Magia, Caos & Assassinato

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A banda chegou ao fim de sua música, algo que eu queria ter percebido dez segundos antes. Agora estava tão quieto que eu podia ouvir um rato peidar.

O Sr. Homem da Lei Bonitão sentou em uma cadeira ao meu lado, um sorriso puxando sua boca para cima, expondo as covinhas que não paravam de aparecer. — Bem, senhora, é bom saber.

Os olhos de Ivana se arregalaram. Sim. Eu sei. Ele é atraente.

— Se eu tentar não me animar, você me dará a honra da próxima dança, senhorita McCall? — Pelo canto do meu olho, eu vi os cílios de Ivana flutuarem, sua mão segurando o busto, aumentando o decote.

— Sim, claro — murmurei, meu corpo inclinando para o dele, mais quente. Sempre. Vovó nunca perdoaria a falta de boas maneiras, e eu tive que confiar em comportamentos seguros e em manter uns bons quinze centímetros entre nossos corpos. Quanto mais cedo eu apresentar o oficial Ace Collins para Estrela, melhor.

Na pista de dança, eu mal chegava ao queixo dele quando ele me puxou para seu peito largo. Ele colocou minha mão na dele muito maior e que ameaçava engoli-la inteira, me puxando para o passo lento da valsa, a outra mão escalando a carne na parte inferior das minhas costas. Cerrei meus dentes. E Estrela e sua banda country tinham que tocar uma música romântica em seguida. Ele dançou de forma casual, fazendo com que fosse fácil seguir sua liderança. Infelizmente. Seria melhor se ele dançasse como o Pé Grande.

— Eu não tinha ideia de que o Lago Nevado era uma comunidade tão próspera. É bom ver tantas pessoas por aí em uma noite de quinta-feira.

— Oh, isso. É só porque a banda da minha irmã Estrela está aqui.

— Aquela é sua irmã? Boa voz. — Ele não olhou para o palco, onde ela cantava baixinho sobre chorar por um amor perdido, ao invés disso segurou meu olhar.

— Você vai ficar na cidade por um tempo?

— Se vocês me aceitarem.

Eu assenti. — Eu te apresentarei a Estrela entre as músicas.

Ele encolheu os ombros. — Claro. Há outros parentes na cidade sobre quem eu deva saber? Pais?

Uma emoção crua surgiu, mas eu a sufoquei, balançando a cabeça. Com o passar dos anos, eu perdi a esperança de ver minha mãe novamente, não importa quanto bom carma eu tentasse criar. Apenas não era bom o suficiente. — Já se foram.

— Sinto muito por ouvir isso. — Seus olhos escureceram com empatia, fazendo-me engolir um bocado de saliva.

— É assim que as coisas são. — Dei de ombros. — Você?

— Meus pais moram em Winnipeg. Divorciados, embora vivam lado a lado em um duplex na Rua da Academia. Vai entender. Tenho dois irmãos, Stone e Mick. Meu irmão mais novo Stone está cursando engenharia da computação na Universidade de Michigan e Mick é ainda mais jovem — e está treinando para ser um oficial da PRMC em Regina.

— Sinto muito pelo divórcio dos seus pais. Geralmente é uma droga para as crianças.

— Sim, bem, foi depois de termos saído de casa, o que facilitou. — Ele encolheu os ombros, deslizando seus ombros extra largos. — Um pouco mais difícil quando você tem oito anos. — Humm, excelente audição também.

— Você sobrevive. Aprende a tirar o melhor disso. Vovó Toogood nos acolheu. Tivemos sorte. Pelo menos não entramos no sistema de adoção.

— Entendo.

A massa de corpos balançando romanticamente ao nosso redor enquanto dançávamos em nosso oásis de decoro fez de Ace e eu os estranhos. Quando a música terminou, eu corri para a mesa, dispensando a chance de uma segunda rodada de tortura.

Estrela colocou o violão no suporte e correu descendo pelos degraus do palco, a franja e os cachos voando.

— Estrela, eu quero que você conheça o policial Ace Collins. — Me inclinei para perto para gritar em seu ouvido. Cruzei meus dedos para que tal tentação como este espécime de homem mantivesse Estrela na cidade.

