Uma Carga de Valor

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Из серии: Anel Do Feiticeiro #6
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CAPÍTULO SEIS

Kendrick estava ali no amplo patamar da borda do Canyon, observando através da névoa serpenteante. Enquanto ele olhava, seu coração estava partindo-se por dentro. Ele se sentia arrasado ao ver sua irmã daquele jeito, se sentia destroçado, como se ele próprio tivesse sido atacado. Ele podia ver nos rostos de todos os silesianos que eles consideravam Gwen como mais do que apenas um líder, todos eles a viam como parte de sua família. Eles estavam desanimados, também. Era como se Andronicus tivesse ferido a todos.

Kendrick sentia-se culpado. Ele deveria ter calculado que sua irmã mais nova faria algo assim, já que ele sabia o quanto ela era corajosa; o quanto ela era orgulhosa. Ele deveria ter previsto que ela iria tentar entregar-se antes que qualquer um deles tivesse a chance de detê-la. Ele deveria ter encontrado uma maneira de impedi-la de fazer isso. Ele conhecia a natureza dela, sabia como ela era confiável, conhecia seu bom coração e ele, como um guerreiro também sabia, melhor do que ela, da brutalidade de certos líderes. Ele era mais velho e mais sábio do que ela e ele sentia que a havia decepcionado.

Kendrick também se sentia culpado por tudo aquilo, aquela situação terrível era uma carga pesada demais para ser colocada na cabeça de uma única pessoa: um governante recém-coroado, uma garota de dezesseis anos de idade. Ela não devia ter suportado o peso daquela situação sozinha. Tal decisão de peso teria sido difícil até mesmo para sua própria cabeça, até mesmo para a cabeça de seu pai. Gwendolyn fez o melhor que podia ser feito naquelas circunstâncias, e, talvez melhor do que qualquer um deles teria feito. O próprio Kendrick não tinha tido a menor ideia de como lidar com Andronicus. Nenhum deles tinha.

Kendrick pensou em Andronicus e seu rosto ficou vermelho de raiva. Ele era um líder sem moral, sem princípios, sem humanidade. Estava claro para Kendrick que se eles se rendessem naquele momento, todos iriam ter o mesmo destino: Andronicus iria matar ou escravizar todos e cada um deles.

Algo havia mudado no ar. Kendrick podia ver nos olhos de todos os homens e podia senti-lo em si mesmo. Os silesianos já não tinham apenas a intenção de sobreviver; de simplesmente defender-se. Agora eles queriam vingança.

“SILESIANOS!” Gritou uma voz.

A multidão se acalmou e olhou para cima. Ali, na cidade alta, na borda do Canyon, olhando para eles, estava Andronicus, cercado por seus capangas.

“Dou-lhes uma alternativa!” Ele trovejou. “Devolvam Gwendolyn e eu permitirei que vocês vivam! Senão, a partir do pôr-do-sol eu vou fazer chover fogo sobre vocês,  um fogo tão intenso que nenhum de vocês sobreviverá a ele.”

Ele fez uma pausa, sorrindo.

“É uma oferta muito generosa. Não demorem muito para ponderá-la.”

Com isso, Andronicus virou-se e foi embora.

Todos os silesianos se viraram e se entreolharam gradualmente.

Srog deu um passo adiante.

“Companheiros silesianos!” Trovejou Srog para uma enorme e crescente multidão de guerreiros, com uma seriedade que Kendrick jamais tinha visto nele. “Andronicus atacou o nosso melhor e mais estimado líder. A filha do nosso amado rei MacGil, uma grande rainha em seu pleno direito. Ele atacou todos e cada um de nós. Ele tentou colocar uma mancha em nossa honra, mas ele simplesmente manchou a sua própria!”

“APOIADO!” Gritava a multidão, os homens se mexiam inquietos; cada um segurava os punhos de suas espadas, um fogo ardia em seus olhos.

“Kendrick.” Srog disse, virando-se para ele. “O que propõe que façamos?”

Kendrick lentamente olhou nos olhos de todos os homens diante de si.

“NÓS ATACAREMOS!” Kendrick gritou, um fogo percorria suas veias.

