Um Sonho de Mortais

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Из серии: Anel Do Feiticeiro #15
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CAPÍTULO CINCO

Volúsia marcha através do deserto seguida por suas centenas de milhares de homens à medida que o som de suas botas preenche o ar. Aquele é um som doce para seus ouvidos, o som de progresso, de vitória. Ela observa a paisagem ao seu redor e fica satisfeita ao ver os cadáveres que preenchem o horizonte por todo o chão duro e seco do deserto nos arredores da capital do Império. Há milhares de corpos esparramados, todos completamente imóveis, deitados de costas e olhando para o céu em agonia, como se tivessem sido esmagador por uma onda gigante.

Volúsia sabe que aquilo não é o resultado de um maremoto, e sim de seus feiticeiros, os Voks. Eles haviam lançado um feitiço muito poderoso que havia matado todos aqueles que haviam ousado acreditar ser capazes de capturar Volúsia para matá-la.

Volúsia sorri à medida que avança, apreciando sua obra e saboreando aquele dia de vitória, em que mais uma vez ela havia sido mais esperta que aqueles que pretendiam matá-la. Todos eles tinham sido líderes do Império, grandes homens, homens que nunca haviam sido derrotados antes e a única coisa que ainda restava entre ela e a Capital. Agora, ali estão eles, todos aqueles líderes do Império, todos os homens que se haviam se atrevido a desafiar Volúsia, todos os homens que tinham pensado ser mais espertos do que ela – todos eles mortos.

Volúsia caminha entre eles, às vezes evitando os corpos, às vezes passando por cima deles e às vezes, quando ela sente vontade, pisando direitamente sobre eles. Ela toma grande satisfação em sentir a carne de seus inimigos sob suas botas. Aquilo lhe dá a sensação de ser uma criança novamente.

Volúsia olha para a frente e vê a Capital diante dela com sua enorme cúpula dourada brilhando inequivocamente à distância, vê os muros maciços que cercam a cidade, com trinta metros de altura, nota a entrada, emoldurada por portas arqueadas douradas e sente a emoção ao perceber que seu destino está se desdobrando diante dela. Agora, não existe nada entre ela e a sede definitiva de seu governo. Não há mais políticos, líderes ou comandantes que podem ficar em seu caminho com qualquer pretensão de governar o Império. Após aquela longa caminhada em que ela havia conquistado uma cidade após a outra durante várias luas, dando-lhe a oportunidade de aumentar o seu exército com os soldados de uma cidade de cada vez, finalmente, tudo está prestes a terminar. Além daquelas paredes, um pouco além daquelas portas douradas brilhantes, está a sua conquista final. Em breve, ela estará lá dentro, assumirá seu lugar de poder e, quando ela fizer isso, nada e nem ninguém poderá detê-la. Ela assumirá o comando de todos os exércitos do Império, de todas as suas províncias e regiões, os quatro chifres e as duas pontas, e, finalmente, todas as criaturas do Império terão que declará-la, uma humana, a comandante suprema do Império.

Ainda mais importante, eles terão que chamá-la de Deusa.

A ideia a faz sorrir. Ela pretende erguer estátuas de si mesma em cada cidade, diante de cada fortaleza; ela criará feriados em sua homenagem e fará as pessoas honrarem o seu nome até que o Império não se lembre de nenhum outro nome, exceto o dela.

Volúsia caminha diante de seu exército sob os sóis da manhã, examinando as portas douradas da Capital e percebendo que aquele será um dos momentos mais importantes de sua vida. Liderando o caminho diante de seus homens, ela se sente invencível, especialmente agora que todos os traidores em suas fileiras tinham sido mortos. Que tolos eles haviam sido, ela pensa, ao supor que ela seria ingênua e presumir que ela cairia em sua armadilha apenas por ser jovem. Aquilo havia resultado apenas em uma morte prematura, uma morte precoce por subestimar sua sabedoria – uma sabedoria ainda maior do que a deles.

