Yellow Peril: Aquela Horrível Cara Amarela

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Yellow Peril: Aquela Horrível Cara Amarela
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Patrizia Barrera

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  YELLOW PERIL: O PERIGO AMARELO

  O MASSACRE DE LOS ANGELES

  A VERDADE SOBRE O MASSACRE

  OS VERDADEIROS MANDANTES

  O PROCESSO DA FARSA

  AS PEQUENAS ESCRAVAS

  AS ORIGENS DA ESCRAVIDÃO

  A VIAGEM COMEÇA

  UM CALVÁRIO INFINITO

  PEQUENA MÃE

  AS SING-SONG GIRLS, O EPÍLOGO

  APÊNDICE 1

  APÊNDICE 2

  BIBLIOGRAFIA.

  Credits

YELLOW PERIL: O PERIGO AMARELO
As Origen


Os Estados Unidos sempre foram racistas. A fim de autorizar e realizar os massacres dos nativos e submeter à escravidão os africanos, era necessário um forte sentimento de prevaricação e uma plena convicção da própria superioridade. É necessário enfatizar que tais sentimentos foram universalmente compartilhados entre os séculos XVIII e XIX e que nenhuma das grandes potências europeias poderia ser considerada isenta. No entanto, nos Estados Unidos, o poder exercido sobre as classes menos favorecidas e os diferentes grupos étnicos alcançaram níveis exorbitantes e, em certo sentido, o racismo tornou-se quase institucionalizado.

A ponto de o linchamento não ser apenas tolerado, mas sim ter se tornado, por muito tempo, um verdadeiro instrumento de justiça utilizado e sugerido pelo governo e pela polícia. Os Códigos Pretos e, mais tarde, as leis de Jim Crow (ver apêndice) são exemplos óbvios e emblemáticos do sentimento racista popular. São exaustivamente citados pela história no tocante aos afro-americanos, que certamente foram os mais afetados pelo sistema legislativo americano.

O público em geral, porém, pouco sabe sobre tal grau (e em muitos aspectos ainda pior) de discriminação dos Estados Unidos contra emigrantes chineses. Originalmente recrutados como trabalhadores de "baixo custo" e usados para os serviços mais cansativos e mal pagos do país durante o período que vai desde o auge da corrida do ouro, em 1848, até 1880.

Neste livro, não vou traçar a história do extremo e conturbado relacionamento entre os Estados Unidos e a China, um discurso longo e ambíguo. Estou convencida de que a clareza reside na simplicidade e na exposição de fatos incontestáveis que, em certo sentido, são capazes de falar por si mesmo. Por essa razão, selecionei duas páginas obscuras da história norte-americana, pouco comentadas, mas exemplares: o episódio de linchamento mais atroz de todos os tempos e a tragédia das pequenas escravas chinesas. Dois eventos ignorados e até agora perdidos no esquecimento, mas que, no entanto, marcam com sangue o livro maldito da história dos Estados Unidos, talvez até mais do que o genocídio dos nativos.

