Uma Forja de Valentia

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Из серии: Reis e Feiticeiros #4
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Uma Forja de Valentia
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Morgan Rice

Morgan Rice é a best-seller nº1 e a autora do best-selling do USA TODAY da série de fantasia épica O ANEL DO FEITICEIRO, composta por dezassete livros; do best-seller nº1 da série OS DIÁRIOS DO VAMPIRO, composta por onze livros (a continuar); do best-seller nº1 da série TRILOGIA DA SOBREVIVÊNCIA, um thriller pós-apocalíptico composto por dois livros (a continuar); e da nova série de fantasia épica REIS E FEITICEIROS, composta por três livros (a continuar). Os livros de Morgan estão disponíveis em áudio e versões impressas e as traduções estão disponíveis em mais de 25 idiomas.

TRANSFORMADA (Livro n 1 da série Diários de um Vampiro), ARENA UM  (Livro n 1 da série A Trilogia da Sobrevivência) e EM BUSCA DE HERÓIS (Livro n 1 da série O Anel do Feiticeiro) e A ASCENÇÃO DOS DRAGÕES (Reis e Feiticeiros – Livro n 1) estão disponíveis gratuitament!

Morgan adora ouvir a sua opinião, pelo que, por favor, sinta-se à vontade para visitar www.morganricebooks.com e juntar-se à lista de endereços eletrónicos, receber um livro grátis, receber ofertas, fazer o download da aplicação grátis, obter as últimas notícias exclusivas, ligar-se ao Facebook e ao Twitter e manter-se em contacto!

Aclamações selecionadas para Morgan Rice

"Se pensava que já não havia motivo para viver depois do fim da série O ANEL DO FEITICEIRO, estava enganado. Em A ASCENSÃO DOS DRAGÕES Morgan Rice surgiu com o que promete ser mais uma série brilhante, fazendo-nos imergir numa fantasia de trolls e dragões, de bravura, honra, coragem, magia e fé no seu destino. Morgan conseguiu mais uma vez produzir um conjunto forte de personagens que nos faz torcer por eles em todas as páginas… Recomendado para a biblioteca permanente de todos os leitores que adoram uma fantasia bem escrita."

--Books and Movie Reviews
Roberto Mattos

"A ASCENSÃO DOS DRAGÕES sucede – logo desde o início… Uma fantasia superior… Começa, como devia, com as lutas e movimentações ordenadas de um protagonista num círculo mais amplo de cavaleiros, dragões, magia e monstros e destino… Toda a ornamentação da alta fantasia está aqui, desde os soldados e batalhas a confrontações com o próprio. Uma vencedora recomendada para qualquer um que aprecia a escrita de fantasia épica alimentada por protagonistas jovens adultos poderosos e confiáveis."

--Midwest Book Review
D. Donovan, eBook Reviewer

"Uma ação carregada de fantasia que irá certamente agradar aos fãs das histórias anteriores de Morgan rice, juntamente com os fãs de trabalhos tais como O CICLO DA HERANÇA de Christopher Paolini…Fãs de ficção para jovens adultos irão devorar este último trabalho de Rice e suplicar por mais."

--The Wanderer, A Literary Journal (regarding Rise of the Dragons)

"Uma fantasia espirituosa que entrelaça elementos de mistério e intriga no seu enredo. EM BUSCA DE HERÓIS tem tudo a ver com a criação da coragem e com a compreensão do propósito da vida e como estas levam ao crescimento, maturidade e excelência… Para os que procuram aventuras de fantasia com sentido, os protagonistas, estratagemas e ações proporcionam um conjunto vigoroso de encontros que se relacionam com a evolução de Thor desde uma criança sonhadora a um jovem adulto que procura a sobrevivência apesar das dificuldades… Apenas o princípio do que promete ser uma série de literatura juvenil épica."

--Midwest Book Review (D. Donovan, eBook Reviewer)

"O ANEL DO FEITICEIRO reúne todos os ingredientes para um sucesso instantâneo: enredos, intrigas, mistério, valentes cavaleiros e relacionamentos repletos de corações partidos, decepções e traições. O livro manterá o leitor entretido por horas e agradará a pessoas de todas as idades. Recomendado para fazer parte da biblioteca permanente de todos os leitores do género de fantasia."