Ao mesmo tempo, enquanto Volúsia analisa os corpos dos homens do Império esparramados pelo deserto, um sentimento crescente de preocupação começa a incomodá-la. Ela percebe que não há tantos corpos quanto ela havia pensado. Há talvez alguns milhares de corpos, não as centenas de milhares que ela havia esperado; aquela não é o corpo principal do exército do Império. Por acaso aqueles líderes não haviam levado todos os seus homens com eles? E se é esse o caso, onde eles podem estar?

Ela começa a se perguntar sem com seus líderes mortos, a Capital do Império ainda oferecerá resistência.

Quando Volúsia se aproxima dos portões da Capital, ela faz um sinal para que Vokin prossiga avançar e para que seu exército pare de avançar.

Juntos, todos eles param atrás dela e, finalmente, o silêncio toma conta do deserto e não há qualquer ruído exceto o som do vento, da poeira subindo no ar e de um espinheiro rolando em torno deles. Volúsia avalia as enormes portas fechadas, o ouro esculpido em padrões ornamentados, sinais e símbolos que contam as histórias das antigas batalhas das terras do Império. Aquelas portas são famosas por todo o Império e há boatos de que cem anos tinham sido necessários para esculpi-la, com seus três metros de espessura. Ela é um sinal de força, representando todo o território do Império.

Volúsia, a quase quinze metros de distância, nunca tinha estado tão perto da entrada da Capital antes e teme aquelas portas – e o que elas representam. Aquele não é apenas um símbolo de força e estabilidade, mas também uma obra-prima, uma obra de arte antiga. Ela anseia em se aproximar e tocar aquelas portas douradas, passando suas mãos ao longo das imagens esculpidas, mas ela sabe que aquele não é o momento. Enquanto ela continua observando a entrada da Capital, uma crescente sensação de mau agouro começar a surgir dentro dela. Algo está errado. Seu exército está fora de formação e tudo está muito quieto.

Volúsia olha para cima e, em cima dos muros, montando guarda sobre os parapeitos, vê milhares de soldados do Império surgindo lentamente, em formação e olhando para baixo com arcos e lanças em riste.

Um general do Império está no meio deles, olhando para Volúsia e seu exército.

"Você é tola por chegar tão perto," ele dispara com sua voz ressoante. "Vocês estão ao alcance de nossos arcos e lanças. Com um único gesto, eu posso matá-la em um instante."

"Mas eu vou lhe conceder a misericórdia," ele acrescenta. "Diga aos seus soldados para abaixarem suas armas e eu permitirei que você continue viva."

Volúsia olha para o general cujo rosto está obscurecido pelo sol, um comandante solitário que havia sido deixado para trás para defender a Capital, e olha para os seus homens, todos com os olhos fixos nela e com arcos em suas mãos. Ela sabe que o general não está blefando.

"Eu vou lhe dar uma oportunidade para abaixar as suas armas," ela grita de volta, "antes que eu mate todos os seus homens e queime a Capital até que só restem escombros."

Ele ri e ela percebe quando ele e todos os seus homens abaixam os visores de seus capacetes, preparando-se para a batalha.

Rápido como um raio, Volúsia de repente ouve o som de um milhar de setas sendo lançadas e de mil lanças sendo arremessadas, e quando ela olha para cima, Volúsia vê o céu escurecido pelas armas atiradas em sua direção.

Volúsia fica ali, paralisada no mesmo lugar e sem demonstrar medo, sem ao menos pestanejar. Ela sabe que nenhuma daquelas armas pode alvejá-la. Afinal, ela é uma deusa.

Ao lado dela, o Vok ergue uma única mão, comprida e verde, e, ao fazer isso, uma esfera verde irradia dele e flutua no ar diante de Volúsia, criando um escudo de luz verde a alguns metros acima da cabeça dela. Um momento depois, as flechas e lanças ricocheteiam sem causar danos e caem no chão ao lado dela, formando uma enorme pilha.

Volúsia observa com satisfação para a crescente pilha de lanças e flechas e olha para cima para ver os rostos atordoados de todos os soldados do Império.

