro sinal do destino. Eu tive alguns problemas e acabei entrando em crise nervosa. Comecei então a escrever e em pouco tempo isso me ajudou a melhorar. O resultado de tudo foi o livro: Visão de um médium, que não publiquei. Tudo isso me mostrou que eu era capaz de escrever e ter uma profissão digna. Penso que seja isso: quero trabalhar no que gosto e ser feliz. Será que é pedir demais para um pobre?

– Claro que não, Aldivan. Você tem talento e isso é o que é mais raro no mundo. No tempo certo você vencerá. As pessoas vitoriosas são aquelas que acreditam em seus sonhos.

– Eu acredito, sim. Por isso estou aqui nesse fim de mundo, aonde as comodidades da civilização ainda não chegaram. Dispus-me a subir a montanha, a vencer os desafios. Resta-me agora entrar na gruta e realizar os meus sonhos.

– Eu estou aqui para ajudá-lo. Sou a guardiã da montanha desde que ela se tornou sagrada. Minha missão é ajudar todos os sonhadores que buscam a gruta do desespero. Alguns a procuram para realizar sonhos materiais, como dinheiro, poder e ostentação social, ou sonhos egoístas. Todos fracassaram até aqui, e não foram poucos. A gruta é justa com os desejos.

A conversa continuou animada durante algum tempo. Fui perdendo, pouco a pouco, o interesse por ela, pois uma estranha voz me chamava a sair da cabana. Cada vez que essa voz me chamava, eu me sentia compelido a ir por curiosidade. Eu tinha que ir. Queria saber o que significava aquela estranha voz no meu pensamento. Com delicadeza, despedi-me da senhora e pus-me a andar na direção indicada pela voz. O que me espera? Continuemos juntos, leitor.

A noite era fria, e a insistente voz permanecia na minha mente. Era um tipo de ligação estranha entre mime ela. Já tinha andado poucos metros fora da cabana, mas pareciam ser quilômetros pelo cansaço que meu corpo respirava. As instruções que eu recebia mentalmente me guiavam na escuridão. Um misto de cansaço, medo do desconhecido e curiosidade imperavam em meu ser. Quem seria a dona daquela estranha voz? O que queria comigo? A montanha e seus segredos. Desde que a conheci, aprendi a respeitá-la. A guardiã e seus mistérios, os desafios que tive de enfrentar, o encontro com o fantasma, tudo a tornavam especial. Ela não era a mais alta do Nordeste, nem a mais imponente, mas era sagrada. O mito do pajé e os meus sonhos me levaram até ela. Quero vencer todos os desafios, entrar na gruta e fazer o meu pedido. Eu serei um homem transformado. Não serei apenas eu, mas serei o homem que venceu a gruta e seu fogo. Lembro-me bem das palavras da guardiã, para não confiar muito. Lembro-me melhor ainda das palavras de Jesus que disse: “Aquele que acreditar em mim terá vida eterna”.

 

O meu risco de vida não me fará desistir dos meus sonhos. É com esse pensamento que eu permaneço com fé. A voz se tornava cada vez mais forte. Acho que estou chegando ao meu destino. Logo à frente, visualizo uma cabana. A voz me diz para eu ir lá. A cabana e a respectiva fogueira que a ilumina estão num lugar espaçoso e plano. Uma jovem alta, magra e de cabelos negros, assa um tipo de petisco em seu fogo.

– Então você chegou. Eu sabia que você atenderia o meu chamado.

– Quem é você? O que quer de mim?

– Eu sou outra sonhadora que pretende entrar na gruta.

– Que poder especial você tem para me chamar pela mente?

– É telepatia, bobo. Não conhece?

– Eu ouvi falar. Poderia me ensinar?

– Você vai aprender um dia, mas não comigo. Diga-me que sonho traz você aqui?

– Antes de tudo, meu nome é Aldivan. Eu subi a montanha em busca de encontrar minhas forças opostas. Elas definirão o meu destino. Quando alguém é capaz de controlar suas forças opostas pode realizar milagres. É disso que eu preciso para realizar o meu sonho, que é trabalhar no que gosto e, assim, fazer muitos corações sonharem. Quero entrar na gruta não apenas por mim, mas por todo o universo que me proporcionou os dons. Terei o meu lugar no mundo e assim serei feliz.

– Meu nome é Nadja. Sou habitante do litoral pernambucano. Na minha terra ouvi falar dessa miraculosa montanha e de sua gruta. Imediatamente interessei-me em fazer uma viagem até aqui, mesmo pensando que tudo não passava de uma lenda. Reuni as minhas tralhas, parti, cheguei a Mimoso e subi a montanha. Eu tirei mesmo a sorte grande. Agora que estou aqui, entrarei na gruta e realizarei o meu desejo. Serei uma grande deusa, ornada de poder e riquezas. Todos me servirão. O seu sonho é apenas uma bobagem. Para que pedir pouco se podemos ter o mundo?

– Você está enganada. A gruta não realiza desejos mesquinhos. Você vai fracassar. A guardiã não permitirá que você entre nela. Para entrar na gruta, é necessário vencer três desafios. Eu já conquistei duas etapas. Quantas você já venceu?

– Que mané de desafio e de guardiã. A gruta só respeita o mais forte e o mais convicto. Eu realizarei os meus desejos amanhã e ninguém vai me impedir, ouviu?

– Você é quem sabe. Quando quiser se arrepender será tarde demais. Bom, acho que vou indo. Preciso descansar um pouco, pois já é tarde. Quanto a você, não posso desejar boa sorte na gruta, pois quer ser maior do que Deus. Quando o ser humano chega a esse ponto, ele destrói a si mesmo.

– Tudo bobagem e palavras. Nada me fará voltar atrás em minha decisão.

Vendo que ela estava irredutível afastei-me dela com pena. Como as pessoas tornam-se pequenas, às vezes. O ser humano só é digno quando luta por ideais justos e igualitários. Percorrendo a trilha, lembrei-me das vezes que fui injustiçado, por uma prova mal corrigida, ou mesmo pelo descaso dos outros. Isso me deixa inconformado. Além de tudo, a minha família é avessa ao meu sonho e não acredita em mim. Como é doloroso! Um dia eles vão me dar razão e ver que os sonhos podem ser possíveis. Nesse dia, depois que tudo passar, eu cantarei a minha vitória e glorificarei o criador. Ele me deu tudo e só exigiu que eu resplandecesse meus dons, pois, como diz a Bíblia, não se acende uma luz para colocá-la debaixo da mesa, e sim em cima para que todos aplaudam e sejam iluminados. A trilha se desfaz, logo vejo a cabana que tanto suor me custou. Preciso dormir, pois amanhã será outro dia e tenho planos para mim e o mundo. Boa noite, leitores. Até o próximo capítulo.

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