Robert Johnson Filho Do Diabo

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Robert Johnson Filho Do Diabo
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Patrizia Barrera

Direito autoral

Robert Johnson Filho do diabo

D ireito autoral Patrizia Barrera 2021

Tradução Aderito Francisco Huo

Editor Tektime


Rha Production

Agradecimentos

Livro original, fruto de uma longa pesquisa e muita paixão

Obrigada a todos aqueles que apreciarão e conservarão no coração este livro.

Patrizia Barrera

Julho de 2015

Índice

  Patrizia Barrera Robert Johnson Filho do diabo

  Direito autoral Robert Johnson Filho do diabo D ireito autoral Patrizia Barrera 2021 Tradução Aderito Francisco Huo Editor Tektime Rha Production

  Agradecimentos Livro original, fruto de uma longa pesquisa e muita paixão Obrigada a todos aqueles que apreciarão e conservarão no coração este livro. Patrizia Barrera Julho de 2015

  PARA LA' DA LENDA Um rapaz único

  FILHO DO DIABO O maestro obscuro

  O MISTÉRIO NUMA FOTO Da poeira a Ebay

  MATAR SATANÁS Crónica de uma morte anunciada

  O MISTÉRIO ESTÁ NA SUA MORTE Religião e Magia

  O QUE SOBRA DELE Discografia

  BIBLIOGRAFIA

PARA LA' DA LENDA
Um rapaz único


As vezes gosto um pouco de demonstrar a falsidade dos mitos, reduzi-los a uma dimensão mais humana. É o caso Robert Leroy Johnson, desde sempre definido demoníaco, enigmático, ligado num certo sentido ao Maligno e àquela imagem dark (sombria) de pioneiro do Rock.

Sobre ele diz-se de tudo e mais se bem que, como para muitíssimos artistas da época, os dados biográficos à nossa disposição sejam realmente pouquíssimos. Mas talvés é propriamente a lenda que incide na imortalidade da sua figura e que, a meu ver, acentua também a dimensão artística. Não posso esconder que a sua personagem não me é simpática e provavelmente muitos de vocês vão me odiar por isso: todavia não é meu costume ter papas na língua, mas pelo contrário adoro trazer à luz verdades desconfortáveis. No caso de Robert Johnson dediquei-me para remontar à realidade VERÍDICA dos factos… e vos garanto que achei realmente pequenos bocados apetitosos para vocês, leitores! Mas vamos por ordem.

Uma infância certamente difícil mas de modo nenhum obscura como muitos afirmam.

A mãe chamava-se Julia Major e era certamente uma rapariga... muito exuberante! Em 1889 casara com um tal Charles Dodds, que possuía uma parte de terra e também uma pequena loja de móveis de vime. O homem parece que fosse de origem hebraica e não era muito bem visto na pequena Hazlehurst, sobre o Mississípi, onde a família vivia. Hábil comerciante atraia frequentemente a inveja de outros pequenos proprietários da zona, provavelmente mesmo irritados pelo facto de que não fosse um “americano genuíno”.


Eis a primeira casa de Robert Johnson em Hazlehurst. Já era uma ruína quando nos anos 90 a pequena cidade resolveu restaurá-la e torná-la um museu. A casinha foi construída por Charles Dodds e inicialmente tinha um pórtico, que é visível mesmo em algumas fotografias antigas de Johnson. Comodidade da época: a casa gozava também de água corrente.

Sabe-se que na época as coisas precipitavam-se muito depressa: chegado nas mãos com os Irmãos Marchetti (e parece que aqui tenha escapado também o morto!) Charles foi forçado a fugir na mesma noite, em 1909, deixando perder as suas peugadas.


Eis a mesma casa, restaurada, come aparece hoje.

Ficando sozinha com 10 filhos nas costas a pobre Julia não sabe o que fazer: isolada, apontada, objecto de vários vexames não consegue pôr a funcionar a pequena fazenda, que vai em ruínas. No entanto o marido transferiu-se para Memphis e mudou o nome para Spencer. Amealhando algum dinheiro de ambas as partes Julia consegue mandar, dois em cada vez, as crianças mais pequenas ao pai até quando permanece sozinha em Huzlehurst com as filhas mais grandes. E aqui a tragédia explode: forçada a fechar também a pequena loja de móveis porque não consegue pagar as taxas e encontrando alojamento num casebre abandonado na periferia, a pobre mulher é forçada a fazer aquilo que chamaríamos hoje “trabalhos sazonais” para sobreviver, recolhendo algodão 12 horas por dia nas plantações vizinhas.