"Eu lhes darei mais uma chance para que se rendam!" Ela grita de volta.

O comandante do Império fica parado, claramente frustrado e ponderando suas opções, mas ele não recua. Em vez disso, ele faz um gesto para seus homens e ela pode vê-los se preparando para o próximo ataque.

Volúsia acena para Vokin e ele faz um gesto para os seus homens. Dezenas de Voks se adiantam e, alinhados, levantam as mãos acima de suas cabeças com as palmas de suas mãos voltadas na direção de seus oponentes. Um momento depois, dezenas de esferas verdes preenchem o céu, subindo na direção das paredes da Capital.

Volúsia assiste com grande expectativa, esperando que as paredes sejam destruídas, à espera de ver todos os homens do Império caindo aos seus pés para que a Capital finalmente seja dela. Ela está ansiosa para sentar-se no trono, mas observa com surpresa e consternação quando as esferas de luz verde ricocheteiam nas paredes de capital sem causar danos e, em seguida, desaparecem em flashes brilhantes de luz. Ela não consegue entender: elas são ineficazes.

Volúsia olha para Vokin, que também se mostra perplexo.

O comandante do Império, em cima dos muros da Capital, começa a rir.

"Você não é a única pessoa com acesso a feitiçaria," ele diz. "Os muros da Capital não podem ser derrubados por qualquer tipo de mágica, eles têm resistido ao teste do tempo por milhares de anos, repelindo bárbaros e exércitos maiores do que o seu. Não há mágica capaz de derrubá-los, somente mãos humanas."

Ele abre um largo sorriso.

"Então você vê," ele acrescenta, "você está cometendo o mesmo erro que tantos outros pretensos conquistadores antes de você. Você pretendia usar feitiçaria na abordagem desta capital e agora você vai pagar o preço por isso."

Trombetas soam ao longo dos parapeitos e Volúsia fica chocada ao ver um exército de soldados surgindo no horizonte. Eles preenchem o horizonte com a cor preta, centenas de milhares deles, um vasto exército, maior até do que as forças que Volúsia tem atrás de si. Eles claramente haviam esperado além do muro no lado mais distante da Capital, no meio do deserto, pela ordem do comandante do Império. Ela não tinha acabado de entrar em outra batalha – aquela será uma verdadeira guerra.

 

Outra trombeta soa e, de repente, as enormes portas douradas diante dela começam a se abrir. Elas abrem cada vez mais e, então, um grande grito de guerra corta o ar quando milhares de outros soldados do Império surgem, partindo para cima de Volúsia e seu exército.

Ao mesmo tempo, as centenas de milhares de soldados no horizonte também começam a avançar, dividindo suas forças em torno da capital do Império e atacando-os de ambos os lados.

Volúsia mantém-se firme, levanta um único braço e, em seguida, volta a abaixá-lo.

Atrás dela, seu exército emite um grande grito de guerra e começa a correr ao encontro dos homens do Império.

Volúsia sabe que aquela será a batalha que decidirá o destino da Capital e até mesmo o destino do próprio Império. Seus feiticeiros a tinham decepcionado, mas seus soldados não o farão. Afinal, ela pode ser mais brutal do que qualquer outro homem e não precisa de feitiçaria para atingir seus objetivos.

Ela vê os homens aproximando-se dela e mantém sua posição, pronta para matar ou morrer.

CAPÍTULO SEIS

Gwendolyn abre os olhos ao bater a cabeça e observa os seus arredores, sentindo-se desorientada. Ela percebe que está deitada de lado em uma plataforma de madeira dura e que o mundo está se movendo ao seu redor. Gwen ouve um lamento e sente algo molhado em sua bochecha. Ao olhar para o lado, ela vê Krohn deitado ao seu lado, lambendo-a, e seu coração se enche de alegria. Krohn parece doente, faminto e exausto, mas ao menos ele está vivo. Isso é tudo o que importa. Ele também havia sobrevivido.

