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Memorias de José Garibaldi, volume II

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XII
CAMPANHA DA LOMBARDIA

Agora vamos, com o auxilio de um amigo de Garibaldi, o valente coronel Medici, ligar a nossa narração onde Garibaldi a interrompeu.

A sua partida para a Secilia forçar-nos-hia a finalisar aqui as suas memorias, se Medici não se encarregasse de as continuar. E confessamos, este modo de fallar de Garibaldi, agrada-me mais do que fazendo-o pelas suas proprias palavras; porque com effeito quando Garibaldi conta, esquece-se sempre da parte que tomou nas acções, para exaltar o que fizeram os seus companheiros; ora como é especialmente d'elle que nos queremos occupar, melhor é que seja collocado por outro no logar que merece.

Vamos pois deixar contar ao coronel Medicis a campanha da Lombardia de 1848.

Parti de Londres para Montevideo no meado do anno de 1846.

Nenhum motivo politico nem commercial me chamava á America do Sul, ia por motivo de saude.

Os medicos julgavam-me atacado de tysica pulmonar, as minhas opiniões liberaes me tinham desterrado da Italia, decidi-me pois a atravessar o Oceano.

Cheguei a Montevideo, sete ou oito mezes depois da acção do Salto de Santo Antonio, a reputação da legião italiana, estava então no seu apogeo. Garibaldi era o homem da epoca. Fiz conhecimento com elle, pedi-lhe se me recebia na sua legião, e elle consentiu.

No dia seguinte, já tinha vestido a blouse encarnada com divisas verdes, e dizia com orgulho:

– Sou soldado de Garibaldi!

Depressa tomei intimidade com elle, tomou-me affeição, depois confiança, e quando tudo se determinou para a sua partida, um mez antes que elle deixasse Montevideo, parti eu para o Havre em um paquete.

Tinha as suas instrucções claras e precisas, como todas as que dá Garibaldi.

Estava encarregado de ir ao Piemonte e á Toscana e ver varios homens eminentes, e alem d'outros Fanti, Guerazzi, e Beluomini filho do general, tinha a morada de Guerazzi, escondido proximo a Pistoia.

Ajudado d'estes poderosos auxiliares, devia organisar a insurreição, de modo que quando Garibaldi desembarcasse em Via Reggio, a achasse prompta, e então apoderar-nos-ia-mos de Lucques, e marchariamos para onde houvesse esperança.

Atravessei París, depois da revolta de 15 de Maio, passei á Italia, e ao cabo de um mez, tinha 300 homens, promptos para marchar para onde quizesse, até para o inferno se fôra necessario; foi então que sube que Garibaldi tinha desembarcado em Nice.

A minha primeira impressão, foi o sentimento que elle se tivesse esquecido do que entre nós tinhamos convencionado.

Logo depois sube que Garibaldi tinha sahido de Nice, e ahi tinha deixado Anzani a morrer.

Gostava muito de Anzani, todos gostavam d'elle.

Corri a Nice, Anzani estava ainda vivo. Fil-o transportar para Genova, onde recebeu hospitalidade no palacio do marquez Gavotto, no quarto que occupava o pintor Gallino.

Estabeleci-me á sua cabeceira, e não o abandonei mais, estava affectado mais do que merecia, com a minha preocupação contra Garibaldi, muitas vezes me fallava d'elle, e um dia agarrando-me uma mão, e com um ar prophetico, disse-me – Medici, não sejas severo com Garibaldi, é um homem que recebeu do ceo tal felicidade, que faz bem de se seguir. O futuro da Italia depende d'elle, é um predestinado; algumas vezes me zanguei com elle, porém convencido da sua missão, sempre fui o primeiro a fazer as pazes.

Estas palavras chocaram-me, como as ultimas de um moribundo, e muitas vezes depois me tem vindo á memoria.

Anzani era philosopho, e praticava pouco os deveres materiaes da religião; comtudo na hora da morte, perguntando-se-lhe se queria um padre, disse que lhe levassem um, e como eu me admirasse d'este acto que chamava fraqueza, disse-me:

– Meu amigo, a Italia espera muito n'este momento em dois homens, Pio IX e Garibaldi; pois bem, é preciso que não sejam accusados os companheiros de Garibaldi, de herejes. E dizendo isto sacramentou-se.