Aqui está o certificado original do recenseamento de 1920… neste período o pequeno Robert já vivia com a mãe e o padrasto, Dusty Willis, em Arkansas. É interessante notar como o apelido da criança esteja indicado em Spencer.

Inútil dizer que o casamento entre Charles e Julia quebra-se; em 1919 vimos esta última novamente casada com um certo Dusty Willis e o novo casal passa a viver em Robinsonville, no delta do Mississípi. Robert fica com eles mas a relação com o padrasto torna-se muito difícil. O mocinho veio a saber pouco tempo depois quem é o seu verdadeiro pai e, rancoroso relativamente aos ambos padrastos, ostenta o apelido Johnson aos quatro ventos. É brigão, irascível, sofre de dores de cabeça contínuas. Mesmo tendo precedentemente aprendido a ler e a escrever (alguns dizem que tivesse mesmo uma boa grafia!) não querendo ir mais à escola, e não obteve nem sequer o diploma de segundo grau. A sua única consolação era dirigir-se à margem do rio e tocar a gaita-de-beiços e a harpa do hebreu.

Em casa é absolutamente inútil e trabalhar nos campos não se fala tão-pouco. Em 1920 a pequena família transfere-se para Arkansas em Lucas Township, Crittenden Country, como parece demonstrar um recenseamento de 1920, mas as coisas não correram da melhor forma. É sabido que Robert tivesse um olho “bailarino”, isto é um olho pequeno do outro, e que acusasse notáveis dificuldades de concentração. Sussurra-se que pudesse ter sofrido de epilepsia... mas não tenho a vontade de confirmar este dado, mesmo porque muitas crises de agressividade típicas da idade de adolescência podem ser confundidas com esta doença. E parece que o bom Robert de crises tivesse tido bastantes, visto que, no fim, a família resigna-se à sua debandada!


Cowboy e ruas de far west. Aparecia desta forma a Crittenden County em 1920.

Aos 14 anos começa a frequentar as barcaças musicais nas margens do Mississípi, a fumar, beber e a frequentar mulheres. Contagiado pela musica de Son House e Willie Brown, refugia-se no Blues, mas a música “maldita” invadiu a família, que condena de todas as maneiras ao ostracismo esta sua paixão. Nasce talvés neste período a mania do jovem Johnson de tocar nos cemitérios e nos matagais obscuros: muito remontas do pensamento do “demónio”, o pobre Robert procura simplesmente um lugar oculto para praticar em paz a sua paixão e chorar em silêncio. Ainda não tocado pelo Maligno, aos 15 anos torna-se um adolescente irrequieto e, na verdade, um desajeitado.

Agora, antes de ir mais além, queria deter a vossa atenção sobre esta famosa harpa do hebreu, da qual muitos falam. Se procurarem ver por aí na Web, encontrarão muitos artigos sobre o Robert Johnson que afirmam que a tocasse… sem ir mais ALÉM na descrição.

Todavia este pequeno instrumento por si só diz muitíssimo sobre a psicologia e, acima de tudo, sobre as capacidades artísticas - musicais do jovem Johnson!

 

Aqui está uma harpa do Hebreu de 1900. Provavelmente o pequeno Robert aprendeu a tocar uma destas nas barcaças do Mississípi.

A Jew’ s harp é praticamente… um BERIMBAU, um instrumento de origem jipsy que era tocada pelos Nómadas do Rajastan já a partir de 1500 e que, como muitos outros, chegara nas margens do Mississípi juntamente com os imigrantes italianos e Hebreus, que o tinham adoptado. Hoje como ontem chamar alguém de Jipsy era chamá-lo de forma pejorativa, isto é “cigano”. O pequeno instrumento era portanto quase o símbolo de um estilo de vida fora dos esquemas, para não dizer vagabundo. Era ainda mais muito fácil de arranjar, fabricar e também tocar; não era exigida nenhuma habilidade especial, se não a constância. Provavelmente Johnson o utilizava também para alcançar alguns estados de transe e de bem-estar (hoje os chamaríamos de “petas”) porque as vibrações do instrumento juntamente ao uso do álcool induziam a uma forma de distanciamento da realidade e da dissociação, técnica provavelmente aprendida nos bares mal reputados do delta.


A harpa do Hebreu, de matriz evidentemente Afro, é ainda hoje difundida na Nova Guine, entre os Papua. Claramente com as devidas modificações.