A multidão gritou de volta em aprovação, uma multidão que se espessava cada vez mais, via-se o destemor em seus olhos. Kendrick via que todas e cada uma daquelas pessoas, estavam prontas para lutar até a morte.

“VAMOS MORRER COMO HOMENS E NÃO COMO CÃES!” Kendrick gritou novamente.

“APOIADO!” Gritou a multidão, em resposta.

“NÓS LUTAREMOS POR GWENDOLYN! LUTAREMOS POR NOSSAS MÃES, IRMÃS E ESPOSAS!”

“APOIADO!”

“POR GWENDOLYN!” Kendrick gritou.

“POR GWENDOLYN!” Gritou a multidão, em resposta.

A multidão gritou em êxtase, ela aumentava a cada momento.

Com um grito final, eles seguiram Kendrick e Srog e prosseguiram pelo caminho até chegar ao estreito patamar, subindo cada vez mais até a parte alta de Silésia. Havia chegado a hora de mostrar a Andronicus de que o Exército Prata estava feito.

CAPÍTULO SETE

Thor estava de pé ali com Reece, O’Connor, Elden, Conven, Indra e Krohn, na foz do rio, todos eles olhavam para o cadáver de Conval. O clima no ar era sombrio. O próprio Thor sentia o peso disso sobre seu peito esmagando-o enquanto ele olhava para seu irmão da Legião: Conval, ali, morto. Tudo parecia irreal. Desde que Thor conseguia se lembrar, sempre houve seis deles, juntos naquela jornada. Ele nunca tinha imaginado que haveria apenas cinco. Isso o fez sentir  sua mortalidade.

Thor pensou em todas as vezes que Conval o havia apoiado, lembrou-se de como ele sempre esteve ao seu lado, a cada passo de sua jornada, desde o primeiro dia em que Thor se juntou à Legião. Conval era como um irmão para ele. Conval sempre havia defendido Thor, sempre tivera uma palavra amável para ele; ao contrário de alguns, ele tinha aceitado Thor como um amigo desde o início. Vê-lo ali morto – e especialmente como resultado de seus erros – fazia com que Thor ficasse com o estômago embrulhado. Se ele nunca tivesse confiado nos três irmãos, talvez Conval estivesse vivo hoje.

Thor não conseguia pensar em Conval sem Conven, os dois gêmeos idênticos, inseparáveis, sempre completando os pensamentos um do outro. Ele não podia imaginar a dor que Conven estava sentindo. Conven parecia não estar mais em seu juízo perfeito; aquele Conven feliz e despreocupado que ele uma vez havia conhecido parecia ter desaparecido em um piscar de olhos.

Todos eles ainda permaneciam na beira do campo de batalha, onde tudo havia ocorrido. Os cadáveres dos soldados do Império estavam empilhados ao seu redor. Todos ficaram ali, grudados ao chão, olhando para Conval, nenhum deles estava disposto a seguir em frente, antes que pudessem dar a Conval um enterro digno. Eles tinham encontrado algumas peles de excelente qualidade vestindo alguns oficiais do Império, então eles os despojaram delas e com elas envolveram o cadáver de Conval. Eles o haviam colocado em um pequeno barco, o mesmo que eles tinham usado para chegar até aquele lugar, seu corpo jazia ali, longo e rijo, de frente para o céu. O enterro de um guerreiro. Conval parecia estar tão enrijecido, seu corpo estava rígido e azul, eram como se ele nunca tivesse vivido.

Eles haviam estado ali, Thor não sabia por quanto tempo, cada um deles perdido em suas próprias dores, nenhum querendo ver o corpo do seu amigo ir-se. Indra, com seus olhos fechados, fazia movimentos circulares com a palma da mão sobre a cabeça de Conval, enquanto cantava algo em uma língua que Thor não entendia. Ele podia perceber o quanto ela gostava dele, pela forma solene com que ela conduzia o funeral. Thor sentia uma sensação de paz ao ouvir o som da voz dela. Nenhum dos rapazes sabia o que dizer e todos permaneciam ali, imersos em um profundo pesar, em silêncio, deixando Indra prosseguir com o ritual.