Nessa mesma noute, ás tres horas da madrugada, morreu nos meus braços, sem perder um momento os sentidos, nem ter tido um momento de delirio. As suas ultimas palavras foram:

– Não te esqueças da minha recommendação, a respeito do Garibaldi.

E deu o ultimo suspiro.

O corpo, e os papeis de Anzani foram entregues a seu irmão, homem inteiramente dedicado ao partido austriaco.

O corpo foi levado para Alzate, patria de Anzani, e o cadaver do homem, que seis mezes antes, não tinha achado em toda a Italia, uma pedra em que descançasse a cabeça, teve uma marcha triumphal.

Quando se soube a sua morte em Montevideo, houve lucto geral na legião, cantaram-lhe um requien, e o doutor Bartholomeu Udicine, medico e cirurgião, recitou um discurso funebre.

Pelo que diz respeito a Garibaldi, fez quanto poude reviver a sua lembrança, e quando organisou os batalhões lombardos, chamou ao primeiro, batalhão de Anzani.

Depois da morte de Anzani parti para Turim.

Um dia passeando debaixo das arcadas, achei-me por acaso cara a cara com Garibaldi; vendo-o, a recommendação de Anzani; veio-me á memoria, é verdade que era secundada do profundo respeito e amisade que tinha a Garibaldi.

Cahimos nos braços um do outro. Depois de nos termos ternamente abraçado, a lembrança da patria, veiu-nos á memoria ao mesmo tempo.

– Que faremos, dissemos nós um ao outro.

– Então, perguntei-lhe, se não chegava de Robervella de offerecer a sua espada a Carlos Alberto?

Sorriu desdenhosamente.

– Essa gente me disse elle, não é digna que corações como os nossos se lhes submettam. Não tratemos de homens, caro Medici, só da patria, e nada mais!

Como não parecia disposto, a contar-me a sua entrevista com Carlos Alberto, cessei de interrogal-o.

Depois sube, que o rei Carlos Alberto, o tinha recebido friamente; mandando-o para Turim, esperar as ordens do seu ministro da guerra, mr. Ricci.

Mr. Ricci dignou-se lembrar que Garibaldi esperava ordens suas, mandou-o chamar e disse-lhe:

– Aconselho-vos, que partaes para Veneza, e ahi tomando o commando de alguns pequenos navios, podereis como corsario, ser muito util aos venezianos, julgo que o vosso logar é ahi, e em mais parte alguma.

Garibaldi não respondeu a Mr. Ricci, só em logar de ir para Veneza ficou em Turim.

Eis a razão porque o encontrei nas arcadas.

– Que faremos pois, dissemos nós em seguida.

Com os homens da tempera de Garibaldi as resoluções são repentinamente tomadas.

Resolvemos ir para Milão, e partimos essa mesma noute.

A occasião era boa, acabava-se de receber a noticia dos primeiros revezes, soffridos pelo exercito piemontez.

O governo provisorio deu a Garibaldi o titulo de general, e authorisou-o para organisar batalhões de voluntarios lombardos.

Garibaldi e eu, debaixo das suas ordens, tratamos logo d'isso.

Principiamos por um batalhão de voluntarios de Vicencia, que nos chegou organisado de Pavia.

Garibaldi creava o batalhão Anzani, que bem depressa completou.

Eu tinha a meu cargo disciplinar toda essa mocidade das barricadas, que durante cinco dias, com 300 espingardas e 400 ou 500 homens, affastou de Milão Radetzki e os seus vinte mil soldados.

Porem nós luctavamos com as mesmas dificuldades, com que Garibaldi luctou em 1859.

Os corpos dos voluntarios, que representam o espirito da revolução assustam sempre os governos, uma só palavra bastará para dar idéa dos nossos.

Era Mazzini o porta-bandeira, e uma companhia denominava-se Medici.

Por esta razão, commeçaram a recusar-nos armas; e um homem d'oculos, que occupava um logar importante no ministerio, dizia em voz alta que eram armas perdidas, por que Garibaldi era um espadachim, e mais nada.