Além de tocar a harpa e a gaita-de-beiços, o nosso Robert parece que tivesse iniciado também a trabalhar um pouco para sustentar-se, sobretudo quando as relações com a mãe e o padrasto desfizeram-se totalmente. Estamos em 1928 e Johnson trabalha como assalariado rural na Plantações Abbay-Leatherman perto de Robinsonville. Aqui muito provavelmente encontrou o primeiro e único grande amor da sua vida, Virginia Travis, que depois casou com ela dos seus 18 anos de idade em Penton, MS, 17 de Fevereiro de 1929. Os dois sem dinheiro e passam a viver em casa da irmã desta, Bessie, e do cunhado Granville Hines. Parece que a modesta casinha baseada nos arredores de uma comunidade que agora não existe mais, a New África, mas para ter uma ideia de como estivesse orientada socialmente e culturalmente podem dar um salto em New Road África em direcção a Clarcksdale. Trata-se ainda hoje de uma comunidade bastante rígida, um pouco fechada e certamente animada por grande fervor religioso. Tudo parece bastante limpo e organizado, e a vida corre tranquila conforme um ordenamento social suficientemente… de ferro. Viver ali em 1929 não devia ser canja... para um tipo como Robert Johnson!


Uma raríssima imagem que retrata Robert Johnson na marquise da sua casa em New África, onde vivia com a mulher Virginia, a irmã desta e o cunhado. Isso em 1928

Se bem que trabalhasse e amasse a mulher, uma tímida e amável dos seus quinze anos empenhada nos trabalhos domésticos, é sabido que Johnson não tolerava a vida rural e que fugia de casa muitas vezes. Retirava-se nos bares mal reputados e nas barcaças no rio em perseguição de um sonho. Enfim corrompido pela música Blues e pela obsessão fanática por Charlie Patton e Son House ficava muito pouco ao lado da esposa, que enfim estava grávida do primeiro filho. Mas a tragédia está logo atrás da esquina. Na noite 9 e 10 de Abril de 1930 Virginia morre de parto com o pequeno Claude Lee: Robert não estava com ela mas sim a tocar para clientes bêbados nas barcaças do Mississípi.

Quando volta a casa dois dias depois encontra a esposa morta e sepultada e o ostracismo de toda a comunidade que o difama como dissoluto, libertino e escravo do demónio. Agredido pela cunhada Bessie que o acusa publicamente de “ter vendido a alma ao diabo e de ter desta forma matado a sua esposa” o rapaz é literalmente despejado fora de casa, humilhado, ferido e completamente devastado na alma. Desapareceu no mesmo dia e começou a vaguear nos comboios de mercadorias de cidade em cidade assumindo de quando em vez vários nomes: Robert Spencer, Robert James, Robert Barstow e Robert Sacks. Encontrado durante um curto período em Hazelhurst, provavelmente à procura de um conforto. Talvés encontrado em casa de um dos meios-irmãos do padrasto Charles que lhe ensinou os elementos da guitarra, e antes lhe ofereceu uma, uma Gibson Kalamazoo que ele conserva até a morte. Ao certo aqui casa-se com uma mulher muito mais grande do que ele, Calletta Craft, que casam-se secretamente em Maio de 1931 e que não só lhe deu um filho mas que lhe permitiu (ou melhor favoreceu) a frequentação com aquele que foi indicado como “o Diabo em pessoa”.

FILHO DO DIABO
O maestro obscuro


Mas quem era esta obscura figura, desde sempre comparada ao diabo? Foi por causa desta pessoa que Robert Johnson fez o famoso PACTO vendendo a sua alma para obter sucesso e habilidade tocando a guitarra? Foi realmente este homem o famoso mentor que o acompanhou à “encruzilhada” onde foi evocado o maligno? Vejamos como ocorreram os factos.

A lenda sobre Ike Zimmerman nasce a partir de um famoso testemunho de Son House, que conheceu Robert em 1930 num dos bares em Mississippi. Na época a euforia do blues era palpável e acontecia que aos músicos se unissem uns fregueses e umas noivas tocando juntos, propriamente como num Jam session de hoje. Pois bem Son House refere que Robert Johnson tocava a guitarra como uma enxada e que muitos clientes lhe pediram para mandar calar o rapaz que causava uma dor de cabeça à gente! Apenas à distancia de um ano a partir deste episodio os dois encontraram-se de novo… e desta vez Johnson deixa todos de boca aberta pelas capacidades incríveis e a velocidade ao dedilhar as cordas que tinha desenvolvido apenas num ano e foi uma vez ainda Son House juntamente com o seu alter-ego Willie Brown a sugerir que só vendendo a alma ao diabo pode-se tornar excelente em tão pouco tempo!

E já que naquele breve ano todos recordavam de ter visto o jovem Robert na companhia de Ike Zimmerman "a tocar blues", e ainda por cima sobre as lápides do cemitério nos arredores da aldeia, a combinação entre o Talento – Zimmerman - Demónio foi quase automático.