Finalmente, Indra terminou e deu um passo para trás. Conven deu um passo à frente, as lágrimas escorriam pelo seu rosto, ele se ajoelhou ao lado de Conval, estendeu a mão, colocou-a sobre a mão dele e inclinou a cabeça.

Conven estendeu a mão e empurrou o barco. Ele balançou nas águas plácidas do rio, e então de repente, a correnteza começou a levá-lo, arrastando-o para longe bem devagar, suavemente, como se entendesse do que se tratava. O barco foi afastando-se cada vez mais, ficando mais longe do grupo. Krohn choramingava enquanto ele se distanciava. Uma névoa surgiu repentinamente, do nada, ela envolveu o barco e logo ele desapareceu.

Thor sentia que seu corpo também havia sido sugado para o interior de um mundo subterrâneo.

Aos poucos, os rapazes se voltaram e olharam ao redor, seus olhos percorriam o campo de batalha e os terrenos além dele. Atrás deles estava o mundo subterrâneo por onde eles tinham vindo; de um lado havia uma vasta planície coberta pela relva; do outro lado havia um deserto vazio, um deserto escaldante. Eles estavam em uma encruzilhada.

Thor virou-se para Indra.

“Para chegar a Neversink, é preciso atravessar esse deserto?” Thor perguntou.

Ela assentiu com a cabeça.

“Não há outro caminho?” Ele perguntou.

Ela balançou a cabeça.

“Há outros caminhos, mas menos diretos. Você perderia semanas. Se você espera vencer os ladrões, esse é o único caminho.”

Os outros olhavam longa e duramente para o deserto, com seus sóis abrasadores, tremulando em ondas de calor.

“Parece implacável.” Reece disse ao aproximar-se de Thor.

“Não conheço ninguém que tenha alguma vez cruzado e sobrevivido.” Disse Indra. “É vasto e está repleto de criaturas hostis.”

“Não temos provisões suficientes.” O’Connor disse. “Nós não conseguiremos cruzá-lo.”

“No entanto, é o caminho que conduz até a espada.” Disse Thor.

“Supondo que a espada ainda exista.” Disse Elden.

“Se os ladrões já tiverem chegado a Neversink…” Disse Indra. “… Então a sua preciosa espada está perdida para sempre. Vocês estariam arriscando sua vida por um sonho. A melhor coisa que vocês podem fazer agora é voltar para o Anel.”

“Nós não vamos dar a volta.” Thor disse determinado.

“Muito menos agora.” Conven acrescentou dando um passo à frente, seus olhos estavam brilhando com fogo e tristeza.

“Nós vamos encontrar essa espada ou morreremos tentando.” Disse Reece.

 

Indra abanou a cabeça e suspirou.

“Eu não esperava nenhuma outra resposta de vocês.” Disse ela. “Imprudentes até o fim.”

*

Thor marchava lado a lado com os outros através do deserto, com os olhos entrecerrados devido ao sol forte, ele estava ofegante sob o calor implacável. Ele pensou que ficaria feliz de se livrar do mundo subterrâneo e de sua melancolia sempre presente, pensou que se alegraria ao poder ver novamente os sóis. Mas ele tinha ido de um extremo para o outro. Ali, naquele deserto, não havia nada além do sol: sol amarelo e céu amarelo, tudo irradiando sobre ele e ele sem nenhum lugar para onde ir. Sua cabeça doía e ele estava ficando tonto. Ele estava arrastando os pés e parecia que havia estado marchando durante toda a vida. Ao olhar ao redor, ele viu que os outros também se sentiam iguais a ele.

Eles tinham estado caminhando durante metade de um dia e ele não sabia como eles poderiam continuar mantendo o ritmo. Ele olhou para Indra, ela cobria sua cabeça com um capuz, Thor se perguntava se ela não teria razão. Talvez eles tivessem sido imprudentes ao tentar prosseguir. Mas ele prometeu encontrar a espada – então que alternativa eles tinham?

Enquanto eles seguiam, seus pés levantavam nuvens de poeira que giravam em todas as direções, tornando ainda mais difícil respirar. No horizonte não se via mais que terras escaldadas pelo sol, tudo era plano, até onde a vista alcançava. Não havia o menor vislumbre de construções; de estradas; de montanhas, ou de qualquer coisa. Nada além do deserto. Thor sentia que era como se tivessem chegado ao fim do mundo.