--Books and Movie Reviews, Roberto Mattos.

"Neste primeiro livro cheio de ação na série de fantasia épica Anel do Feiticeiro (que conta atualmente com 14 livros), Rice introduz os leitores ao Thorgrin de 14 anos "Thor" McLeod, cujo sonho é juntar-se à Legião de Prata, os cavaleiros de elite que servem o rei… A escrita de Rice é sólida e a premissa intrigante."

--Publishers Weekly
Livros de Morgan Rice

REIS E FEITICEIROS

A ASCENSÃO DOS DRAGÕES (Livro n 1)

A ASCENSÃO DOS BRAVOS (Livro n 2)

O PESO DA HONRA (Livro n 3)

UMA FORJA DE VALENTIA (Livro n 4)

O ANEL DO FEITICEIRO

EM BUSCA DE HERÓIS (Livro n 1)

UMA MARCHA DE REIS (Livro n 2)

UM DESTINO DE DRAGÕES (Livro n 3)

UM GRITO DE HONRA (Livro n 4)

UM VOTO DE GLÓRIA (Livro n 5)

UMA CARGA DE VALOR (Livro n 6)

UM RITO DE ESPADAS (Livro n 7)

UM ESCUDO DE ARMAS (Livro n 8)

UM CÉU DE FEITIÇOS (Livro n 9)

UM MAR DE ESCUDOS (Livro n 10)

UM REINADO DE AÇO (Livro n 11)

UMA TERRA DE FOGO (Livro n 12)

UM GOVERNO DE RAINHAS (Livro n 13)

UM JURAMENTO DE IRMÃOS (Livro n 14)

UM SONHO DE MORTAIS (Livro n 15)

UMA JUSTA DE CAVALEIROS (Livro n 16)

O PRESENTE DA BATALHA (Livro n 17)

TRILOGIA DE SOBREVIVÊNCIA

RENA UM: TRAFICANTES DE ESCRAVOS (Livro n 1)

ARENA DOIS (Livro n 2)

MEMÓRIAS DE UM VAMPIRO

TRANSFORMADA (Livro n 1)

AMADA (Livro n 2)

TRAÍDA (Livro n 3)

PREDESTINADA (Livro n 4)

DESEJADA (Livro n 5)

COMPROMETIDA (Livro n 6)

PROMETIDA (Livro n 7)

ENCONTRADA (Livro n 8)

RESSUSCITADA (Livro n 9)

ALMEJADA (Livro n 10)

DESTINADA (Livro n 11)

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Copyright © 2015 por Morgan Rice

Todos os direitos reservados. Exceto conforme permitido pela Lei de Direitos de Autor dos EUA de 1976, nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, distribuída ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, ou armazenada numa base de dados ou sistema de recuperação, sem a autorização prévia da autora.

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Esta é uma obra de ficção.  Nomes, personagens, empresas, organizações, lugares, eventos e incidentes são produto da imaginação do autor ou foram usados de maneira fictícia.  Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou falecidas, é mera coincidência.

Imagem da capa Copyright St. Nick, usada com autorização da Shutterstock.com.

"A valentia é superior ao número."

Flavius Vegetius Renatus
(Século IV)


CAPÍTULO UM

A porta da cela bateu. Duncan abriu os olhos devagar, desejando não o ter feito. A sua cabeça latejava, tinha um olho selado e esforçava-se para sacudir o sono pesado. Uma dor aguda atravessou-lhe o olho bom quando ele se inclinou contra a rocha fria e dura. Pedra. Ele estava deitado sobre pedra fria e húmida. Tentou sentar-se e sentiu um puxão do ferro, que chocalhava, nos seus pulsos e tornozelos e, imediatamente, percebeu: correntes. Estava numa masmorra.

Um prisioneiro.