Gwen lambe os lábios e percebe que eles não estão tão secos quanto antes; ela fica aliviada por ser capaz de lambê-los, pois sua língua tinha estado muito inchada até mesmo que ela a movesse. Ela sente uma corrente de água fria entrar em sua boca e ela observa pelo canto do olho um daqueles nômades do deserto parado sobre ela, segurando um saco e acima dela. Ela engole a água avidamente, dando vários goles, até que ele começa a se afastar.

Quando ele afasta a mão, Gwen estende o braço, agarra o seu pulso e o dirige para Krohn. No início, o nômade parece perplexo, mas então ele percebe e, estendendo o braço, derrama um pouco de água na boca de Krohn. Gwen se sente aliviada enquanto observa Krohn absorver a água, bebendo enquanto continua deitado, ofegante, ao lado dela.

Gwen sente outra sacudida, bate a cabeça na plataforma outra vez e, ao olhar para cima, não vê nada além de nuvens passando pelo céu à sua frente. Ela sente seu corpo sendo erguido cada vez mais alto a cada solavanco e não consegue entender o que está acontecendo ou onde ela se encontra. Ela não tem a forças para se sentar, mas é capaz de erguer seu pescoço o suficiente para ver que está deitada sobre uma plataforma de madeira larga que é içada por cordas em cada uma de suas extremidades. Alguém diante dela está puxando as cordas e, a cada puxão, a plataforma sobe um pouco mais. Ela está sendo levada pela lateral de penhascos íngremes que parecem não ter fim, os mesmos penhascos que ela se lembra de ter visto antes de desmaiar, falésias coroadas por parapeitos e cavaleiros reluzentes.

Gwen se esforça para esticar o pescoço e, ao olhar para baixo, ela imediatamente se sente tonta. Eles estão a dezenas de metros acima do chão do deserto e continuam subindo.

Gwendolyn volta a olhar para cima e vê os parapeitos a trinta metros de distância, sua visão obscurecida pelo sol, e os cavaleiros olhando para baixo, chegando mais perto a cada puxão das cordas. Gwen imediatamente se vira e, ao examinar a plataforma, é inundada de alívio ao ver que todo o seu povo ainda está com ela: Kendrick, Sandara, Steffen, Arliss, Aberthol, Illepra, a bebê Krea, Stara, Brant, Atme, e vários cavaleiros da Prata. Todos eles estão na plataforma, sendo atendido por nômades que derramam água em suas bocas e rostos. Gwen sente uma onda de gratidão para com aquelas estranhas criaturas que haviam salvado as suas vidas.

Gwen fecha os olhos novamente, deita a cabeça sobre a madeira dura com Krohn aninhado ao seu lado e tem a sensação de que sua cabeça pesa centenas de quilos. Ao seu redor, um silêncio confortável preenche o ar, sem qualquer som ali em cima exceto o do vento e das cordas rangendo. Ela já tinha viajado muito, por um longo tempo, e começa a se perguntar quando tudo aquilo chegará ao fim. Logo eles chegarão ao topo e ela só torce para que os cavaleiros, quem quer que fossem, sejam tão hospitaleiros como aqueles nômades do deserto.

A cada puxão, os sóis ficam mais fortes e mais quentes, sem sombra sob a qual eles possam se esconder. Ela tem a sensação de estar queimando, como se estivesse sendo içada até o núcleo do próprio sol.

Gwendolyn abre os olhos ao sentir um solavanco final e percebe que tinha caído no sono novamente. Ela sente um movimento repentino e percebe que está sendo cautelosamente carregada pelos nômades, que colocam ela e seu povo de volta nas lonas, tirando-os da plataforma, e sendo levada até os parapeitos. Gwendolyn sente-se finalmente sendo suavemente colocada em um chão de pedra e olha para cima, piscando várias vezes contra a claridade do sol. Ela está exausta demais para levantar seu pescoço e não tem certeza se ela ainda está acordada ou se está sonhando.