Enquanto eles avançavam, Thor encontrou consolo em uma coisa: pelo menos agora, pela primeira vez, ele tinha certeza de para onde eles estavam indo. Eles não estavam mais obrigados a ouvir seus três irmãos e seguir seu mapa estúpido; agora eles ouviam Indra e ele confiava nela mais do que ele jamais tinha confiado neles. Ele tinha certeza de que eles estavam sendo conduzidos na direção certa; ele apenas não se sentia seguro de que sobreviveria à viagem.

Thor começou a ouvir um som sibilante suave, então ele olhou para baixo e viu a areia ao redor dele girando em círculos. Os outros viram isso também. Thor ficava confuso enquanto olhava a areia lentamente se juntar e os círculos ficarem maiores e mais intensos aos seus pés para em seguida, levantar-se em direção ao céu. Logo uma nuvem de pó se levantou, ela começou a elevar-se do chão do deserto, subindo cada vez mais.

De repente, Thor sentiu todo o seu corpo ficar mais seco. Parecia que cada gota de água estava sendo sugada de seu corpo, ele ansiava por água; ele nunca tinha estado tão sedento em sua vida.

Ele estendeu a mão em pânico, tentando encontrar seu odre de água, ele levantou-o e esguichou a água em sua boca. Mas, quando ele fez isso, a água voltou-se para cima, subiu para o céu, ela nunca atingiu os lábios dele.

“O que está acontecendo?” Thor gritou para Indra, ofegante.

Ela observava o céu com medo, retirando o capuz da cabeça.

“Uma chuva inversa!” Gritou ela.

“O que é isso?” Elden gritou ofegante, enquanto cobria sua garganta com as mãos.

“Está chovendo para cima!” Gritou ela. “Toda a umidade está sendo sugada pelo céu!”

Thor viu quando o resto de sua água saiu jorrando do odre, em direção aos céus, logo depois, ele viu o odre estalar e secar totalmente, caindo ao chão como uma folha seca.

Thor caiu de joelhos, agarrando a garganta, mal conseguindo respirar. Ao redor dele, os outros faziam exatamente o mesmo.

“Água!” Implorou Elden ao lado dele.

Houve um grande estrondo, como o som de mil trovões, Thor olhou para cima e viu o céu escurecer. Uma única nuvem de tempestade apareceu, correndo em direção a eles a uma velocidade incrível.

“ABAIXEM-SE!” Indra gritou. “O céu está revertendo!”

Ela mal tinha terminado de falar quando o céu se abriu e uma parede de água jorrou para baixo, derrubando Thor e os outros com a força de um maremoto.

Thor saiu rolando mais e mais na onda de água, dando tombos sem saber por quanto tempo. Finalmente, ele voltou à tona no chão do deserto, a onda rolou e passou diretamente por eles. Logo a onda foi seguida por pancadas de chuva grossa. Thor jogou a cabeça para trás e assim como os outros, ele bebeu a água da chuva por um bom tempo, até que finalmente se sentiu hidratado novamente.

Aos poucos, cada um deles foi ficando de pé. Eles respiravam com dificuldade, parecia que haviam sido espancados. Eles se voltaram um para o outro. Eles haviam sobrevivido. Depois que o choque e o medo começaram a diminuir lentamente, eles caíram na gargalhada.

“Nós estamos vivos!” O’Connor gritou bem alto.

“Isso é o pior que este deserto pode nos dar?” Reece perguntou cheio de alegria por estar vivo.

Indra abanou a cabeça, sombria.

“Você comemora antes do tempo.” Ela disse, parecendo muito preocupada. “Após as chuvas, os animais do deserto saem para beber.”

Um barulho horrível se ouviu, Thor olhou para baixo e viu com horror quando um exército de pequenas criaturas surgiu da areia e correu em direção a eles. Thor olhou por cima do ombro e viu o lago que a água das chuvas tinha deixado, então ele percebeu que eles estavam exatamente no caminho das criaturas sedentas.