Duncan abriu mais os olhos quando ouviu o som distante de botas a marchar, ecoando algures na escuridão. Tentou orientar-se. Estava escuro lá dentro, com as paredes de pedra mal iluminadas por tochas que cintilavam ao longe, por um pequeno raio de sol de uma janela demasiado alta para se conseguir ver. A luz pálida filtrada até abaixo, austera e solitária, como se fosse de um mundo a milhas de distância. Ao longe, ele ouvia gotas de água a pingar, um arrastar de botas. Mal conseguia distinguir os contornos da cela. Era grande, com as paredes de pedra arqueadas, com muitas bordas escuras que desapareciam na escuridão.

Dos seus anos na capital, Duncan soube imediatamente onde estava: na masmorra real. Era para onde eles enviavam os piores criminosos do reino, os inimigos mais poderosos, deixando-os a para apodrecer no resto dos seus dias – ou a aguardar a sua execução. Duncan, ele próprio, tinha enviado muitos homens para ali, quando tinha servido ali, no legado do Rei. Era um lugar, ele sabia demasiado bem, do qual os prisioneiros não ressurgiam.

Duncan tentou mover-se, mas as suas correntes não o deixavam, cortando-lhe os pulsos e tornozelos feridos e sangrentos. Estes, porém, eram o menor dos seus males; todo o seu corpo lhe doía e latejava, com tanta dor que ele mal conseguia decifrar onde lhe doía mais. Ele sentiu como se lhe tivessem batido mil vezes, espezinhado por um exército de cavalos. Doía-lhe respirar e ele abanava a cabeça, tentando fazer com que a dor se fosse embora. Mas não ia.

 

Ao fechar os olhos e lamber os seus lábios rachados, Duncan via flashes. A emboscada. Tinha sido ontem? Há uma semana? Ele já não se conseguia lembrar. Ele tinha sido traído, cercado, seduzido por promessas de um falso negócio. Ele havia confiado em Tarnis e Tarnis, também, tinha sido morto, diante dos seus olhos.

Duncan lembrava-se dos seus homens a baixar as armas sob o seu comando; lembrava-se de ser detido; e, pior de tudo, lembrava-se dos assassinos de seus filhos.

Ele abanou a cabeça uma e outra vez enquanto gritava em agonia, tentando inutilmente limpar as imagens da sua mente. Estava sentado com a cabeça entre as mãos, os cotovelos sobre os joelhos e gemia com o pensamento. Como podia ter sido tão estúpido? Kavos tinha-o avisado e ele não tinha dado atenção à advertência, sendo ingenuamente otimista, pensando que seria diferente desta vez, que se podia confiar nos nobres. Ele tinha encaminhado os seus homens para uma armadilha, diretamente para um antro de cobras.

Duncan odiava-se por isso, mais do que ele conseguia dizer. O seu único lamento era ainda estar vivo, era não ter morrido lá com os seus filhos e com todos os outros que tinha desapontado.

Os passos ouviam-se mais alto e Duncan olhou para cima e semicerrou os olhos para a escuridão. Lentamente, surgiu a silhueta de um homem, bloqueando o eixo da luz solar, aproximando-se até ficar apenas a alguns pés de distância. Quando o rosto do homem tomou forma, Duncan recuou com o reconhecimento. O homem, facilmente distinguível na sua veste aristocrática, usava o mesmo olhar pomposo que tinha usado quando peticionou Duncan para a realeza, ao tentar trair o seu pai. Enis. O filho de Tarnis.

Enis ajoelhou-se diante de Duncan, com um orgulhoso sorriso vitorioso no rosto, a longa cicatriz vertical no seu ouvido percetível quando ele olhou para ele com os seus ocos olhos desleais. Duncan sentiu uma onda de repulsa, um ardente desejo de vingança. Ele cerrou os punhos, querendo atirar-se ao rapaz, para despedaçá-lo com as suas próprias mãos. Este rapaz tinha sido responsável pela morte dos seus filhos, pelo aprisionamento dos seus homens. Apenas as correntes o impediam de o matar.

"A vergonha do ferro", Enis comentou, a sorrir. "Aqui estou eu ajoelhado, apenas a umas polegadas de ti e tu impotente para me tocar."

Duncan olhou para ele, desejando conseguir falar. No entanto, estava exausto demais para formar palavras. A sua garganta estava muito seca, os lábios muito ressequidos e ele precisava de conservar a sua energia. Ele perguntava-se há quantos dias não bebia água, há quanto tempo estaria ali em baixo. Aquele canalha, de qualquer das formas, não merecia o seu discurso.