Estrela esticou a mão e Ace a pegou. Mas, em vez de sacudi-la como uma pessoa normal faria, ele deu um beijo na parte de trás da mão dela, dando-lhe um olhar admirado com seus olhos de chocolate marrom. Ela corou sob as luzes fluorescentes, seus olhos brilhando com alegria.

— Encantado, senhora.

— O prazer é meu. Alguém já te disse o quanto você parece com Johnny Cash? — ela ronronou, ganhando um sorriso cheio de covinhas de Ace. Certo. Isso pode ter funcionado bem demais.

— Uma vez ou duas. Posso me juntar a vocês? — ele perguntou, embora eu já tivesse estendido o convite. Oh, de verdade, um cara dos sonhos, não que eu gostasse desse tipo de coisa.

— Claro. — Estrela deu a ele o olhar mais doce imaginável, sentando-se ao lado dele com as pernas cruzadas em direção a ele. — Então, quando você chegou na cidade, xerife?

Revirei os olhos.

— Hoje. Recebi uma ligação sobre um urso-negro no caminho e parei para dar uma olhada. Encontrei Encanto por acaso e…

— E eu pulverizei spray de pimenta nele — terminei. Ele me deu outro daqueles longos olhares que fizeram meu coração perder uma batida.

— O quê? Como você pôde? — O horror exagerado de Estrela foi bem feito.

— Eu já me desculpei por pensar que ele era um urso.

— Ou o Pé Grande — ele acrescentou com um sorriso irônico.

— Encanto. — Ivana balançou o cabelo selvagem, as pontas vindo na minha direção. — Não é legal fazer isso com um homem tão grande. E você sabe o que dizem sobre homens com pés grandes, não é? — Ela colocou a mão no antebraço dele, apertando como se verificasse algo. Pelo amor de Deus, ele não é um pedaço de carne. E eu não ia tocar no comentário sobre um homem com pés grandes nem por todo o chá da China.

— Alguém sabe o que está prendendo Tulipa? — Tomei um gole de cerveja, observando que Ivana tinha acabado de terminar a dela.

— Talvez novo namorado? — Os olhos de Ivana brilharam com interesse. Ivana tinha homens como nenhuma outra mulher que eu já conheci. Nenhum com um pé grande o suficiente? Certo. Não foi legal, Encanto. Corei com minha própria audácia.

— Vou pegar mais cerveja — ofereci, me levantando. Ivana trabalhava meio período no salão de beleza local, o que mal cobria o aluguel — e provavelmente era por isso que estava atrasado há um mês. Eu não estava reclamando, imaginando seus irmãos Bratva5 passando pelas portas e janelas para me avisar que não mexesse com sua irmã. Além disso, ela era boa o suficiente para ajudar no café quando minhas queridas irmãs sumiam sem avisar. Ela não afastava muitos clientes em um dia bom.

— Uma jarra desta vez, Darcy — eu disse no bar quando consegui sua atenção. — Todo mundo está sedento esta noite. — Ele assentiu, ocupado pegando pedidos. Mas ele passou o meu na frente, colocando-o imediatamente.

— Obrigada. Você viu a Tulipa?

Ele balançou a cabeça, pegando meu dinheiro e me entregando o troco. Levei o néctar de cor dourada de volta à nossa mesa e o coloquei no centro, gotas de umidade condensando e escorrendo pelas laterais da jarra transparente. Um barulho alto perto da entrada chamou minha atenção. Eu escaneei a área, minha pele formigava com os sentidos aumentados. A multidão se separou, revelando minha irmã errante vindo em direção à nossa mesa. E agora, o que aconteceu?

1 Atração onde uma pessoa fica sentada em uma prancha com um alvo embaixo, e outras tentam derrubá-la em um tanque de água.

2 Polícia Real Montada do Canadá.

3 Um estilo arquitetônico.

4 O country / western two-step, frequentemente chamado de "Texas two-step" ou simplesmente o "two-step", é uma dança country/western geralmente dançada com música country em tempo simples.