Dezenas de criaturas, sobre as quais Thor nunca havia posto os olhos em cima antes, corriam no caminho dele. Eram animais amarelos e enormes, semelhantes a um búfalo, porém duas vezes maiores. Eles possuíam quatro braços e quatro chifres e corriam sobre duas patas, em direção a eles. Eles avançavam de forma divertida, de vez em quando marchavam abaixados, apoiados sobre as patas e braços e logo depois eles saltavam sobre as duas patas de novo. Eles rugiam enquanto vinham até eles, suas vibrações faziam o chão tremer.

Thor desembainhou a espada, assim como os outros e preparou-se para defender-se. Quando o primeiro dos animais se aproximou, Thor rolou para o lado e saiu do caminho sem golpear o animal, com a esperança de que ele simplesmente passasse correndo por eles e fosse direto para a água.

A criatura abaixou a cabeça para golpear Thor, mas falhou por pouco quando Thor rolou. Para o pavor de Thor, ela não estava contente. A criatura enraivecida deu a volta e investiu direto contra ele. Parecia que ao invés de água, o que ela realmente queria era ver Thor morto.

Ela atacou novamente, baixando seus chifres, Thor pulou bem alto no ar, brandiu sua espada e decepou um dos chifres da criatura quando ela passou correndo por ele. O animal gritou, pulou sobre as duas patas, virou-se e golpeou Thor, derrubando-o no chão.

A criatura levantou suas patas e tentou pisotear Thor, mas ele rolou para fora do caminho dela, as patas da criatura deixaram uma marca impressa na areia e levantaram uma nuvem de poeira. A criatura levantou suas patas novamente, mas dessa vez Thor levantou a espada e enterrou-a no peito da criatura.

A criatura gritou mais uma vez quando a espada penetrou nela até o punho. Thor rolou para o lado e saiu de debaixo dela, justo antes que ela desabasse sobre ele, morta. Ele teve sorte ao fazer isso, já que o peso dela o teria esmagado contra a terra.

Quando Thor ficou de pé, outra criatura avançou contra ele, então ele pulou para fora do caminho, mas não antes que o chifre da criatura roçasse o braço dele, cortando-o e fazendo-o gritar de dor. Ele deixou cair sua espada. Thor, sem sua espada, extraiu sua funda, colocou uma pedra nela e atirou na besta.

A criatura cambaleou e gritou quando a pedra perfurou seu olho – mas mesmo assim, ela seguiu atacando.

Thor corria para a esquerda e para a direita, tentando ziguezaguear para fora do caminho, mas a criatura era muito rápida. Não havia para onde correr, ele sabia que em momentos ele seria despedaçado. Enquanto corria, ele olhava para seus irmãos da Legião e via que eles não estavam se saindo muito melhor; cada um deles estava sendo perseguido por uma daquelas criaturas.

O animal se aproximava e estava a apenas alguns centímetros de distância, seu cheiro era terrível e seu bufar feria os ouvidos de Thor, então ele baixou seus chifres. Thor preparou-se para o impacto.

De repente, o animal gritou, então, Thor se virou o viu sendo erguido no ar. Thor olhou para cima perplexo, sem entender o que estava acontecendo, foi quando ele viu atrás de si um enorme monstro verde-limão, do tamanho de um dinossauro, com cerca de trinta metros de altura e fileiras de dentes afiados. O monstro sujeitava a criatura em sua mandíbula, como se ela não fosse nada, então ele se inclinou e abocanhou-a. O monstro mantinha a criatura ali, contorcendo-se, logo depois ele mastigou-a e devorou-a em três mordidas enormes, engolindo e lambendo os lábios.

Todas as criaturas amarelas em torno de Thor se viraram e saíram correndo, fugindo do monstro verde. O monstro correu atrás delas, deslizando e chicoteando sua cauda enorme, enquanto ele corria; a cauda golpeou Thor por trás e derrubou-o com força no chão, o mesmo sucedeu com os outros. Mas o monstro passou por eles enquanto seguia atacando, ele estava mais interessado nas criaturas amarelas do que neles.

Thor se virou e olhou para os outros, todos estavam ali, sentados, estupefatos. Todos olhavam para ele.