Nós diziamos, que nos forneceriamos d'armas, porém que ao menos nos dessem uniformes, responderam-nos, que não havia uniformes, mas abriram armazens onde existiam uniformes austriacos, hungaros e croatas.

Eram os proprios, para gente que pedia para morrer combatendo croatas, hungaros e austriacos, e todos os nossos soldados, mancebos pertencentes ás primeiras familias de Milão, de que algumas eram millionarias, recusaram com indignação.

Mas como era necessario tomar uma resolução, porque não podiamos combater uns de fraque outros de sobrecasaca, acceitamos os fatos dos soldados chamados ritters, e fizemos delles uma especie de bluses.

Era irrisorio pois pareciamos um regimento de cosinheiros, e era preciso ter boa vista para reconhecer debaixo d'aquelle panno grosseiro a flor da mocidade milaneza.

Em quanto que se affeiçoavam os fatos á medida de cada um, procuravam-se armas e munições por todos os meios possiveis, e emfim depois de armados e vestidos, marchamos para Bergamo, cantando hymnos patrioticos.

Pelo que me diz respeito tinha debaixo das minhas ordens, cerca de 180 jovens, quasi todos, como disse, das primeiras familias de Milão.

Chegamos a Bergamo, e nos juntamos a Mazzini, que vinha tomar o seu logar nas nossas filas, e foi recebido com acclamações.

Ahi um regimento de linha regular piemontez se nos juntou, trazendo comsigo duas peças pertencentes á guarda nacional.

Apenas chegamos, recebemos uma ordem da «comité» de Milão, que se compunha de Fanti, Maestri e Resteli, para voltarmos a marchas forçadas para Milão; obedecemos e começamos a nossa contramarcha para Milão.

Porém chegando a Monza, soubemos que Milão tinha capitulado e que um corpo de cavallaria austriaca tinha sido mandado em nossa perseguição.

Garibaldi ordenou então uma retirada sobre Como, a nossa estrategia era approximar-nos quanto nos fosse possivel da fronteira suissa. Garibaldi mandou-me para a retaguarda para sustentar a retirada.

Estavamos já muito cançados da marcha forçada que acabavamos de fazer, não tinhamos tido tempo para comer em Monza, cahiamos de fome e cançasso, e a nossa gente retirava-se em desordem e completamente desmoralisada.

 

O resultado d'esta desmoralisação foi que quando chegamos a Como começaram-nos a desertar soldados, de modo que sobre cinco mil homens que tinha Garibaldi, quatro mil e duzentos passaram para a Suissa, ficando apenas com oitocentos.

Garibaldi como se tivesse ainda os seus cinco mil homens, com o seu sangue frio habitual, collocou-se em Camerlata, ponto de juncção de diversas estradas, diante de Como. Ahi estabeleceu uma bateria com as duas peças de artilheria, e expediu correios a Manara, Griffini, e a Durando e Apice, e aos chefes dos corpos de voluntarios da alta Lombardia, convidando-os a concordarem entre si, o tomarem posições fortes, e sustentaveis até á ultima, apoiados na fronteira suissa.

O convite não teve resultado.

Então Garibaldi retirou de Camerlata para San Fermo, onde em 1859, batemos completamente os austriacos. Porém antes de nos collocarmos na Praça de São Fermo, reuniu-nos e fez-nos uma falla. – Os discursos de Garibaldi, vivos e pittorescos, tem a verdadeira eloquencia do soldado. Disse-nos que era preciso continuar a guerra em guerrilha, que esta guerra era a mais segura e a menos perigosa, que bastava confiar no chefe, e ajudarem-se os camaradas.

Apesar d'esta energica allocução houveram novas deserções durante a noute, e de madrugada a nossa gente achava-se reduzida a quatrocentos ou quinhentos homens.

Garibaldi, com grande desgosto, decidiu-se a entrar no Piemonte, porém na occasião em que atravessava a fronteira, envergonhou-se de retirar sem combate, demora-se em Castelletto sobre o Tecinio, ordena-me que percorra os arredores e que lhe traga o maior numero de desertores possivel. Fui até Lugano e trouxe trezentos homens, contamos-nos, eramos setecentos e cincoenta. Garibaldi acha-se em força sufficiente para marchar contra os austriacos.