É um período extremamente delicado para os Estados Unidos, que expandem as ferrovias por todo o seu território e, ao mesmo tempo, descobrem os imensos depósitos minerais que os enriqueceriam. Após terem expulsado do campo os nativos, que agora passam fome ou estão envolvidos nas mais recentes guerras indígenas, o Novo Continente deve ser reconstruído à moda dos ianques. Se nos estados do Sul a escravidão começava a tremer sob o impulso ideológico — e político — do abolicionismo, no Norte o número de operários dispostos a enfrentar as jornadas exaustivas de trabalho impostas pelas companhias era muito pequeno. A verdadeira onda de imigração, aquela que levaria milhões de cidadãos de todo o mundo a desembarcar nos Estados Unidos seduzidos pela promessa de uma riqueza hipotética, só aconteceria muito mais tarde, no início do novo século. Portanto o Novo Continente estava, em meados do século XIX, desprovido da mão de obra indispensável para dar um salto de qualidade e colocá-lo em uma posição dominante em relação à Europa. É verdade que a corrida do ouro atraiu centenas de milhares de alucinados ao local, estimulando o crescimento das ferrovias e das importações e exportações, mas ficou logo evidente que se tratava de um fenômeno temporário que esgotaria juntamente com os veios do metal precioso, como de fato aconteceu. As centenas de cidades construídas sobre as areias da noite para o dia não estavam destinadas a durar — e sim, os garimpeiros eram trabalhadores incansáveis, mas só quando trabalhavam para si mesmos. Assim que acumulavam seu ovos dourados, retornavam para suas casas na Europa, um ninho "civilizado" em comparação com a vida dura e perigosa na América. Com a proibição oficial da escravidão, os estados do Norte viram-se necessitados a retornar à servidão e a importar carne fresca que pudesse servir como mão de obra.

Milhares e milhares de chineses foram empregados, a partir de 1848, pelas empresas ferroviárias que os usavam como trabalhadores não qualificados e, portanto, mal remunerados. Eram geralmente fazendeiros pobres que haviam emigrado para se salvar da fome e das pestilências que assolavam a China na época. Adaptaram-se para sobreviver na escassez e dormir no meio do deserto ou nas pradarias e para ganhar os poucos centavos que enviavam às suas famílias em seu país natal.

Mas de onde vinham? Pensou-se quase imediatamente na Ásia e especialmente na China, que vivia um período extremamente conturbado com a queda da dinastia Qing. Agitação interna, guerras e revoltas populares levaram os chineses a fugir de sua terra natal, devastada pela fome e por doenças. Se se voltavam para a América, era apenas por acaso e não por escolha. As fronteiras para a Ásia eram fechadas com frequência e foram controladas pela Inglaterra durante a mais importante das Guerras do Ópio, a que ocorreu entre 1839 e 1842 e que coincidiu precisamente com a onda da imigração chinesa nos Estados Unidos.

Os números não mentem: entre 1820 e 1840, havia ao todo onze emigrantes chineses registrados nos estados do Norte. Em 1848, o número subiu para dois milhões e depois aumentou tragicamente para quatorze milhões entre 1853 e 1873, justamente por causa dos norte-americanos.

Com a primeira onda real de imigração, descobriu-se que os trabalhadores chineses eram uma verdadeira dádiva para a economia norte-americana. Eram descritos como "incansáveis, despretensiosos e capazes de viver com pouco”. Contra um salário médio de dois dólares, os chineses conseguiam sobreviver com 40 centavos, metade dos quais acabava indo para suas famílias na China. Outro ponto positivo era que os chineses emigravam sozinhos, sem uma família a tiracolo e sem muitas distrações, tendo que economizar o máximo possível. Além disso, os séculos da dinastia imperial chinesa forjaram neles uma completa obediência e submissão total ao empregador. Ou seja, eram os escravos perfeitos. E os Estados Unidos tiraram o máximo de proveito da situação.


Um dos trabalhos mais humildes na China era o de puxador de riquixás. Era exercido por homens jovens que acabavam envelhecendo precocemente e que ganhavam a vida trabalhando como se fossem animais de carga. Maltrapilhos, descalços e em troca de uma tigela de arroz por dia, aceitavam essa função humilde por necessidade. Muitos becos chineses, construídos em estilo medieval, eram estreitos demais para a travessia de cavalos. Servos ou escravos eram então usados para transportar os nobres de uma parte a outra das cidades, durante dez horas por dia. A maioria morria de ataque cardíaco antes dos 35 anos.