Dezenas de cavaleiros vestindo cotas de malha e lindas armaduras brilhantes começam a surgir, aproximam-se dela e se reúnem ao seu redor, olhando-a com curiosidade. Gwen não consegue entender como aqueles cavaleiros podem estar ali, naquele grande deserto no meio do nada, como eles podem estar montando guarda na parte superior daquele imenso cume, sob a constante presença dos dois sóis. Como eles sobrevivem ali? O que eles estão protegendo? Onde eles haviam conseguido armaduras reais? Aquilo tudo seria apenas um sonho?

Até mesmo o Anel, com a sua antiga tradição de grandeza, tem poucas armaduras a altura das armaduras que aqueles homens estão usando. Aquela é a armadura mais intrincada que ela já tinha visto, forjada em prata, platina e algum outro metal que Gwen não consegue reconhecer, exibindo marcações intrincadas e com armamentos de igual qualidade. Aqueles homens são claramente soldados profissionais. A visão faz Gwen recordar os dias em que ela ainda era uma jovem menina e tinha o costume de acompanhou seu pai em campo; ele tinha tido o hábito de mostrar-lhe os soldados e ela havia gostado da oportunidade de vê-los alinhados com tal esplendor. Gwen se pergunta como tal beleza pode existir e como aquilo tudo pode ser possível.

Ela pensa que talvez ela tenha morrido e aquela seja a sua versão do céu, mas então ela ouve um deles dar um passo à frente, ficando na frente dos outros, remover seu capacete e olhar para ela, seus brilhantes olhos azuis cheios de sabedoria e compaixão. Ele parece ter trinta anos e sua aparência é assustadora, sua cabeça é completamente calva e ele exibe uma barba loura. Claramente, ele é o oficial no comando.

O homem volta sua atenção para os nômades.

"Eles estão vivos?" Ele pergunta.

Um dos nômades, em resposta, estende seu longo cajado e gentilmente cutuca Gwendolyn, que começa a se mover no mesmo instante. Ela quer mais do que qualquer coisa poder se sentar e conversar com eles para descobrir quem eles são, mas ela está muito cansada e com a garganta seca demais para responder.

"Incrível," diz outro cavaleiro, dando um passo adiante com as esporas tilintando à medida que cada vez mais cavaleiros se aproximam, reunindo-se em torno deles. Claramente, eles são todos objetos de grande curiosidade.

"Não é possível," afirma um deles. "Como eles podem ter sobrevivido ao Grande Deserto?"

"Eles não fizeram isso," responde outro cavaleiro. "Eles devem ser desertores e devem ter de alguma forma atravessado a cordilheira, se perdido no deserto e decidido voltar."

Gwendolyn tenta responder para dizer-lhes tudo o que havia acontecido, mas ela ainda está exausta demais para conseguir pronunciar as palavras.

Depois de um breve silêncio, o líder dá um passo adiante.

"Não," ele responde com confiança. "Olhe para as marcas nas armaduras dele," ele pede, cutucando Kendrick com o pé. "Esta não é a nossa armadura e também não é a armadura do Império."

Todos os cavaleiros se aglomeram ao redor, parecendo atordoados.

"Então, de onde eles são?" Pergunta um deles, claramente perplexo.

"E como é que eles sabem onde nos encontrar?" Pergunta outro.

O líder se vira para os nômades.

"Onde vocês os encontraram?" ele indaga.

Os nômades guincham sua responde e Gwen vê o líder arregalar os olhos.

"Do outro lado do muro de areia?" Ele pergunta. "Você tem certeza?"

Os nômades guincham de volta.

O comandante se vira para o seu povo.

"Eu não acho que eles sabiam que estávamos aqui. Eu creio que eles tiveram sorte, os nômades os encontraram e, em busca de uma recompensa, os trouxeram até aqui, confundindo-os com um de nós."

Os cavaleiros se entreolham e fica claro que eles nunca haviam se deparado com uma situação como aquela antes.

"Nós não podemos acolhê-los," afirma um dos cavaleiros. "Você conhece as regras. Se você os deixar entrar, deixaremos um rastro. Não devemos deixar rastros. Nunca. Nós temos que mandá-los de volta para o Grande Deserto."