No dia 12 d'agosto, fez a sua famosa proclamação, na qual declara que Carlos Alberto é um traidor, que os italianos, nem se podem nem se devem fiar n'elle, e que todo o patriota deve ter como um dever, o fazer a guerra por sua conta.

Feita esta proclamação, no momento em que de todos os lados se tocava á retirada, nós unicos marchavamos adiante, e Garibaldi com setecentos e cincoenta homens, fez um movimento offensivo contra o exercito austriaco.

Marchámos sobre Arona, apoderamos-nos de dois navios a vapôr, e de outras pequenas embarcações. Começámos o embarque, que durou até á noite, e no dia seguinte de madrugada chegámos a Luino.

Garibaldi estava doente, tinha uma febre intermitente contra os accessos da qual tentava em vão luctar.

Com um d'estes accessos, entrou na estalagem da Galinhola, casa isolada á entrada de Luino, e separada da vinha por um riacho, sobre o qual está lançada uma ponte. Mandou-me chamar e disse-me:

– Medici, necessito por força de duas horas de descanço, toma o meu logar, e vigia por nós.

A estalagem da Galinhola era mal escolhida para quem queria socegar, era a sentinella avançada de Luino, a primeira casa que devia ser atacada pelo inimigo, suppondo-o nas circumvisinhanças.

Nada sabiamos dos movimentos dos austriacos, ignorando se estavamos a dez legoas d'elles ou a um kilometro; comtudo disse a Garibaldi que dormisse tranquilamente, asseverando-lhe que tomaria todas as precauções para que o seu somno não soffresse interrupção. Feita esta promessa, sahi; as armas estavam ensarilhadas do outro lado da ponte, e a gente acampada entre ella e Luino.

Colloquei sentinellas á estalagem da Galinhola, e mandei uns lapões explorar as proximidades.

Passada meia hora, os meus vigias voltaram todos assustados gritando:

– Os austriacos! Os austriacos!

Corri ao quarto de Garibaldi, dando o mesmo grito:

– Os austriacos!

Garibaldi estava na maior força da febre, saltou do leito, e ordenando-me que mandasse tocar a reunir, da janella poz-se a descobrir campo dizendo que não tardaria em nos alcançar.

Com effeito d'ahi a dez minutos estava no meio de nós.

Dividiu a nossa pouca gente em duas columnas; uma obstruindo o caminho, foi destinada a fazer frente aos austriacos, a outra tomando uma posição de flanco, impedia que nos voltassemos, e podia tambem atacar.

Os austriacos em breve appareceram na estrada, seriam mil e duzentos homens, e apoderaram-se immediatamente da Galinhola.

Garibaldi deu ordem logo á columna que obstruia a estrada de atacar; esta columna compunha-se de quatro centos homens, atacando resolutamente mil e duzentos.

É o costume de Garibaldi, nunca conta os inimigos nem os seus, o inimigo está na frente, logo deve ser atacado. É forçoso confessar que quasi sempre esta tactica lhe deu bom resultado.

Comtudo os austriacos faziam resistencia, e por isso Garibaldi julgando que seria necessario engajar todas as forças, chamou a columna do flanco e renovou o ataque.

Tinha diante de mim um muro que escalei com a minha companhia, achando-me n'um jardim. Os austriacos faziam fogo por todas as aberturas do albergue.

Apesar d'isso lançámo-nos no meio das ballas, atacámos á bayoneta, entrando por essas mesmas aberturas que um instante antes vomitavam fogo.

Os austriacos retiraram-se em completa desordem.

Garibaldi havia dirigido o ataque a cavallo, no meio da ponte, sendo um verdadeiro milagre que exposto ao fogo do inimigo não fosse ferido.

Quando viu fugir os austriacos disse-me que os seguisse com a minha companhia.

A deserção havia-a reduzido a cem homens, e com elles persegui mil e cem. Comtudo n'esta acção não houve grande merito, porque os austriacos tomados por um verdadeiro panico, fugiam abandonando as espingardas e patronas, não parando senão em Veneza.