No início, os chineses formaram uma comunidade à parte, usada para serviços de lavanderia ou para trabalhos não qualificados na construção de ferrovias. Posteriormente, de 1848 a 1860, as companhias de mineração começaram a solicitá-los com frequência, porque, diferentemente dos demais, os chineses aceitavam trabalhos ingratos e perigosos e, além disso, seus corpos pequenos permitiam que entrassem em túneis estreitos onde apenas uma criança caberia. Posicionar cargas de dinamite ou escorar os tetos de túneis perigosos tornaram-se atividades rotineiras para eles. Vários acabavam morrendo, mas paciência. Por isso muitos outros eram necessários e, como a onda de imigração espontânea parecia esgotada, o governo decidiu recrutar um bom número de chineses, entrando em acordo diretamente com a China. Em 1868, foi elaborado o Tratado de Burlingame, uma das manobras mais sutis e odiosas dos Estados Unidos para obter mão de obra temporária. O documento em questão sancionava o direito inalienável do homem de mudar de casa e aliança e o benefício mútuo da livre expansão e imigração de seus cidadãos por razões de CURIOSIDADE, COMÉRCIO ou como RESIDENTES PERMANENTES, garantindo-lhes os mesmos direitos, privilégios e imunidades que outros residentes, protegendo-os de atos de EXPLORAÇÃO, DISCRIMINAÇÃO e VIOLÊNCIA.

 


A história das jovens escravas sequestradas de suas famílias, geralmente de camponeses, para serem enviadas à América e usadas como prostitutas começa em 1865. Foi a máfia chinesa nos Estados Unidos, com acordos diretos com o governo chinês, responsável por estabelecer e manter esse tipo de tráfico, a fim de evitar "confusões" entre chineses e norte-americanos. Mais tarde, os serviços foram estendidos aos ianques, que podiam então desfrutar das garotinhas chinesas em lojas especiais por alguns centavos. Ao contrário dos homens do campo, que após dez anos de trabalho duro podiam voltar para casa, as escravas chinesas morriam nos Estados Unidos sem nunca mais ver a luz do dia. Viviam completamente separadas do mundo exterior, em celas isoladas, cuidadas apenas por uma velha matrona, que muitas vezes as ajudava a dar à luz ou a se livrar das numerosas crianças bastardas. Elas só saíam de suas celas após a morte, depois de terem se deitado com milhares de homens. A máfia desfazia-se de seus corpos, despejando-os nos rios à noite ou cimentando-os sob a terra. Na imagem, uma jovem de Hong Kong com roupas tradicionais, na década de 1860.

Na prática, tratava-se de um pacto comercial que a China, que já era obrigada a suportar que a Inglaterra introduzisse ópio das Índias em seu território, foi claramente forçada a aceitar. Toda a ideologia milenar do imperialismo chinês baseia-se na recusa em expandir suas fronteiras ao estrangeiro, a quem só é permitido negociar e, às vezes, viajar em seu território. A ideia de misturar-se com o Ocidente, tanto cultural quanto praticamente, sempre foi impensável para a China, que também impôs vetos inflexíveis à emigração nacional, preferindo sistemas sangrentos de controle demográfico à perda de sua capacidade de regulamentação. As motivações não eram apenas políticas e hegemônicas, mas constitucionalmente religiosas. O Ocidente era considerado um receptáculo de perdição e culturalmente atrasado em relação ao Colosso, que sempre dominou a Ásia.

Foram, portanto, apenas a debilidade interna e a interferência europeia que a levaram a firmar esse tratado, que de fato vendeu seu patrimônio humano, entregando-o em mãos inimigas. Um acordo com uma promessa de bilateralidade, mas que na prática forçou milhões de chineses, por bem ou por mal, a emigrar para a América.

A China ocupou-se inicialmente da realização de recrutamentos forçados, elaborando listas e mais listas de "escolhidos"; depois, muitos foram "sequestrados" ou "desaparecidos", provavelmente sob encomenda. Eram claramente homens jovens e saudáveis arrancados de suas famílias, que permaneciam em casa como reféns para garantir a boa conduta do indivíduo. Uma ameaça implícita que surtiu efeito nos imigrantes e explica o porquê de seu comportamento servil e submisso.