Enis estava ali por uma razão; era claro que ele queria alguma coisa. Duncan não tinha falsas ilusões: ele sabia que, independentemente do que aquele rapaz tivesse a dizer, a sua execução era iminente. O que era o que ele queria, de qualquer maneira. Agora que os seus filhos estavam mortos, os seus homens presos, já nada lhe restava neste mundo. Já não havia mais nenhuma outra maneira de escapar da sua culpa.

"Estou curioso", disse Enis, com uma voz habilidosa. "Qual é a sensação? Qual é a sensação de ter traído todos os que conheces e amas, todos os que confiavam em ti?"

Duncan sentiu a sua raiva irromper. Incapaz de manter o silêncio por mais tempo, conseguiu arranjar forças para falar.

"Eu não traí ninguém," ele conseguiu dizer, com uma voz grave e rouca.

"Não?", retorquiu Enis, claramente a divertir-se. "Eles confiaram em ti. Tu encaminhaste-os diretamente para uma emboscada, para a rendição. Tiraste-lhes a última coisa que lhes restava: o seu orgulho e honra."

Duncan irritava-se a cada respiração.

"Não", respondeu finalmente, após um longo e pesado silêncio. "Tu é que o fizeste. Eu confiei no teu pai e ele confiou em ti".

"Confiança", riu-se Enis. "Que conceito ingénuo. Será que realmente achas que a vida dos homens se suporta em confiança? "

Ele riu-se novamente e Duncan irritou-se.

"Os líderes não confiam", continuou ele. "Os líderes duvidam. Esse é o seu trabalho, ser cético em nome de todos os seus homens. Os comandantes protegem os homens da batalha – mas os líderes devem proteger os homens do engano. Tu não és um líder. Falhaste em tudo".

Duncan respirou fundo. Uma parte dele não conseguia evitar dar razão a Enis, por muito que lhe custasse admitir. Ele tinha falhado com os seus homens e isso era a pior sensação da sua vida.

"É por isso que vieste até aqui?", disse Duncan finalmente. "Para te regozijares sobre o engano?"

O rapaz sorriu, com um feio sorriso maligno.

"Tu és o meu assunto agora", respondeu ele. "Eu sou o teu novo Rei. Eu posso ir a qualquer lugar, a qualquer hora que queira, por qualquer motivo, ou por nenhuma razão. Talvez eu só goste de olhar para ti, deitado aqui na masmorra, todo partido como estás."

Duncan respirou, com cada respiração a doer-lhe, mal conseguindo controlar a sua raiva. Ele queria magoar aquele homem mais do que alguém que ele alguma vez já tivesse conhecido.

"Diz-me", disse Duncan, querendo magoá-lo. "Qual foi a sensação de assassinar o teu pai?"

A expressão de Enis endureceu-se.

"Não tão boa como a que vou sentir quando te vir morrer na forca", ele respondeu.

"Então fá-lo agora", disse Duncan, sentindo-o.

Enis sorriu, apesar de tudo, abanando a cabeça.

"Não vai ser assim tão fácil para ti", respondeu ele. "Primeiro, vou ver-te a sofrer. Eu quero que primeiro vejas o que será do teu amado país. Os teus filhos estão mortos. Os teus comandantes estão mortos. Anvin e Durge e todos os teus homens que estavam no Portão do Sul estão mortos. Milhões de Pandesianos invadiram a nossa nação."

Duncan ficou desolado com as palavras do rapaz. Parte dele questionava-se se isto seria um truque, mas ele sentia que era tudo verdade. Ele sentia-se a afundar a cada proclamação.

"Todos os teus homens estão presos e Ur está a ser bombardeada por mar. Portanto repara, falhaste miseravelmente. Escalon está muito pior do que antes e tu não podes culpar ninguém para além de ti próprio".

Duncan abanou-se com raiva.

"E quanto tempo até que o grande opressor se vire contra ti? Achas realmente que vais ficar isento, que vais escapar da ira da Pandesia? Que eles vão permitir que sejas Rei? Para governar como o teu pai fez em tempos?", perguntou Duncan.