Deixaram na Galinhola uns cem mortos e feridos, e oitenta prisioneiros.

Devo dizer que os austriacos tinham parado em Germiniada; voltei ahi, mas já elles tinham partido. Segui então as suas pisadas, mas apesar de correr bem, não os pude alcançar.

Durante a noite soubemos que uma força austriaca, mais consideravel que a primeira, se dirigia para nós. Garibaldi ordenou-me que ficasse na Germiniada, mandando eu logo fazer barricadas.

Tinhamos um tal habito d'estas fortificações que nos era só necessaria uma hora para pôr a ultima em estado de sustentar um circo.

A noticia era falsa.

Garibaldi enviou duas ou tres companhias em differentes direcções, e quando voltaram, mandou reunir todo o nosso exercito, dando-lhe ordem para marchar sobre Guerla, e de lá para Varese, onde foi recebido em triumpho.

Dirigiamo-nos directamente sobre Radetzki.

Em Varese occupámos Duimodi-Sopra, logar que domina Varese, e que nos assegurava a retirada.

Ahi Garibaldi mandou fusillar um espião austriaco, que devia dar esclarecimentos a tres columnas de austriacos que se dirigiam contra nós.

Uma marchava sobre Como, outra sobre Varese, e a terceira separando-se d'estas, dirigia-se sobre Luino.

Era evidente que o plano dos austriacos era de se collocarem entre Garibaldi e Luzano, cortando-lhe a retirada fosse para o Piemonte ou para a Suissa.

Partimos então de Buimo para Arcisate.

De Arcisate, Garibaldi mandou-me com a minha companhia que ia sempre de vanguarda, para Viggia.

Chegando ahi com os meus cem homens, recebi ordem de me dirigir immediatamente contra os austriacos.

A primeira divisão de que eu tive conhecimento foi a de Aspre, forte de cinco mil homens.

Foi este mesmo general que ordenou depois os massacres de Livourne.

Em consequencia da ordem recebida, preparei-me para o combate, e para o dar na melhor ordem possivel apoderei-me de tres pequenas villas que formavam um triangulo – Catzone, Ligurno, e Rodero.

Estas tres villas guardavam todas as estradas que vinham de Como.

Por detraz d'estas villas achava-se uma forte posição, S. Maffeo, rochedo inexpugnavel, e pelo qual não tinha senão deixar-me escorregar para me achar na Suissa.

Havia dividido os meus cem homens em tres destacamentos, occupando cada um d'elles uma villa.

Eu estava em Ligurno.

Tinha chegado durante a noite com os meus quarenta homens e havia-me fortificado o melhor que tinha podido.

Ao romper do dia fui atacado pelos austriacos.

Tinham-se primeiramente apoderado de Rodero, que haviam encontrado abandonado, porque durante a noite a guarnição havia-se retirado para a Suissa. Fiquei com os meus sessenta e oito homens.

Chamei os trinta homens que estavam em Catzone e dirigi-me para S. Maffeo aonde podia resistir.

Apenas ahi tinha chegado fui logo atacado. De Rodero os canhões austriacos nos enviaram foguetes á congreve.

Lancei os olhos em roda de mim, a montanha estava rodeada de cavallaria, mas apezar d'isso resolvi-me defender-nos em quanto podessemos.

Os austriacos começaram o assalto. Infelizmente cada um de nós só tinha vinte cartuxos, e as nossas espingardas não eram das melhores.

Ao estrondo da fuzillaria as montanhas da Suissa, visinhas de S. Maffeo, cobriram-se de curiosos, e cinco ou seis d'estes não se podendo conter vieram unir-se comnosco tomando parte no combate.

Sustentei o combate até que os meus homens tivessem queimado os ultimos cartuxos.

Esperei sempre que Garibaldi ouvindo o estrondo do combate viria coadjuvar-me, mas Garibaldi tinha mais que fazer, porque tendo os austriacos marchado sobre Luino, Garibaldi ia-lhe ao encontro.

Tendo queimado até ao meu ultimo cartuxo, pensei que era tempo de cuidar na retirada. Guiados pelos nossos suissos tomámos atravez os rochedos um caminho sómente conhecido dos habitantes do paiz.