Indra ficou ali balançando a cabeça.

“Não se preocupe.” Disse ela. “Isso vai ficar ainda pior.”

CAPÍTULO OITO

Kendrick caminhava lentamente pelo pátio incendiado da parte alta de Silésia; ao seu lado marchavam Srog, Brom, Kolk, Atme, Godfrey e vários homens do Exército Prata. Todos eles marchavam lenta e deliberadamente, suas mãos estavam entrelaçadas atrás das suas cabeças em um mostra de rendição.

O pequeno grupo percorria seu caminho, passando pelos milhares de atentos soldados do Império e dirigindo-se à figura expectante de Andronicus, no distante portão da cidade. Kendrick sentia todos os olhos sobre eles enquanto prosseguiam e a tensão no ar era espessa. O pátio, apesar de estar ocupado por milhares de soldados, estava silencioso o suficiente para poder ouvir a queda de um alfinete.

Uma hora antes, Kendrick tinha gritado e declarado sua rendição a Andronicus. Então, aquele grupo havia subido, todos juntos, eles faziam questão de demonstrar que não portavam armas consigo enquanto marchavam e abriam seu caminho entre a multidão dos soldados do Império, para se ajoelhar formalmente diante de Andronicus. O coração de Kendrick estava batendo forte enquanto todos prosseguiam, sua garganta ficou seca quando ele viu os milhares de inimigos hostis o rodeavam.

Kendrick e os outros tinham ensaiado um plano para ser executado quando eles se aproximassem de Andronicus. Kendrick agora via em primeira mão como Andronicus era grande e selvagem. Kendrick rezava para que o plano funcionasse. Do contrário, suas vidas estariam liquidadas.

Eles marchavam fazendo tilintar suas esporas, até que finalmente um dos generais de Andronicus deu um passo à frente, ele era uma criatura imponente, com uma carranca profunda, ele colocou a palma áspera da mão contra o peito de Kendrick. Eles foram detidos a cerca de vinte metros de distância de Andronicus, o que, presumivelmente, seria uma medida de cautela. Seus soldados eram mais sábios do que Kendrick havia previsto; ele esperava poder marchar até Andronicus, mas era evidente que isso não estava permitido. O coração de Kendrick bateu mais rápido, ele não esperava que a distância obstaculizasse seu plano.

Todos eles permaneceram ali, em silêncio, encarando uns aos outros, Kendrick pigarreou.

“Viemos para nos render diante do Grande Andronicus.” Kendrick anunciou impostando sua voz, tentando usar seu tom mais convincente enquanto permanecia de pé, imóvel, ali junto com os outros, olhando nos olhos de Andronicus.

Andronicus estendeu a mão e passou os dedos pelas cabeças encolhidas de seu colar então olhou para eles e emitiu um som parecido com um grunhido, ou talvez um riso.

“Nós aceitamos os seus termos.” Kendrick continuou. “Nós admitimos a derrota.”

Andronicus, o qual estava sentado em um enorme assento de pedra, se debruçou ligeiramente e olhou para eles com algo parecido com um sorriso em seu rosto.

“Eu sei que vocês aceitarão.” Ele disse, sua voz retumbou por todo o pátio. “Onde está a jovem?”

Kendrick estava preparado para isso.

“Nós viemos como um contingente de nossos oficiais mais experientes e condecorados.” Kendrick respondeu. “Viemos em primeiro lugar, para professar nossa rendição a você. Quando nós terminarmos, os outros, com a sua permissão, virão.”

Kendrick pensou que adicionar a frase ‘com a sua permissão’ tinha sido um bom toque, isso iria ajudar a rendição a parecer ainda mais plausível. Ele tinha aprendido uma grande lição há muito tempo, com um de seus conselheiros militares: quando se lida com um comandante narcisista, sempre é útil apelar para o seu ego. Não há limite para os erros que um comandante pode cometer quando você o lisonjeia, quando você infla a sua mania de grandeza.

 

Andronicus inclinou-se ligeiramente para trás, mal reagindo.

“É claro que eles vão.” Disse Andronicus. “Do contrário, o grupo de vocês seria muito estúpido para aparecer aqui.”