Desde então não demorou muito até o estabelecimento de uma máfia chinesa que controlava o tráfico humano nos Estados Unidos, acobertada pela própria China. Como uma forma de retribuição, ela introduziu ópio, escravos e prostituição, chegando a administrar tais atividades completamente às custas do país americano. Quase como quem diz, "Quem procura acha". No final das contas, todos acabaram perdendo, sem exceção. Mesmo que o prejuízo maior fosse sempre o do mais fraco, começando pelos pobres e miseráveis ex-agricultores, obrigados a trabalhar quinze horas por dia em condições desumanas até morrer. Havia também as pequenas escravas que, aos sete anos de idade, iniciavam uma vida de prostituição e não sobreviviam até os vinte anos.


Essa era a primeira Chinatown, de 1860. Consistia em algumas casas de madeira, alguns empórios e algumas coisas relacionadas à vida cotidiana. Mas em apenas trinta anos o bairro mudou completamente, tornando-se um ponto de referência para as noites insanas dos estadunidenses ricos.

Além de todas as expectativas, os chineses mostraram-se extremamente eficientes, a ponto de, em 1880, suas atividades terem sido difundidas e dado vida à economia norte-americana. Seu comércio florescia e, assim como hoje, eram capazes de cobrar preços extremamente competitivos. Os objetos chineses estavam na moda, assim como suas especiarias, roupas e perfumes. Graças à máfia, eles conseguiam vender frutas e legumes, mesmo do exterior, a preços ridiculamente baixos e suas habilidades estendiam-se a todos os setores, do artesanato à fabricação e até ao serviço privado. Eles também puxaram o tapete dos circos ambulantes nacionais, inventando acrobacias espetaculares que os circenses norte-americanos não eram capazes de reproduzir por serem mais altos. Como trabalhadores, eram impecáveis e não davam ouvidos às ideias liberais que circulavam por volta de 1880 reivindicando redução das jornadas de trabalho e condições de vida mais dignas. Acima de tudo, custavam metade do preço dos trabalhadores europeus, que acabavam sem condições de sustentar suas famílias e rangiam os dentes em protesto contra aqueles que "roubavam seus empregos".

Enquanto esses males diziam respeito aos imigrantes, geralmente europeus, ninguém reclamava; eles que rastejassem entre si, visto que seu baixo custo era uma dádiva para os empregadores.

Mas quando esse fenômeno explodiu entre comerciantes e trabalhadores da "raça pura norte-americana", começaram os problemas. Na década de 1850, os chineses haviam-se reunido em uma área da antiga Portsmouth Square, uma das primeiras a ser estabelecida durante a corrida do ouro. Lá deram início às atividades independentes de lavanderia — um trabalho "sujo" que ninguém na época, nem mesmo a pior lavadeira, queria fazer —, seguidas rapidamente de outras, como floricultura, varejo de frutas e legumes, comércio de arroz e empórios para atender às necessidades diárias de uma cidade em crescimento. Em dois anos, a área, anteriormente denominada "Little Canton” havia-se expandido drasticamente, a ponto de abrigar até 33 lojas de varejo, quinze espaços fitoterápicos e farmacêuticos e cinco restaurantes. Toda a área chinesa estava em pleno desenvolvimento, para o agrado das autoridades locais, que muitas vezes a elogiavam publicamente, apresentando-a como um modelo de seriedade e diligência. Fortalecidos pelo consenso geral, os chineses mudaram o nome da área original para Chinatown e, para muitos deles, era quase como se sentir em casa. Para animar as horas quentes dos desesperados em busca de riqueza, a comunidade chinesa construiu também um teatro que hospedava empresas itinerantes e, gradualmente, a pequena cidade tornou-se um centro de recreação com a ambição de transformar-se na nova São Francisco. Na realidade, o novo nome foi cunhado pela imprensa, para exemplificar um conceito bastante banal, porém, mais tarde, os EUA viram ou quiseram ver nesse gesto um ato de arrogância que afetaria gravemente a comunidade chinesa.