Um longo silêncio se segue, interrompido por nada, exceto o uivo do vento, e Gwen pode sentir que eles estão debatendo o que fazer com eles. Ela não gosta de quanto tempo eles permanecem em silêncio.

Gwen tenta se sentar para protestar, para dizer-lhes que eles não podem mandá-los embora. Ela sabe que eles simplesmente não sobreviverão – não depois de tudo pelo qual eles haviam passado.

"Se nós fizermos isso," explica o líder, "significará a morte de todos eles. Nosso código de honra exige que ajudemos os desamparados."

"E, no entanto, se nós os acolhermos," responde um cavaleiro, "todos nós poderemos morrer. O Império seguirá o rastro deles e descobrirão o nosso esconderijo. Nós estaremos colocando em risco todo o nosso povo. Você prefere que alguns estranhos morram ou que todo o nosso sofra as consequências?"

Gwen pode ver o líder pensando, dilacerado pela angústia diante de uma decisão difícil. Ela entende qual é a sensação de enfrentar decisões difíceis. Ela está muito fraca para resignar-se a qualquer coisa, exceto permitir-se ficar à mercê da bondade de outras pessoas.

"Pode ser que sim," diz finalmente o líder com um tom de resignação em sua voz, "mas eu não condenarei pessoas inocentes a morte. Eles ficarão conosco."

Ele se vira para seus homens.

"Levem eles para o outro lado", ele ordena com a voz firme, demonstrando toda a sua autoridade. "Vamos levá-los para o nosso Rei e ele decidirá o destino dessas pessoas."

Os homens ouvem a ordem e começam a partir para a ação, preparando a plataforma do outro lado para a descida ao mesmo tempo em que um dos homens volta a olhar para o líder, parecendo incerto.

"Você está violando as leis do rei," o cavaleiro diz. "Nenhum estranho está autorizado a acessar a Cordilheira. Jamais."

O líder olha para ele com firmeza.

"Nenhum forasteiro jamais chegou até aqui," ele responde.

"O Rei pode prendê-lo por isso," rebate o cavaleiro.

O líder não vacila.

"Essa é uma possibilidade que eu estou preparado para enfrentar."

"Você fará isso por estranhos? Inúteis nômades do deserto?" pergunta o cavaleiro com surpresa. "Nós ainda não sabemos quem são essas pessoas."

"Toda a vida é preciosa," o líder responde, "e minha honra vale mais do que mil vidas na prisão."

O líder acena para seus homens, que permanecem à espera, e Gwen de repente é erguida nos braços de um cavaleiro e sente sua armadura de metal contra suas costas. Ele a pega no colo sem esforço, como se ela fosse uma pluma, e começa a caminhar ao mesmo tempo em que os outros cavaleiros recolhem os outros. Gwen percebe que eles estão andando em uma ampla e plana plataforma de pedras no cume da montanha, com aproximadamente cem metros de largura. Eles caminham sem parar e ela se sente à vontade nos braços daquele cavaleiro, mais à vontade do que ela havia se sentido em muito tempo. O que ela quer, mais do que qualquer outra coisa, é dizer-lhe obrigado, mas ela está exausta demais sequer para abrir a boca.

Eles chegam ao outro lado dos parapeitos e, à medida que os cavaleiros se preparam para colocá-los em uma nova plataforma e levá-los para o outro lado do cume, Gwen olha para fora e vê de relance para onde eles estão indo. Aquela é uma visão que ela nunca será capaz de esquecer, uma visão que lhe tira o fôlego. O cume da montanha, erguendo-se acima do deserto como uma esfinge, tem, ela percebe, a forma de um grande círculo, tão grande que desaparece de vista no meio das nuvens. Aquele é um muro de proteção, ela percebe, e do outro lado, lá em baixo, Gwen vê um lago azul cintilante tão grande quanto um oceano, brilhando sob os sóis do deserto. A riqueza do azul e a visão de toda aquela água lhe tiram o fôlego.