Enis sorriu largamente, resoluto.

"Eu sei que vão", disse ele.

Ele inclinou-se de perto, tão perto que Duncan podia sentir o seu mau hálito.

"Repara, eu fiz um negócio com eles. Um negócio muito especial para garantir o meu poder, um negócio que era demais para eles recusarem".

Duncan não se atreveu a perguntar o que era, mas Enis sorriu largamente e inclinou-se.

"A tua filha", ele sussurrou.

Os olhos de Duncan arregalaram-se.

"Achas realmente que conseguias esconder-me o paradeiro dela?", pressionou Enis. "Enquanto falamos, os Pandesianos estão a apertar o cerco sobre ela. E esse presente vai cimentar o meu lugar no poder".

As correntes de Duncan chocalharam, com o barulho a ecoar por toda a masmorra, enquanto ele lutava com todas as forças que tinha para se libertar e atacar, num desespero para além do que conseguia suportar.

"Porque vieste?", perguntou Duncan, sentindo-se muito mais velho, com a voz debilitada. "O que é que queres de mim?"

Enis sorriu ironicamente. Ele ficou em silêncio por um longo período e, finalmente, suspirou.

"Creio que o meu pai queria algo de ti", disse ele lentamente. "Ele não te teria convocado, não teria intermediado aquele acordo, a menos que quisesse. Ele ofereceu-te uma grande vitória com os Pandesianos – e, em troca, ele teria pedido algo. O quê? O que era? Que segredo é que ele escondia?"

Duncan olhou para ele, resoluto, não se importando mais.

"O teu pai queria alguma coisa", disse ele, criando atrito. "Algo honroso e sagrado. Algo que ele apenas podia confiar a mim. Não ao seu próprio filho. Agora eu sei porquê."

Enis riu-se sarcasticamente, corando.

"Se os meus homens morreram por nada", Duncan continuou, "foi por essa questão de honra e de confiança – uma que eu nunca iria quebrar. É por isso que nunca saberás."

Enis enfureceu-se e Duncan teve o prazer de vê-lo enraivecido.

"Guardarias ainda assim os segredos do meu falecido pai, o homem que te traiu a ti e a todos os teus homens?"

"Tu é que me traíste, não ele", Duncan corrigiu, "Ele era um bom homem que uma vez cometeu um erro. Tu, por outro lado, és um nada. Tu és apenas uma sombra do teu pai."

Enis ficou carrancudo. Ele lentamente levantou-se, em toda a sua estatura, inclinou-se e cuspiu ao lado de Duncan.

"Vais dizer-me o que ele queria", ele insistiu. "O quê – ou quem – ele estava a tentar esconder. Se o fizeres, eu posso ser misericordioso e libertar-te. Se não, não só te acompanho, eu próprio, até à forca, como garanto que morres da forma mais macabra que se possa imaginar. A escolha é tua e não há como voltar atrás. Pensa bem, Duncan."

Enis virou-se para sair, mas Duncan gritou.

"Podes ter a minha resposta agora, se quiseres", respondeu Duncan.

Enis virou-se com um olhar de satisfação no rosto.

"Eu escolho a morte", respondeu ele e, pela primeira vez, conseguiu sorrir. "Afinal, a morte não é nada comparada com a honra."

CAPÍTULO DOIS

Dierdre, que limpava o suor da testa ao labutar na forja, sentou-se, de repente, sacudida por um barulho estrondoso. Era um ruído distinto, que a colocou de alerta, um barulho que subiu acima do ruído de todos os martelos que martelavam as bigornas. Todos os homens e mulheres ao redor dela pararam, também, pousaram as armas inacabadas e olharam lá para fora, intrigados.

Aconteceu novamente, soando como um trovão rolando ao vento, soando como se a própria estrutura da terra estivesse a ser dilacerada.

E novamente.

Finalmente, Dierdre percebeu: sinos de ferro. Eles estavam a badalar, aterrorizando-a com as batidas consecutivas que ecoavam por toda a cidade. Eram sinos de alerta, de perigo. Sinos de guerra.