Em alguns anos, Chinatown cresceu e tornando-se o símbolo de uma cidade dentro de uma cidade e de um povo dentro de outro povo. Das doze casas de madeira chamuscada dos primeiros anos, restava apenas uma vaga lembrança. Em 1880, toda a área havia-se tornado um bairro elegante que acolhia 22 mil pessoas — praticamente apenas homens —, com salões de jogos e casas de ópio onde os norte-americanos ricos e os amantes aflitos poderiam esquecer suas dores. Um mundo multicolorido no qual a "chinesidade" estava em alta, induzindo as famílias burguesas estadunidenses e europeias a entregarem-se ao luxo de porcelanas e espelhos chineses, suas especiarias e até mesmo seus adornos "amadores". Em resumo, tratava-se de uma evidente onda de crescimento que instigou no governo dos Estados Unidos o terror de um futuro capitalismo chinês capaz de tornar-se uma ameaça, pondo em cheque inclusive a moralidade dos costumes norte-americanos. O "perigo amarelo" invadiu o país, que passava por uma situação histórica difícil após as reviravoltas da Guerra da Secessão; a desestabilização econômica do Sul, as reformas políticas, a demanda por mudanças e o desejo de dominação absoluta sobre a Europa produziram um efeito em cadeia totalmente devastador. Grande parte da população norte-americana havia sofrido negativamente com as consequências da "restauração" do sistema, que condenou milhares de famílias à fome. Os comerciantes fechavam suas lojas e os imigrantes morriam de frio nas ruas ou acabavam linchados por multidões ao serem pegos roubando nos estabelecimentos comerciais. As prisões estavam superlotadas e a batalha pela sobrevivência assumia os tons das antigas lutas de classe europeias. O que prosperava era a máfia: em primeiro lugar a irlandesa, que funcionava para "além" do Estado, impondo aos seus "protegidos" a obrigação de votar nas eleições e apoiando as atividades clandestinas relacionadas ao álcool e drogas no país.

Em segundo, a chinesa, que apesar de permanecer "fora" do Estado, ocupava-se de seus compatriotas e agia exclusivamente de acordo com as regras da sua ideologia nacional, que ditava que o inimigo deveria ser combatido com suas próprias armas e que eles deveriam trabalhar incansavelmente para que um dia pudessem tomar o seu lugar.


DidascaliaA mesma Chinatown, ao estilo de São Francisco, em 1872....

O perigo amarelo era uma consequência direta do comportamento norte-americano, que havia explorado seus escravos a ponto de ser dominado por eles. Ao contrário do afro-americano que, por mentalidade e cultura, havia-se integrado ao inimigo, compreendendo e utilizando o que lhe era funcional, o chino-americano expressava unicamente sua natureza imperialista, dominada pelo senso de dever, pela de honra e por um sentimento exacerbado de redenção. Ao adaptar-se às piores condições de vida, esperava por uma melhora da sua própria existência e por uma ascensão social que lhe permitiria colocar-se no mesmo nível de seus empregadores.

Era um sentido inato, consequência de milênios de história que não podiam ser apagados simplesmente com a "deportação" para um país estrangeiro e que se transformou, em vez disso, em uma versão sublime de castidade forçada, solidão e aversão social. Por trás do sorriso inabalável, o povo chinês escondia uma força trágica e uma impressionante teimosia. Seu lema era: "sobreviver a todo custo e prosperar".