Andronicus ficou ali sentado, olhando para eles, como se estivesse tentando decidir-se. Parecia que ele sentia que algo estava errado. O coração de Kendrick acelerou.

Finalmente, depois de uma longa espera, Andronicus pareceu decidir-se.

“Deem um passo à frente e ajoelhem-se.” Disse ele. “Todos vocês.”

Todos olharam para Kendrick e ele assentiu.

Todos eles deram um passo à frente e se ajoelharam diante de Andronicus.

“Repitam depois de mim.” Disse o comandante. “Nós, representantes de Silésia…”

“Nós, representantes de Silésia…”

“Com este ato, nos entregamos ao Grande Andronicus…”

“Com este ato, nos entregamos ao Grande Andronicus…”

“juramos lealdade a ele pelo resto de nossos dias e para sempre…”

“juramos lealdade a ele pelo resto de nossos dias e para sempre…”

“e serviremos como escravos a ele enquanto os nossos dias puderem suportar.”

As palavras finais eram difíceis para Kendrick pronunciar e ele engoliu em seco, até que finalmente as repetiu, uma  por uma:

“E serviremos como escravos a ele enquanto os nossos dias puderem suportar.”

Ao pronunciar aquelas palavras ele sentiu náuseas, seu coração estava martelando em seus ouvidos. Finalmente, toda a dor causada por tudo aquilo passou.

Um silêncio tenso sobreveio a todos, então Andronicus finalmente sorriu.

“Vocês MacGils são mais fracos do que eu pensava.” Ele rosnou. “Eu vou ter muito prazer em escravizar vocês e em fazer vocês aprenderem como são as coisas no Império. Agora vão buscar a jovem, antes que eu mude de ideia e mate todos vocês na hora.”

Enquanto Kendrick estava ajoelhado, ele viu toda a sua vida passar diante dos seus olhos. Ele sabia que aquele era um dos momentos decisivos em sua vida. Se tudo corresse como ele esperava, ele iria viver para contar a história daquele dia para seus netos; senão, em apenas alguns instantes, ele estaria deitado ali como um cadáver. Ele sabia que as chances estavam contra ele, mas era um risco que ele tinha de correr. Em nome de si mesmo; em nome dos MacGils e em nome de Gwendolyn. Era agora ou nunca. Em um movimento rápido, Kendrick levou as mãos às costas e agarrou uma pequena espada escondida sob a camisa, ele levantou-se e gritou quando a atirou com toda a força.

“SILESIANOS ATAQUEM!”

A espada de Kendrick deu várias voltas sobre si, enquanto seguia sua trajetória, direto para o peito de Andronicus. Foi um arremesso poderoso, feito com uma pontaria certeira, um arremesso ousado o suficiente para matar qualquer guerreiro.

Mas Andronicus não era um guerreiro qualquer. Kendrick estava uns poucos metros mais distante e Andronicus foi apenas um pouco mais rápido; ele conseguiu esquivar-se com um momento de vantagem. Andronicus ainda gritou de dor quando a lâmina roçou seu braço, tirando sangue. A espada continuou sua trajetória, para em seguida, alojar-se no ventre de um general que estava de pé ao lado dele. O general caiu morto, em lugar de Andronicus.

Ao soar o grito de Kendrick, o caos irrompeu. Todos os que o acompanhavam levaram as mãos até as costas, sacaram suas espadas ocultas e com elas decapitaram os soldados que estavam de pé no meio deles. Brom puxou uma adaga do cinto, deu um passo para o lado e cortou a garganta de um soldado que estava por perto. Kolk retirou uma pequena funda de sua cintura, colocou uma pedra nela e atirou, ele abateu um soldado distante, o qual empunhava um arco antes de ser atingido na cabeça, bem antes que pudesse atirar. Godfrey lançou um punhal; sua pontaria não era tão certeira quanto à dos outros e o punhal não atingiu o alvo, em vez disso, ele atingiu a perna de um jovem soldado.

Ao redor deles, se ouviram os gritos dos soldados do Império que haviam sido feridos, nenhum deles esperava o ataque surpresa.