Simultaneamente o povo de Ur, ansioso por ver, saltou das suas mesas e correu para fora da forja. Dierdre foi a primeira, acompanhada pelas suas miúdas e por Marco e seus amigos. Todos irromperam para as ruas, inundadas por cidadãos preocupados, reunindo-se na direção dos canais para obter uma melhor visão. Dierdre olhava para todo o lado à procura, esperando, com aqueles sinos, ver a sua cidade invadida por navios, por soldados. No entanto, não viu nada.

Intrigada, ela dirigiu-se para as enormes torres de vigia empoleiradas na borda do Arrependimento, querendo ter uma visão melhor.

"Dierdre!"

Ela virou-se e viu o seu pai e os seus homens, todos também a correr para as torres de vigia, ansiosos por obter uma vista desafogada para o mar. Todas as quatro torres tocaram freneticamente, algo que nunca tinha acontecido, como se a própria morte se estivesse a aproximar da cidade.

Dierdre juntou-se ao seu pai e começaram a correr, virando pelas ruas abaixo e subindo uma escadaria de pedra, até finalmente chegarem ao topo da muralha da cidade, à beira do mar. Ela parou ali, ao lado dele, atordoada com a visão diante dela.

Era como se o seu pior pesadelo tivesse ganho vida, algo que ela desejava nunca ter visto na sua vida: todo o mar, todo o caminho até ao horizonte, estava preenchido de preto. Os navios negros da Pandesia, tão próximos uns dos outros que cobriam a água, pareciam cobrir o mundo inteiro. Pior de tudo, todos se dirigiam numa força singular para a sua cidade.

Dierdre ficou congelada, olhando para a morte que aí vinha. Não havia nenhuma maneira de eles se conseguirem defender contra uma frota daquele tamanho, não com as suas correntes inadequadas e não com suas espadas. Quando os primeiros navios atingissem os canais, eles podiam entravá-los, talvez, atrasá-los. Podiam, talvez, matar centenas ou mesmo milhares de soldados.

Mas não os milhões que ela via à sua frente.

Dierdre sentiu-se dilacerada ao olhar para o seu pai e para os soldados dele e ver o mesmo pânico silencioso nos seus rostos. O seu pai olhou de uma forma corajosa para os seus homens, mas ela conhecia-o. Ela podia ver o fatalismo nos seus olhos, podia ver a luz a desvanecer-se a partir deles. Todos eles, claramente, estavam a olhar para as suas mortes, no final da sua grande e antiga cidade.

 

Ao lado dela, Marco e os seus amigos olhavam aterrorizados, mas também com determinação. Nenhum deles, para seu crédito, se virou e fugiu. Ela procurou no mar de rostos por Alec, mas estava intrigada por não encontrá-lo em lado nenhum. Questionava-se onde ele poderia ter ido. De certeza que ele não tinha fugido?

Dierdre manteve-se firme e agarrou com força a sua espada. Ela sabia que a morte estava a chegar – só não esperava que fosse tão cedo. Ela, porém, já tinha terminado de fugir de quem quer que fosse.

O seu pai virou-se para ela e agarrou-a pelos ombros com urgência.

"Tens de deixar a cidade", ele exigiu.

Dierdre viu o amor paterno nos seus olhos e isso emocionou-a.

"Os meus homens vão escoltar-te", acrescentou. "Eles podem levar-te para longe daqui. Vai agora! E lembra-te de mim."

Dierdre enxugou uma lágrima quando viu o seu pai a olhar para ela com tanto amor. Ela sacudiu a cabeça e afastou as mãos dele.

"Não pai", disse ela. "Esta é a minha cidade e eu vou morrer a teu…"

Antes que ela conseguisse terminar as suas palavras, uma horrível explosão cortou o ar. Ao princípio ela ficou confusa, pensando que era outro sino, mas depois apercebeu-se – era fogo de canhão. Não apenas de um canhão, mas de centenas deles.