Uma hora depois estavamos na Suissa.

Retirei-me com os meus homens para um pequeno bosque, emprestando-nos os habitantes caixas para esconder-mos as espingardas, afim de as encontrarmos quando nos fosse necessarias.

Durante mais de quatro horas, sessenta e oito homens tinham feito frente a cinco mil.

O general d'Aspre mandou annunciar em todos os jornaes que tinha sustentado um combate encarniçado contra o exercito de Garibaldi havendo-o posto em completa derrota. Só os austriacos são capazes de dizer d'estas petas.

XIII
CONTINUAÇÃO DA CAMPANHA DA LOMBARDIA

Garibaldi marchava como já disse sobre Luino; mas antes d'ahi chegar, recebera noticia de que Luino estava já occupado pelos austriacos, ao mesmo tempo que a columna d'Aspres, depois da sua grande victoria sobre nós se apoderava d'Arcisate.

A retirada de Garibaldi sobre a Suissa tornava-se desde então difficultosa. Decidiu-se pois a marchar direito a Morazzone, posição muito forte e por consequencia muito vantajosa.

Além d'isso, o ruido do canhão que tinha ouvido lhe tinha feito crescer agua na bocca.

Apenas tinha acampado viu-se completamente rodeado por cinco mil austriacos.

Comsigo tinha quinhentos homens.

Durante um dia com seus quinhentos homens sustentou o ataque dos cinco mil austriacos. Vindo a noite, formou os seus em columna cerrada, e lançou-se sobre o inimigo á bayoneta.

Favorecido pela obscuridade fez uma sanguinolenta passagem, e achou-se em campo raso.

A uma legua de Morazzone licenciou seus voluntarios, dando-lhes ponto de reunião em Lugano, e a pé com um guia, desfarçado em paisano seguiu para a Suissa.

Uma manhã soube em Lugano que Garibaldi, que todos criam morto, ou pelo menos prisioneiro em Morazzone, tinha chegado a uma aldêa visinha.

Então vieram-me á memoria as palavras propheticas de Anzani.

Corri a Garibaldi, achei-o na cama, quebrado, moido, e apenas podendo fallar. Acabava de fazer uma marcha de seis horas, e só por milagre havia escapado aos austriacos.

A sua primeira pergunta ao ver-me foi:

– Tens a tua companhia prompta?

– Tenho, lhe respondi.

– Pois bem, deixa-me dormir esta noite, e ámanhã prepararemos a nossa gente e recomeçaremos.

Não pude deixar de me rir: era evidente que no dia seguinte estaria tolhido a ponto de não poder mover uma perna.

No dia immediato, com grande admiração minha, Garibaldi estava a pé; a alma e o corpo n'este homem são eguaes, ambos de bronze.

Mas nada havia a fazer; a campanha de Garibaldi na Lombardia estava finda.

Garibaldi então entrou no Piemonte e volveu a Genova.

Ali recebeu propostas que lhe trazia uma deputação siciliana.

Estas propostas eram de embarcar para a Sicilia, afim d'ahi sustentar a causa da revolução.

Acceitou-as e partiu com trezentos homens para Livourne; mas ahi sabendo o que se passava em Roma, abandonou a idéa da sua expedição á Sicilia e partiu para Roma.

 

É ali que prestes o encontraremos.

Quanto a mim fiquei em Lugano com a minha companhia, a que tendo reunido alguns desertores se achava com o numero de oitenta homens, e foi-me permittido conservar-me com elles n'um deposito.

As nossas armas estavam sempre occultas, mas debaixo de mão.

Durante este momento de repouso organisámos, para não perder tempo, uma insurreição na Lombardia.

O governo da Suissa foi prevenido d'isto, e fez occupar o cantão de Tessino pelos contingentes federaes.

Resolveu-se então de me internar.

Fui com duzentos homens, a maior parte dos quaes haviam servido com Garibaldi, e outros comigo, enviado para Bellinzona, onde nos guardaram n'um quartel, como perigosos e capazes de violar a fronteira.

O projecto não deixou de marchar.