Eis o “ bisbilhoteiro” Son House à época dos factos

O boato circula e a lenda do pacto com o diabo ganhou imediatamente forma: enfim foi o mesmo Robert Johnson a fixá-la definitivamente exprimindo-o na sua CROSSROAD BLUES. Depois, como acontece nestes casos, a lenda espalhou-se mais rapidamente do que ele e talvés o absorveu, transformando-o num artista “querido e danado” destinado (como depois foi) para uma intensa e curta vida de sucessos e para uma morte dramática e repentina. E Zimmerman em tudo isto... que parte teve?

Encontrei muitas noticias sobre ele... numa rádio de Alabama, que entrevistou à filha dele alguns anos atrás, na ocasião da reivindicação de alguns trechos do pai pois publicados por Robert Johnson. A imagem que aparece é bem diferente daquela que se encontra por aí!

Isaia " Ike " Zimmerman (mas o apelido originário parece ser Zinnerman) nasceu em Grady, em Alabama, em 1907. Embora desenvolveu cedo o amor pela música é forçado a trabalhar desde criança como agricultor na pequena firma familiar. No tempo livre lhe agradava contudo pôr-se a andar tocando por aí nos bares e parece que em Montgomery fosse muito conhecido. Nesta alegre vila terá como mulher uma certa Ruth, que era uma cozinheira num

Dos melhores hotéis do sítio. Com ela se transfere para um lugar chamado The Quarters, em Beauregard Road.

É interessante notar como o pequeno aglomerado de 6 casas residisse concretamente ao lado de um cemitério e que a casa de Ike se encontrasse na boca de um cruzamento, como narra a filha. Aqui a pequena família alarga-se, ele acaba por mudar de trabalho mas não perde por ventura a paixão pelo blues que, como sempre, não é bem visto pela gente do sítio. Todavia é muito ágil não só com a guitarra mas também com outros instrumentos, e também bom maestro e parece que a um certo ponto tenha começado a deliciar-se no ensinamento da guitarra… às mulheres! Mas um motivo de contraste com a pequena comunidade, se pensarmos que nos primeiros anos 20 a sociedade, seja negra como branca, não via com bons olhos que as mulheres se “aculturassem”. Porém imaginemos a tocar o blues!

Zimmerman acaba desta forma a dar aulas…nos cemitérios, e não só naquele de Beauregard decerto em todos aqueles da zona, já que ia com frequência passeando. O porquê desta medonha escolha e muito simples: tratava-se de lugares sagrados, tranquilos e um pouco fora de mão, lugares em que nem a mais excitada cabeça quente do subúrbio teria ido com invectivas… ou pior. Com o tempo, a figura de Ike vem “absorvida e tolerada” e começou a fazer parte da paisagem. As suas breves incursões o levaram a Martinsville, onde habitava o irmão Herman e onde ele fixava-se muitas vezes num bar na época chamado ONE STOP porque toda a zona tinha uma única paragem de autocarro. Exactamente aqui acontece o fatídico encontro entre Zimmerman e Johnson.

Ouvindo os testemunhos Robert estava sem um tostão e fixava-se no bar para restaurar-se e tocar um pouco. Os dois simpatizaram de imediato e Ike convidou o rapaz sem dinheiro, que demonstrava um grande amor pela guitarra e uma forte vontade de aprender a tocá-la, para a sua casa. Johnson aqui fica um ano inteiro. Toda a família Zimmerman afeiçoa-se pelo rapaz e as crianças brincam com ele. À noite reuniam-se todos à volta da fogueira para tocar baladas tradicionais ou mesmo algumas canções típicas da família zimmerman. Ouvindo os testemunhos dos filhos, parece que as famosas Ramblin' on my mind e Come on into my kitchen, publicadas por Johnson, eram na verdade canções compostas por Ike cujo depois Johnson apoderou-se.

Seja como for os dois empenhavam-se muito: no sábado e no domingo subiam a pé ao longo de uma rua terraplanada através dos bosques, atravessavam um cruzamento (!) e depois encaminhavam-se à direita para entrar num cemitério onde se exercitavam tocando, seja de dia como de noite. Ou melhor, muito de noite, visto que o bom Ike de dia trabalhava como operário para sustentar a família! Às vezes Robert voltava ao encontro da mulher Callie... mas para brevíssimas pausas. Além da guitarra parece que Zimmerman o tenha ajudado a afinar a arte da gaita-de-beiços e que tenha sido co-autor de muitas canções entre as quais depois foram gravadas pela Okeh, alguns anos depois.