 

E, além disso, no horizonte, ela vê uma terra vasta, uma terra tão vasta que Gwen não consegue ver onde ela termina. Para sua surpresa, a terra é de um verde fértil, uma terra repleta de vida. Até onde ela é capaz de enxergar há fazendas, árvores frutíferas, florestas, vinhedos e pomares em abundância; aquela é, evidentemente, uma terra bastante fértil. Aquela é a visão mais idílica e bonita que ela já tinha visto.

"Bem-vinda, minha senhora," diz o líder, "a terra além do cume."

CAPÍTULO SETE

Godfrey, deitado na posição fetal, é despertado por um gemido persistente e constante que interrompe os seus sonhos. Ele acorda lentamente, sem saber se está realmente acordado ou se ainda está preso em seu pesadelo interminável. Ele pisca sob a luz fraca, tentando livrar-se das lembranças de seu sonho. Ele havia sonhado ser um fantoche, balançando sobre Volúsia e sendo controlado pelos Finianos que, ao movimentarem as cordas para cima e para baixo, moviam os braços e pernas de Godfrey enquanto ele pendia diante da entrada para a cidade. Godfrey tinha sido forçado a assistir enquanto milhares de seus compatriotas eram massacrados diante de seus olhos e as ruas de Volúsia eram preenchidas de vermelho com o sangue dos soldados mortos. Todas as vezes que ele havia pensado que seu martírio tinha chegado ao fim, o Finiano mexia suas cordas novamente, puxando-o para cima e para baixo sem parar…

Finalmente, por sorte, Godfrey é despertado por um gemido e vira o rosto, com a cabeça latejando de dor, para ver que o barulho vem de algum lugar perto dele, onde estão Akorth e Fulton. Os dois estão encolhidos no chão ao lado de Godfrey, ambos gemendo e cobertos de hematomas pretos e azuis. Nas proximidades estão Merek e Ario, deitados imóveis em um chão de pedras que Godfrey imediatamente reconhece como o chão de uma cela de prisão. Todos parecem ter sido torturados, mas, pelo menos, todos eles ainda estão ali e, até onde Godfrey é capaz de dizer, todos ainda estão respirando.

Godfrey fica ao mesmo tempo aliviado e perturbado. Ele fica surpreso por estar vivo depois da emboscada que ele havia testemunhado e espantado por não ter sido abatido pelos Finianos imediatamente após o ataque. Mas, ao mesmo tempo, ele se sente vazio e oprimido pela culpa, sabendo que Darius e os outros tinham caído na armadilha dentro dos portões de Volúsia por sua culpa. Tudo aquilo havia acontecido por causa de sua ingenuidade. Como ele pode ter sido tão estúpido a ponto de confiar neles?

Godfrey fecha os olhos e balança a cabeça, querendo esquecer tudo aquilo e desejando que a noite tivesse sido diferente. Ele havia levado Darius e os outros até a cidade involuntariamente, como cordeiros levados para o abate. Ele ouve os gritos daqueles homens, lutando por suas vidas e tentando escapar, ecoando em seu cérebro repetidas vezes e seu coração não consegue ficar em paz.

Godfrey aperta as mãos em torno de sua cabeça, tentando esquecer tudo aquilo e tentando abafar os gemidos de Akorth e Fulton, ambos claramente com dor por causa de todos os seus hematomas e de uma noite dormindo em um chão de pedra dura.

Godfrey se senta, sentindo que sua cabeça pesa uma tonelada, e observa seus arredores, uma pequena cela contendo apenas ele, seus amigos e alguns outros prisioneiros que ele não conhece, e tira algum consolo do fato de que, dado o ambiente sombrio daquela cela, a morte chegará até eles mais cedo ou mais tarde. Aquela prisão é obviamente diferente da última cela onde eles haviam ficado e se parece mais com uma sala de espera para prisioneiros condenados à morte.