Os generaes Ascioni e d'Aspice deviam partir de Lugano e dirigir-se sobre Como pelo valle de Intelvi.

Quanto a mim devia partir de Bellinzona, atravessar a passagem do Jorio, uma das mais elevadas e difficeis da fronteira, descer sobre o lago de Como, e chamar os habitantes ás armas. Depois do que, com a minha gente, iria reunir-me aos dois generaes.

Como eramos guardados á vista, a cousa era difficil de executar.

Sobre uma altura que dominava Bellinzona estão as ruinas de um velho castello que out'rora pertenceu aos Visconti.

É ali que tinha feito guardar as nossas armas e as munições que depois podera obter.

Ao todo tinha duzentos e cincoenta homens. Dividi-os em oito ou dez bandos, que deviam por muitas estradas, evitando a vigilancia das tropas, reunir-se no castello.

Contra toda a esperança o projecto realisou-se completamente.

Cada um se encontrou no ponto de reunião sem encontrar impedimento; armei todos e estava prompto para partir para a montanha, quero dizer atravessar a fronteira.

Repentinamente ouvi tocar a rebate; as tropas dispunham-se a marchar em minha perseguição.

Mas os habitantes que me tinham votado amisade decidida, sublevaram-se em meu favor, e ameaçaram se se não calasse o tambor, de se armarem e fazer barricadas.

Livre d'este cuidado dei á minha gente ordem de se pôr em marcha; estavamos no fim de outubro, o norte soprava e promettia-nos nova noite de tempestade.

Marchámos toda a noite contra o vento, com o rosto açoutado pela neve. Vindo o dia, marchámos sem parar durante o seu curso; era preciso atravessar o cimo cuberto de neve do Jorio; o inverno tinha tornado impraticaveis as passagens; entretanto atravessamol-o com neve quasi sempre até ao joelho, muitas vezes até aos sovacos dos braços.

Depois de trabalhos infinitos, chegámos, emfim, ao cume; mas ali um inimigo mais terrivel do que todos os que tinhamos vencido até então nos esperava: a tormenta.

N'um instante ficámos completamente cegos, e não distinguiamos nada a dez passos de distancia.

Disse então aos meus bravos de se apertarem uns contra os outros, marchar n'uma só fila e seguir-me avançando com a maior rapidez. Tres ficaram para traz, cahindo para não mais se levantarem, escondidos em a neve, dormindo ou velando talvez no cume do Jorio.

Marchei primeiro, sem seguir nenhuma estrada real, sem saber onde ia, fiando em a nossa boa fortuna, quando repentinamente parei; o rochedo me faltava debaixo dos pés; um passo mais e cabia no precipicio!

Fiz alto, ordenando que cada um ficasse no logar em que estava até nascer o dia.

Então só com um guia procurei um caminho toda a noite; a cada instante a terra, ou antes a neve faltava debaixo de nós, ou os pés nos escorregavam. Era por milagre que um de nós não ficava escondido, ou morto na queda.

Emfim ao raiar do dia, chegámos perto de algumas cabanas abandonadas. Entretanto como offereciam um abrigo, quiz voltar para os meus homens.

Mas então as forças abandonaram-me, e cahi quebrado de fadiga e transido de frio.

O meu guia levou-me para uma das cabanas, e conseguiu accender fogo e fez-me tornar a mim.

Durante este tempo a felicidade quiz que os meus soldados seguissem o mesmo caminho que eu tinha seguido, de sorte que duas horas depois tinham-me encontrado.

Tornámos de novo a pôr-nos a caminho, e descemos a Gravedona, sobre o lago de Como.

Chegado ali, depois de uma paragem de meio dia, puz-me em marcha para reunir-me aos dois generaes com quem devia encontrar-me, e que durante a minha passagem deviam haver feito o levantamento.

Mas elles em vez de bater os austriacos haviam sido batidos, e eu ia dar de face com a divisão Wohlgemmuth que occupava já o valle de Intelvi, e com alguns barcos a vapor cheios de austriacos.

Tomei então por um atalho, e entrei no valle Menaggio, e occupei na sua extremidade Porteyzo, sobre o lago de Lugano, reservando-me para a retirada o valle Cavarnia, que tocava na fronteira suissa.