5 Máfia russa.

Capítulo Quatro

— Cheguei aqui o mais rápido que pude! — Quase sem fôlego, Tulipa colocou a mão no peito, arfando. — É a Sra. Hurst. Ela se foi. — Lágrimas fluíam pelo rosto avermelhado, pingando do queixo.

— O quê? O que você está falando? — O campo de força negra da minha leitura anterior com a mulher voltou como uma vingança, escurecendo as bordas da minha visão.

Ace ficou de pé, pegou os ombros de Tulipa e a levou para uma cadeira. — Me diga o que você viu?

— Fui ver a Sra. Hurst, para entregar o resto de sua geleia — ela, ela não atendeu a porta. Eu não queria deixar do lado de fora, então fui pela porta dos fundos para colocar na mesa da cozinha. Eu peguei a chave de debaixo do tapete. E lá estava ela. — Ela soluçou. — Morta. — Tulipa deixou o rosto cair em suas mãos, grandes soluços sacudindo os ombros delgados.

— Por que você levou para ela esta noite? — Confuso, meu cérebro procurou respostas. — Eu ia entregar amanhã, devidamente rotulada. — Pelo menos demos a luz verde do Feitiço Kismet, exceto por aquele frasco que ela tinha levado mais cedo. Isso ainda me atormentava.

Ela levantou o rosto manchado de lágrimas para mim. — Ela ligou para a casa e deixou uma mensagem dizendo que era uma emergência e que precisava imediatamente. É por isso que estou atrasada. Eu não sei por que ela precisava disso tão cedo, mas você sabe como ela é. Oh meu Deus, foi horrível. O rosto dela — estava azul e a língua… — Tulipa tremeu e fechou os olhos.

— Você ligou para o um-nove-zero? — perguntou Ace.

— Não. Eu apenas corri direto para cá. Eu não sabia o que mais fazer. — Tulipa balançou a cabeça, seus olhos se alargando com mais emoção. Me levantei e a puxei para mim, abraçando e acalmando-a, esfregando suas costas em movimentos circulares.

 

— Está tudo bem. Estou com você.

Ace se levantou. — Vou lidar com isso e ligar para lá. Qual é o endereço? — Ele puxou o telefone, franzindo a testa quando descobriu que não havia sinal. Ele olhou para mim com uma pergunta em seus olhos.

— A casa da Sra. Hurst fica nos limites da cidade na Rua do Anel. É uma casa enorme em estilo vitoriano com moldura branca e acabamento preto.

Ele se virou para sair e eu olhei para Tulipa. — Tudo bem se eu for lá?

Ela assentiu e a entreguei para Estrela. Corri atrás do policial de pernas longas, o alcançando na saída. — Eu vou com você.

Eu não lhe dei tempo para protestar, só subi no banco do passageiro de sua SUV branca com o logotipo da PRMC, Para Servir e Proteger, colada no para-choque traseiro e coloquei o cinto de segurança.

Franzindo a testa, ele ligou o motor e entrou no trânsito.

— Fui levado a acreditar que esta era uma pequena cidade quieta.

— Sim, bem, nós temos nossos momentos. Mas assassinato — isso quase nunca acontece.

— O que faz você pensar que é assassinato? — O olhar que ele me deu me prendeu no banco.

— Não sei com certeza. — Engoli minha preocupação. — Mas com o que Tulipa disse sobre o estado do corpo dela, parece possível. Vire aqui. — Talvez eu devesse ter dito algo para a Sra. Hurst sobre a energia escura? Uma terrível inquietação me preencheu ao pensar que eu poderia ser parcialmente responsável por não avisá-la. A adrenalina fez meu corpo tremer.

Mais algumas quadras tensas e ele parou na frente da única mansão da cidade. Algumas luzes estavam brilhando atrás das cortinas da sala de estar e nas arandelas de ferro forjado que decoravam a entrada da casa de estilo gingerbread.

— Você espera aqui — Ace ordenou, alcançando na parte de trás para tirar sua arma de seu coldre. Ele não a estava usando, já que não estava no horário de trabalho. Fiz uma careta. Essa era a minha cidade. Não dele. Eu saí do veículo da polícia ao lado dele.