As ondas de choque, por si só, fizeram com que Dierdre se desequilibrasse, atravessando a atmosfera com tal força, que ela sentiu como se os seus ouvidos tivessem ficado divididos em dois. Depois ouviu-se o apito estridente das balas de canhão e, ao olhar para o mar, ela sentiu uma onda de pânico ao ver centenas de balas de canhão maciças, como caldeirões de ferro no céu, arqueando lá no alto e indo diretas para a sua amada cidade.

Seguiu-se outro som, pior do que o último: o som de ferro a esmagar pedra. O próprio ar retumbou ao ouvir-se uma explosão após a outra. Dierdre tropeçou, caindo, enquanto tudo ao seu redor, os grandes edifícios de Ur, as obras arquitetónicas, os monumentos que existiam há milhares de anos, eram destruídos. Aqueles edifícios de pedra, com dez pés de espessura, igrejas, torres de vigia, fortificações, ameias – tudo, para seu horror – ficaram esmagados em pedaços por causa das balas de canhão. Desintegraram-se diante de seus olhos.

Os edifícios caíam no chão uns após os outros, provocando uma avalanche de escombros.

Era repugnante assistir. Ao rebolar pelo chão Dierdre viu uma torre de pedra com cem pés começar a cair ao seu lado. Impotente para fazer alguma coisa a não ser observar, ela via centenas de pessoas por baixo da torre a olhar para cima e a gritar em pânico enquanto a parede de pedra os esmagava.

Seguiu-se outra explosão.

E outra.

E outra.

A toda a volta, cada vez mais e mais edifícios explodiam e caíam. Milhares de pessoas eram instantaneamente esmagadas em plumas maciças de poeira e detritos. Calhaus rebolavam por toda a cidade como seixos enquanto os edifícios caíam uns sobre os outros, desintegrando-se ao aterrarem no chão. E ainda assim as balas de canhão continuavam a chegar, despedaçando os edifícios preciosos uns após o outros, transformando aquela cidade, em tempos majestosa, num monte de escombros.

Dierdre finalmente conseguiu levantar-se. Olhou à volta, atordoada, com os ouvidos a zumbir. Entre nuvens de pó, viu ruas cheias de cadáveres, poças de sangue, como se toda a cidade tivesse sido dizimado num instante. Ela olhou para os mares e viu os outros milhares de navios à espera para atacar, percebendo que todo o seu planeamento tinha ficado muito aquém. Ur já estava destruída e os navios não tinham sequer tocado a costa. De que serviriam agora todas aquelas armas, todas aquelas correntes e espigões?

Dierdre ouviu gemidos. Olhou e viu um dos bravos homens do seu pai, um homem que ela havia amado perdidamente, morto no chão perto dela, esmagado por uma pilha de escombros que deveria ter caído sobre ela, se ela não tivesse tropeçado e caído. Ela ia ajudá-lo – quando o ar de repente abanou com o rugido de uma nova rodada de balas de canhão.

E outro.

Seguiram-se assobios e, depois, mais explosões, mais prédios a cair. Os escombros estavam cada vez mais empilhados e mais pessoas morriam. Ao pôr-se de pé mais uma vez, uma parede de pedra desabou ao seu lado e por pouco não lhe acertou.

Houve uma pausa nos disparos e Dierdre pôs-se de pé. Uma parede de escombros bloqueava agora a sua visão do mar, mas ela sentia que os Pandesianos estavam agora perto, na praia, sendo por isso que os disparos haviam parado. Grandes nuvens de poeira pairavam no ar e, no estranho silêncio, apenas se ouviam os gemidos dos moribundos ao redor dela. Ela viu Marco ao seu lado, a chorar de angústia enquanto tentava libertar o corpo de um dos seus amigos. Dierdre olhou para baixo e viu que o rapaz já estava morto, esmagado sob o muro do que tinha sido outrora um templo.

Ela virou-se, lembrando-se das suas miúdas, ficando devastada ao ver que várias delas também tinham sido esmagadas até a morte. Mas três delas tinham sobrevivido, tentando, sem sucesso, salvar os outros.

Ouviu-se o grito dos Pandesianos, a pé, na praia, avançando para Ur. Dierdre pensava na proposta do seu pai e sabia que os homens dele ainda conseguiam levá-la para longe dali. Ela sabia que permanecer ali significaria a sua morte – no entanto era isso que ela queria. Ela não iria fugir.