Pouco tempo depois começaram a exibir-se em “duelos musicais” em toda a zona Juke e Martinsville: desafiavam-se em toques de guitarra no meio das ruas e no fim partiram para Texas, onde os seus caminhos separaram-se. Robert voltou para o norte para espantar os seus colegas músicos com as adquiridas habilidades, e Ike depois deixou Beauregard para transferir-se com a família antes para Los Angeles e no fim para Compton, na Califórnia, onde empreendeu uma actividade pastorícia. Não parou por acaso de tocar o blues e morreu tranquilamente na sua cama em 1974.


Uma raríssima foto de Ike Zimmermann quando fazia-se de mentor ao jovem Johnson.

Tudo aqui? E então, o Pacto com o diabo?

Digamos que, se mesmo não queremos trazer à baila o pobre DOCTOR FAUST, a ideia de vender a própria alma ao Maligno… é história antiga! Toda a tradição Afro-Americana e também aquela Europeia está repleta de referências a esta prática; basta recordar o famoso conto de Irving Washington O diabo e Tom Walker de 1824, ou então O Diabo e Daniel Webster de Stephen Vincent Bennet de 1936. E o que dizer de uma dos ilustres predecessores de Robert Johnson, o músico negro TOMMY JOHNSON que, triste e alcoolizado e na esteira do outro tanto arrasado CHARLIE PATTON, passeava por aí ao longo do Mississípi gritando a sua BIG ROAD BLUES?

 

E se decerto queremos dizer a verdade, não foi ainda Son House a sublinhar a “familiaridade” entre a história de Robert Johnson e aquela do bluesman de St. Louis PEETIE WHEATSTRAW, que se autoproclamava “filho legítimo de Satanás?” enfim, se nós queremos

Chegar às histórias de casa nostra, o que é que acham de Nicolò Paganini e de muitos seus trechos que se dizia de lhe terem sido ditados pelo demónio?

Em suma, fazer de um adquirido talento nato por uma dura dedicação e por uma predisposição inata uma lenda, e acrescentando pormenores inventados por cima por vanglória da parte de Robert Johnson e ampliar esta imagem por puros objectivos comerciais da parte das editoras que o produziram, não foi difícil. Pena que depois o músico DANADO se tenha engasgado sozinho alimentando as suas fábulas!


Aqui está o Tommy Johnson, o primeiro filho do Diabo dos pântanos do delta. Todavia a figura deste músico alcoolizado não criou problemas à comunidade negra da época: por quê? Veremos a seguir.

De todas as formas, o seu comportamento não era certamente edificante: entretendo-se em felizes encontros sexuais com a senhorita Virginia Mae Smith certamente dois meses depois da morte da sua pobre mulher, grávida esta de um filho que nunca quis reconhecer e fugido secretamente para casar-se com a abastada e várias vezes divorciada Callie Craft, dez anos mais grande, por únicos motivos económicos, disseminava por toda a parte rancores, discórdias e corações partidos.

Diferentemente de muitos bluesman que se metiam na cama de qualquer uma com o único objectivo de obter quaisquer trocados, uma garrafa e um pouco de calor, Robert Johnson explorava os seus dotes amadores com o cálculo preciso de um homem de negócios, vendendo-se a quem oferecia mais. Não considerava descabido deixar-se sustentar por mulheres idosas e endinheiradas, que sucedia, usufruia e muitas das vezes maltratava, para no fim abandoná-las quando encontrava o melhor. O seu segundo casamento acabou... quando Callie adoeceu (alguns dizem que por um aborto ou um filho nascido morto) e era necessário estar ao lado dela. De noite até ao amanhecer Robert a deixou para acompanhar-se nas suas incursões a uma estrelinha de passagem…

Entre 1932 e 1933 o encontramos muitas vezes em viagem: pedia boleia ou subia nos comboios como clandestino, e as vezes apanhava o autocarro. Durante um breve período estabeleceu-se em Helena, em Arkansas, iniciando a ser sequaz entre os músicos do local como Howlin' Wolf, Honeboy Edwards, Memphis Slim, Robert Nigthawk, Sonny Boy Williamson, só para citar alguns. Travou também uma relação (outra vez?) com a linda Estella Coleman, ajudando depois o filho dela, o futuro bluesman Robert Lockwood Jr. a seguir o caminho para o sucesso.

Mas o seu companheiro preferido de peregrinação foi Johnny Shine, com o qual chegou até em New York e em Canada. Encontramos dados desta sua preferência numa foto que remonta talvés a 1933 e que deu a volta ao mundo como “a terceira foto desconhecida do grande Robert Johnson”…


Um já idoso Ike Zimmermann em 1974, dois meses antes da sua morte.

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