Eu estremeci, o ar da meia-noite me dando arrepios instantâneos. Colocando meus braços ao meu redor, fui atrás de Ace. Marchamos ao redor do lado da casa, passando pela exibição de peônias de cor fúcsia perfumadas em plena floração, e pelo caminho para a porta dos fundos. Ela estava bem aberta, atestando a saída apressada de Tulipa. Um halo de luz vindo da cozinha esculpia um meio círculo no chão. Os grilos cantavam, o ar da noite estava espesso com apreensão.

Ace parou, ouvindo. — Fique aqui — ele ordenou. Puxando sua arma, ele passou pela porta.

Esperei dez segundos. Quando nenhum tiro foi dado, eu entrei lentamente para dentro. Eu não tinha passado anos lendo todos aqueles livros policiais da Agatha Christie por nada.

Avaliei a sala completamente da esquerda para a direita, identificando as duas caixas de geleia de damasco que Tulipa tinha entregue empilhadas na bancada. Um pote aberto do néctar doce estava espalhado através de um jogo americano vermelho na mesa, o vidro descansando na borda, a geleia ainda escorrendo no chão como uma gosma grossa. Minha visão foi para baixo e eu vi uma perna deitada em um ângulo estranho no chão perto de uma cadeira. Eu vi o olhar sério de Ace e me abracei com mais força. Ignorando-o, me movi lentamente ao redor do perímetro da mesa, me preparando. Sra. Hurst. O rosto azulado com a língua inchada pendurada para fora, exatamente como Tulipa havia descrito. Oh não. Um rosto azul era preocupante. Uma colher abandonada estava ao lado dela como se ela a tivesse derrubado enquanto provava. O medo gelou meu coração. A pobre mulher não merecia esse final. Ninguém merecia. Seus membros estavam todos torcidos em ângulos estranhos, como se ela tivesse tido convulsões. Horrível. Perturbador. E assustador.

— Não. Toque. Em nada. — Ace estava no modo de policial.

— Eu sei! Não sou idiota.

Seu olhar disse que de qualquer maneira essa afirmação não foi provada. Ainda.

— Espere aqui. — Ele saiu para verificar a casa — por possíveis intrusos, eu supus. Obviamente, não tendo encontrado nenhum, ele se juntou a mim novamente e colocou sua arma de lado.

Pouco ciente de Ace usando o telefone da casa para reportar o evento para o despachante do turno noturno no destacamento, me virei, achando uma invasão na privacidade da mulher continuar olhando por mais tempo. Balancei a cabeça consternada. Quem ou o que a matou? Meu coração afundou. E se ela tiver engasgado na geleia? A própria ideia era horrível demais para se pensar, comigo tendo tal orgulho das conservas. Talvez fosse algo natural, como um ataque cardíaco ou derrame? Porque se tivesse sido assassinato, haveriam muitos suspeitos. A mulher conseguira irritar todos na cidade em algum momento de sua vida.

Capítulo Cinco

— Quero que você pense no desejo do seu coração. — Dei à Judith Finch um grosso bloco de papel. A mulher de meia-idade, com o hábito nervoso de dizer tudo duas vezes, tinha me encontrado, exigindo um reembolso pela poção do amor ou outro caminho para o coração do homem que ela queria ganhar. Seu potente perfume me sufocou no minúsculo espaço que nos separava do resto do restaurante. Metade do cheiro também teria tido o dobro do efeito.

— Escreva. Apenas algumas palavras está bom.

Ela inclinou a cabeça escura sobre o bloco pautado, sua boca mexendo, imitando as palavras.

— Certo, agora circule a primeira letra de cada palavra, ignorando qualquer uma que comece com uma vogal. Quantas letras você tem?

— Três. Três.

— Bom. Quero que você pense em como combinar essas letras para fazer um selo mágico.

Sua expressão intrigada enquanto ela inclinava a cabeça me fez adicionar: — Transforme-as em um desenho. Uma figura abstrata. Talvez como um logotipo. De qualquer jeito que você gostar.