A posição era magnifica; estava em communicação com Lugano, d'onde podia receber gente e munições: mas ninguem veiu juntar-se-me, e fiquei ahi oito dias inutilmente.

No fim d'este tempo, os austriacos concentraram suas forças e marcharam sobre Portecco. Retirei-me ao valle de Cavarnia, que separa a Lombardia da Suissa. Contava, se me atacassem fazer tanto como em São-Maffeo.

Mas houve apenas alguns tiros de espingarda.

Dois dos meus homens morreram de suas feridas.

Nada havia a fazer; todas as passagens eram cobertas de neve; o inverno tornava-se cada vez mais rigoroso; entrei na Suissa; escondi as espingardas e em seguida eu mesmo me escondi.

Por desgraça, eu era mais difficil de esconder que uma espingarda; e como estava tão compromettido, tratava-se em relação a mim, não de um simples internamento, mas da prisão; muito feliz seria, se agarrado pelas authoridades suissas não me entregassem aos austriacos.

Resolvi pois fazer todo o possivel para reentrar no Piemonte.

Prestaram-me uma carruagem para sahir do Lugano. Sahindo, iria a Magadino; de Magadino a Genova, e de Genova Deus sabe aonde.

Atravessava pois Lugano de carruagem, quando um carro carregado de madeira, que obstruia o caminho me fez parar. Era mister esperar que o descarregassem. Estava esperando, quando o commandante do batalhão federal me reconheceu, chamou gente e fez-me prender.

Conduziram-me prisioneiro; era o menos que tinha a esperar.

Entretanto aconteceu-me cousa melhor ainda. Como os principaes habitantes de Lugano eram todos meus amigos, obtiveram que em vez de ficar prisioneiro seria levado ás fronteiras sardas.

Não fiz mais que atravessar o Piemonte. A Toscana estava governada por republica; embarquei em Genova, e parti para Florença. Em Liorne um despacho telegraphico nos noticiou que o grão-duque illudindo Montanelli por uma doença, acabava de fugir de Liorne e se tinha refugiado em Porto-Ferrajo.

Immediatamente Guerazzi ordenou á guarda nacional de Liorne de embarcar, perseguir o duque e prendêl-o.

Quando assignava esta ordem disseram-lhe que eu tinha chegado a Liorne.

– Offerecei-lhe o commando da expedição, disse Guerazzi, e instae para que acceite.

Como se comprehende bem não foi preciso pedir-me muito; submetti-me immediatamente ás ordens do governo provisorio.

Embarcamos a bordo do Giglio e fizemo-nos de vela para a ilha d'Elba.

Apenas estavamos no mar deram-nos signal de que se avistava uma fragata a vapor. Era franceza, ingleza, austriaca? Não sabiamos; mas a prudencia ordenava que não nos aproximassemos.

Fiz pois que o Giglio se voltasse, e em vez de abordar directamente em Liorne, abordei em Golfo-di-Campo; atravessei a ilha n'um apice, e cheguei a Porto-Ferrajo.

Não se havia ahi visto o grão-duque.

A expedição estava terminada.

Então volvi a Florença, e ahi organisei livremente os despojos da minha columna, que reforcei com novos voluntarios; porque tudo o que era refugiado em Florença quiz acompanhar-me.

Durante a minha estada ali, foram tentados dois ensaios de reacção, e comprimi-os.

Uma manhã espalhou-se o boato de que os austriacos entravam pela fronteira de Modena; corri ahi com a minha gente.

Nada havia.

Uma terceira tentativa de reacção vingou; o governo do grão-duque foi restabelecido, e eu que tinha sido encarregado de o prender, fui naturalmente obrigado a partir.

Além da minha legião havia em Florença uma legião polonesa perfeitamente organisada; chamei-a e seguiu-me.

Atravessei os Apeninos e desci a Bolonha.

Ahi fui muito mal recebido pelo governo republicano, que me tratou como desertor.

O general Mezzacapo formava em Bolonha uma divisão destinada a marchar em soccorro de Roma. Passou-nos em revista, reconheceu que não eramos desertores, e fez de nós sua vanguarda.

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