Ao lado dela, o seu pai, com um corte na testa, levantou-se dos escombros, tirou a espada e, sem medo, avançou com os seus homens para um ataque à pilha de escombros. Ele estava, ela apercebeu-se orgulhosamente, apressando-se para enfrentar o inimigo. Seria agora uma batalha em pé. Centenas de homens reuniram atrás dele, todos a avançar com tal destemor que a encheu de orgulho.

Ela seguiu-o, sacando da sua espada e escalando os enormes pedregulhos à sua frente, pronta para a batalha ao seu lado. Ao subir ao topo, ela parou, atordoada com a visão diante dela: milhares de soldados Pandesianos, na sua armadura amarela e azul, enchiam a praia, a avançar para o monte de escombros. Estes homens estavam bem treinados, bem armados e não estavam cansados – ao contrário dos homens do seu pai, que eram apenas algumas centenas, com armas rudimentares e todos já feridos.

Seria, ela sabia, um massacre.

E, no entanto, o seu pai não desistiu. Naquele momento, ela, mais do que nunca, estava orgulhosa dele. Lá estava ele, muito orgulhoso, com os seus homens reunidos à sua volta, todos prontos para avançar para baixo na direção do inimigo, mesmo que isso significasse uma morte certa. Era, para ela, a própria personificação da valentia.

Enquanto estava ali, antes de descer, ele virou-se e olhou para Dierdre com um olhar de um amor tal. Houve um adeus nos seus olhos, como se soubesse que nunca mais a iria ver novamente. Dierdre ficou confusa – tinha a espada à mão e estava preparada para atacar juntamente com ele. Porque é que ele lhe estava a dizer adeus agora?

De repente, ela sentiu umas mãos fortes a agarrá-la por trás e a puxá-la. Ela virou-se e viu que eram dois dos comandantes de confiança do seu pai que a estavam a agarrar. Um grupo dos homens dele também agarrou as três miúdas restantes, Marco e os seus amigos. Ela resistiu e protestou, mas foi inútil.

"Deixa-me ir!", gritou ela.

Eles ignoravam os seus protestos enquanto a arrastavam para fora dali, claramente aos comandos do seu pai. Ela conseguiu ver o seu pai, num último olhar, antes de ele levar os seus homens para o outro lado dos escombros num grande grito de guerra.

"Pai!", gritou.

Ela sentiu-se destroçada. Exatamente quando ela estava a admirar novamente o pai que amava, ele estava a ser-lhe retirado. Ela queria desesperadamente estar com ele. Mas ele já se tinha ido embora.

Dierdre viu-se atirada para um pequeno barco e, imediatamente, os homens começaram a remar pelo canal abaixo, longe do mar. O barco virou de novo e de novo, cortando pelos canais, indo em direção a uma abertura secreta de lado num dos muros. À sua frente apareceu um baixo arco de pedra e Dierdre reconheceu imediatamente para onde estavam a ir: o rio subterrâneo. Do outro lado do referido muro estava uma corrente em fúria que os levaria para longe da cidade. Ela iria surgir em algum lugar a muitas milhas de distância dali, sã e salva no campo.

Todas as suas miúdas olhavam para ela, como se estivessem a perguntar o que deviam fazer. Dierdre chegou a uma decisão imediata. Ela fingiu concordar com o plano para que todos eles se fossem. Ela queria que todos eles fugissem, para se libertarem deste lugar.

Dierdre esperou até ao último momento e, pouco antes de eles entrarem, saltou do barco, mergulhando nas águas do canal. Marco, para surpresa dela, viu-a e saltou também. Isso deixou-os apenas aos dois a flutuarem no canal.

"Dierdre!", gritaram os homens do seu pai.

Eles viraram-se para agarrá-la – mas já era tarde demais. Ela havia cronometrado na perfeição e eles já tinham sido apanhados pelas correntes agitadas, afastando-os do barco.

Dierdre e Marco viraram-se e nadaram rapidamente na direção de um barco abandonado, embarcando nele. Ficaram ali sentados, encharcados, a olharem um para o outro, ambos a respirar com dificuldade, exaustos.

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