Ah. Com a compreensão aparecendo, Judith me deu um sorriso largo. — Então o que eu faço? Então o quê?

— Você precisa carregar o selo. Concentre toda a sua energia enquanto olha para ele. Qualquer emoção extrema funciona. Então, olhe para ele uma vez por dia, deixando-o entrar em seu subconsciente. Você pode até queimá-lo se quiser. Mas o que quer faça, mantenha-o em segredo e não mostre a ninguém. Entendeu?

— Claro, claro. Obrigada, Encanto. Obrigada.

A cabeça de Estrela apareceu, quase me fazendo cair para trás da minha cadeira de jantar barata. — Você devia dizer a Judith que a melhor forma de carregar um selo do amor é tendo um orgasmo.

— Sério? Sério? — Os olhos escuros da mulher ficaram arredondados, seu humor melhorando.

— Sim, isso funciona. — Atirei uma bola de fogo para Estrela com meus olhos, enviando energia o suficiente para carregar vinte selos.

Ela abriu um sorriso enorme e saiu dançando enquanto os sinos cantavam sobre a porta do café, anunciando um novo cliente.

Recusei a taxa pela leitura, ciente de que pouco poderia ajudar um coração que ansiava pelo amor de uma pessoa em particular, se a dita pessoa não fosse certa para ele. Suspirei.

— Bom dia, Encanto. — Ace tocou a aba de seu Stetson quando me avistou saindo da caverna mágica. Ele sentou em uma mesa, assentindo para a pergunta de Estrela sobre café, e tirou o chapéu espetacular. Ele estendeu a mão e o colocou no suporte.

— Olá, xerife. — Eu não esperei por um convite, só me joguei na cadeira à frente dele. Vestido com seu uniforme da PRMC, todo oficial, ele viraria cabeças em qualquer lugar. Como ficaria a farda vermelha nele? Meu palpite? Incrivelmente bom. Talvez devêssemos ter um desfile?

Ele balançou a cabeça para mim, sua expressão sombria. Meu estômago caiu nas tábuas do chão.

— Eu sabia que não deveria ter deixado a Sra. Hurst levar aquele primeiro pote de geleia antes de lançar o feitiço.

Seus olhos se arregalaram. — Você coloca um feitiço na geleia?

— Ah… sim. O Feitiço Kismet. Quero dar a toda nossa comida a energia para manter as pessoas saudáveis e felizes.

— Não parece ter funcionado neste caso.

— Não. — Eu olhei para longe, mastigando uma unha do polegar. — Não funcionou.

— Você viu a Sra. Hurst no início do dia?

Eu parei, franzindo a testa. — Sim, ela estava aqui.

— Tenho que investigar isso direito, Encanto, é procedimento padrão. A Sra. Hurst foi vista deixando seu café pela manhã.

— Então por que perguntar assim?

— Assim como? — Ele franziu as sobrancelhas.

— Como se eu fosse mentir para você?

Ele suspirou. — É a forma que somos ensinados a formular nossas perguntas. Não quis ofender.

— Não me ofendi.

Suas sobrancelhas subiram com minha resposta curta. — Sugiro que você não jogue pôquer. Você seria péssima nisso.

— Algo mais?

— Estamos enviando a geleia para testes. Eu só queria te avisar.

— Eu posso lhe assegurar, oficial, ela tem a melhor qualidade e ingredientes! — Meu coração bateu forte e meus lábios congelaram de raiva. Como ele ousa?

— Tenho certeza que é. Ela pode ter sufocado, é claro, ou teve um derrame, ou insuficiência cardíaca enquanto comia. O legista não encontrou nenhuma outra ferida. Não saberemos a causa da morte até que o relatório seja concluído. Isso pode levar dias. Mas estou aqui para sugerir — fortemente — que você não venda mais dessa marca por agora até termos o resultado.

— Eu acho que você deveria ir.

Ele pegou seu Stetson do suporte de chapéu na mesa, alisando a aba com seus dedos extragrandes. — Não foi minha intenção ofender. Minhas sinceras desculpas.