Eu poderia ficar aqui por horas discutindo a diferença entre inteligência e astúcia, sem nunca chegar a uma conclusão. Na realidade, existem comportamentos errados que, embora produzam uma vantagem efetiva no curto prazo, são danosos e prejudiciais ao longo do tempo. Se adicionarmos a isso uma motivação egoísta e uma indiferença ao mal a que somos submetidos, acabamos inevitavelmente com um efeito bumerangue, que mais cedo ou mais tarde sairá pela culatra. Se, no final das contas, a natureza da nossa vítima não for inclinada ao perdão fácil, o eco das nossas ações aumentará de forma drástica, com resultados certamente destrutivos. Essa era, de maneira simplificada, a relação entre os Estados Unidos e os imigrantes chineses e, por essa razão, uma vez entendidos os possíveis mecanismos de causa-efeito, o país inteiro gritou diante do "perigo amarelo".

Na turbulência do período de 1880 a 1882, encontrar um bode expiatório foi muito fácil. Como já se podia imaginar, os chineses foram acusados de concorrência desleal, roubo de trabalho e rivalidade social. Surgiu, então, a primeira lei racial, de 1861, que proibia todos os orientais, sob as categorias mal definidas de "chineses" ou "mongóis", de casarem-se com brancos — prática que os próprios chineses abominavam. Outras leis foram promulgadas, restringindo cada vez mais seus direitos humanos e legais. Apesar das Leis de Direitos Civis de 1866, que estabeleceram que "todos os cidadãos de todas as raças e cores nascidos nos Estados Unidos gozavam plenamente da cidadania norte-americana", os legisladores excluíram os chineses. Apelaram para uma manobra jurídica sutil, afirmando que não era possível classificar um oriental de acordo com um padrão fixo. A lei de 1875 de fato definia a diferença entre uma pessoa "branca e uma afro-americana", concedendo direitos iguais a elas e a seus descendentes norte-americanos. No entanto, não foi capaz de definir uma separação substancial entre "branco e amarelo", também porque os orientais tinham cromaticidades mais heterogêneas do que os africanos e traços somáticos menos evidentes. Limitava-se a classificá-los como "não brancos" e, portanto, excluídos do direito de cidadania. Logo, qualquer chinês naturalizado norte-americano continuava sendo um estrangeiro.

 

Porém, já havia outras leis que limitavam os direitos dos asiáticos nos Estados Unidos, especialmente dos chineses. Por exemplo, em 1858, a Califórnia promulgou uma lei que proibia o acesso a cargos estaduais aos chineses. Também a Califórnia, em 1879, aprovou uma nova Constituição a partir da qual o governo apropriou-se do direito absoluto de determinar os requisitos fundamentais para a residência no estado. Mais uma vez apegando-se à advertência da indeterminação da raça, negou o direito de residência aos chineses, expulsando os que já residiam em seu território. Mas, anteriormente, em 1875, o congresso havia bloqueado a imigração de trabalhadores e prostitutas chineses por uma década, com o objetivo oficial de conter a máfia e reabilitar o território norte-americano. Para resumir, entre 1856 e 1880, até trinta leis diferentes limitaram ou negaram os direitos fundamentais dos chineses em solo estadunidense, contrariando os acordos do famoso Tratado de Burlingame, sem qualquer manifestação da imprensa ou da opinião pública. O descontentamento gerado pela crise econômica abriu um sulco entre os Estados Unidos e os imigrantes chineses, cujas atividades continuaram a florescer. Visados pelo governo e pelo povo, fechados em sua comunidade, apegados aos costumes ancestrais e desdenhosos de misturarem-se com os brancos, logo tornaram-se os bodes expiatórios ideais. Suportando estoicamente as ameaças, o saque e a destruição de suas lojas, o corte de suas tranças em público, as provocações e até os primeiros avisos dos linchamentos que se seguiriam, os chineses continuaram seu trabalho silencioso, conscientes de estarem pisando em um campo minado. A situação degenerou lenta mas inexoravelmente até o golpe de 1871, ano em que se viram protagonistas do maior linchamento em massa da história dos Estados Unidos, que infelizmente ficou conhecido como "O Massacre Chinês de Los Angeles".

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