Godfrey ouve, em algum lugar ao longe, os gritos de um prisioneiro sendo arrastado por um corredor e ele percebe: aquele lugar é, na verdade, uma cela para prisioneiros aguardando suas execuções. Ele tinha ouvido falar de outras execuções em Volúsia e sabe que ele e os outros seriam arrastados para fora ao nascer dos sóis, tornando-se atrações para a arena, onde os bons cidadãos de Volúsia poderão vê-los sendo dilacerado até a morte por Razifs antes do início do espetáculo dos gladiadores. É por isso que eles tinham sido mantidos vivos por tanto tempo. Pelo menos agora tudo faz sentido.

Godfrey se ajoelha, estendendo a mão e estimulando cada um de seus amigos na tentativa de acordá-los. Sua cabeça está girando, ele sente dor em todas as partes de seu corpo, ele está coberto de hematomas e contusões e mover lhe causa uma dor insuportável. Sua última lembrança é de um soldado prestes alcançá-lo e Godfrey percebe que deve ter apanhado dos outros soldados depois de ter sido nocauteado. O Finianos, aqueles covardes traiçoeiros, obviamente não tinham tido coragem de matá-lo com suas próprias mãos.

Godfrey leva a mão até a testa, espantado pelo fato de que sua cabeça possa doer tanto mesmo sem que ele tenha bebido. Ele fica em pé, sentindo fraqueza nas penas, e olha em volta da cela escura. Há apenas um único guarda do lado de fora das barras da cela, de costas para ele e apenas observando. No entanto, aquelas celas são feitas com fechaduras resistentes e grossas barras de ferro, e Godfrey sabe que eles não terão uma fuga fácil desta vez. Desta vez, eles estão condenados à morte.

Lentamente, ao lado dele, Akorth, Fulton, Ario e Merek ficam em pé e também começam a analisar seus arredores. Godfrey pode ver a confusão e o medo em seus olhares e, em seguida, o arrependimento à medida que eles começam a se lembrar.

"Será que todos eles morreram?" Pergunta Ario, olhando para Godfrey.

Godfrey sente um buraco no estômago ao mesmo tempo em que ele lentamente assente com a cabeça.

"A culpa é nossa," diz Merek. "Nós os enganamos."

"Sim, isso foi nossa culpa," Godfrey responde com a voz embargada.

"Eu lhe disse para não confiar nos Finianos," declara Akorth.

"A questão não é de quem é a culpa," Ario fala, "mas o que vamos fazer sobre isso. Será que vamos permitir que todos os nossos irmãos e irmãs tenham morrido em vão? Ou será que vamos buscar a vingança?"

Godfrey pode ver a seriedade no rosto do jovem Ario e fica impressionado com a intensidade de sua determinação, mesmo estando preso e prestes a ser morto.

"Vingança?" Pergunta Akorth. "Você está louco? Estamos presos debaixo da terra, atrás de barras de ferro e sob os olhares atentos dos guardas do Império. Todos os nossos homens estão mortos. Nós estamos no meio de uma cidade hostil e de um exército hostil. Todo o nosso ouro está perdido e nossos planos estão arruinados. Que tipo de vingança nós podemos buscar?"

"Há sempre uma maneira," diz Ario, mostrando-se determinado. Ele se vira para Merek.

Todos os olhos se voltam para Merek e ele franze a testa.

"Eu não sou especialista em vingança," Merek diz. "Eu mato homens quando eles me incomodam. Eu não espero pela oportunidade de vingança."

"Mas você é um ladrão," declara Ario. "Você passou toda a sua vida em uma cela de prisão, como você mesmo já admitiu. Certamente você pode nos tirar daqui?"

Merek se vira e examina a cela, as barras, as janelas, as chaves e os guardas – tudo isso com o olhar apurado de um especialista. Ele considera a situação e, então, volta a olhar para eles com uma expressão séria no rosto.

"Esta não é uma cela de prisão comum," ele explica. "Deve ser uma célula Finiana, um trabalho muito caro. Não vejo pontos fracos ou alguma saída, por mais que eu gostaria de dizer o contrário."

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