Eu assenti, mas fui incapaz de forçar até mesmo o mais breve dos sorrisos, e cruzei meus braços sobre o peito, observando-o caminhar pelo nosso antigo refúgio. Os sinos da porta também se tornaram traidores, cantando alegremente para anunciar a partida dele. Droga de homem.

Estrela se juntou a mim, completando meu café. — Ace está apenas fazendo o trabalho dele, você sabe.

— Sim, eu sei. — Tomei um grande gole da bebida forte. — Não gosto do nosso produto sendo difamado.

Sua testa vincou com preocupação. — E se algo realmente deu errado?

— Como? Ela foi feita sob condições ideais. — Esmaguei meu lábio inferior entre os dentes. Mas se até mesmo um pequeno sinal de um escândalo sobre a nossa geleia se espalhar, seria o nosso fim.

— Eu preciso descobrir mais. — Segurei a xícara com as duas mãos e tomei outro gole. — Se alguém colocou algo na nossa geleia, precisamos ser proativos.

— O que você quer dizer? Como isso é possível?

— Já leu Agatha Christie?

— Você sabe que eu não li. Eu gosto das minhas histórias de cowboy ou rancheiro, com muito calor fumegante.

— Bem, isso poderia ser ruim para nós se eu não começar minha própria investigação. Eu preciso chegar ao fundo disso antes que as coisas vão para o brejo. Se a Sra. Hurst foi assassinada…

— Você acha que ela foi assassinada? Tulipa disse que ela estava realmente horrível. Eu odeio pensar que é assim que uma pessoa morta normal parece. — Estrela estremeceu.

Verifiquei o relógio do galo que estava prestes a cantar a hora e terminei o café. — Precisamos nos preparar para o festival. E eu tenho aquela droga de tanque de tombo molhado esta tarde.

— Sim, eu mesma vou comprar algumas bolas. Eu ainda tenho um bom braço. Eu posso até ser a primeira a derrubar sua bunda. — Os olhos de Estrela brilharam.

— Sim, melhor entrar na fila. Já há algumas pessoas esperando para ter essa honra. Eu colocaria Ace Collins no topo da lista após o incidente com o spray de urso ontem, sendo novo xerife atraente ou não. Sem mencionar que Judith provavelmente jogará algumas se essa nova ideia para o selo não funcionar.

— Você estava afastando possíveis pretendentes com spray de pimenta, enquanto estive fora, neta? Eu não te ensinei muito bem, não foi? — Uma voz melódica cantou atrás de nós e eu virei com um salto de alegria. Finalmente!

— Vovó! Eu não ouvi você entrar. Você deveria ter ligado. Eu teria lhe pego no aeroporto. — Corri para abraçá-la, a fragrância de lavanda que emanava de sua pele macia acalmando meus nervos em frangalhos. Eu a soltei para permitir que minhas irmãs também a abraçassem. Ela estava parecendo serena, uma sábia invencível que via o mundo pelo que ele era, e embora ela ache que falta caráter, ela o fazia funcionar. Eu imaginei uma nota de cansaço nos olhos dela? Nós temos que melhorar nosso negócio.

 

— Elsie me deu uma carona. Ela deixou o carro dela lá de propósito. Eu já estive em casa.

— Sente-se — eu a apressei, correndo para preparar um bule de chá. Earl Grey, o favorito dela.

— Apenas uma xícara pequena. Temos um festival para organizar, queridas.

Peguei um bule, adicionei uma fatia de limão e o levei de volta à mesa, onde um bando de tagarelas — minhas irmãs hiperativas — estavam atualizando vovó sobre os eventos que haviam ocorrido desde que ela tinha viajado. Eu ouvi a última parte das informações ditas sobre a Sra. Hurst saindo dos lábios de Tulipa e tentei chamar a atenção dela. Já chega.

— Tulipa!

— Eu a encontrei. Sou eu quem deve contar a história.

— Não é uma competição, queridas. — Vovó suspirou. — Como você está lidando com tudo, Encanto? — Seus suaves olhos azuis se encontraram com os meus.