A um sinal, naquele mesmo instante, começaram a surgir repentinamente, de todos os lados do pátio os soldados de Silésia eles surgiam do chão e das paredes. Eles surgiram com um grande grito de guerra, disparando suas flechas e escurecendo o ambiente com elas. Milhares de flechas atravessaram o pátio derrubando os soldados do Império por todas as partes. Eles foram atacados por todos os lados e estavam perdidos, sem saber que caminho tomar; muitos deles, em seu pânico, acabavam atacando uns aos outros.

Kendrick ficou emocionado ao ver que seu plano estava funcionando perfeitamente. Srog o havia informado sobre os túneis escondidos que conectavam a baixa Silésia com a cidade alta; os túneis haviam sido construídos para o caso de um cerco, como um último recurso, um elemento surpresa. Todos os soldados haviam esperado pacientemente em seus lugares, enquanto aguardavam um sinal de Kendrick.

Milhares de silesianos surgiam agora, disparando com tal velocidade e pontaria que os soldados do Império não tiveram tempo para reagir. Kendrick avançou e entrou na briga, ele agarrou a espada de um soldado do Império já morto e com ela ele atacou os soldados mais próximos dele. Seu amigo Atme e os outros se uniram a ele. Os soldados do Império, em pânico e em meio ao caos, se viravam e corriam para todos os lados, sem ter sequer certeza de qual caminho seguir.

Os silesianos estavam ganhando vantagem. Kendrick derrubou uma dúzia de homens antes mesmo que precisasse levantar o seu escudo em defesa. Atme lutava de volta, costas com costas com Kendrick, tal como ele sempre fazia, enquanto causava danos em igual proporção. Com cada golpe, Kendrick pensava em Gwendolyn, pensava em vingança.

Os milhares de soldados do Império estavam tão aturdidos que todos eles deram a volta e correram, dirigindo-se para o conjunto de portões, para o pátio exterior. A multidão arrastou Andronicus e os seus homens em uma estampida, eles tentavam manter-se firmes, mas eram forçados a voltar pelos numerosos homens em fuga. Todos eles foram conduzidos como o gado até o portão, todos tentando desesperadamente fugir das flechas, que continuavam a chover de todas as direções. Os soldados de Silésia ficaram sem flechas, então todos eles sacaram suas espadas e atacaram junto com os seus irmãos da Legião.

O número de soldados do Império era grande, mas eles não eram guerreiros bem treinados, a maioria deles eram apenas pessoas escravizadas e a serviço da Andronicus. Por outro lado, os silesianos, poderiam até ser poucos em número, porém, cada um deles era um guerreiro de elite, um soldado aguerrido, bem treinado, cada um deles valia por dez homens do Império. Eles também tinham o fator surpresa – e acima de tudo, eles tinham fogo nas veias. Eles estavam entre a cruz e a espada. Tinham uma enorme vontade de viver. Uma enorme vontade de proteger seus entes queridos. Eles estavam furiosos pelo que haviam feito a Gwendolyn. Afinal, aquela era a sua cidade. E eles sabiam que, se não ganhassem, suas mortes ocorreriam ali.

Dezenas de silesianos tocaram as trombetas, o ruído aterrador soou como o som de um exército sem limites, mais e mais deles surgiam dos túneis. Todos eles avançavam como se suas vidas dependessem disso, milhares deles estavam indo ao encontro dos milhares de soldados do Império.

A luta era dura, árdua, o sangue cobria o pátio à medida que espada encontrava espada e punhal encontrava punhal. Os homens se engalfinhavam e lutavam, olhando uns nos olhos do outros lutando corpo a corpo e matando-se entre si, cara a cara. Rapidamente, a maré favoreceu os silesianos.

Outra trombeta soou e logo a Legião irrompeu pelos portões da parte baixa. Centenas de fortes soldados avançaram, gritando o seu grito de batalha feroz. Eles levantavam fundas, flechas, lanças e espadas e partiram para a briga, matando os soldados do Império a torto e à direita, ajudando a contra-arrestar a maré. Os guerreiros da Legião já eram veteranos, mesmo para sua pouca idade e enquanto corriam, todos eles gritavam por Gwendolyn e por Thor.

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