— Estou bem. — Dei uma rápida olhada ao redor para ter certeza de que não havia nenhum cliente. — Mas nosso novo policial local acha que nossa geleia possa ser a causa. — Eu não tinha intenção de dividir a preocupação, mas quando Vovó estava por perto eu nunca parecia conseguir evitar. Ela descobriria em breve. Era assim que funcionava.

— É por isso que ele estava aqui. — Ela franziu a testa.

— Sim. E nós dois fomos à casa da Sra. Hurst ontem à noite.

— Então você viu o corpo? — Ela segurou a xícara de chá com as duas mãos e a assoprou para esfria-la antes de beber.

Eu assenti, ignorando o caroço na minha garganta.

— Uma coisa terrível. — Vovó sacudiu a cabeça. — Eu conheço Anne Hurst há décadas. Uma mulher incompreendida e uma alma muito infeliz.

Estrela se engasgou com seu café e eu bati em suas costas, distraída. Vovó continuou seu tributo. Por mais que ela odiasse xingar, ela odiava mais ainda falar mal dos mortos. A prática estava arraigada e talvez não fosse uma coisa ruim, mesmo que nos colocasse em desacordo com o resto do mundo de vez em quando.

— Ela não nasceu com uma casa grande e dinheiro. Eu a conheci quando criança. Ela teve um início humilde e trilhou seu próprio caminho no mundo. Isso é algo para se admirar.

Estrela rolou os olhos, mas Tulipa fungou e assoou o nariz.

— Não há muito o que admirar na tia T.J. — eu disse. — Brincando de mão boba com nosso oficial como se ele fosse seu boi premiado.

— Ele é grande, não é? E um cavalheiro sulista pelo que ouvi. Todos teremos que aprender as expressões do sul. Elas combinam bem com nossas expressões canadenses, hein. — Um brilho cintilou em seus suaves olhos azuis. — Vou ter uma palavra com ela. — E funcionaria tão bem quanto da última vez. Ou seja, não adiantaria de nada.

Peguei a bandeja vazia. — Tenho que levar as guloseimas para a nossa barraca antes das dez. Eu poderia usar um par extra de mãos — sugeri.

— Vão — todas vocês — ordenou vovó, nos mandando sair. — Eu vou cuidar do café. Não haverão muitos clientes com o festival prestes a começar, de qualquer maneira.

— Droga. Tenho que ter certeza de que a geleia de damasco está seguramente escondida até sabermos mais. — Nossa, o problema que o novo policial trouxe para a cidade. Não é culpa dele, o lado mais justo do meu cérebro interveio. Sim, bem, o timing é péssimo, na melhor das hipóteses.

Felizmente, a geleia em questão ainda estava nos fundos. Os frascos extravagantes com seus rótulos decorativos pareciam o epítome do saudável, o néctar dentro brilhando dourado à luz do sol. Eu balancei minha cabeça. Loucura. E isso incluía nosso novo homem da lei. Eu responderia por nosso produto em qualquer dia.

Eu abri um armário inferior, empilhando os potes bem no fundo. Não adianta piorar as coisas por não seguir o procedimento padrão. O oficial Ace Collins estava aqui há um dia e já estava provando ser o maior calo no meu pé. Eu agora não tinha nem um pouco de simpatia sobrando para o incidente do spray de urso. Nós estamos mais do que quites. O homem insultou minha culinária, e ninguém se safava com isso.

Me endireitando, peguei uma grande bandeja coberta de plástico com biscoitos variados, e em seguida, corri pela porta dos fundos, seguindo para o meu jipe que eu tinha estacionado lá para facilitar o processo. O local do festival ficava nos arredores da cidade perto da escola de ensino médio e muito longe para levar os biscoitos a pé.

Minhas irmãs vieram depois de mim, me entregando as bandejas para serem colocadas no banco de trás. — Encontro vocês lá. — Acenei para elas e virei a chave para ligar o motor. Nada. Não, não falhe comigo agora, Thor. Uma oração rápida, um tapinha de amor no painel e o motor ligou. É útil ser legal com objetos feitos pelo homem.

Dando um suspiro de alívio, dirigi o jipe pelo tráfego e segui a fila de veículos indo para o local do festival.

O comitê de decoração deve ter trabalhado a noite toda. Banners brancos balançavam, maços de balões coloridos e bandeirolas dançavam alegremente na brisa e tudo isso gritava festival. O maior banner, Bem-vindos ao Festival da Vizinhança foi amarrado ao longo da estrada em dois postes de energia elétrica. Nossa, eu não iria querer o trabalho de subir lá. Se um dos bombeiros voluntários visse essa infração, com certeza haveria uma briga de grandes proporções. Mas, isso não era problema meu hoje.

Desci do carro e peguei duas bandejas empilhadas. Eu precisaria fazer algumas viagens, mas Tulipa e Estrela deveriam estar aqui em breve se elas conseguirem se recompor. Resmungando para mim mesma, fechei a porta de Thor com um pé decidido e caminhei até a nossa barraca de espera no meio do lugar. As deliciosas fragrâncias flutuando no ar me seduziram. Dei uma respiração profunda e apreciativa. O cheiro de guloseimas fritas, pizza, a churrasqueira assando carne no espeto — um glorioso bouquet de sabores que fizeram a minha boca encher de água em antecipação. Meu estômago roncou, concordando de todo o coração que tinha passado da hora de comer. Meu passo acelerou.

Depois de empilhar as bandejas no balcão de três metros que passava pelo comprimento da nossa barraca pintada de forma alegre — estrelas douradas cheias de glitter em um fundo azul-meia-noite, cortesia de Estrela — me entreguei ao trabalho de organizar tudo. Com minha irmã sendo uma das principais atrações, cantando com sua banda em intervalos regulares durante todo o dia, nós teríamos muitas dificuldades para dar conta de tudo. E então havia aquele maldito tombo molhado logo após o almoço…

Olhei para onde um grupo de pessoas da comunidade estava terminando a máquina de fazer dinheiro, enchendo o grande tanque de aço abaixo da cadeira com água gelada. Estremecendo, tomei um gole do café quente que embalei, e peguei um biscoito de brownie de chocolate da bandeja. Entre mordidas, tomei mais do delicioso café.

— Eu me ofereceria para lhe ajudar, mas descobri que fui designado para meu próprio espaço, chamado “pegue o cara novo”. Não tenho certeza se meu coração aguenta uma hora de choque pela água gelada.

Não vi a chegada de Ace. — Espere até que eles adicionem os baldes de gelo.

— Eles fazem isso? — Seus olhos castanhos escuros se arregalaram, consternados.

Touché, oficial. Eu bufei. — Normalmente não, mas eu sempre posso falar com eles. Quando começa o seu turno?

— Mal pode esperar para ter sua chance de me ensopar, hein.

— De jeito nenhum eu perderia essa oportunidade, xerife. Então, o novato foi encurralado para fazer o trabalho. Você sempre pode escolher não fazer isso. Afinal, você tem uma investigação para conduzir.

— Posso desistir de uma hora pelo bem da cidade.

— Eu dou um curso de autodefesa nas noites de segunda-feira. Alguma chance de você desistir de mais uma hora para nos mostrar algumas de suas técnicas de estratégia?

Ele me deu uma olhada rápida.

— Ora, isso é uma expressão de surpresa em seus olhos, oficial?

— Não, não, acho que isso é ótimo. — Ele encolheu os ombros. — Claro, conte comigo.

— Ah, há algum novo desenvolvimento no caso? — perguntei, casualmente. — Quer um biscoito? — Fiz um gesto para a bandeja.

Ele balançou a cabeça. Estreitei meus olhos para ele e ele pegou um, do mesmo tipo que o meu. Pelo menos ele tinha bom gosto. Ele deu uma mordida.

— Biscoito gostoso. — Ele deu outra mordida rápida, engoliu e continuou. — Estamos só no começo. Não tenho nem certeza se temos um assassinato em nossas mãos. Outras explicações são perfeitamente possíveis. Não houve nenhum sinal de luta, a não ser pela própria vítima quando caiu no chão. As convulsões têm muitas causas, desde um tumor cerebral a até um coágulo sanguíneo. Talvez uma interação medicamentosa. Não saberei até obter os resultados da autópsia.

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